N/A: Outubro acabou por me trazer um certo bloqueio. E eu só consegui resolver esse problema quando entrei de férias. Depois disso, as coisas voltaram a fluir. Obrigada pela paciência de vocês e obrigada a Bianca B. Malfoy, miaka, Bruxicca, aNiTa JOyCe BeLiCe, Holly Potter e Helena Malfoy pelas reviews. Agradecimentos também a minha beta Julie Weasley.

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Capítulo 5

Ginny acordou com a pior das ressacas: a que não envolvia álcool. O fruto de sua dor de cabeça e de seu mal-estar estava deitado a seu lado, adormecido. Ela se levantou e foi até o banheiro jogar água no rosto. Seguiu então para a cozinha e olhou para o calendário: grande erro.

Preocupada em se martirizar pelo que havia feito na noite anterior, ela se esquecera da data. Vinte e nove de novembro: aniversário de Bill Weasley. Depois dos dois primeiros anos, essa data continuava triste, porém mais amena. Daquela vez, contudo, fez com que ela se jogasse na cadeira, catatônica.

Após o choque inicial, a ruiva tomou uma decisão. Porque, agora, Bill a lembrava de Draco, e Draco, por sua vez, a lembrava do que tinha feito na noite anterior. Trocou de roupa após um rápido banho, sem se preocupar se estava combinando ou não. Por sorte, as únicas peças destoantes eram suas meias: uma roxa e uma verde.

Olhou no relógio; eram 8:45, o que a fez amaldiçoar a diferença de fuso anglo-francesa.. Chegaria atrasada no trabalho, mas muito cedo para encontrar Draco no Ministério. Por isso, sem ao menos se lembrar que Harry ainda dormia, aparatou para a rua do apartamento de Malfoy.

Ela bateu incessantemente por cinco minutos. Respirou, e bateu mais um pouco. Se Draco viesse a atender, ela continuaria a bater, mas nele ao invés da porta. No entanto, ele não atendeu.

Felizmente, Ginny não se atrasou demasiadamente. Por outro lado, mal chegou a hora do almoço e ela dirigiu-se para o Ministério da Magia londrino. Após toda a burocracia para conseguir entrar, ela finalmente chegou ao terceiro andar.

O chefe do departamento a atendeu. Teria reconhecido-a imediatamente se não relutasse em usar os óculos para corrigir sua miopia. Quando a bruxa expressou seu desejo de falar com Draco, uma veia saltou na testa do homem cujo contraste da face vermelha com os cabelos brancos tornou-se estarrecedor. Ele começou a esbravejar sobre como jamais deveria ter dado o emprego ao loiro.

"Além de não perceber óbvias irregularidades em relatórios, falta sem dar aviso prévio!" ele respirou fundo e tomou um gole d'água "Se o vir, minha filha, diga-lhe que ele não precisa se preocupar em voltar." disse, pondo fim ao assunto.

Ginny deixou o Ministério incerta se estava melhor ou pior. Ela, de fato, tinha perdido a vontade de se humilhar publicamente discutindo (com palavras ou com os punhos) sobre como ela odiou ficar esperando por Draco aparecer no restaurante. Mas, também, a raiva que sentia se transformou em preocupação. Claro, o rapaz odiava o emprego. No entanto, não largaria tudo por impulso.

A ruiva se aproximava da saída quando se chocou com alguém. Acabou por cair no chão e foi ajudada pela mulher que a havia derrubado, enquanto ambas se desculpavam. A outra bruxa sorriu para ela, mas de uma forma que causou uma certa inquietação na Weasley. Sentiu um toque de familiaridade, que logo deixou para trás junto com a lembrança do olhar da morena. Seguiu o seu caminho, pensando ainda mais (se é que isso era possível) no que poderia ter acontecido com Draco.

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No almoço de domingo na Toca, Ginny soube que a ameaça do Sr Miller sobre a demissão tinha se concretizado. O assunto era motivo de piada na mesa dos Weasley. Molly tentou censurar as gracinhas no começo, mas acabou se dando por vencida até porque, depois de descobrir o envolvimento entre ele e sua filha, não estava mais tão disposta a defendê-lo.

"Olha! Meu purê de batatas parece a cabeça do Malfoy!" falou George, ao que Fred fingiu um ataque e pulou por cima dele para ver.

"Está demitido!" disse Fred, usando o garfo para derrubar a escultura de comida.

Ginny assistia a tudo tentando ao máximo não parecer irritada com as frases ácidas. De vez em quando, forçava uma risada, mas já estava chegando a seu limite. Quando ela cortou o bife com tanta força que o fez voar por metade da mesa, resolveu que já havia saciado seu apetite. Parthenope acordou e chorou e a ruiva imediatamente se ofereceu para acalmar a menina.

