Capitulo X – O Natal é...?

Dois dias antes do Natal, Diana acordou bastante tarde. Quer dizer, segundo os seus costumes acordou tarde. Acordou eram nove horas da manhã. James acordou ao meio-dia e naquela noite iram celebrar a Ceia de Natal. Diana escreveria uma carta para cada uma das suas colegas de Ravenclaw, perguntando como tinha sido o Natal e como tinha corrido a ceia com a família.

A velha Toca continuava a ser o grande ponto de encontro para todos os Weasley, no Natal. A matriarca da família Weasley, a famosa Molly, tinha cozinhado, sem cessar toda o dia para aquela ceia. Não aceitara a ajuda que Katie e Angelina lhe tinham oferecido, afirmando que se conseguiu cozinhar para nove pessoas durante toda uma vida, não era agora que iria deixar de cozinhar para a sua família. Eram muitas pessoas... Charlie trazia a mulher e o filho, Shaoran. Bill trazia Fleur e a filha, Julliane. Depois apareciam os gémeos, Fred e George com as suas filhas, Catarina e Joanne. Depois vinham Hermione e Ron, que praticamente rezavam para que Pamela, Catarina e Joanne não aprontassem nada neste almoço. Mais tarde surgiriam Harry e Ginny com Diana e James, que imediatamente começavam uma briga pelo simples facto de Diana achar que ele ficava melhor o cabelo para o lado, enquanto James achava que espetado tinha mais a haver consigo. Chamavam-se nomes e começavam logo a bater-se. Mas normalmente o jantar era na mais completa paz. Conversavam e riam-se. Catarina, Pamela e Joanne faziam as delicias do avó, contado-lhe tudo sobre o que aprendiam em Tratos de Muggles e é claro, contado as partidas realizadas no primeiro período. As mulheres da casa divertiam-se a falar sobre os novos gémeos da família Potter-Weasley, que se chamariam Remus e Sirius. Ronald, Harry, Bill, Charlie e Shaoran conversavam acerca de Quiddicht. James e Arthur tentavam enfiar-se na conversa, falando dos maravilhosos jogos de Quidditch em Hogwarts e que Ravenclaw e Griffyndor estavam empatados.

Diana sentia-se um pouco deixada ali por acaso. Ela entendia que ela não se dava muito com os seus familiares, talvez excluindo os seus pais e a sua Tia Hermione. Elas brincavam que pareciam mais mãe e filha do que Pamela e Hermione. Talvez assim fosse. Diana petiscava o doce de bacalhau que a sua avó tinha cozinhado e de vez em quando olhava à sua volta. Reparou que Julianne estava bastante pensativa, assim como Shaoran. Jullianne fazia como ela, apenas petiscava a comida e bebia alguma coisa. Shaoran comia bem. Já estava no segundo prato e fazia ouvidos de mercador às reclamações da mãe. Pediu licença para se levantar, todos a olharam, admirados, mas ninguém se opôs. Diana contornou a mesa, sentido um olhar furioso de James, mas não ripostou, como teria feito noutras alturas. Saiu de casa, enalando o cheiro a um campo que nunca mais tinha fim. Olhou para a sua esquerda e viu o Campo de Quiddicht onde ela via o irmão e primos a jogarem durante o Verão inteiro. À sua esquerda estava o curral e o galinheiro. Foi para lá.

Abriu a porta do Galinheiro e não pode impedir de sorrir com a barafunda que as galinhas fizeram as vê-la a correr de um lado para o outro e quando o galo aproximou-se dela, com as penas todas eriçadas. Ignorou-o.
Seguiu em linha recta até que chegou ao muro de Rede que ditava o fim do galinheiro. Não era muito alto. Saltou-o e continuou em frente até ver um pequeno monte que se erguia, escondido por entre as árvores. Não era preciso muito esforço para conseguir subi-lo. Fê-lo e sentou-se, numa pedra, de onde tinha uma vista linda. Observava o galinheiro e o curral, ouvindo os pios e os grunidos dos animais, e de longe via a Toca, com os seus quartos construídos uns sem cima dos outros e o rés-do-chão iluminado. Por cima da sua cabeça ruiva visualizava-se um céu estrelado, coisa que não era costume em Inglaterra. Estava assim, sentada, a olhar para o céu, rodeada pelos sons que os animais da sua avó produziam e pelos seus pensamentos quando ouviu dois pequenos "puf", um de cada lado.

- Bonita noite, não é? - a voz do seu primo mais velho, Shaoran, fez-se ouvir ao seu lado.

