Capítulo 16: Véu de fumaça


Remus aspirou fundo o ar gelado, sentindo-o perfurar seus pulmões. Com cuidado, ele puxou o corpo inerte de Hestia, retirando-a da água. Ergueu os olhos, fixando-os alguns metros adiante. Pettigrew estava em pé, observando a água, esperando que eles retornassem para respirar ou afundassem por completo.

Lentamente, o detetive chapinhou a água fria, abrigando-se sob uma plataforma de madeira que avançava sobre o rio. Abraçou Hestia contra o peito, tentando não se desesperar em senti-la tão gelada junto a si. Pettigrew tinha que ir embora logo, ele precisava tirar Hestia dali e levá-la a um hospital... Não podia se dar ao luxo de arriscar um confronto direto com o outro homem, visto que perdera sua arma no desesperado mergulho atrás da esposa.

Vários minutos se passaram até que Pettigrew afinal desse as costas ao pequeno cais, sumindo nas sombras da noite. Remus não esperou duas vezes para alçar o corpo da esposa para a plataforma, subindo em seguida. O vento que soprava suavemente enregelou-o dentro das roupas molhadas, mas ele não se importava com isso agora. Abraçando Hestia, ele aproximou o rosto do dela, tentando sentir a respiração da mulher. Mas não havia nenhuma.

Hermione e Ron, que tinham assistido a tudo sem nada poderem fazer, viram quando os dois detetives deixaram a água e correram até eles. Ron parou em pé, junto a Remus, enquanto Hermione ajoelhava-se pesadamente junto ao corpo de Hestia, puxando o braço esquerdo dela para sentir o pulso. O coração da mulher batia ainda, embora muito fraco.

Com cuidado, Hermione afastou as mãos de Remus, que a observou com o semblante perdido. Sem responder à pergunta estampada nos olhos âmbar, a moça desabotoou rapidamente o casaco de Hestia. A blusa branca que a detetive usava por baixo estava manchada de sangue e dois buracos feitos à bala destacavam-se: um junto ao ombro e outro na barriga. O sangue estava coagulado e não havia hemorragia - as águas geladas do Tâmisa tinham impedido que Hestia perdesse muito sangue. Talvez ainda houvesse uma chance...

- Temos que levá-la para o hospital. - Hermione falou, rapidamente se levantando - Ela ainda está viva, mas apenas por um fio...

- Ela está viva? - Remus perguntou num fio de voz.

- Vamos agora! - Hermione pediu, olhando para Ron.

O ruivo assentiu e, sem falar, tomou o corpo de Hestia nos braços, enquanto Hermione puxava Remus para se levantar. Não precisaram caminhar muito, o carro que os trouxera ainda estava no mesmo lugar, o motorista, que era, na verdade, um agente da Scotland Yard, morto no chão. Um filete de sangue escorria pelas têmporas dele.

Ron fez uma careta quando Hermione empurrou o corpo do motorista com o pé, fazendo Remus entrar na parte de trás do carro. Ela puxou uma manta que estava largada sobre o assento, cobrindo o detetive com ela, que ainda se encontrava em estado quase catatônico. A lua estava cheia no céu e, junto aos acontecimentos daquela noite, na mente de Remus, misturavam-se cenas de sua época em Azkaban e das torturas pelas quais passara quando fora acusado injustamente de ter traído a Scotland Yard.

- Coloque-a deitada no colo dele. - Hermione ordenou, içando-se para o lugar do motorista - Rápido, Ron, não temos muito tempo!

- Hermione, ela é pesada, sabia? Vá com calma aí...

- Se tivermos calma, ela vai morrer, seu idiota! - Mione perdeu a paciência, enfiando a chave na ignição - E o detetive Lupin está impossibilitado no instante, se você não percebeu! Se não chegarmos logo ao hospital, ele pode ter um ataque epiléptico aqui. E, aí, me diga, o que vamos fazer?

