N/A: Primeiramente quero desejar a todos um feliz 2006 (é fevereiro, mas eu ainda não tive a oportunidade de fazer isso). Nesse próximo capítulo há finalmente a action que eu queria tanto escrever, então espero que gostem! Agradecimentos, como de costume, a minha beta Julie, e a miaka, aNiTa JOyCe BeLiCe e Bianca B. Malfoy pelas reviews.

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Capítulo 6

Delilah saiu logo depois que o vidro escureceu, deixando Ginny catatônica, apesar do feitiço que a deixava imóvel não estar mais agindo. Ela queria vê-lo de novo. Poder falar com ele agora que estava sozinha. Tocá-lo e ter certeza de que ele estava bem. Recuperando a consciência de seu próprio corpo, ela caminhou até a grande janela que ocupava praticamente toda a parede com exceção de trinta centímetros em seu entorno. Chegou a encostar seu nariz contra o vidro mas não podia ver nada. A não ser um flash de...

"Não, não era nada," pensou ela, sentando-se com as costas apoiadas na janela sem consciência que do outro lado, Draco também tinha sua face contra o vidro e por um segundo achou ter visto olhos do outro lado. Os olhos dela. Mas logo deduziu que sua mente lhe pregava peças e, com raiva, socou o chão quando se sentou.

Nenhum dos dois sabia o que esperar dos próximos momentos. E os minutos logo se transformaram em horas. Em sincronia, um elfo doméstico entrou em cada sala deixando na porta uma refeição. Malfoy agradeceu por esta ter elementos sólidos e ingeriu tudo sem ao menos pensar na possibilidade de possuir veneno. Não mais acreditava que teria. Já Ginny, nem chegou perto da comida.

A esteira era muito mais confortável do que parecia mas, com as mentes alertas, dormir acabou se mostrando algo mais complicado na prática. Era impossível definir as horas quando o sono venceu cada um deles. Dessa vez, não houve poções. Era apenas a exaustão ganhando a batalha contra o medo de adormecer.

O fato da iluminação ser proporcionada apenas pelas velas não tornava possível descobrir que horas eram quando Ginny acordou sobressaltada. Ela queria saber o que estava acontecendo e o que Delilah planejava fazer com ela ali. Contudo, sabia estar em meio a um jogo mental e que, portanto, não obteria esse tipo de resposta tão cedo. Se é que sobreviveria por mais tempo. Esfregando os olhos, reparou que a refeição de outrora tinha sido retirada. Os sons vindos de seu estômago a faziam imaginar se não comer tinha sido uma atitude prudente. Ela então olhou para a janela e pôde contemplar que o vidro estava, mais uma vez, cristalino.

A ruiva se levantou e correu na direção de Draco que, no meio de sua própria sala, dormia. Não havia sinal de Delilah, mas a Weasley não quis ponderar o que aquilo significava. Sua meta era atravessar a sólida parede que a separava do loiro; obviamente não obteve sucesso. Começou, pois, a bater contra o vidro e a chamar por ele e essa parte pareceu ser eficiente: apesar de meio abafado, Draco começou a ouvir gritos que primeiro acreditou serem sonho, mas que logo se tornaram bem reais.

"Não seja tão delicada, Ginevra," disse ele, acordando com os cabelos insuportavelmente arrumados. Iria bocejar, mas a ruiva parecia não ter gostado de suas palavras e estava pronta para esbravejar. "Não faça isso. Foi uma brincadeira. Acreditava que seu senso de humor superava o meu."

"UMA BRINCADEIRA!" Ela obviamente não iria superar aquilo rapidamente. "O que diabos está acontecendo aqui!" Os gritos dela pareciam ter quebrado as últimas barreiras sonoras e agora eles podiam se ouvir como se não houvesse nada entre eles. E, Draco imaginava, as pessoas na esquina poderiam ouvi-la claramente.

"Quer gritar mais alguma coisa ou já se deu por satisfeita?" Ele perguntou. Estava ali há tanto tempo que não se dava mais ao luxo de perder o controle. Não que se lembrasse de ter feito alguma cena como aquela. Ela se calou e, apesar da respiração ainda descompassada, iria deixá-lo falar agora.

"Delilah é a irmã mais nova de Helah, minha ex-noiva que está em Azkaban. É também filha daquele ótimo senhor comensal que você conheceu há mais ou menos um ano. O que me lembra: pessoas nessa família precisam parar de te seqüestrar."

