Capítulo 17: Tomando ar


Não tinha idéia de quantos metros já ultrapassara naquele mergulho desesperado. O ar já quase lhe faltava, os olhos ardiam em contato com a água suja da galeria e seus movimentos a cada momento tornavam-se mais incertos e descoordenados. Lily sabia que só tinha mais alguns instantes antes de perder a consciência. Lutava com todas as forças contra a vontade de parar e deixar seu corpo afundar naquele poço sem fundo. Precisava continuar... Precisava tentar, precisava...

A lembrança de seu pai, forçando-a a atirar nele para que ela pudesse sobreviver martelava sua mente, como uma ordem para que não deixasse de lutar. Ele dera sua vida pela dela. Seu pai, seu avô, a mãe, James, Harry...

Ela forçou-se a subir um pouco mais, sentindo uma leve correnteza que a arrastava para trás. Seu peito ardia com a necessidade de respirar. Todo o seu corpo estava agora dolorido. Era insanidade continuar com aquilo. Mas não havia tempo suficiente para voltar para junto de Susan. Ela morreria ali...

Foi quando ela bateu com a cabeça contra a parede no alto da galeria. Sem pensar duas vezes, girou o corpo, pressionando o rosto contra a pedra, soltando afinal o pouco fôlego que lhe restava.

De primeira, sentiu a água invadir-lhe a boca, o nariz, fazendo com que ela engasgasse. Lily tossiu e, sem apoio junto à parede, seu corpo voltou a mergulhar pesadamente. Com suas últimas forças, ela deu um impulso, voltando a encostar o nariz na pedra. E, dessa vez, sentiu uma golfada de ar preencher-lhe os pulmões. Havia um bolsão de ar entre a água e a parede.

Lily sentiu os olhos arderem novamente, dessa vez não pela água, mas pelas lágrimas que lhe escapavam. Estava salva. Ela e Susan estavam salvas! E tinham escapado de Wenticht!

Por alguns longos minutos, ela apenas respirou pesadamente, engolindo um pouco de água no processo, enquanto tentava manter o corpo boiando placidamente sobre as águas. Finalmente, quando pensou que era o suficiente, ela voltou a girar o corpo, mergulhando com redobrada energia. Repetiu o processo de respirar junto à parede ainda três vezes antes de perceber que a água clareava à sua volta.

Mais alguns metros e, finalmente, ela divisou a saída da galeria. Impulsionou o corpo para cima, sentindo o ar gelado tocar-lhe a face e, sozinha, começou a rir de felicidade. Ali a passagem se mantivera intocada e, mesmo sob a penumbra do salão de pedra, ela pode divisar as escadas que subiam, subiam para a liberdade, para os braços de James... Para a sede dos Valetes de Copas.

Por alguns instantes, ela manteve-se em pé dentro d'água, de olhos fechados, sorvendo o ar longamente. Aos poucos, seus membros se relaxaram o suficiente para que ela se dispusesse a voltar e fazer Susan acompanhá-la. Agora que atravessara a galeria, sentia um pouco de medo que não conseguisse fazer o trajeto de volta. Mas não podia deixar a amiga para trás.

Assim, respirando fundo, Lily voltou a mergulhar, desaparecendo em meio às águas escuras.


Hermione enfiou o pé no freio com força, fazendo o carro derrapar de leve, batendo na ambulância que estava estacionada à sua frente. Ron, ao lado dela, estava quase esverdeado, os olhos claros arregalados de terror.

- Mione, por favor, da próxima vez, não invente de dirigir, ou quem vai acabar tendo que parar no hospital sou eu.

Ela respondeu com um olhar torto, saltando do carro no exato instante em que dois enfermeiros e um médico aproximavam-se para perguntar o que diabos significava todo aquele escarcéu. Hermione não esperou que eles começassem a ralhar por conta da ambulância, abrindo a porta detrás do carro.

- A detetive Lupin foi baleada no cais agora há pouco. - ela respirou fundo, encarando o primeiro enfermeiro - O que está esperando para arranjar uma maca! O chefe da Scotland Yard também está aqui!

Rapidamente os enfermeiros correram para dentro do hospital, enquanto o médico aproximava-se do carro, olhando para Hestia, empalidecendo à medida que tomava consciência dos ferimentos da mulher.

- Deus do céu... Vamos logo com isso! - ele gritou, ao que os enfermeiros rapidamente apareceram com a maca, atropelando os poucos pacientes e passantes que estavam à porta do hospital.

Hestia foi colocada com cuidado sobre a maca e, enquanto os enfermeiros corriam de volta com ela para dentro do hospital, Hermione e Ron ajudavam Remus a descer. O detetive estava sujo de sangue e seus olhos claros ainda se encontravam vidrados. No rosto, muito pálido, Hermione conseguia distinguir até mesmo as pequenas veias azuis dele.