Ron terminou de colocar Hestia com cuidado dentro do carro e sentou-se junto de Hermione.

- Calma, Mione. - ele sorriu para ela - Estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance...

Ela olhou para ele, dando um suspiro resignado antes de ligar o carro a arrancar rapidamente. O hospital mais próximo das docas era o mesmo que, há pouco tempo atrás, Lily Potter e Susan Black tinham inaugurado com uma apresentação beneficente... O Hospital Albus Dumbledore.


O choque das espadas retiniu contra as paredes de pedra, fazendo Lyncis fechar os olhos pela terceira vez. Entretanto, até agora, não houvera o que temer. Pettigrew era excelente espadachim, mas Harry aprendera a duelar com James e Sirius. O moreno não perdera a calma por um instante sequer, mesmo quando a espada de seu adversário chegara perto o suficiente de machucá-lo, conseguindo tão somente rasgar alguns pedaços do casaco que o rapaz usava.

Os olhos verdes de Harry relancearam brevemente sobre ela e ele respirou fundo. Estavam perdendo tempo demais ali. Tinha que acabar de uma vez por todas com Pettigrew antes que ele se decidisse a abandonar as maneiras corteses dos duelos de cavalheiros e quisesse resolver tudo com dois tiros de sua pistola.

Peter, por sua vez, sentia-se agora um tanto esgotado. Pensara que seria fácil desembaraçar-se dos filhos dos antigos companheiros, mas Harry Potter estava se provando ser um adversário mais temível do que ele imaginara. Especialmente porque Peter ainda estava cansado pelos acontecimentos daquela noite. Poucas horas antes, tinha matado Severus, e o casal Lupin. E depois, tivera que voltar correndo para a taverna, a fim de preparar sua armadilha. E agora...

Bem, talvez fosse hora de esquecer as boas maneiras. Os dois lutavam apenas com uma mão à espada; a outra se encontrava às suas costas, como mandava o formalismo dos duelos. Peter escapou de mais uma estocada de Harry, tateando as costas por debaixo da casaca suja até encontrar o cano da arma que usara mais cedo, já devidamente recarregada.

- Muito bem, meu menino... - ele sorriu, afastando-se de leve, abaixando a guarda - Provou-se ser um herdeiro digno do sue pai... Quando eu vir-lo, antes de matá-lo, providenciarei para que saiba e se orgulhe do filho que teve.

Com essas palavras e um sorriso perverso, Peter tirou a arma das costas. Antes, no entanto, que pudesse apontá-la para Harry, um tiro soou. Peter sentiu sua mão arder e soltou a pistola, que caiu pesadamente no chão. Uma nuvem de fumaça estava agora entre ele e os dois jovens. Provavelmente tinham usado uma das antigas armas que estavam nas paredes. O cheiro de pólvora inundava o pequeno corredor.

Ele olhou para a mão esquerda. Havia um risco de sangue na pele enrugada. Fora por muito pouco que a bala não varara sua mão. Deveria agradecer o fato de a filha de Sirius não ter uma boa mira, porque certamente fora ela quem atirara.

Entretanto, agora ele estava em desvantagem. Talvez, como ele, os dois não pudessem vê-lo. Mas, seja como for, eram dois contra um, e eles estavam armados também. O melhor a fazer era fugir dali e deixar para, no próximo encontro, matá-los.

- Muito bem, meus pequenos... - ele disse em voz alta - Vocês ganharam a liberdade. Aproveitem-na bem... Eu vou dar uma olhada agora em suas queridas mãezinhas... Talvez eu as faça pagar pelo sangue que vocês acabaram de me fazer derramar, o que acham?

- Maldito! - a voz de Lyncis soou em meio à fumaça e outro tiro soou. Desta vez, a bala zuniu junto a sua orelha. Fora por muito pouco que ela não levara um pedaço dele.

