N/A: Mais uma vez estou me desculpando pela demora... Mas temo ser inevitável. Lembro novamente que essa fic não será abandonada. De fato, se tem alguém que gostaria de ser avisado quando eu atualizo, peça em uma review (achou que fosse se livrar da review?) que eu mando um email toda vez que um novo capítulo for ao ar.

Algo importante a ser dito é: sim, eu li Half-Blood Prince. Contudo, tendo eu mesma completa aversão a spoilers, planejo ignorar solenemente o que eu li quando for escrever essa fic. Logo, não se preocupem.

Agradecimentos, como não poderia faltar, à minha beta Julie Weasley (Julie Goskes, para quem a conhece pelo e às sempre muito bem-vindas reviews: miaka, Miri, Lucka, yne-chan, Ana Bya Potter, Lissa e Bia, orbigada mesmo! Respondendo à pergunta da Bia, não sei quantos capítulos irei escrever. Eu tenho mais ou menos um plano, mas números redondinhos são impossíveis de serem dados, já que os personagens têm uma tendência a tomarem as próprias decisões por aqui.

Mais uma coisinha antes de deixá-los com o capítulo: não me matem. Eu sou a única que sei o final (risada maléfica).

&&&&&&

Capítulo 3

Para a felicidade de Draco, os gêmeos não voltaram a interrogá-lo. Ele continuou, contudo, olhando para os lados no Ministério e na rua por uma questão de segurança.

Sua vida seguia no que poderia se enquadrar como "normalmente", apesar de não ter Ginny a seu lado. Odiava admitir, mas sentia falta dela, ao que constantemente repetia a si mesmo "ela fez sua escolha". Após um tempo, isso finalmente começou a funcionar, apesar das ausências que o atacavam de vez em quando.

"Sr. Malfoy?" chamou uma voz feminina que parecia estar vindo de um lugar distante em sua mente já há alguns segundos.

"Sim?" perguntou, finalmente sendo capaz de focalizar a jovem parada a sua frente.

"Sou funcionária do centro de obliviação, trabalhei no caso Matthews. Disseram-me que havia uma irregularidade com os papéis."

"Correto." disse, sem ânimo. "Seu nome é..."

"Delilah Dashwood." ao dizer seu nome, a morena viu o rosto de Draco exprimir familiaridade. "Nos conhecemos no baile do Ministério."

O loiro concordou com a cabeça, ainda incapaz de colocá-la no lugar certo, mas optando por não ficar relembrando os acontecimentos do Halloween.

"Gostaria de tomar uma xícara de chá após o expediente?" ofereceu ela, uma vez que os problemas com a papelada foram sido resolvidos

Draco pensou por um momento, imaginando se deveria aceitar. Decidiu-se por ir, no fim das contas, sem saber que uma coruja abrira caminho devido à uma fresta na janela de seu apartamento e deixara na mesa um motivo para ele recusar o convite.

&&&&&&

Com as coisas postas ao menos no caminho certo com Draco, Ginny resolveu tentar se ajeitar com a família. Na verdade, sentia falta da mesa de jantar repleta de gente com os pratos passando de mão em mão numa sincronia quase surreal.

No dia seguinte, seguiu para 'A Toca depois do expediente. Sabia que Charlie ainda estava por lá e poderia ajudar no controle de danos. Batendo na porta dos fundos, foi atendida por sua mãe, cujos olhos se encheram d'água ao ver a filha. A mais velha jogou seus braços em volta da outra dizendo palavras que Ginny não conseguia distinguir propriamente, uma vez que estavam abafadas contra seu ombro. Ela obviamente acreditava que a filha estava solteira novamente e parecia disposta a esquecer o ocorrido. Feliz com a situação, Ginny decidiu esperar o resultado de sua carta antes de dizer qualquer coisa. Não queria causar uma comoção por algo que potencialmente não mudaria nada.

Após recuperar o controle, Molly fez com que a filha se sentasse. A pessoas, então, começaram a chegar e Ginny viu sua mãe ir para a sala avisar a todos de sua presença e que era melhor eles se comportarem.

Fred, George, Ron e o Sr Weasley obedeceram, mas junto com Harry, não falaram muito durante a refeição. De fato, Hermione e Charlie eram os que tentavam deixar a situação menos desconfortável.

Terminado o jantar, Ron e Hermione logo voltaram para casa com o objetivo de pôr Parthenope na cama. O ruivo foi frio ao se despedir da irmã. Os gêmeos também se retiraram logo e seguiram o exemplo do caçula. Já Charlie, tendo que voltar para a Romênia de manhã cedo, não tardou a ir dormir.