- O que vamos fazer com ele, Mione? - Ron perguntou, concentrando sua atenção na moça.

- Vamos levá-lo para dentro, arranjar uma xícara de café bem forte. E, talvez, pedir a uma das enfermeiras que o ajude com um banho. - ela voltou-se para Remus, que se equilibrava precariamente junto ao carro - Detetive Lupin, o senhor está consciente?

Os olhos dele focaram-se no rosto dela e ele respondeu com um sorriso cansado.

- Vamos ver esse seu café. - ele respondeu com a voz rouca, apoiando a mão sobre o ombro dela - Não há nada que possamos fazer por agora, não é mesmo? Mas vai acabar tudo bem. Eu sei que vai...

Ela piscou os olhos, sentindo uma leve ardência neles. O que poderia dizer a ele? Que esperanças poderia dar a ele? Aparentemente, Hestia não tivera nenhuma hemorragia, mas eles não sabiam como estavam os órgãos internos da mulher. E um dos tiros perfurara o corpo dela junto ao baço... Se isso se confirmasse, não haveria mais o que fazer.

- Sim, Lupin. - ela respondeu com a voz doce, começando a guiá-lo para dentro do hospital - Vai acabar tudo bem...


Tiersen, o camareiro pessoal de James e Sirius nos Valetes, estava sentado na ante-sala do escritório dos dois homens, tentando sintonizar o rádio de longa distância.

- Droga, Davies! - ele praguejou baixinho, ouvindo apenas o chiado irritante que indicava que o rádio estava fora de ar - O que está acontecendo aí?

Ele olhou para o relógio de parede. Passava das duas da madrugada. Eles teriam conseguido entrar na Taverna? Os planos feito algumas horas atrás teriam dado certo?

Com um suspiro resignado, o homem abaixou a cabeça, deixando-se envolver pelo quase silêncio da sala, quebrado apenas pela chiadeira do rádio. estava quase adormecendo quando ouviu batidas fortes ecoarem pelas paredes.

Com um pulo, Tiersen dirigiu-se para a porta, mas não havia ninguém lá fora. As batidas repetiram-se, pesadas e, com certa surpresa, ele percebeu que elas vinham do chão. Abaixando-se, ele procurou o local exato das batidas. A mesa sobre a qual o rádio se encontrava balançou-se quando novas batidas ecoaram e, sem pensar duas vezes, ele a empurrou para o lado, despregando o tapete do chão, de modo a revelar um velho alçapão.

- Quem está aí? - ele perguntou, ajoelhando-se junto ao cadeado do alçapão.

- Tiersen? - uma voz feminina soou abafada - Tiersen, é Lily! Lily Potter! Abra o alçapão, pelo amor de Deus!

Os olhos dele arregalaram-se ao reconhecer a voz da mulher de James. Mas como abriria o cadeado? Ele não tinha uma chave... Seus olhos relancearam pela sala, fixando-se sobre um par de grossos candelabros dourados. Tiersen levantou-se, correndo até o candelabro, experimentando o peso dele, antes de voltar a se ajoelhar junto ao alçapão.

- Lady Potter, por favor, se afaste. Há um cadeado no alçapão, eu vou ter que quebrá-lo.

Um murmúrio de aceitação ecoou e ele ouviu passos abafados distanciarem-se. Com força, ela golpeou o cadeado uma, duas, três vezes, até o metal saltar para longe. Tirando os restos do cadeado, ele puxou a porta do alçapão, revelando uma passagem escura. Lily e Susan voltaram a galgar os degraus, parando diante do rapaz apenas com suas anáguas e roupas de baixo, completamente molhadas.

- Onde estão James e Sirius? - Lily perguntou, com a voz entrecortada.

Tiersen correu até um armário da sala, tirando dele dois pesados mantos, entregando-os para as mulheres. Susan aceitou com um sorriso de agradecimento, mas Lily continuou encarando-o com firmeza, esperando uma resposta.

- Sir Potter e Sir Black foram atrás das senhoras... Na taverna... Eles foram desafiar seus seqüestradores e...

Lily voltou-se para a porta com renovada energia e disposição, como se estivesse pronta para bater armas contra Wenticht. Entretanto, antes que pudesse deixar a sala, sob o olhar espantado de Susan e Tiersen, a ruiva sentiu o mundo rodar sob seus pés e, empalidecendo, desabou inconsciente no chão.


Hermione ouviu gritos soarem na entrada do hospital e virou-se, mordida, pronta para passar uma repreensão em quem quer que estivesse ali.