Levou a sobrinha para dentro da casa (o almoço estava sendo feito no quintal devido a grande quantidade de pessoas presentes) e começou a niná-la. A menina logo dormiu novamente mas, perdida em pensamentos, a bruxa continuou a balançá-la e a cantarolar uma canção de ninar que ela só sabia pela metade.

"Não sei o que eu faria sem você." disse a voz de Hermione atrás dela. A caçula dos Weasleys sabia que isso não era verdade e que, apesar do desespero do primeiro mês, a esposa de seu irmão era tão boa na maternidade como era em tudo o mais. Os trezentos e vinte e cinco livros que ela havia lido durante a gravidez garantiam isso.

"Não te ouvi entrando. Ela dormiu." sussurou, notando que tivera sucesso em sua tarefa. Passou Parthenope para os braços da mãe e sentou-se, sem pressa de voltar para fora.

"Sei que vocês não têm mais nada, mas ainda acho que o que está sendo feito lá fora está tomando proporções desnecessárias. Achei que deveria dizer isso a você." falou a morena, colocando uma das mãos sobre o ombro da outra.

"Ahn? O quê? Ah... Eu não me importo..." mentiu, de forma não muito convincente. Na verdade, o fato de Draco ter simplesmente sumido da face da Terra a incomodava e muito. E escutar seus irmãos fazendo pouco caso do assunto não lhe agradava em nada.

"Claro que não." disse Hermione, sorrindo. Então uma sombra se fez na parede e deu lugar a Harry, que tinha as mãos nos bolsos e os cabelos bagunçados como sempre. "Vou deixá-los a sós." falou, sumindo mais rápido do que teria se tivesse desaparatado.

Ginny se virou incrédula para o local onde a Granger-Weasley estava sentada e depois olhou para o rapaz de óculos que encarava o chão. Ele tinha contado. Ela simplesmente sabia.

"Eu preciso me desculpar com você. Sobre..."

"Sem necessidade de especificar." interrompeu ele, que pressentira isso quando acordou sozinho. "Na verdade, eu já sabia quem não tinha aparecido. Só escolhi não escutar." O sussurro de Ginny antes do beijo tinha sido audível o suficiente no fim das contas. E parando-se para pensar um pouco, não foi difícil chegar a uma conclusão no dia seguinte.

"Foi um erro... Me desculpa por ter usado você." Ele agora estava sentado ao lado dela, e ela o olhava nos olhos como para provar estar sendo sincera.

"Me desculpa por não ter percebido antes." Aquilo pareceu exigir um enorme esforço para ser dito. Afinal, ele não aceitava a idéia dela preferir Malfoy. "Não sei se importa, mas ainda bem que fui eu quem você usou."

"Você é ridículo." disse ela, empurrando-o pelo ombro e rindo. "E eu te adoro por isso, obrigada." Ginny então beijou-o no rosto e resolveu que era hora de ir para casa.

De volta à França, ela sentou-se no local onde tinha usado a rosa para bater em Draco da última vez que o vira. Podia sentir que algo estava errado. Ou será que isso era melhor do que a idéia de ter sido abandonada no restaurante?

"Não, Ginevra. algo errado." disse ela a si mesma, surpreendendo-se por ter usado o próprio nome completo.

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A ruiva tentou, nos cinco dias que se seguiram, obter mais alguma informação sobre Draco. Mas isso acabou sendo algo muito mais difícil do que ela planejara. Com pessoas normais, se procuram parentes, amigos, qualquer um com alguma espécie de ligação. Contudo, no quesito "relações humanas", Draco Malfoy não era nada corriqueiro.

Tinha voltado ao apartamento dele, sem que ninguém atendesse. Tentou esperar por ele no mercado no qual costumava comprar comida toda quinta feira, mas ele não apareceu. Descobriu que, no Ministério da Magia, ele tinha sido demitido por carta, não tendo voltado nunca mais ao local.

"Isso é ridículo. Me sinto uma psicopata perseguindo-o. E nem ao menos sei o que vou dizer se encontrá-lo. Não sei nem porque me esforço tanto. Só para provar que consigo achá-lo melhor do que ele pode se esconder?" pensava ela, sabendo que a verdadeira resposta era que ela queria vê-lo inteiro e bem. Para poder machucá-lo depois, óbvio.