"Você não me disse nada de novo," disse ela, cruzando os braços impaciente. "Ela me informou essa parte. Quero os detalhes. Comece por isso," ela gesticulou, indicando a sala em que se encontrava.

"Não posso comentar essa parte," explicou, revirando os olhos. "Não posso dizer o que eu não sei, Ginevra!" Apressou-se em acrescentar, antes que a ruiva pudesse protestar.

"E por que você está aqui?"

"Um 'objetivo maior' foi mencionado. Mas não sei precisar o que é."

"Você está aqui há um bom tempo," começou ela, já mais calma e sentando-se bem perto à janela, seu rosto quase colado ao vidro. "Eu fiquei preocupada. Eu estava no seu apartamento no lusco-fusco quando ela apareceu."

"Lusco o quê?" O bruxo planejava se concentrar na parte em que ela admitia estar preocupada, mas a palavra acabou por prender sua atenção. Sabia que muito provavelmente era uma das excentricidades dela, contudo jamais conseguira se acostumar a elas.

"Lusco-fusco. É um momento do dia. Quando o sol se põe. Não acredito que você nunca tenha ouvido isso," explicou. "O que você está olhando?" Ele a encarava pensativo.

"Seu cabelo... Deu falta de alguma parte dele ultimamente?" Draco pensava na mecha ruiva que o fizera perder as estribeiras e revelar o segredo de Ginny. Mas a bruxa não parecia ter perdido nada.

"Do que..."

"Delilah tinha uma parte dele. Era seu. Eu reconheço," a última parte foi acrescentada a contra-gosto apenas para tentar dar um toque mais definitivo a sua explicação. Na verdade, o loiro acreditava que estava demonstrando fraqueza. Talvez, antes do baile de Halloween, aquilo fosse mais fácil de admitir. Porém, agora sentia-se como se tivesse dado vinte passos para trás e por mais que tivesse sentido falta dela, teria que manter aquela postura.

Ginny se afastou da janela e foi sentar-se em sua esteira praticamente de costas para ele. Conseguia distinguir muito bem o tom que ele estava usando e estava ainda muito confusa para abraçar uma discussão do gênero que estava por vir.

"O que você está fazendo?" Perguntou ele, sem paciência, ficando de pé. Na verdade, queria ir até ela e sacudi-la de volta à realidade que ela parecia estar tendo problemas em absorver.

"Tentando lhe oferecer o espaço que vocês está obviamente almejando enquanto eu coloco meus próprios pensamentos em ordem. Então se você não se importa..." Ela gesticulou como se espantasse meia dúzia de galinhas invisíveis.

Ele não se deu ao trabalho de responder. Aquilo definitivamente não era como ele imaginava vê-la novamente. Por outro lado, as circunstâncias também eram adversas. Ele havia esquecido o quanto ela lhe dava nos nervos quando queria. Não obstante, era impossível calar aquela voz que lhe dizia que ele a queria de volta apesar de tudo e que se não fosse pela barreira física que o impedia, ele não iria ter deixado-a em paz só porque ela havia pedido.

"Droga, Ginevra! Por que você tem que fazer tudo ficar mais difícil?" Esbravejou.

"Eu? EU!" Gritou a ruiva, ofendida e incrédula. "Como exatamente eu causo isso, Draco? Por favor, ilumine as coisas para mim. O que eu fiz?" Ela tinha um tom carregado de ironia e seus olhos não pararam de faiscar na direção do rapaz nem quando ela tropeçou no caminho até ele.

"Você passou a existir!" Ele não sabia que não estava fazendo muito sentido, pois em sua cabeça estava perfeitamente claro o que ele queria dizer.

"Se você fosse mais evasivo, você seria incapaz de se comunicar por palavras."

"Se você fosse mais temperamental, você..." Draco não conseguia completar a frase e acabou soltando um palavrão e dando as costas para ela. Ginny não tentou impedi-lo de forma alguma e também se virou.

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Os elfos trouxeram café da manhã para cada um. O organismo de Ginny, no entanto, não parecia acreditar que era cedo. A janela permanecia cristalina mas nenhum dos dois falava ou sequer trocava olhares. Pelo canto do olho, ela pôde notar que o loiro se alimentava sem problemas, e resolveu deixar suas apreensões de lado.

Estavam ambos empenhados em ignorar a existência do outro. E assim se mantiveram (com momentos de mais e outros de um pouco menos esforço) por horas. Chegaram a se alimentar mais uma vez quando algo além de talheres interrompeu o silêncio do local. Uma vez. E outra. Mais uma.

"O que é isso, Ginevra?"