- Muito anormal... – a voz doce e límpida de Jullianne soou do lado direito de Diana. Diana olhou para um de cada vez. Shaoran vestia a velha camisola Weasley do ano passado, que já lhe estava uns cinco centímetros mais curta desde que a recebera, verde com o "S" em bordou e umas calças de bombazine cremes. Julliane por sua vez, vestia uma camisola de gola alta branca e umas calças rosas. Ela sentava-se em cima do seu cabelo.

- Talvez demasiado bonita e por isso anormal... – disse Diana.

- As estrelas abençoam-nos uma última vez, antes de tudo... – Julliane falou com uma voz muito arrastada, mas nunca olhou para nenhum dos seus dois primos. - Nós sabemos o que aí vem, Diana. Nós não queríamos que nada disto acontecesse, pelo menos tão cedo. Nunca na vossa geração. Vocês são demasiado novos para passarem por tudo o que vai acontecer.
- Mas temos a confiança que tu, o teu irmão, o Arthur e os vossos amigos conseguiram dar volta à situação. – completou Julianne.
- Não nos podemos esquecer da capacidade da Catarina, da Pamela e da Joanne em verem sempre o lado bom das coisas.
- O que vem aí, Shaoran? Julliane?
- Não te podemos responder... – Julliane respondeu, olhando, pela primeira vez, para a prima. – Apenas te podemos aconselhar a preparares o teu espirito muito bem...Vêm aí coisas terríveis...Umas mais que outras, mas vêm. - Vocês têm que lhes provar que nada pode abalar a amizade e o amor que vos une...Principalmente a ti e ao teu irmão.

- Que linda, noite, não é mesmo? – Julliane disse, sorrindo, do nada.

- É mesmo... – Shaoran levantou-se e começou a descer o pequeno monte, seguido de Julliane e não disseram nenhuma palavra a Diana.

- A todos vós, desejamos um Bom Natal e um Prospero Ano Novo. – finalmente acabou. Carol estava sentada à direita do seu pai, que estava no topo de uma mesa rectangular e muito longa, onde não havia um único lugar vazio. Carol era obrigada a levantar-se com o seu pai, Joseph Blage enquanto este se pronunciava perante os seus ilustres convidados, como substituída da sua mãe. Substituta. Ela sabia que o pai a amava, era verdade, mas era muito austero e rígido. Sentaram-se e prepararam-se para começar a cear e Carol sentiu uma vontade de desapertar o corpete que lhe apertava o peito. Vestia um vestido verde, rodado da cintura para baixo a até um pouco abaixo dos joelho, uns collants brancos e uns sapatos de fivela pretos. O cabelo estava solto, com um laço no lado direito vermelho. O pai conversava com um Dr. Não-sabia-do-quê e com a sua "encantadora" e enfadonha mulher. Carol via-se obrigada a falar com o filho medonho dos dois, 10 anos mais velho que ela e um completo pervertido.

- Não tens vontade de desapertar esse vestido tão apertado? – dizia-lhe ele. -

Não. – respondia Carol e continuava a comer. O jantar assim foi passado. O filho pervertido continuava a meter-se com ela, mas ela não lhe dava qualquer espaço de manobra. Para total felicidade de Carol tinha chegado a altura de irem para a sala, beber conhaque, enquanto ela bebia uma soda...Mas ao menos estaria longe do pervertido e ficaria junto do seu pai. O pai sentou-se na enorme poltrona, à frente da lareira quente, apesar de estar de costas para ela. Antes de se sentar num nos apoios de braço vermelhos, Carol olhou para o quadro que estava em cima da lareira em pedra. Era a sua mãe. A mãe de Carol chamara-se Tamâra . Estava com Carol nos braços, naquele quadro. Vestia um vestido estilo imperial, onde a cintura era subida, num rosa muito esbatido e olhava para uma trouxa nos seus braços, onde estava Carol. Por detrás das duas via-se uma floresta, que se situava atrás da primeira casa de Carol, algures na Alemanha. A mãe era meio-inglesa, meio alemã e sempre tinha vivido na Alemanha.

- Contemos uma história. – disse um convidado.

- Eu posso contar uma... – uma voz soou da porta, e lá estava uma senhora idosa, que vestia um vestido preto e tinha um colar de pérolas. Tinha as costas curvadas e o cabelo apanhado num valente carrapito. - Avó! Deveria ter ficado na cama... – Carol levantou-se e abraçou a sua avó, dirigindo-a para uma outra poltrona, perto da do seu pai. A avó Guerta sentou-se e suspirou. Sorriu à neta e Carol sentou-se de novo junto ao pai.

