Capítulo 02 – Essência.
Já era alta manhã quando acordou. Ainda enrolou algum tempo antes de se levantar, dando uma longa espreguiçada. Havia dormido feito uma pedra. Dirige-se à janela de seu quarto para abri-la, deixando assim os raios de sol invadirem o seu quarto. Uma sensação diferente toma conta de si, como se houvesse algo de estranho naquele dia tão bonito. Olha para o relógio. Estava quase na hora do almoço. Resolve trocar-se, vestindo as suas roupas habituais. Sai de seu quarto. Havia um grande silêncio. A sensação estranha aumenta...
- Uhn... Que estranho! Nenhum ruído... E, já está tarde. Por que ela não me acordou para preparar o café? Ele coça a cabeça e resolve descer para procurar por sua noiva.
Não a encontra.
- ... Será que ela ainda não acordou? Não pode ser! Ela sempre acorda cedo... E o garoto resolve ir até o quarto de sua noiva, verificar se ela se encontrava ali.
Toc Toc Toc.
Silêncio.
- Anna... Você está dormindo? Pergunta o garoto.
Nenhuma resposta.
Toc Toc Toc. – Anna... Eu vou entrar...
Novamente o silêncio.
E ele entra no quarto de sua noiva. Tudo o que encontra: o vazio. Anna não se encontrava ali. Ele fica preocupado. Se ela tivesse saído, ela teria avisado. Ela não sairia assim sem dizer nada. O que será que teria acontecido com ela? Ele se perguntava. A luz estava acesa, ele repara. E este fato o leva a pensar que Anna havia deixado o seu quarto ainda de noite. Não haveria necessidade de acender a luz de dia... Então, ele começa a procurar a itako por toda a pousada. Nenhum sinal da garota. O shaman estava começando a ficar realmente preocupado...
Só havia um lugar onde ele não a procurara. O jardim! O lugar mais improvável que ela estivesse. Não havia nenhuma lógica para Anna estar no jardim, pelo menos não para ele. E tudo estava silencioso demais. O mais certo era que a garota tivesse mesmo saído. Mas, de qualquer forma, ele vai até o jardim verificar. E, para a sua grande surpresa, era ali mesmo que a itako se encontrava! Estava encostada numa parede, como se estivesse dormindo. Ele se aproxima e se agacha frente a ela.
- Anna... Diz o garoto suavemente, levando sua mão para o rosto da itako. Mas, para o seu espanto, a garota estava ardendo em febre.
A garota ouve uma voz distante, baixa. Abre os olhos lentamente, assim vendo um rosto. Apesar de não enxergá-lo nitidamente, vendo-o embaçado, ela sabia identificar a pessoa à sua frente.
- ... Yoh... Diz Anna, quase num sussurro. "Foi... Um pesadelo... Você... Ainda está aqui...", ela pensa, antes de perder a consciência.
- ... Anna... Você está toda molhada... Passou a noite na chuva... Ele supõe ao ver que o jardim estava molhado também. – Está ardendo em febre... Eu vou cuidar de você... E Yoh a pega em seus braços, entrando na pousada com ela.
Yoh leva a sua noiva para o quarto dela, a deitando delicadamente em seu futon. Ela parecia tão frágil daquele jeito, era um lado diferente da Anna que ele conhecia. Um lado que a tornava mais humana... Menos parecida com aquele anjo intocável, aquele anjo caído que escondia a sua verdadeira face por detrás de camadas de gelo. Yoh sorri. Não que estivesse contente por Anna estar com febre, mas porque aquele seria o momento que ele conseguiria estar mais próximo dela, cuidando dela, zelando por ela...
- ... Eu... Um leve rubor se forma na face do garoto. – Tenho que... Que tirar a sua roupa molhada... Você está com febre e... Nós estamos sozinhos... É o único jeito e eu... Espero que não me mate depois... Ele se atrapalha todo com palavras e o seu rosto começa a ficar mais corado à medida que ele retira a roupa molhada de Anna, lentamente, tentando olhar para a garota o menos possível.
Mas, ele não se agüenta e seus olhos, sua mente o obrigam a olhar para a garota, que estava somente com suas roupas íntimas. As palpitações do coração de Yoh começam a aumentar. Era a visão mais sensual que ele já tivera em toda a sua vida. Anna possuía uma beleza divina, inigualável, o que novamente a aproximava de um anjo puro, intocável...
- ... Você... É linda! E ele perde alguns instantes admirando a beleza de sua noiva, enfeitiçado por ela. – Mas... Se você souber de tudo isso, você vai me matar! Yoh faz uma careta de dor. – E eu... Tenho que cuidar de você... Yoh retira a sua camisa e, lentamente a veste em sua noiva, abotoando alguns botões. Depois, ele pega um cobertor no armário da itako e a cobre delicadamente.
