WON'T YOU KISS ME?

ÚLTIMO CAPÍTULO – AJUSTES

Mibu Oriya estava fumando no jardim, aparentando uma tranqüilidade que na verdade não sentia. Muraki tinha saído às pressas, dizendo que tinha um pressentimento de que precisavam dele em outro lugar. E pelo brilho no olho prateado, o pressentimento envolvia aquele rapaz de olhos violetas.

Porque afinal, dor e prazer se pronunciam da mesma forma, na cartilha de Muraki. – suspirou Oriya.

Já estava descartando a guimba da piteira, quando ouviu um barulho e um leve gemido. Guardou a piteira na manga do quimono e foi averiguar. Muraki estava caído no jardim, cheio de escoriações e com certeza o braço quebrado... Mibu franziu os lábios, mas não teve uma palavra de censura para com seu amigo... Foi pra dentro da "pousada" e trouxe consigo dois criados com uma maca improvisada.

Muraki abriu os olhos. O local onde estava se encontrava na penumbra, poupando sua vista cansada. Sabia que estava em segurança, ao lado da única pessoa que se preocupava com seu bem estar no mundo. Virou a cabeça devagar, para se certificar da presença dessa pessoa sentada calmamente ao seu lado, velando seu sono inquieto. Sussurrou, com a boca seca e os lábios feridos:

Mibu-san...

Shhh... não fale nem se esforce. Cuidei de você como eu pude, mas você ó médico por aqui. Depois me ensine direito o que fazer. Você está com um monte de escoriações aqui e ali, o braço esquerdo e uma ou duas costelas quebrados... Espero que tenha valido a pena...

Sempre vale, meu caro... sempre vale...

O silêncio voltou a envolvê-los, cada um perdido em seus próprios pensamentos... Os de Muraki envolviam um shinigami de olhos violetas, mas os de Mibu eram mais palpáveis. Inesperadamente, o doutor se virou pra ele:

Faz tempo que você está ai?

Algumas horas. Por que?

Você já tinha acordado cedo, depois trabalhou o dia todo. Deve estar cansado. Porque não se recolhe um pouco?

Mas...

Por agora, um descanso vai me fazer bem. Depois eu me cuidarei.

Bem, obrigado por se preocupar. Só que...

Eu sei, este é seu quarto e você me deitou na sua cama. E qual o problema, Oriya? Deite-se aqui também. Sei que você não vai se mexer muito...

Sim, vou ser cuidadoso...

Mibu tirou o quimono e ficou apenas com uma túnica branca, quase transparente... Muraki ergueu o edredom o suficiente para que o outro se deitasse... Assim que o amigo se acomodou, ele se arrastou, gemendo, pra mais perto...

Não se esforce. Está com frio?

Não, apenas achei que um pouco mais de calor humano me faria bem...

Hn...

Mibu, você se entrega tanto. E eu sou tão egoísta, me aproveitando de você. Quando você vai se cansar de mim?

Faço essa mesma pergunta todos os dias. E ainda não encontrei a resposta. Talvez eu seja pior que você, porque sei que o dia que eu descobrir a resposta vou te virar as costas sem avisar e sem me arrepender. Por enquanto...

Por enquanto...

Estou bem assim... Oh, que chateação, como faremos com esse monte de machucados?

Eu disse que você não ia se mexer muito, mas espero que se mexa um pouco, meu querido...

Orya sorriu, um sorriso cansado, de quem trava uma batalha constante contra si mesmo e sempre perde, por amor. Tirou a túnica, expondo um corpo esguio e alvo, quase translúcido. Os longos cabelos negros faziam um contraste belíssimo e com seus cílios longos e sua boca vermelha, garantiriam um lugar de destaque no coração de quem quisesse. Fazer o que, se quem ele queria não queria destacá-lo. Injustiça. Ele era o único amigo de Muraki. O único a merecer esse nome, a conhecer seus segredos, a partilhar um pouco da sua vida. Querer mais era pedir pra sofrer. Mas dor e prazer se soletravam da mesma forma para o médico...

Muraki ergueu o braço bom e percorreu o perfil e os contornos de Mibu com a ponta dos dedos. Uma autentica bonequinha japonesa. Subiu os dedos da cintura para os mamilos, apertando hora um, hora outro. Mibu gemeu. A espera angustiante, a ansiedade da falta de noticias, o corpo tão desejado embaixo do seu, lhe causava urgência. Hoje ele queria sexo selvagem, com muita dor, para lhe trazer esquecimento.

Debruçou-se sobre o corpo de Muraki, buscando o falo adormecido. Acariciou-o com cuidado, esperando uma reação. Que logo veio e foi acolhida em seus lábios. O médico gemeu baixinho. Orya passou então a alternar chupadas e lambidas, enquanto o ferido lhe puxava os cabelos longos, deixando-se anestesiar pelo prazer. Quando achou que Muraki estava no ponto, Mibu se empalou na ereção do outro. E conduziu o ato sexual no mesmo estilo. Seco, brusco, dolorido, como uma auto flagelação para si. Muraki nem procurava detê-lo, ele gostava de infringir dor, gostava do rosto agoniado do amante, das suas bochechas coradas, das lágrimas em seus olhos.

Mibu voltou seu olhar para o rosto do médico, juntando olhos claros nos escuros. Ergueu a cabeça e gemeu alto. A dor estava indo embora. Não podia! Ela lhe garantia a sanidade, a âncora da realidade, de que era somente aquilo que ele ganhar, sempre. Dor! Sexo casual!

Mas Muraki estava ferido e cansado. E sua mão passou a acariciar o amante. Os cabelos, o corpo, o órgão ereto. E Mibu perdeu a gana do sado masoquismo. Mesmo se odiando pela fraqueza, se debruçou sobre o pescoço de Muraki para beijá-lo, tendo os lábios capturados pela boca do outro, que mordeu, lambeu e cheirou tudo que teve ao alcance. No meio das sensações atordoantes e confusas, veio o orgasmo.

Orya escorregou para o lado, procurando envolver Muraki no seu abraço, cuidadosamente. Suspirou. Por ora, o melhor era descansar e não pensar em mais nada. Fechou os olhos e a mente para o mundo. E mergulhou na benção da escuridão morna do sono sem sonhos.

Muraki ainda demorou um pouco para dormir. Seu corpo ferido já se regenerava. A energia de Mibu era fresca, boa e limpa. Belo Orya. Era como um animalzinho de estimação muito caro. Nunca pensou em livrar-se dele. Não era como os outros, descartável. Conservaria-o até quando Mibu se cansasse dele. Porque as suas coisas eram suas. Ninguém poderia tê-las.

Assim como Tsuzuki. Deixe aquele Mestre das Sombras pensar que poderia tirá-lo dele. Sempre ri melhor quem ri por último.

-Maktub, Tsuzuki. (1) – sussurrou Muraki, beijando os lábios de Mibu e adormecendo.

N/A: Uff, mais um fic que eu desencanto. Ofereço esse capítulo às fãs de Muraki, Elfa e Hécate. Essa é minha visão do "amor" entre o médico e seu amigo fumante. Mibu conhece bem Muraki, faz tudo por ele, mas sabe que não tem retorno. Infelizmente, nosso vilão já perdeu a capacidade de amar (se é que teve) há muito tempo. (1) ESTA ESCRITO, TSUZUKI. 22/01/06.