Peter ouviu a voz do rapaz intercalar-se com os palavrões da moça e, sem esperar para ver o que eles pretendiam, rapidamente deixou o corredor, subindo as escadarias. Encostando-se à parede, com a respiração pesada, ele esperou ouvir algum ruído dos passos de James e Sirius. No entanto, a taverna estava agora em completo silêncio. Mesmo os tiros lá fora tinham cessado.

Sem esperar mais, ele voltou-se rapidamente para um dos corredores ao fundo da taverna, tirando do bolso uma pesada chave de ferro para, com ela, abrir as portas do pequeno aposento onde Lily e Susan estavam presas. E, sob a parca luz que entrava pela única janela do cômodo, no alto da parede oposto à porta, ele sentiu-se cambalear para trás.

Não havia ninguém ali. O que acontecera? Teriam James e Sirius encontrado as mulheres? Ou Klaus as retirara dali, colocando-as em local mais propício para esperar a hora em que se enfrentaria com os dois valetes?

Ele engoliu em seco, nervoso. Não estava nos planos tirar Lily e Susan dali. Alguma coisa acontecera. Alguma coisa muito errada acontecera. Foi quando ele percebeu a burrada que tinham feito. Lily conhecia aquela taverna tão bem quanto James. Eles a tinham usado para seus encontros e para vigiar as reuniões dos Valetes à época de Riddle. Tinham sido tolos demais...

Rapidamente, ele fechou a porta com estrondo, correndo pelas escadarias que levavam ao piso superior sem se importar com o barulho. Precisava avisar a eles, precisava...

Peter irrompeu na saleta onde Klaus, Lúcio e Lascelles esperavam, ansiosos. Eles não sabiam do que estava acontecendo lá fora, não sabiam por que os tiros tinham cessado... Estavam esperando informações... De repente, todos os planos que tinham feito contra os valetes estavam se voltando contra eles.

- As mulheres... - ele falou, sem esperar para recobrar o fôlego, caindo de joelhos aos pés de Klaus - As duas... Elas não estão lá embaixo... Fugiram...

Os olhos dos outros homens se estreitaram e Lascelles levantou-se, deixando o aposento rapidamente para verificar a veracidade daquelas palavras. Klaus, por sua vez, perdeu completamente a calma e, chutando Peter no estômago, tirou a arma do coldre, engatilhando-a e apontando para o outro homem.

- Como assim elas fugiram! - ele perguntou, com a voz carregada de ódio.

- Lady Potter conhecia a taverna. - Peter gaguejou em justificativa - James e ela costumavam se encontrar aqui... Ela deve ter conseguido fugir por uma das passagens...

Klaus rangeu os dentes, apertando o gatilho de sua pistola. Peter gritou de dor, levando a mão até a barriga, sangrando abundantemente.

- Deixe-o sangrar até morrer. - Klaus avisou a Lúcio, passando por cima de Peter, que agora se contorcia no chão.

- E o que vamos fazer agora? - Lúcio perguntou, estreitando os olhos.

- Eles não sabem que as mulheres fugiram. Vamos continuar com o plano original. E, quando nossos convidados chegarem... - Klaus apenas sorriu, deixando a ameaça no ar.


E eu matei o Peter! VIVA! EU SOU UMA PESSOA FELIZ!

Adoro esse capítulo. Mas o próximo não será um capítulo muito feliz... E vocês terão notícias de Lily e Susan.

Vamos lá aos agradecimentos... Helena Black, Mirtes (tenho que responder seu e-mail, mas estou meio sem tempo...), Bebely Black, Moony Ju, Flávia, LMP3, Lisa Black, Sarah-Lupin-Black, gaby-fdj-blak, Eowin Symbelmine, Bia Black, Belle Lolly (não, eu não li esse livro... estou esparando o natal para ler as intermitências da morte... Saramago!), Paty Felton e todos que continuam lendo! Estamos na reta final da história!

Vou indo, vou indo... Ainda tenho que estudar...

Beijos!

Silverghost.