Capítulo V
-x-x-x-x-x-
Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz
Al otro lado del rio
Finco o meu remo na água
Levo o teu remo no meu
Acredito ter visto uma luz
No outro lado do rio
-x-x-x-x-x-
Breu total. Era essa a visão, ou melhor falta dela, que Sorento tinha no bosque. Não sabia que direção seguir, nenhum som de passos ou gente chorando para guiá-lo. Apenas o silêncio, irritando os nervos preocupados e impacientes do rapaz. "Pelo amor de Deus, onde você está? Eu preciso te encontrar, Ágatha... Eu preciso...".
De súbito, o som de uma revoada foi ouvido, alto e acompanhado de grunhidos. Segurando com força sua flauta, o rapaz tentava localizar de onde vinha o som quando ouviu um barulho de folhas e galhos sendo pisados com violência, alguém ou alguma coisa estava correndo. Com os ouvidos atentos, Sorento seguiu a direção de onde vinham os sons, seu cosmo brilhando com intensidade, não apenas para iluminar o caminho como também por medo. E se Ágatha estivesse em perigo, sendo atacada pelos pássaros da revoada, loucos por causa do eclipse?
A correria parou, o rapaz não ouvia mais nada. Olhando em volta, não conseguia dizer que direção deveria seguir, que caminho tomar. Até que...
-Aaaahhhh!
Um grito, seguido de um bater de asas frenético. "Ágatha!", pensou Sorento, correndo feito louco pelo bosque, até chegar a uma pequena clareira. Um bando de pássaros negros avançava em direção a uma árvore, e Ágatha estava caída, encolhida junto ao tronco, tentando proteger a cabeça com os braços.
Porém, quando os pássaros iam atacar, uma música invadiu o ambiente. Os animais começaram a se debater de desespero, avançando desajeitadamente sobre o rapaz, alguns já caídos e se contorcendo de dor sobre a grama, como se tivessem tomado um tiro de espingarda ou se ferido mortalmente. Surpresa, Ágatha os viu caírem um a um e grunhirem, desta vez bem fraquinho. Então, os tímpanos dos pássaros estouraram, espirrando sangue pela grama, manchando as folhas secas e um pouco a saia da garota.
-Não era minha intenção machucá-los, mas não tive escolha... Eles matariam você...
Era Sorento, segurando sua flauta e com seu cosmo tão ardente quanto na época em que ainda servia Poseidon. Ágatha entendeu que o instrumento não era apenas musical, era também a arma do general, mas nada disso importava. Estava se sentindo bem por ele estar ali.
-Sorento...
O rapaz soltou sua flauta e abraçou Ágatha, que se largou nos braços dele, chorando. Ficaram assim por um tempo, até que ele a pegou no colo e a aninhou carinhosamente junto ao peito.
-Vamos voltar para casa...
-x-x-x-x-x-
Quando saíram do bosque, o sol estava voltando a brilhar novamente. Sorento sorriu, agradecendo aos cavaleiros do zodíaco e à Atena por terem salvado a Terra das mãos de Hades. Porém, mais feliz estava por ter encontrado Ágatha.
-Tio! Ágatha! - gritava Ryan, saindo da igreja correndo e indo ao encontro dos dois. A garota não cabia em si de felicidade ao ouvir a voz do irmão.
-Ryan!
Soltando-se dos braços de Sorento, Ágatha abraçou Ryan demoradamente. Logo Julian e o padre Jean Luc se juntaram ao trio.
-Eu sabia que iria conseguir, meu rapaz.
-Obrigado, padre.
-Ryan... - disse a garota, beijando seguidas vezes o rosto do menino - Você está bem?
-Estou... E posso te pedir uma coisa?
-O que quiser.
-Perdoa o Sorento... - ele pediu, e a garota ficou sem ação - O padre me contou tudo sobre ele, Poseidon e a tempestade... Eu sei que ele não teve culpa, Ágatha... Por favor, perdoa ele...
-Mas Ryan, eu... O papai...
-Sorento não teve culpa e mesmo assim ele está arrependido...
-...
-Ele foi enganado por Poseidon, nunca quis fazer mal a ninguém... Perdoa ele, por favor... Por favor!...
A garota ficou em silêncio, encarando os olhos curiosos do irmão. Ficando de pé, ela indicou ao padre que levasse Ryan para dentro de casa e Julian os acompanhou. Depois, sem olhar para Sorento, ela começou a caminhar pela rua, de cabeça baixa. O rapaz ficou um tempo parado, sem saber o que fazer.
-Você não vem? - ela perguntou, estendendo a mão para ele. Sorento a alcançou e os dois foram para a Igreja, de onde saíam os últimos moradores. Sentando-se no mesmo banco onde haviam se beijado a primeira vez, ambos ficaram olhando um para o outro, até que o rapaz resolveu quebrar o silêncio.
-Eu sei que deveria ter te contado tudo, mas eu tinha medo... Um grande idiota, isso que sou.
-Confesso que fiquei muito nervosa quando descobri a verdade... Achei que você estava me usando, enquanto tramava alguma coisa muito pior...
-Ágatha, eu jamais...
-Me deixe terminar, Sorento... - ela pediu, fazendo-o se calar - Foi por isso que saí correndo, eu queria ficar longe de você... Mas, enquanto caminhava pelo bosque, eu percebi que estava errada... Se tivesse alguma perversidade em mente, não estaria nos ajudando... Não estaria sorrindo ao meu lado, muito menos tentando ajudar meu irmão... E também não teria me salvado daqueles pássaros todos...
-Mas isso não muda em nada o fato de que prejudiquei não só você, como milhares de pessoas sobre a Terra... Ser pudesse voltar no tempo...
-Não pode! E, mesmo que pudesse, não seria justo... O que aconteceu foi obra do destino, não há como mudar; se não fosse com você e Julian, seria com outros... E, além disso...
Encarando Sorento, a garota aproximou seu corpo, até ficarem quase colados um no outro, causando arrepios no rapaz.
-... Eu não teria te conhecido... Apesar de tudo e de tão pouco tempo que te conheço, Sorento, eu não consigo mais ficar sozinha, sem você...
-Ágatha...
Então, com lágrimas nos olhos, a garota deu a resposta que seu irmão pedia: um beijo apaixonado, cheio de desejo e ardor, as bocas que se procuravam, o prazer do gesto tão sonhado...
-É, padre... Pelo jeito, eu e Sorento ficaremos mais tempo do que o planejado neste vilarejo... - comentou Julian ao padre Jean Luc, observando os dois jovens da porta da igreja. E junto deles, Ryan sorria e tirava as primeiras notas harmônicas da flauta de Sorento...
-x-x-x-x-x-
Aê, cheguei ao final de mais uma fic! Espero que tenha ficado bonitinha como queria e que todos tenham gostado! E não pensem que vou parar por aqui, esse negócio de publicar minhas histórias é um bichinho danado que me mordeu e não quer me largar mais...
O ataque que a Ágatha sofre foi inspirado no filme "Os Pássaros" de Alfred Hitchcock. O filme é muito sinistro, eu recomendo com certeza! Se bem que, depois de assistir, a gente fica com medo e desconfia até de filhotinho de pardal...