- Ei, isso aqui é um hospital! Tem que se fazer silêncio! Será que não há mais respeito por aqui?

Um rapaz um pouco mais velho que ela olhou-a com certo desprezo, mas, sem responder, parou um enfermeiro que estava para entrar na sala de cirurgia onde Hestia estava sendo operada. O enfermeiro ouviu-o com atenção e logo sumiu com ele para a entrada do hospital. Ron, sentado junto a Remus observou a moça caminhar decidida atrás dos dois homens. Entretanto, antes que ela pudesse começar a ralhar, o ruivo percebeu que ela cambaleava para trás e, de um salto, aproximou-se dela, segurando-a.

- Mione, o quê...

- Remus! - a voz de Susan ecoou no corredor vazio e ela correu para junto do homem, segurando firmemente a capa ao redor do corpo.

- Susan? O quê... Onde estão os outros? - Remus que, embora mantivesse a expressão cansada no rosto, saíra de sua letargia, estendeu as mãos para a morena.

- Nós fugimos, não temos notícias deles. Tiersen apenas disse que eles foram para a taverna. - ela deu as costas a ele, observando Lily entrar carregada nos braços do enfermeiro.

Hermione e Ron aproximaram-se.

- Lady Potter está bem? - a moça perguntou, parando ao lado de Susan.

Susan estreitou os olhos de leve, reconhecendo os dois jovens.

- Ainda não sabemos, não foi uma noite fácil... O que vocês estão fazendo aqui? E onde estão Harry e Lyncis?

Os dois entreolharam-se enquanto Remus se levantava, depositando uma mão sobre o ombro de Susan.

- Eles também seguiram com James e Sirius. Para salvarem vocês.

- Eles o quê! Deus do céu, permita que isso não termine mal... - Susan respirou fundo, notando as roupas sujas de sangue dos três - O que aconteceu afinal?

- Hestia está na sala de cirurgia. - Remus respondeu simplesmente - Fomos pegos em uma armadilha.


Ele retirou as luvas encharcadas de sangue, jogando-as na pequena lixeira ao lado do balcão da pia, lavando as mãos rapidamente. Embora amasse sua profissão, era em momentos como aquele que ele se perguntava por que seguira a carreira de médico. Sentia-se o mais feliz dos mortais quando saía daquela sala para dizer que tudo correra bem. Mas quando o pior acontecia...

Dilys Derwent era um dos médicos mais antigos de Londres, amigo pessoal dos Evans e diretor do Hospital Albus Dumbledore. Naquela noite, às vésperas do Natal, ele era o único médico titular de plantão, juntamente com três jovens estudantes de medicina. Após o jantar, no refeitório comum, ele se retirara par seu escritório a fim de descansar um pouco.

Era pouco provável que fosse chamado - aqueles eram dias relativamente calmos por conta da proximidade dos feriados, quando todos viajavam para lugares mais quentes e aconchegantes que a velha capital inglesa. Entretanto, para sua surpresa, pouco antes da meia noite, um dos estudantes irrompera em seu escritório extremamente pálido, avisando que uma paciente baleada acabara de chegar.

Dilys não demorou a preparar tudo para receber Hestia Lupin em sua sala de cirurgia. Ele conhecia a mulher, ela já estivera ali algumas vezes com Lily e Susan, amigas e beneméritas protetoras do hospital. Embora cansado, ele tomou todas as providências que estavam ao seu alcance para salvar a vida da detetive. Durante duas horas de cirurgia, tentou de todas as maneiras aplacar a hemorragia interna que Hermione previra mais cedo. Duas balas estavam alojadas em lugares de menor risco, mas uma terceira realmente perfurara o baço.

Ele lutara para manter a mulher viva, mas o coração dela parara de bater, exausto pelo esforço de bombear sangue, aumentando a hemorragia. Por três vezes, os enfermeiros tentaram reanimá-la com choques no peito. Todas as tentativas empreendidas por eles, entretanto, foram em vão.

Hestia Lupin estava morta.

E agora, ali estava Dilys, tomando coragem para deixar a sala de cirurgia e avisar a Remus Lupin do destino de sua esposa. Entretanto, antes que tivesse que enfrentar a situação, um outro enfermeiro aproximou-se dele.

- Doutor Derwent, temos outra paciente para o senhor.

- Mais uma baleada? O que andam fazendo em Londres hoje?

O rapaz negou com a cabeça.

- Lady Potter acaba de chegar. Ela está muito fraca e gelada. O camareiro que a trouxe pediu que a examinassem com urgência. As enfermeiras estão fazendo alguns exames agora. Nós a levamos para sua enfermaria particular.

