Eu não sei mais o que fazer.
Não creio que tenha que ter esperado as coisas chegarem nesse ponto para tomar alguma atitude drástica.
Tomoyo há uns tempos já não tem sido a mesma, consigo sentir até uma leve insanidade no olhar violeta dela.
Me olha com raiva e insulta com todas as palavras baixas que conhece o Shoran... Não que ele realmente faça algo para merecer. Diz que só passo meu tempo com ele, claro que passo a maior parte de meu tempo, e é claro que não quero ela filmando meus momentos a sós com Shoran ou nada do gênero..
Ela tem estado estranha desde que ele voltou e começamos a namorar.
Briga comigo por tudo, tudo! Mal temos nos falado e ela não sabe como a companhia dela me faz falta...
Mas não dessa nova Tomoyo enlouquecida, mas sim da minha melhor amiga de infância.
Essa de agora implica com tudo, com meu cabelo, com meus horários...
Chegou a brigar comigo por eu não usar mais aquelas roupas que usava enquanto era criança... Por favor! Eu tenho 26 anos! Não posso mais ficar usando aquelas coisas extremamente rosas e bufadas... Simplesmente não posso!
Por falar em estranho...
Achei bem estranho quando ela me convidou para ir em sua casa, muito estranho na verdade, mas não havia como recusar, não é mesmo?
Então eu fui, receosa mas fui.
Cheguei lá e achei tudo vazio, engoli em seco e suei frio por algum tempo, até ela aparecer com um sorriso bem estranho no rosto.
Eu tive tanto medo aquela hora que quase saí correndo porta afora.
Até teria feito isso, se não tivesse me lembrado de que era uma adulta e que tenho que agir como tal. Isso significa, enfrentar situações difíceis.
Ela me ofereceu bolo, aquele bolo tinha um aspecto repulsivo, muito mas muito repulsivo.
Provei uma garfada, quase gorfei no mesmo instante, era horrível!
No entanto comi o pedaço inteiro, Tomoyo praticamente o enfiou pela minha goela abaixo.
Sentia como se eu tivesse parado e o mundo continuasse girando e girando, estava tonta e nem ouvi o que ela me ofereceu depois, seja o que for, eu aceitei. Depois disso só senti alguns líquidos fortíssimos molharem minha boca e descerem pela minha garganta abaixo, a partir daí não me lembro de mais nada.
Agora estou aqui, semi-nua, numa droga de uma cama suja e barata, com Tomoyo me olhando de um jeito muito estranho.
"Então Sakura, divertiu-se ontem a noite?" ela me perguntou com um tom divertido na voz.
Afinal, o que infernos eu tinha feito na noite anterior? Eu estava com medo, queria a minha casa, queria roupas, queria ir embora dali. E agora.
Olhei assustada pra ela e respondi com a voz mais dura que conseguia simular: "Não muito, onde estão as minhas coisas... Tomy?"
Apelei para o apelido, sei que ela não resiste a ele.
Vi seus olhos desminguarem de leve, quase a vi cedendo.
Deve ter sido só impressão.
"Não sei onde foram parar! Só consegui te trazer para cá assim..."
Ela devia estar de gozação com a minha pessoa. Só podia estar tentando me enlouquecer.
E ficamos nisso por muito tempo, fiquei seriamente com medo de ter me metido em coisas muito maiores do que na festa da Naoko ha uns tempos atrás... ah mas que momento traumatizante aquele!
Por fim nunca fiquei sabendo o que realmente eu fiz ou deixei de fazer, e tive que aguentar os risinhos de Tomoyo...
Acho que vou mesmo interna-la em alguma clínica, não suporto mais vela desse jeito.
Afinal, o que fiz para merecer isso?
