Capítulo II
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Sobre todo creo que
No todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
Y yo, soy un vaso vacío
Sobretudo, acredito que
Nem tudo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
E eu sou um copo vazio
Oigo una voz que me llama
casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a
Ouço uma voz que me chama
Quase um suspiro
Rema, rema, rema
Rema, rema, rema
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Já que não tinha dormido nada a noite inteira, Sorento se levantou assim que o sol nasceu. Ao passar pelo quarto de Ágatha, viu que a porta estava aberta. Com certeza a garota havia acordado. Descendo a escada devagar, para não fazer barulho, o rapaz foi até a cozinha e a viu preparando o café. Como estava calor, Ágatha tinha deixado o robe sobre uma cadeira e usava apenas uma camisola, que marcava as curvas de seu corpo perfeito de menina. Sorento ficou quieto, observando-a fascinado, quando ela se virou de frente para a porta da cozinha e deu de cara com o rapaz.
-Sorento... Já acordou... - ela comentou, vermelha de vergonha e vestindo depressa seu robe. Sem jeito, o rapaz sorriu e se sentou em volta da mesa. Enquanto servia uma xícara de café para ele, Ágatha não deixou de reparar nos músculos bem desenhados do peito de Sorento, que estava sem camisa.
-Obrigado... Acordou cedo, hein?
-Precisava preparar o café do padre Jean Luc...
-Ele já saiu?
-Já. Foi para a igreja preparar a missa do dia. E Julian, ainda não acordou?
-Aquele lá só vai acordar quando o almoço estiver pronto.
A garota riu, mostrando seus dentes branquinhos e perfeitos. Sorento se demorou um pouco admirando o sorriso de Agatha e somente depois disso voltou a falar.
-E seu irmão?
-Ryan está dormindo na minha cama... Ele teve uma noite agitada, muitos pesadelos...
-Deve ser difícil para você cuidar dele sozinha, não é?
-Mais ou menos... Na verdade, eu cuido do Ryan desde que ele nasceu. A diferença é que eu tinha a ajuda do meu pai e agora...
-Agora?
-Bem, você o está vendo por aqui?
Com lágrimas nos olhos, Agatha baixou a cabeça para chorar. Sorento, sentindo-se imensamente culpado, levantou-se de seu lugar e abraçou a garota, tentando confortá-la. Estavam os dois assim, juntinhos, quando Ryan apareceu na cozinha.
-Oi, Ryan... Eu pensei que você fosse dormir mais... - disse Agatha, afastando Sorento e chamando o irmão para perto de si. O menino hesitou um pouco, mas logo correu para o colo da irmã.
-O que você quer? Tem pão, bolacha e leite quente.
Com ar de desconfiado e sem tirar os pequenos olhos de Sorento, o menino pegou um pão e uma xícara de leite. Observando-o, o rapaz percebeu o quanto ele parecia triste e assustado. Lembrando-se de sua flauta, ele subiu para o quarto e voltou com ela minutos depois.
-Eu sou estudante de música, sabia? - ele começou a falar, puxando papo com Ryan - Quer que eu toque uma música para você?
-Quer, Ryan? -enfatizou Agatha. O menino, então, fez um sinal afirmativo com a cabeça.
Ajeitando sua postura, Sorento segurou a flauta com firmeza e pô-se a tocar uma canção típica de seu país, a Áustria. Uma música que falava sobre uma flor delicada que crescia em meio à neve dos Alpes, que representava a força do povo austríaco e a esperança em dias melhores, sempre. Enquanto tocava, Sorento notou que o olhar de Agatha brilhava e que Ryan prestava atenção na canção. O menino pareceu até esboçar algum tipo de reação, pois seus olhos estalaram e ele acompanhava as notas batendo os dedos na mesa, no ritmo da música.
-E então? O que achou, Ryan? - perguntou Sorento, ao terminar a canção. O menino nada disse, mas seus olhinhos brilhavam.
-É uma linda canção, Sorento... Traz uma paz tão grande ao coração da gente...
O comentário de Agatha fez o rapaz sentir-se nas nuvens. Sorrindo, ele ia guardar sua flauta quando teve uma idéia.
-Você me parece ser um menino muito esperto, Ryan... Gostaria de aprender a tocar flauta? - mal disse isso e Sorento viu os olhos de Ryan brilharem ainda mais - Venha aqui, eu te ensino.
Largando o pão sobre a mesa, Ryan ficou de pé, de frente para Sorento. O rapaz mostrou a ele como segurar a flauta e como posicionar seus lábios para tocar.
-Isso, bem de leve... Sopre bem de leve...
O primeiro som foi um apito desafinado, que fez Agatha e Sorento darem risadas. O menino ficou meio sem graça e empurrou a flauta de volta para o rapaz.