Quando o Sr. e a Sra. Weasley começaram a demonstrar sinais de cansaço, Harry se despediu. Contudo, após seus pais irem para cama, Ginny encontrou o rapaz parado do lado de fora.

"Pensei que você já tivesse ido." falou ela, parando ao lado de Harry e procurando o ponto no céu que ele encarava.

"Estava esperando por você." explicou ele, passando a olhar para a ruiva.

"Ah não! Você também não!" reclamou Ginny, antecipando o que iria ocorrer ali.

"O que...? Ah, seus irmãos não foram felizes com os sermões. Não... não é isso que eu vou fazer."

Ginny concordou com a cabeça e conjurou um banco para que eles pudessem sentar. Apertou de leve a mão de Harry para que ele falasse.

"Eu não sei o que aconteceu..." começou ele, olhando para algum lugar que não eram exatamente os olhos da ruiva, para evitar demonstrar seu próprio desapontamento com a escolha amorosa dela. "...mas só queria dizer que isso tudo me fez perceber uma coisa."

"Harry, eu..." Ginny temia o que estava por vir. Ela e Harry estavam oficialmente separados desde o seqüestro dela por Travers, mas aparentemente o rapaz estava tendo um surto nostálgico.

Ela não sabia o que dizer. Não queria mencionar a carta a Draco, pois isso traria caos se não fosse explicado aos Weasleys da forma correta.

"Não me entenda mal." explicou ele "Só que deixar claro que se você estiver precisando de algo..."

"Obrigada, Harry." ela se apressou em dizer, aliviada que ajuda era só o que ele oferecia.

Ginny então se desculpou e, sob o pretexto de uma reunião de manhã cedo no Gringotes francês, desaparatou para casa o mais rápido que pôde.

Só no apartamento ficou irritada com a insinuação de Harry. Uma interpretação mais profunda de seu discurso denotaria uma insinuação sobre os malefícios causados por Draco, ou que talvez ela não fosse tão forte terminando por "cair nas garras dele". Contudo, para evitar mais problemas, considerou estar exagerando um ato que não havia sido nada mais do que solícito. Muito provavelmente, Harry não havia deixado o espaço para aquela segunda interpretação de propósito. E talvez ela tivesse lido romances baratos demais, isso afetando seu julgamento.

&&&&&&

O dia 28 chegou com uma lentidão maior que a normal. Sempre que se espera por algo, o tempo tende a passar mais devagar. Aquilo, contudo, na visão de Ginny, era abusivo.

Após trocar de roupa alguns milhões de vezes, a ruiva acabou se decidindo por um vestido trouxa azul-petróleo. Grandma's Recepies era um restaurante não-mágico, e ela deveria manter a discrição. Chegou a seu destino vinte minutos antes do previsto. Tentou esperar em casa, mas sentia como se as paredes de seu apartamento a encarassem de forma inquisitiva.

Ginny escolheu uma mesa escondida no canto do estabelecimento. Olhou o local a seu redor. Diversas mesas cobertas com toalhas de linho branco e barras azul-roial eram ocupadas pelos tipos mais variados: um casal de jovens que não deviam passar dos dezessete anos, um casal de velhinhos, uma família enorme com cinco filhos e claramente mais um a caminho, um grupo de três amigas.

Ela encontrou a mesa na qual sentara com Draco há dois meses. Essa estava vazia. Ginny ficou observando conforme a vela derretia dentro do castiçal de vidro que enfeitava aquela e todas as mesas. Olhou para o relógio: eram sete e quarenta. Draco estava atrasado e a ruiva começava a imaginar se ele viria. Aranel voltara sem a carta, o que indicava que esta tinha chegado a seu destino. Mas ele poderia "acidentalmente" tê-la feito voar pela janela, como fazia com a correspondência de sua mãe.

Sete e quarenta e cinco. Sete e cinqüenta. Oito horas. Ele não viria. Era oficial. Devia ter queimado sua carta quando vira a caligrafia. Ginny tinha que admitir que seria a atitude que ela tomaria no lugar dele. Não... provavelmente não. A curiosidade falaria mais alto e ela iria querer ouvir o que ele tinha a dizer. Por que ele não podia ser um pouquinho mais grifinório?

A ruiva ainda esperou por mais quinze minutos. Quando a garçonete veio perguntar-lhe pela terceira vez se tinha certeza que não queria um aperitivo enquanto esperava, decidiu-se por ir embora. Pegou-se então imaginando se não seria melhor se as coisas tivessem terminado quando eles saíram da Borgin & Burkes.