"O que é o que?" Ela devolveu a pergunta torcendo para que não acontecesse de novo. Mas foi inevitável. "Soluço, está bem?"

"Pare. É extremamente irritante," implicou ele, com o único objetivo de voltar a falar com ela.

"Não é como se eu fizesse de propósito!" Ela abriu a boca, indignada e acabou por soluçar ainda mais alto.

"Prenda a respiração ou algo assim. Tente fazer isso permanentemente, se possível," seu tom gélido o levava para ainda mais longe do harmonioso reencontro que Draco imaginara nos poucos momentos de lucidez sem Delilah por perto naquela casa. Ou seja lá aonde ele estava.

"Malfoy, cale a boca. Porque eu não preciso de outra estadia miserável e inevitável devido a algo que é sua culpa."

"Minha culpa? Você que matou o cara. Eu não tive nada a ver com isso," a mentira era descarada, mas ele iria mantê-la.

"Isso é golpe baixo, Draco. Até mesmo para você."

Ele queria fazer o vidro ficar escuro novamente. Ir para algum lugar onde ela não pudesse vê-lo. Queria pensar normalmente. Amaldiçoava o dia em que a conhecera. Mas, mais ainda, amaldiçoava o dia em que a perdera. Não queria mais nada daquilo e também a queria mais do que nunca, o que parecia impossível.

Para Ginny, os soluços tinham ido embora e junto com eles o sentido em ter desejado Draco de volta em algum momento. Qualquer avanço de caráter que ela havia observado nele enquanto estavam juntos tinha, de repente, desaparecido.

"Nunca achei que fosse voltar a te desprezar," disse, em um tom desprovido de emoções.

"Surpresa," foi a única palavra em resposta antes do feitiço sonoro voltar a se ativar e a janela, lentamente, escurecer.

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Delilah aproveitava o fim de semana para observar como os dois reagiam a essa nova situação. Quando voltasse a trabalhar iria deixar uma pena a transcrever cada movimento e cada palavra do casalzinho. Mas, por enquanto, tinha o prazer de poder assistir os efeitos de seus atos enquanto bebia vinho élfico e se deliciava com a confusão entre os dois. Draco mentia sem piscar sobre a revelação que fizera e que tornara as coisas para a morena muito mais fáceis. E a pobre Weasley tinha seu pobre coraçãozinho dilacerado.

"Menina tola..." Dizia ela para si mesma, enquanto refazia os feitiços. "Achou que podia brincar com um Malfoy. Se era difícil para Helah, que dirá para você."

Inevitavelmente, os pensamentos da morena foram levados a sua irmã mais velha. Elas nunca foram exatamente próximas, mas laços de sangue não foram feitos para serem quebrados. Lembrava do olhar de Helah quando a convidou para ser sua dama de honra. Ela estava contrariada e com raiva e não fazia muito esforço em esconder seus sentimentos. A única coisa que a impelia a falar era Josiah Travers, seu pai, parado a dois passos de distância.

Ela sentia falta de seu pai. Sempre fora a filha favorita. Talvez sua irmã tivesse maiores laços com sua mãe, que falecera quando Delilah tinha dez anos, mas aquela mulher nunca tivera poder de decisão dentro da residência dos Travers. A caçula era a verdadeira senhora da casa. E o que queria, ela conseguia em um piscar de olhos.

Na escola, logo montou um pequeno grupo de "amigos" sobre os quais tinha um certo grau de influência. Em relação às outras pessoas, porém, mantinha-se afastada e nunca foi uma aluna de grandes feitos, algo que irritava sua irmã, sempre a primeira de seu ano, extremamente, pois Sr Travers não lhe dava crédito nem por isso.

Não que sua irmã fosse uma completa inútil com exceção de seu boletim impecável. De fato, Delilah achava que por não ter destaque em casa, ela era mais suscetível a obtê-lo em outros lugares e foi provavelmente isso que chamou a atenção de Lucius Malfoy e o levou a apresentá-la ao filho. Talvez se Helah fosse mais quieta, as coisas estivessem sendo diferentes agora e quem sabe seu pai até poderia estar vivo, apesar do noivado não ter relação direta com a morte.

"E eu iria poder usar meu verdadeiro sobrenome..." Pensou ela. Porém, já que não podia mudar o passado iria pelo menos aproveitar o presente.

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Dois dias se passaram em que Draco e Ginny permaneceram em total isolamento um do outro. Enquanto o rapaz tentava inutilmente quebrar o candelabro que sempre voltava a pôr-se de pé, a ruiva derramou algumas poucas lágrimas, logo censuradas e enxutas.