-Não quer mais? Tudo bem, a gente pode continuar depois...
Pegando seu pão de volta, Ryan subiu correndo para seu quarto e trancou-se por lá de novo. Sozinhos na cozinha, Sorento e a garota ficaram em silêncio. "Ele estar assim também é minha culpa...", pensou o rapaz, sentindo-se mal.
-Er... Eu... - Agatha falou, chamando Sorento de volta à realidade - Eu gostaria de te agradecer, Sorento.
-Agradecer pelo quê?
-O Ryan... Ele não sorri, nem reage a nada desde que a grande enchente acabou. E enquanto você tocava, eu percebi que ele estava interessado e também quando o chamou para aprender a tocar... Muito obrigada, Sorento...
Sem esperar por uma reação do rapaz, ela se levantou para recolher as coisas do café e arrumar tudo para Julian, quando ele acordasse. De costas para Sorento, ela não viu quando ele também se levantou e foi até ela, abraçando-a novamente. Um abraço tão quente e confortante que ambos não queriam que o momento acabasse tão cedo. Porém...
-Eu... Eu perdi alguma coisa? - perguntou Julian, bocejando. Estava parado junto à porta, observando os dois. Sorento soltou a garota e fuzilou o amigo com seu olhar. Odiava aquelas piadinhas sem graça e fora de hora que o rapaz adorava fazer.
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O dia estava apenas começando, mas ele seria longo e de muito trabalho. Cientes disso, Julian e Sorento trocaram os ternos bem cortados que usavam no dia anterior por calças jeans e camisetas, tênis e até um elástico para cabelos, este, a contragosto do herdeiro grego.
-Bem feito! Eu vivo te dizendo para cortar esse cabelo, mas você não me ouve!
-Não me enche, Sorento! Vamos logo que o padre Jean Luc já deve ter reunido os moradores que vão nos ajudar na limpeza mais pesada.
Ao chegar na igreja, os dois rapazes deram de cara com um pequeno grupo, cerca de vinte homens dispostos a trabalhar e todos, sem exceção, muito gratos a eles. O padre Jean Luc tomou a frente.
-Eu já dividi as tarefas de cada um, estava somente esperando por vocês para começarmos.
-Certo... Como o senhor dividiu os grupos de trabalho?
-Em três frentes... O primeiro grupo, liderado por você cuidará da limpeza das ruas; o segundo, com Sorento à frente, ficará com a limpeza das casas que foram destelhadas; e o terceiro cuidará da igreja e seus arredores e eu vou ajudá-los.
-Então, mãos a obra!
Não seria um trabalho fácil, mas Sorento nem se preocupava com isso. A disposição dos homens que o acompanhavam era estimulante, todos ali queriam ver seus lares restaurados e o vilarejo novamente de pé. No entanto, enquanto trabalhava ao lado daqueles homens, Sorento não deixava de pensar em como seria a reação deles se soubessem de seu passado, que ele, assim como Julian, tinha culpa pela tragédia acontecida naquela região. Assim, entre sentimentos de culpa e muita disposição para se redimir, o rapaz trabalhou tanto que nem viu o tempo passar. Só percebeu que era hora do almoço quando viu que as mulheres traziam comida para seus maridos. E, no meio delas, avistou Agatha trazendo um embrulho.
-Desça daí e venha comer, Sorento! - ela gritou. Imediatamente, o rapaz desceu do telhado onde estava remendando alguns buracos e sentou-se em um tronco de árvore, acompanhado da garota.
-Demorei um pouco porque fui levar a comida do padre Jean Luc e de Julian primeiro, me desculpe.
-Não tem importância... Você quer?
-Não, obrigada. Eu vou almoçar com meu irmão, ele está me esperando.
Com sua atenção voltada para a garota, Sorento ficou pensando em algo. Será que deveria perguntar o que queria saber desde que conhecera o irmão de Agatha?
-Eu... - ele finalmente se decidiu - Eu posso te fazer uma pergunta? Se não quiser responder, não tem problema.
-Pode perguntar.
-O que aconteceu com Ryan? Por que ele não fala mais e vive assustado daquele jeito?
-Bem... - a garota suspirou - Ele está assim desde a grande enchente... Nosso pai foi levado pelas águas e desapareceu... Quando a chuva cessou, o padre Jean Luc organizou grupos de busca pelo vilarejo, mas foi Ryan quem encontrou o corpo, todo roxo e cheio de hematomas, preso debaixo do tronco de uma árvore caída... Ele ficou tão chocado que parou de falar e vive com medo...
-Eu... Eu sinto muito, Agatha.
-Não tem por que sentir, Sorento, você não teve culpa...
Ao ouvir as últimas palavras da garota, Sorento enguliu em seco. Obviamente Agatha não fazia idéia de sua verdadeira identidade, das coisas horríveis que havia feito em seu passado recente. O que ela pensaria se soubesse de tudo?