- Eu contarei uma história para vocês, esta noite. Tudo começou à anos atrás, e com uma bebé que nasceu em plena Alemanha. O pai tinha desaparecido, ainda nem a mãe sabia que estava grávida, mas mesmo sendo considerada filha bastarda, a pequena foi tratada como se fosse uma princesa. Mais tarde, a mãe casou-se e finalmente a menina teve um pai e ganhou três irmãos com quem brincar. E assim a sua infância foi passada entre as montanhas alemãs e Berlim, sem nunca ter perguntado pelo seu pai verdadeiro. Até que chegou o seu 11º aniversário. Entre bonecas, colares e brincos, a pequena recebeu duas cartas. A carta de uma escola de Bruxaria em Londres e outra na Alemanha. A mãe explicou-lhe que o pai dela era bruxo e que ela poderia escolher entre ir para a Inglaterra, terra do pai ou ficar na Alemanha. Claro que o padrasto ficou espantado, mas ele amava a pequena como se fosse sua filha. Ela escolheu ir para Inglaterra, onde estaria mais perto das raizes da sua curta vida. Foi com muito custo que a mãe lhe fez as malas e viu-a partir naquele fatídico dia, onde conseguiu ir viver para a casa de um velho conhecido do seu pai, e conheceu a avó dela.
A pequena viveu feliz na escola. Tinha feito novos amigos e admirava muito um rapaz mais velho que ela. Não que fosse apaixonada por ele, apenas admirava as aventuras dele e como tinha conseguido pensar sempre primeiro nos amigos. O que ela não sabia era que ela era especial. Sentia coisas que outros não conseguiam sentir e conheceu outras pessoas que também sentiam as mesmas coisas que ela. Duas. Cresceram, conhecendo-se e ao mesmo tempo não. Apesar de um deles, não se interessar naquelas coisas, ela mostrou-lhe o que aconteceria se seguisse o seu caminho pré-destinado. Até que chegou a altura da rapariga se apaixonar. Apaixonou-se por um rapaz, do mesmo ano que ela, apenas de outra casa. Era um belo rapaz, sim...Mas o destino não parecia gostar daquela união. O padrasto morreu, e ela foi transferida para a Alemanha e lá ficou. Manteve contacto com os seus dois amigos especiais e até foi ao casamento de ambos... Até que chegou o dia em que o velho amor inglês veio para a Alemanha à sua procura. A chama da paixão recendeu-se e casaram-se poucos meses depois, com uma pequena festa. Tiveram uma filha, linda e igual à mãe. Mas a sombra do azar assombrou novamente o casal. Houve um ataque, enquanto ela estava em casa e com a pequena a dormir, quando alguém bateu à porta. Quando a abriu, foi tão rápido como um pestanejar de olhos. Ela tinha sido morta e a sua filha continuava a dormir. Ninguém as encontrou a não ser o marido no dia seguinte. Encontrou-a morta e o quadro inacabado.

- E o quadro? Alguém sabe o que é feito dele?
- Oh sim... O quadro foi guardado na cave da casa onde nascera a menina.

- E como era o quadro? – perguntou o pervertido.

- Negro.

Carolina olhou para o pai e viu qualquer coisa brilhando nos seus olhos. Mas não podia ser lágrimas, podia? O pai nunca tinha chorado, nem quando a mãe morrera, porque choraria com esta história? A mãe sempre tinha andando na Escola Alemã, o pai era de uma família inglesa que tinha ido viver na Alemanha, e a mãe tinha morrido num acidente de carro. Nada de ataques, nem de torturas com a mãe. Ela simplesmente tinha morrido num acidente de carro.

- MARIZA!PARA DE ARREBENTAR BOMBAS EM CASA! – a voz de Henrieta soou por toda a casa e Mariza McKinley estremeceu. Ela não tinha feito nada nos últimos cinco minutos, porque é que a mãe gritou com ela? - É o Jean e o Mathieu!Eu não fiz nada!
- MENTIRA! A MARIZA ESTÁ A MENTIR! – gritaram as estridentes vozes dos irmãos de Mariza. Mathieu e Jean tinham sete e seis anos, respectivamente, mas eram quase como gémeos. Ambos tinham os cabelos curtos e muito lisos, escuros, os olhos verdes, iguais à mãe, uma cara um pouco alongada e eram um pouco baixos para a idade que tinham. - Seus mentirosos! VENHAM CÁ! – Mariza, que se encontrava no piso inferior, subiu as escadas de três em três degraus atrás dos irmãos, que se fecharam no quarto.
- Abram a porta, seus pestinhas! Os irmãos abriram a porta e de lá saiu um feixe de luz vermelha e bateu na cara de Mariza. Eles riram-se , enquanto Mariza tentava voltar a sí.
- O que é vocês estão a fazer com a varinha da mãe! – perguntou-lhes.
Mas eles não lhe responderam, mas continuaram a rir-se. - Olha para o teu cabelo! – disse Jean, no meio dos risos. Intrigada, Mariza dirigiu-se para o seu quarto, onde se viu ao espelho que estava dentro do guarda-fato de madeira.