- Eu... Vou pegar um pano e uma bacia de água. Já volto para ficar com você. Ele sorri, gentilmente, e um ímpeto o leva a agachar-se perto de Anna e dar-lhe um beijo carinhoso nos lábios, antes de sair.
Anna abre os olhos, lentamente. A primeira visão que a itako tem quando acorda é o rosto de seu noivo, sorrindo para ela. Ele estava lindo! Ela tinha vontade de pular em seus braços, dando-lhe um abraço forte... Mas, o seu orgulho não a deixava. Ela senta-se em seu futon e apenas o olha, com seus olhos vazios... Sem emoção...
- Dormiu bem, meu amor? Yoh pergunta, ainda sorrindo.
"Meu amor! Ele me chamou de meu amor. Por quê?". – Eu estou bem. Estava apenas dormindo...
Yoh estende a sua mão para Anna, com o mesmo sorriso gentil na face. – Vem... Ele diz, com uma voz sensual.
Anna apenas segura na mão de seu noivo, deixando-o guiá-la. Aquela voz dele, aquele olhar, aquele sorriso a tinham enfeitiçado.
Yoh ajuda sua noiva a se levantar e a segura em seus braços, levando-a para o seu quarto. Quando ele abre a porta, Anna leva um tremendo susto. O quarto estava cheio de pétalas de rosas vermelhas espalhadas pelo chão, e pétalas de rosas brancas espalhadas pelo futon de Yoh. A luz do quarto estava apagada, mas a janela estava entreaberta... O quarto estava iluminado pela luz de uma Lua cheia. O clima estava impregnado de puro romantismo...
- ... Yoh... Diz Anna num sussurro, com sua face um tanto rosada, com seus olhos agora demonstrando emoção. Ela estava profundamente tocada.
Yoh leva dois dedos aos lábios de Anna, para que ela ficasse em silêncio. Palavras não eram necessárias. O encontro de olhares, o roçar dos lábios, as trocas de carícias, o calor dos corpos seriam necessários para expressar toda aquela magia... Todo o sentimento...
E Yoh caminha até o seu futon, se ajoelhando e deitando Anna lentamente por cima das pétalas de rosas brancas, que simbolizavam a pureza daquele anjo caído e a pureza daquele sentimento... Ele se deita por cima dela e sela um beijo profundo com ela... Contendo todo o seu amor. Um beijo ardente... Contendo todo o seu desejo. Enquanto se beijam, ambos vão acariciando o corpo um do outro, e suas roupas vão sendo retiradas, até ficarem nus.
De repente, não mais que de repente, toda a magia daquele encontro vai se desfazendo. A luz do luar já não mais iluminava o ambiente. As pétalas de rosas vermelhas e brancas vão sumindo uma a uma. Os beijos vão perdendo a intensidade. As carícias não eram mais sentidas. O sorriso sempre gentil de Yoh vai desaparecendo. O olhar apaixonado perde o seu brilho. O seu amor vai se esmorecendo, dissolvendo-se lentamente. Anna estende a sua mão tentando tocá-lo, mantê-lo consigo. Tarde demais. Ela toca o nada. Nada mais havia. Anna vê-se sozinha.
- ... Yoh... Foi a sua última palavra, um sussurro, antes de perder-se para a Escuridão. Um sussurro rouco, um sussurro inaudível. Um grito silencioso vindo do mais profundo de sua alma vazia, sufocada pela dor da solidão. Uma palavra sussurrada que continha a essência do seu desespero...
Continua...
Notas da autora
Bom, esse seria o último capítulo xD Mas, ainda têm algumas coisinhas para acontecer, então eu resolvi prolongar um pouco mais o fanfic! O capítulo 03 será o último, isso é provavelmente certo.
Uma coisa que aconteceu e que eu achei interessante, foi a maioria (senão todos) acharem que o Yoh realmente tinha abandonado a Anna. Não foi minha intenção deixar essa sensação, mas achei legal que ela ficasse xD A Anna estava em desespero. Ela tinha se perdido em sua própria dor. Tinha se rendido ao seu desespero, já que não tinha força suficiente para combatê-lo. E ela tinha a sensação de estar totalmente sozinha, de que todos a abandonaram. E... para ela, a pessoa que mais lhe sairia cara era o Yoh... ele é a única pessoa que a mantém com vontade de viver, já que é a pessoa mais próxima dela, e que ela ama. Por isso, a perda dele seria irreparável para ela. Se isso acontecesse, ela seria a visão da própria Solidão.
Bom, vou ficando por aqui. Espero que vocês gostem desse capítulo xD Eu gostei muito de escrevê-lo, hoje eu me senti inspirada e gostei muito do resultado final.
Deixem reviews :)
Até o próximo capítulo...