Quando a comunicação foi reaberta, ela estava deitada com as pernas esticadas para cima e contra a parede. Sabia que devia estar preocupada com o fato de estar sendo mantida em cativeiro, mas depois de algumas horas cedeu ao inevitável: não havia nada que pudesse fazer. Chegou a tentar arrombar a porta, quebrar a parede, levitar para tentar quebrar o teto, tudo, a não ser ir contra a janela que a separava de Malfoy. Uma vez que nada funcionara, ela sucumbiu ao tédio. Era exatamente assim que estava agora. Se ao menos Delilah tivesse reaparecido, ela poderia tentar algo contra a bruxa.

Ela não tinha notado o restabelecimento da ligação entre os cômodos até ouvir uma palavra a qual causou um arrepio em sua espinha. Ginny sentou-se propriamente apenas para ver uma cena terrível: Draco se contorcia no chão diante da varinha que lhe lançava a Maldição Cruciatus. O grito veio pouco depois.

"Pare!" Ordenou a ruiva se levantando e batendo contra o vidro. "Pare!"

"Ah, Ginevra, quer brincar também?" Delilah parou por um momento para que não fosse necessário berrar para fazer se ouvir sobre os gritos de dor do bruxo.

"Não," disse ele, de forma quase inaudível.

"O que disse, Draco?" Perguntou a morena.

"Não a chame disso. Eu a chamo disso," ele não tinha forças para atacar Dashwood, e sabia que seria imobilizado se tentasse, não obstante sentou-se como pôde para tentar se impor.

Ela revirou os olhos e fez três movimentos com a varinha. Com o primeiro, impediu que ambos se mexessem; com o segundo, fez o vidro desaparecer; com o terceiro, disse "Crucio," e dessa vez seu alvo era Ginny.

"Muito obrigada, Srta. Weasley," sem mais, ela deixou o recinto restaurando o vidro - permitindo que ficasse cristalino - e os movimentos.

"Você está bem?" Perguntou a moça, massageando a parte da perna sobre a qual havia caído quando a maldição a atingira.

"'Desprezar' não é uma palavra de sentido óbvio para você, é?" Pessoas normais seriam capazes de agregar um sentido cômico àquela frase. Ele não era assim.

"Você me explica um pouco mais a cada dia," retrucou, ácida.

Draco tentou alcançá-la para poder impedir que ela fugisse para o outro lado da sala, e só encontrou o vidro. O barulho, contudo, fez com que ela se virasse.

"Não faça isso. Não tente me segurar."

"É, eu sei quais batalhas lutar."

"O que isso quer dizer?"

"Caso não se lembre, você é a razão de estarmos separados," ele se referia a briga em que tiveram quando foram descobertos. Havia sido ela quem perdera o controle.

"Isso não vem ao caso. E eu tentei consertar. A prova ainda está no chão de seu apartamento. Você nunca chegou a abrir ou sequer ver minha carta."

"Qual o conteúdo de tal correspondência?" Perguntou, usando um tom irônico para tentar ocultar o fato de estar genuinamente curioso.

"O convidava para jantar. Para conversarmos," ela havia amenizado as coisas propositalmente para deixá-lo com peso na consciência. Porque não tinha certeza agora ou quando redigira a carta sobre o quão razoáveis seriam suas palavras. "Bem, podemos fazer isso agora. Exceto a parte do jantar, pois almoçamos faz pouco tempo. Mas podemos conversar. Não é como se eu tivesse outros planos, de qualquer forma."

"Eu acho posso fazer isso. Mas primeiro deixe-me esclarecer que foi você que deixou o meu apartamento e sumiu."

"E você não fez nenhum esforço para..." Ele parou de falar, lembrando que estavam tendo aquela conversa devido a uma carta da ruiva e que, portanto, ela tinha tentado contatá-lo. "De qualquer forma, eu aceitaria seu convite se não estivesse de mãos atadas. Literalmente, por sinal," aquilo era provavelmente verdade, pensava ele, apesar da imagem de dois gêmeos ruivos ameaçando-o vir à mente. "Agora vamos, o que você ia dizer?"

"Como assim 'o que eu ia dizer'? Desculpe-me, mas durante a hora em que eu passei acreditando que você não ia aparecer, as palavras se perderam," disse Ginny, tentando soar convincente e indignada simplesmente para não ter que admitir que...