Na sexta feira, Ginny resolveu que iria tentar uma última vez o apartamento. Só que não iria só bater. Foi liberada um pouco mais cedo do Gringotes, por ter conseguido deixar tudo em ordem antes do fim do expediente, e o sol ainda não havia se posto quando ela chegou no movimentado centro londrino e subiu os dois lances de escada que a separavam de seu objetivo.

Ela bateu por dez segundos antes de puxar a varinha. Não havia nenhum trouxa no corredor e ela torcia para que nenhum dos vizinhos fosse curioso o suficiente para ficar observando-a pelo olho mágico de suas portas. Caso estivessem, o Sr Miller iria ter um trabalhinho extra.

"Alohomora." sussurou ela, ouvindo a tranca da porta virar. Seu caminho estava livre agora.

Nada podia prepará-la para o que ela viria a encontrar. Porque o local não estava apenas desabitado, mas parecia permanecer assim há algum tempo, para o desespero da ruiva. Sobre o balcão da cozinha, havia uma caixa de leite muito mais que azedo e uma maçã comida pela metade, já apodrecendo. A planta no canto da sala, a qual havia sido um presente dela, certamente não era regada há mais de uma semana.

A mesa que ficava embaixo da janela estava um caos. O vento que vinha por uma fresta havia espalhado papéis para todos os lados. Nervosa, Ginny inconscientemente começou a arrumar as coisas até que viu uma caligrafia familiar: a sua própria. Era o bilhete que ela havia mandando a Draco para que pudessem se encontrar. Estava lacrado. Ele nunca havia o lido.

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Ele caía. Em meio a escuridão e a eternidade, ele caía. De repente, atingia o chão. Mas antes que pudesse se colocar de pé, voltava a cair. Até que finalmente parou. Não obstante, não tinha forças ou vontade de se erguer. Queria cair novamente apenas para poder desejar parar.

Quando Draco acordou, não estava sobressaltado ou suando. Estava tão estático quanto no sonho. Aparentemente seu sono não seria mais tranqüilo. Delilah tinha saído assim que percebera as implicações da fala do loiro sobre Ginny e Travers. Ao contrário do que normalmente acontecia, ele não dormiu imediatamente.

Não sabia o que era pior. Porque permanecer desperto levou-o a se martirizar pelo que tinha feito. O brilho nos olhos da morena ao conectar os pontos mostrava que a Weasley estava em perigo. E Draco não ficava mais surpreso em saber que ele realmente se importava. Sim, eles não estavam mais juntos. Mas apesar do que havia se convencido anteriormente, ele a queria de volta. E isso não seria possível se Ginevra morresse.

Foi então que um elfo doméstico entrou. Em suas mãos severamente feridas, ele trazia a bebida que colocaria o loiro no sono que havia durado até aquele momento. A taça forçou caminho por seus lábios de forma que ele não podia negar seu conteúdo. Além disso, estava ligeiramente anestesiado e não apresentou grande barreira.

Agora, com vestes diferentes das que usava no último momento de consciência, ele imaginava quanto tempo tinha se passado e qual atitude Delilah tinha tomado. Ele tinha certeza de que ela iria vir relatar suas ações com orgulho em breve e só tinha como opção imaginar o que seria descrito.

Suas suspeitas, contudo, se mostraram incorretas. A bruxa se fez presente por um pedaço de pergaminho que funcionava de forma muito similar aos bilhetes e memorando que circulavam pelo Ministério. Ele parou na altura dos olhos de Draco.

"Não se preocupe, irá vê-la em breve." eram as palavras que cintilavam com a tinta vermelha que ainda secava.

Minutos depois, Ginny se virava para atender o chamado da voz de Delilah.

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A voz quase gélida que veio da porta de entrada fez com que a ruiva derrubasse a carta no chão. Ela se virou pegando a varinha, mas era tarde demais: estava imobilizada.

"Estive seguindo seus passos nos últimos três dias. Imaginei que era só uma questão de tempo para você arrombar esse lugar. Desculpe não ter aparecido antes. Tive que deixar... Um recado para alguém." explicou ela, se aproximando de uma Ginny que, apesar de imóvel, fazia todo o esforço possível para tentar alcançar sua varinha. "Permita-me que eu me apresente. Sou Delilah Dashwood. Ou Travers, se você preferir."

Na cabeça da Weasley, as coisas começaram a fazer sentido rapidamente, talvez para compensar a falta de movimentos do seu corpo. Ela ainda tinha algumas lacunas a serem preenchidas e uma pergunta principal, cuja resposta ela já sabia, mas temia ouvir.

"Sente falta dele? Nossa, como vocês são patéticos." Aos poucos, Ginny começou a retomar os movimentos. Tentou não demonstrar isso, mas sua mão se contraiu involuntariamente. "Não, não. Quietinha, Ginevra." disse Delilah, colocando a própria varinha na garganta da ruiva.