-Já terminou de comer? - ela perguntou, tirando o rapaz da "realidade alternativa" em que estava. Agatha sorria para ele.
-Ah, já... Pode levar...
-Não demore muito para ir embora... As tardes e noites costumam ser muito frias em nosso vilarejo.
-Claro... Até mais tarde...
Andando depressa, Agatha voltou para casa. E Sorento ainda ficou um tempo sentado no tronco, vendo-a partir e pensando. Estava na cara que ele se sentia atraído pela garota, mas não sabia o que fazer. As marcas da tragédia na qual ele tinha participação direta estavam gravadas no coração da menina, nas suas palavras e seu olhar, mesmo que ela não demonstrasse às pessoas.
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A garota não estava brincando quando comentou sobre o tempo. Mal o sol começou a se pôr e o vento frio passou a soprar, assim como a névoa tomava conta do lugar. Mas, além disso, alguns trovões foram ouvidos. "Meu Deus, mais chuva? Era tudo o que essa gente não precisava...". Tremendo, Sorento despediu-se dos homens que o ajudavam e correu para a casa de Agatha. Estava morto de fome e louco por um banho quente, mas, assim que se aproximou da casa, descobriu que teria de esperar um pouco por isso. Gritos vinham de lá de dentro, claramente na voz da garota. Ela parecia desesperada.
Quase derrubando a porta de tão preocupado, o rapaz correu para o andar de cima e encontrou Agatha tentando segurar Ryan, que se debatia, querendo se soltar e saltar da janela do quarto para a rua. O menino parecia estar muito assustado.
-Não faça isso, Ryan!
Com seus braços fortes, Sorento o segurou até que Agatha trancasse a janela. Ryan ainda se debateu por mais algum tempo, mas, aos poucos, foi se acalmando, até relaxar nos braços do rapaz. A garota, então, o pegou no colo e ficou com ele sentada na cama, dizendo alguma coisa ao irmão.
-Está tudo bem?
-Agora está... Obrigada, Sorento.
Nesse instante, vozes foram ouvidas. Julian e o padre tinham acabado de chegar e faziam comentários sobre a chuva que caía no vilarejo. Ágatha fez menção de se levantar e ir recebê-los, mas Sorento a impediu.
-Fique aqui com seu irmão, eu cuido de tudo lá embaixo.
Descendo a escada depressa, o rapaz se juntou aos dois amigos. E não fez nenhum comentário sobre o ocorrido.
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-Não precisa se incomodar com o jantar, eu posso fazê-lo. - disse Ágatha, entrando na cozinha. Sorento estava no fogão, adiantando as coisas enquanto Julian e o padre Jean Luc tomavam banho.
-E o Ryan?
-Ele dormiu... Não vai acordar tão cedo.
Pegando uma faca, a garota se ocupou de descascar algumas batatas enquanto falava. Sabia que Sorento provavelmente não perguntaria nada sobre o ocorrido, pelo menos não por enquanto, mas achou que ele merecia uma explicação.
-O Ryan fica daquele jeito toda vez que ouve algum barulho mais forte... Ele acha que é um trovão anunciando uma chuva tão pesada como a da grande enchente.
-Deve ser difícil para ele assimilar a morte do pai e o fato de ter encontrado o corpo...
-Com certeza... Papai e Ryan eram muito ligados, viviam juntos pelos cantos... Mesmo com a morte da mamãe, ele se manteve como um homem alegre e cheio de vida...
Ágatha parou de falar, sentindo que sua voz iria ficar embargada. Sorento abriu a boca para fazer um comentário, mas foi interrompido logo pela garota.
-Não precisa dizer que sente muito, eu já disse que você não teve culpa de nada. Eu sei quem é o verdadeiro culpado de tudo isso, a enchente, a morte do meu pai, o trauma do Ryan, tudo! - disse Ágatha, desta vez com um tom de voz tão grave e ressentido que chegou a assustar Sorento. Falou com tanta convicção que sabia quem era o culpado que a dúvida invadiu a mente do rapaz. Será que ela sabia mesmo?
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Uma coisa eu percebi, enquanto escrevia esta fic: eu sou meio do contra quando se trata dos guerreiros deuses e dos generais marinas. Como assim, Margarida? Simples, enquanto a maioria das meninas que conheço babam pelo Siegfried ou o Hagen, eu fico com o Mime e, pasmen, o Alberich (eu amo aquele olhar meio de lado, a franja caída sobre a testa). Já quanto aos generais, eu gosto muito do Kanon e do Isaac, como a maioria das meninas, mas quando eu ouvi a voz do Sorento no anime e vi a bela figura, eu me apaixonei de primeira... Aqueles olhos meio cor de rosa, meio violeta, ai, ai...