"Você não fazia idéia do que dizer, não é? Mentir é feio, Ginevra. Isso aqui é uma conversa honesta," o loiro falou sem sentir a menor culpa por estar escondendo dela o motivo da bruxa estar ali. Afinal de contas, ela não havia perguntado e então ele não estava mentindo.

"Não, eu não sabia..." Concordou ela, corando. "Mas eu acho que dor física estava nos planos."

"Nesse caso, começo a ficar feliz em ter vindo para cá," brincou.

"Por que você insiste em fazer esse tipo de piada? Não tem graça, pare!"

"E perder a oportunidade de vê-la vermelha de raiva? Não obrigado," Draco sorriu ao ouvir os sons de protesto e raiva que a ruiva emitia. "Já chega, agora. Acalme-se, já estou satisfeito."

"Que bom que alguém aqui está satisfeito!" Ela se virou e viu o olhar levemente malicioso que recebia. Fez um muxoxo e cruzou os braços, tendo sucesso em não corar. "Foi Charlie que me convenceu," explicou, tentando mudar de assunto para aquilo que era o objetivo em questão.

"Um dos seus irmãos? E o céu não caiu?" O bruxo estava incrédulo.

"Concentre-se, Draco. Ele não fez de propósito. Não foi 'pegue uma pena e escreva para ele agora', afinal, ele ainda é meu irmão e não gosta de você por uma questão que, acima de tudo, é genética, mas ele conversou comigo. E me ouviu. Algo que Ron, Fred e George nunca foram capazes de fazer," alguma coisa no olhar de Draco vacilou por um milésimo de segundo, a menção do nome dos gêmeos, o que levou a Weasley a rir.

"Ah, cale-se. Você não estava lá," retrucou ele, assumindo uma postura ligeiramente infantil, que logo deu lugar a expressão impassível costumeira.

"Eu posso ter estado errada sobre pararmos na capa do Profeta Diário, mas você não podia realmente acreditar que todos os Weasley não iriam estar cientes do fato em menos de quinze segundos."

"Nenhum segredo dura muito tempo em uma família desse tamanho, não é mesmo? Me prometa que teremos um número sensato de filhos," demorou um piscar de olhos para que o Malfoy percebesse a conotação de suas palavras. "Quer dizer, você com os seus e eu com..."

"Eu entendi, Draco," falou ela, para evitar que ele começasse a balbuciar coisas sem sentido, numa tentativa de reverter qualquer impressão errônea que pudesse ter passado. Ginny, contudo, não podia negar que sua respiração tinha sido suspensa durante o curto espaço de tempo em que foi ingênua o bastante para achar que ele falava sério.

Um silêncio constrangedor se instalou no local e ambos desviaram o olhar para baixo. Repararam então em sincronia que, se não fosse o vidro, seus dedos mínimos estariam se encostando. Foi Draco quem se moveu primeiro. Um movimento quase espasmódico de seu dedo. Depois, Ginny também se mexeu, praticamente sendo capaz de sentir o leve atrito da mão do loiro na sua.

Os dois pares de olhos continuavam fixos nas mãos, que lenta e tortuosamente começaram a subir até terem a palma contra o vidro, uma sobre a outra. Eles estavam agora de joelhos, acompanhando seus próprios braços, conforme eles involuntariamente se erguiam para fazer o mesmo que o outro lado tinha acabado de realizar. Finalmente, quando o quase-toque se estabeleceu, os olhos castanhos dela encontraram os cinzentos dele que nunca antes se aproximaram tanto do azul.

"Draco..." Começou ela, sem saber de onde vinha sua voz.

"Não... Não fale nada..." Disse ele, seu tom beirando a súplica.

E então, atendendo a um pedido não verbalizado por nenhum dos dois, o vidro se esvaiu e os dedos se entrelaçaram. Ginny estava a ponto de questionar o que estava acontecendo quando percebeu que algo muito mais urgente estava em processo: vagarosamente, Draco vinha em sua direção.

"Eu realmente senti sua falta," sussurrou ele no ouvido da ruiva, e ambos sentiram o leve tremor ao longo do corpo dela.

Sorrindo, ele percorreu a curta distância que separava seus lábios dos dela e esses mesmo lábios foram a última parte a se separar conforme eles eram arremessados com violência para lados opostos, cada um para dentro de sua própria sala.

Cada um deles atingiu a parede do outro lado e, ao abrir os olhos, puderam constatar que não havia mais nada além de um vidro escuro, uma esteira, um candelabro e uma quase imperceptível dormência no local, onde, há alguns infinitos segundos, havia um toque tão íntimo.