- O que aconteceu com Lily? - Dilys perguntou, deixando a sala impetuosamente por uma porta lateral, subindo as escadarias para seu escritório, que dava acesso para uma pequena enfermaria, onde três mulheres cuidavam de outra, que estava deitada na maca - O que aconteceu com ela?

- Apenas uma fraqueza, senhor. - a enfermeira-chefe respondeu, adiantando-se para ele - Aparentemente, ela passou por grandes provações nas últimas horas...

- Mandaram fazer um exame de sangue? - ele perguntou, aproximando-se de sua paciente adormecida.

Outra enfermeira aproximou-se dele, entregando uma folha de resultados com um pequeno sorriso.

- Creio que temos uma boa notícia para ela quando Lady Potter acordar.

Dilys leu os exames com cuidado, esquecendo por alguns instantes a tristeza que sentira na sala de cirurgia para alegrar-se com a perspectiva que aqueles gráficos lhe diziam. Foi com o coração ligeiramente menos constrito que ele voltou a deixar o escritório, preparando-se para enfrentar a dor que logo teria diante de si. Embora trabalhasse com a vida e a morte muitas vezes por dia, ele jamais se acostumaria com aquela situação.

Encontrou Remus sentado com Susan ajoelhada ao seu lado, e Hermione e Ron parados diante da sala de cirurgia, que ainda estava fechada. O detetive não olhou para ele, embora os outros três rapidamente tivessem se apercebido da presença do médico.

- Lily está bem, só precisa descansar. Ela e o bebê.

Susan arregalou os olhos, sorrindo, enquanto Hermione apertava a mão de Ron, que, por sua vez, se punha muito vermelho.

- E Hestia? - a morena perguntou, pondo-se em pé, mantendo uma mão sobre o ombro do amigo.

Dilys passou as mãos de leve sobre os cabelos grisalhos, meneando a cabeça com o semblante triste.

- Ela não resistiu. Eu sinto muito.

Remus abaixou a cabeça, sentindo uma dor estranha no peito enquanto Susan apertava firmemente seu ombro. Por alguns instantes, eles ficaram em silêncio, mudos expectadores da dor do detetive. Finalmente, Remus levantou-se, retirando delicadamente a mão de Susan de se ombro, virando-se para Dilys.

- Eu posso me despedir dela? - ele perguntou com a voz rouca.

O médico apenas assentiu, abrindo a porta da sala onde o corpo de Hestia ainda se encontrava, deixando Remus passar, sozinho. Assim que a porta se fechou atrás deles, Remus aproximou-se da maca a passos lentos.

Hestia estava vestida com uma camisola do hospital, os ferimentos limpos e costurados. Ela quase parecia dormir, não fosse a ausência da respiração leve que ele tão bem conhecia quando a observava tarde da noite, durante suas noites de vigília e insônia, acompanhadas pelo luar. Remus sentou-se com cuidado à beira da maca, segurando a mão da esposa entre as suas. E, fechando os olhos, deixou finalmente as lágrimas correrem, tentando aliviar o peso que tinha em seu peito.


Mais uma morte... Já se foram Snape, Pettigrew, e agora... Quem será que morre no próximo capítulo? HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA... Mas, pelo menos, uma notícia boa, não? Já que o James queria tanto atingir o ápice da carreira de um pai (ou seja, queria trocar fraldas sujas, dar banhinho, essas coisinhas fofas que a gente faz com criança pequena...), vamos dar a ele o que ele queria! Presente de natal da Silver para os Potter! HUAHUAHUAHUAHUAHUA...

Hum... Isso é, se James sobreviver a minha sanha assassina de final de ano... HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA...

Ok, pessoal, estamos chegando à reta final da história... Vamos comentar, me deixar feliz, que assim eu escrevo logo. A última cena já está pronta, mas tem uma parte faltando que eu não estou encontrando inspiração para começar... Assim, se vocês comentarem, vocês me deixam feliz, e se vocês me deixam feliz, eu arranjo inspiração. É uma troca justa, não?

Vamos então aos agradecimentos... Gaby-fdj-Black, LMP3, That Potter, BelleLolly, Tete Chan, Bia Black, Helena Black, Sarah-Lupin-Black, Marmaduke Scarlet, Paty Felton, Julia, Gween Black, Lily Dani Potter, Gabi C. Lupin, Carol Previtalli, Eowin Symbelmine, Jully, Nany Potter e todos que continuam me surportando...

Estão babando? Vou adiantar um segredo para vocês... Há mais uma morte no próximo capítulo. Hehe... Uma morte muito importante... Para agradar a gregos e troianos... E o título do capítulo é "Um tiro no escuro". E aí, o que vocês arriscam?

¬¬

Beijos!

Silverghost.