&&&&&&

Draco se viu no meio de um dos corredores de Hogwarts. Uma nevasca sobrenatural caía e seu casaco não o esquentava o suficiente. Não conseguia se localizar e foi caminhando em busca de uma sala de aula que reconhecesse ou alguém que pudesse lhe explicar o que diabos estava acontecendo. Algo tinha que estar errado. As portas que tentava abrir estavam trancadas e o corredor parecia não ter fim.

Finalmente ele encontrou refúgio: atrás de uma porta de um estranho formato retorcido, havia uma sala com uma lareira. As janelas estavam fechadas, e ele pôde sentir o calor retornar a seu corpo. Olhou a seu redor e viu três poltronas, todas de costas para ele, de forma que Draco não podia dizer se estavam ou não ocupadas.

Parecendo ter atendido à pergunta que se formava na mente do loiro, as três poltronas se voltaram para ele. Sobre a luz bruxuleante do fogo da lareira, agora oposta às três figuras, Draco começou a distinguir rostos. À sua direita, via Ginevra, perfeitamente reconhecível pelos cabelos que se misturava com as chamas da lareira. No centro estava... como era mesmo o nome dela? Delilah, a moça que conhecera no baile de Halloween e encontrara de novo no Ministério. Tinha tomado café juntos. O que ela fazia ali? Esse pensamento começava a se formar quando foi interrompido pela imagem da mulher sentada na terceira e última cadeira, localizada à sua esquerda: os cabelos loiros lhe caíam pelos ombros e chegavam até sua cintura, seus olhos estavam fundos na face magérrima. Era como olhar para um espectro, enquanto lembranças invadiam sua mente: a aliança e o bilhete escrito a sangue. Estava olhando para Helah Travers, sua ex-noiva.

Draco acordou com um susto e com o coração acelerado. Sua cabeça girava, e o obrigou a fechar os olhos. Aquilo era pior do que a ressaca rotineira. Sentia como se os sinos de uma catedral tocassem incessantemente a três milímetros de distância.

Como se tomasse consciência de um novo fato, reabriu os olhos e confirmou o que uma parte longínqua de seu cérebro indicava: aquele não era seu quarto. Percorreu sua memória tentando relembrar como ele havia parado naquele local estranho e onde havia deixado suas roupas. Não obteve nenhuma das respostas.

Fechou os olhos novamente, então ouviu a porta do quarto ranger. Levou alguns segundos para que ele começasse a entender o que acontecia.

"Delilah, o que..." começou ele, sua cabeça doendo com o próprio som da sua voz.

"Shh. Não fale nada. Trouxe café para você." disse a jovem morena, sorrindo.

"Não quero café." retrucou Draco, ficando impaciente. "Quero saber o que..."

"Silencio!" disse ela, guardando sua varinha rapidamente e fora do alcance de Draco. "Assim está melhor. Vamos, beba." Delilah sorria todo o tempo.

&&&&&&

Ginny estava arrasada. Não querendo se levantar e deixar o restaurante acabou comendo sozinha. Até o último instante uma parte cada vez mais abafada de si acreditava que Draco iria entrar pela porta. Mas ela estava errada. Ele não apareceu.

Ao terminar a refeição, ou pelo menos desistir de desenvolver algum apetite, a ruiva não sabia o que fazer. Não queria voltar para seu apartamento e ficar lá sentada sozinha. Então uma idéia lhe veio à mente: conhecia um lugar onde, naquele horário, a casa estaria cheia. É verdade que n'A Toca ela não iria encontrar pessoas receptivas ao seu problema, contudo qualquer assunto que não envolvesse Draco Malfoy seria sublime nesse momento.

Aparatou do lado de fora da casa e, ao levantar a mão para bater, acertou apenas o ar: Harry estava saindo. Ele ia cumprimentá-la, mas ela pediu silêncio. Conseguia distinguir as sombras de Fred e George e começava a se arrepender de ter ido para ali.

Harry fechou a porta atrás de si e eles se afastaram um pouco da casa.

"Vai me explicar porque você quase bateu na minha cabeça e depois desistiu de entrar?" perguntou ele, em um tom ligeiramente zombeteiro.

"Ele não apareceu." disse ela, quase num sussurro, falando mais para si e não em resposta à pergunta de Harry.

Então ela o beijou. Como se quisesse saber como aquilo a faria se sentir. E o que descobriu era que estava anestesiada. Não era nada como costumava ser no passado, mas a busca por uma lembrança a fazia querer mais. Procurava por algo que jamais encontraria em Harry, mas não desistia.