"O que você quer?" perguntou ela, tentando ganhar tempo enquanto arquitetava um plano.

"Você. Pois, perceba só, já tenho seu amor para mim." falou ela, saboreando as últimas palavras e tornando bem difícil para a Weasley manter o controle.

"Expelliar..."

"Estupefaça!" Delilah tinha sido mais rápida e Ginny estava agora caída a seus pés inconsciente. "Isso é simplesmente fácil demais..."

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Quando Ginny acordou estava numa sala praticamente vazia. Havia uma esteira sobre qual ela estava deitada e a iluminação era proveniente de um único candelabro com cinco velas. Havia uma porta de madeira escura e dobradiças de ferro e uma janela cujos vidros estavam escuros e não permitiam a visão do outro lado.

Por instinto, ela nem ao menos queria saber onde estava e apenas seguiu para porta. O metal da maçaneta estava frio e não girava. Estava trancada. Procurou sua varinha, sem conseguir encontrá-la.

A Weasley tentava pensar, mas sua cabeça latejava. Não havia muito o que questionar. A apresentação da bruxa morena colocava as coisas sob perspectiva. Claro que haviam outros "Travers" sem ligação com seu seqüestrador, porém ela duvidava que algum deles iria procurá-la. Delilah sabia o que Ginny tinha feito, isso era óbvio. Por outro lado, pouquíssimas pessoas sabiam sobre isso. O que levava a Draco.

Tinha que ter sido ele. Contudo, porque? No fundo da sua memória, a ruiva tirou a lembrança do baile de Halloween do Ministério e da mulher que conversava com Malfoy no bar. Ainda assim, era ilógico o loiro fazer revelações de fatos os quais não lhe diziam respeito para uma parente de sua ex-noiva. Lembrou-se, então, do que tinha imaginado quando vira a bruxa na porta do apartamento. A relação entre os dois não era de amizade, ou qualquer outra coisa. Ela o tinha cativo. Explicações se faziam necessárias mais do que nunca.

Como se atendesse ao pedido da ruiva, Delilah entrou pela porta e Ginny imediatamente viu-se imóvel. Começou a pensar que palavras deveria escolher, mas logo abandonou essa cautela.

"Quem exatamente é você?" perguntou ela, querendo saber qual exatamente era o grau de parentesco entre a morena e o Sr Travers.

"Perdoe minha falta de modos, Srta Weasley. Não fui muito específica, não é mesmo? Sou filha do homem que a senhorita assassinou." disse ela, de forma simples querendo saborear o efeito de suas palavras.

"Fugiu de Azkaban?" inquiriu Ginny, tentando manter a calma. "Delilah não era o nome da noiva de Draco. E ela é muito nova. Não pode ser ela, sua estúpida" pensou, censurando-se.

"Helah está em Azkaban. Mas eu estou livre." Seu tom tinha ido a um nível ligeiramente ameaçador. "Como sou uma mulher de palavra..." Com isso ela tirou a varinha das vestes e apontou para a janela.

Ginny olhou através do vidro e seu coração pulou uma batida. Do outro lado, em uma sala não muito diferente da dela própria, estava Draco Malfoy.

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Quando Delilah voltou, informou a Draco que ele mudaria de aposentos. "A situação se encontra um pouco diferente agora. Não vai ser tão confortável mas talvez a decoração o agrade." disse ela, antes de estuporá-lo.

Quando ele acordou, viu a morena a sua frente ainda segurando a varinha após ter usado o feitiço para trazê-lo de volta à consciência. Olhando em volta imaginou o que ela estaria dizendo ao falar em "decoração". Ali só havia um candelabro, uma esteira e uma janela escura.

"Eu mantenho minhas promessas, Draco." Foi o que ela disse antes de deixar o local, proporcionando ao loiro o retorno de seus movimentos.

Passaram-se cinco minutos antes que ele pudesse compreender o deturpado sentido das palavras da bruxa. Porque o vidro não estava mais escuro. E a visão do outro lado era extremamente nítida.

Ao ver Ginevra Weasley, ele não sabia se se sentia feliz por vê-la viva, ou apreensivo por vê-la ali. Permaneceu controlado, lançando um olhar frio e sem emoções aparentes para o outro lado. Sabia que ela também podia vê-lo. Parecia ter o corpo imóvel, seus olhos castanhos, porém, tinham vida e encaravam fundo nos seus.

Então, tão súbito quanto tinha ficado cristalina, a janela voltou a escurecer.