- AAAAAAAAAAAHHHHHHHHH!
- MARIZA! Mariza ! Que se passa, filha? – a voz da mãe soou do lado de fora do quarto e Mariza virou-se para ela e gritou-lhe:
- O que se passa! Olha bem para o meu cabelo! Olha o que os teus filhos fizeram ao meu lindo cabelo! OLHA BEM!- Mariza começou a chorar e a mãe aproximou-se dela.
- Tem calma...Tu conhece-los. Eles não fizeram por mal. Vês? Olha para a cara deles.
Henrienta olhou para os seus dois filhos e depois sorriu para Mariza, ao ver que ela parecia ter amolecido.

- Olha só! Continuas a ter as tuas madeixas violetas. Pensa o quão maluco seria espetares o cabelo com essas madeixas! Até poderíamos mudá-las de cor, se quiseres. Mariza sorriu e disse para a mãe : - Tens razão. Pintávamos de vermelho vivo para o Natal. A avó passava-se! Vocês escaparam por um triz, fedelhos... – Mariza abraçou os dois irmãos e seguiu o seu caminho.
- Venham ajudar-me com o tronco... – Henrieta empurrou os seus filhos estupefactos em direcção à cozinha.

Cho passeava-se pelos corredores da sua pequena vivenda em Manchester. Tinha apenas dois andares, não muito grandes. Entrava-se pela sala, que ocupava metade da área do 1º andar, depois tinha-se uma cozinha, um escritório onde o pai passava metade do tempo, e uma casa-de-banho. As escadas de mogno iam dar a um corredor no andar de cima com portas de um lado de outro. A 1ª porta à esquerda era a porta do quarto do pai, a 2ª à direita era o dela e a porta à sua frente levava para o quarto do irmão. Cada um dos quartos tinha uma casa-de-banho privativa e havia também dois quartos de hospedes. A última porta era a entrada para o sotão da casa.

Entrou para dentro do quarto e sentiu o cheiro a tinta e a papel. Cho adorava escrever e pintar. A pai dizia que a mãe também gostava muito de pintar. Que bom, pensava, ser igual a ela acaba por ser uma forma de a ver. As paredes eram brancas e o chão de madeira, tinha um tapete enorme, no meio do quarto rosa. A cama era um quadrado de colcha axadrezada em vários rosas que estava num canto do quarto, perto da janela, onde se tinha improvisado um pequeno sofá no parapeito. No vão dos cortinados translúcidos milhares de espanta espíritos. Uma das paredes do quarto tinha duas estantes cheias de livros, peluches, copos com lápis e canetas, fotos e uma secretária onde mais livros, mais copos com lápis e canecas, mais fotos e desenhos colados na parede. Um candeeiro rosa com um coração pendurado surgia da parede. Uma prenda do pai. No tecto do quarto pequeninas estrelas e planetas que davam luz na escuridão. Ouviu gritos do andar debaixo. Devia ser os seus primos. A sua família era enorme. Do lado da mãe tinha uma avó, 3 tios e 9 primos. Do lado do pai tinha os dois avós, duas irmãs da avó, 1 tio, e 4 primos. Era 22 pessoas além dela, o pai e o irmão. A sorte era que Li e Wing-La trabalhavam com afinco na semana que antecedia à grande reunião de Natal na família Davies. Antes de ir para Hogwarts ela costumava ajudá-los a arrumar a casa, mas depressa se cansava.

- NETA! – a sua avó chinesa gritou ao vê-la no cimo das escadas. - NETA! – a sua avó inglesa gritou logo a seguir. Abraçaram-na as duas ao mesmo tempo e Cho sentiu-se a morrer, devido à falta de ar.

- Avó... Lao Lao.
Quando a largaram, as suas primas correram para ela, abraçando-a.Então, do nada começou a rir. Que família aquela. Mais depressa se morria naquela família de hemorróidas do que falta de amor. Era feliz, é verdade. Talvez devesse ser mais extrovertida. A mãe não gostaria que ela vivesse todos os seus dias trancada num quarto, como tinha feito até ir para Hogwarts. Sentando-se, perguntou às suas primas e primos :
- Querem ir brincar para o meu quarto?
- SIM!