Ela percebia que o rapaz havia sido pego de surpresa. Mas não parecia se importar. Muito pelo contrário, rapidamente passou os braços por sua cintura e puxou-a para si. Talvez achasse que o que Ginny tivera com Draco fora uma "fase", um "deslize", como seus irmãos colocaram. Talvez achasse que ela, após experimentar o outro lado, tivesse resolvido voltar para ele.

Ginny atingiu um ponto em que queria parar. Aquilo não podia fazer bem a ela. Mas, mais importante que isso, aquilo não fazia mal. E era com esse pensamento que ela continuava.

"Tenho que perguntar..." começou Harry, descolando, com dificuldade, seus lábios dos dela. "...o que você está fazendo?"

"Não me faça parar agora, Harry." pediu ela, incapaz de abrir os olhos para olha-lo.

Embora Ginny não admitisse, se ele hesitasse, talvez ela desistisse. Era por isso que o implorava para continuar. Sem palavras aquilo seria extremamente fácil. Pensamentos não eram bem-vindos.

Agindo por impulsos, tentando pensar o menos possível, ela não parou. Não deu chance à parte que dizia que não era tarde para parar. Não. Essa voz havia sido sufocada lentamente enquanto ela esperava no restaurante. Tinha que arrumar um jeito de seguir em frente, e a forma que encontrara era dando dois passos para trás. De volta a Harry. De volta a algo que ela sabia funcionar através de engrenagens bem mais simples que as que ela experimentara nos últimos meses.

Foi escolhendo o caminho mais fácil do momento que Ginny terminou sua noite.

&&&&&&

"Imagino que esteja com uma enorme dor de cabeça." disse Delilah, enquanto penteava os cabelos molhados frente ao espelho. Tinha acabado de sair do banho e mantinha Draco sob o feitiço silenciador. "Pare de se debater. Não vai desfazer um nó mágico pela força. As cordas vão machucar os seus pulsos. Quer se suicidar? Qual seria a graça nisso?"

Era uma situação indescritível. Draco ainda não conseguia se lembrar do que acontecera após ter saído do Ministério com Delilah. Sabia que o planejado era uma xícara de chá, mas duvidava que isso tivesse ocorrido. Não... Em algum momento as coisas ficaram confusas, até que ele acordou ali, após o pesadelo. Até esse, agora, começava a fugir de sua mente. Ele tentava segurá-lo com todas as forças, mas a jovem que calmamente caminhava pelo quarto tirava sua atenção. Algo o dizia que ela era mais do que uma simples funcionária do Ministério.

"Seu silêncio me incomoda." disse ela, sentando-se na cama ao lado dele e checando se as cordas realmente não haviam afrouxado. "Se me prometer se comportar, deixo você falar. Até respondo algumas perguntas. Você as tem, não? Duvido muito que ser estuporado tenha reduzido sua capacidade de raciocínio."

Ao olhar que misturava ódio e espanto que o loiro a lançava, Delilah sorriu satisfeita. Então, retirou o feitiço, algo que fez com a varinha de Draco, com o único objetivo de mostrar que esta estava sob sua posse.

"Quem é você? Por que estou aqui? O que você quer?" ele lançava uma pergunta atrás da outra. Era bom poder usar a voz depois de horas. E era surpreendente poder dar a ela aquele tom gélido, acompanhando o olhar que ele lançava à mulher.

"Não seja tão apressado. Não foi assim que você agiu ontem." ela sorriu maliciosamente e fez uma pausa para ler no rosto dele a reação que suas palavras causavam. Não teve sucesso. Draco permanecia indecifrável. Havia recuperado o controle de suas emoções. "Estou brincando." emendou ela, percebendo que não ganharia nada indo por aquele caminho. Não por enquanto pelo menos.

"Não estou rindo de nenhuma das hipóteses." retrucou Draco. Aquilo provavelmente não era sábio, considerando que ele estava amarrado e sem condições algumas de alcançar sua varinha. Ginevra devia ter lhe passado aquela maldita mania de falar as coisas sem medir as palavras. Onde será que a ruiva estaria agora?

"Meu nome, como você já sabe, é Delilah Jones. E o trouxe aqui porque resolvi que, se o Ministério não o coloca em Azkaban, alguma atitude precisa ser tomada por iniciativa particular." por um segundo, Draco demonstrou estar confuso. Talvez fosse mais vulnerável do que gostava de admitir. "Você realmente não se lembra de mim, Draco? Isso me deprime. Mas é totalmente esperado. Afinal, só nos vimos numa festa de noivado. Eu era, sou, a irmã da noiva. E você..." ela passou a mão pela face do loiro "Você era o noivo."