Flashbacks

Atendendo à pedidos uma fic do Hatori, mas se preparem porque é triste, mas linda. Espero que gostem e comentem. Essa história tem como ponto de partida o capítulo 56 e 57 do volume 10 do mangá, entretanto, mais adiante pegarei um gancho da outra fic que eu escrevi com o título de ' Quando chegar a primavera'. Não tem spoiler, a não ser a maneira pela qual eu me refiro à Akito.

' Ela foi minha primavera, dentro daquela sela chamada de família, se eu era a neve gelada como dizia Akito... Ela foi a mais fresca e vivida primavera' – Fruits Basket 2

' Vieram lágrimas... pela primeira vez na vida eu me senti absolvido, salvo, como a neve derretida pela brisa da primavera' – Fruits Basket 2

Já fazia mais de dois anos, mais de dois anos desde que ele encontrara Kana, mais de dois anos desde que a primavera tinha chegado para ele, mas graças á maldição, não passara apenas de um sonho, de um breve despertar.

Kana agora estava casada, depois de todo o sofrimento que ele lhe causara , agora ela era capaz de sorri novamente e seguir seu caminho, mas não ele, não Hatori, que carregava dia após dia, como um fardo, apenas as lembranças da primavera, apenas as lembranças do que sobrara de um amor.

Desde que Akito recusara a união dos dois, ferira o olho de Hatori e culpara Kana por isso fazendo com que ela adoecesse de tristeza. A Hatori não restara outra solução a não ser apagar a memória dela, acabar logo com o seu sofrimento: libertá-la para que ela pudesse ser feliz.

Durante toda sua vida apagara a memória de quem quer que seu pai ou Akito ordenasse não importando se isso iria ferir as pessoas, mas então, ele pôde sentir na própria pele o que era ter que apagar lembranças preciosas, o que era ter que apagar a memória de alguém especial. Por vezes relutou, mas ao ver o quanto ela sofria, por amor, decidiu que assim seria melhor, e apagou as memórias da pessoa que ele mais amava. Tudo o que restou na memória dela foi o dia que ela chegou para ser assistente dele, a lembrança de que ficou doente e mais nada, todos os momentos em que eles viveram juntos, momentos bons e momentos ruins, foram apagados de sua memória. Para Kana, Hatori era agora apenas um primo distante, médico da família a quem ela foi apenas fazer um estágio como assistente, nada mais. Enquanto ele, lembrava-se de tudo e carregava as alegrias e tristezas desse amor sozinho.

Mais de dois anos depois, após ver as fotos do casamento dela trazidas por Ayame, seu coração se aliviara um pouco ao perceber que ao menos agira certo, que agora ela tinha encontrado alguém e era capaz de voltar a sorrir.

Entretanto a tristeza, as lembranças desse amor, que não volta mais, continuam a perturbá-lo, e o que resta hoje é apenas a sombra do Hatori que um dia existiu, apenas a sombra do Hatori apaixonado e que era capaz de sorrir.

Várias vezes pensara em rever Kana apenas para se certificar de que ela estava bem, mas achou melhor não arriscar, poderia ter ficado algum lapso de memória e ela poderia se lembrar de alguma coisa e voltar a sofrer, não era isso que ele queria.

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Era um inicio de verão um tanto quanto quente, agora Hatori dirigia de volta para a sede pensativo. Após tanto tempo, rever Mayou, melhor amiga de Kana, trouxe-lhe lembranças do passado à tona, lembranças guardadas, feridas que ele pensava estarem começando a cicatrizar. Mas não, e tudo por causa de Shigure, se ele não tivesse lhe dito que os livros que ele encomendou na loja dos pais de Mayou haviam chegado e que eles não poderiam serem entregues, ele não teria ido até lá e não teria encontrado Mayou. Foi estranho revê-la depois de mais de dois anos, parece que nada havia mudado, nem mesmo ele, e realmente nada havia mudado mesmo, ele continuava frio como a neve gelada, como Akito costumava dizer, sem ser capaz de sorrir ou chorar, sem ser capaz de demonstrar um único sentimento, se pudesse explodir e pudesse gritar para o mundo o quanto aquele amor por Kana ainda o sufocava, o quanto é triste ter que carregar sozinho as lembranças boas e ruins dessa amor, lembranças, apenas isso , da primavera só lhe restou lembranças,agora sua vida estava mergulhada na escuridão dessa família amaldiçoada.

Já não agüentava mais todos os dias ficar preso na sede, trancado em sua casa ou cumprindo as ordens de Akito, tendo que estar ao lado dela não importasse as circunstancias. Queria ser livre, ou ao menos tentar, como os outros estão tentando, se tivesse coragem de largar Akito, se tivesse coragem de largar tudo isso e se libertar, porém a todo momento alguém lhe lembrava que era seu dever permanecer ao lado do seu patriarca.

Finalmente chegara a sede e mal colocara os pés dentro de casa, alguém já viera lhe chamar para ir ver Akito pois mais uma vez ela dizia não estar se sentido bem e se queixava do calor.

-Sempre as mesmas coisas, sempre as mesmas queixas- pensava enquanto examinava Akito e tentava não prestar atenção nas reclamações dela, mas quanto mais ela falava, quanto mais ela se queixava, mais sua cabeça se enchia, até que ele não suportou mais aquilo

- CHEGA! Não agüento mais!- grita – não acredito que perdi o controle na frente de Akito- pensa

Akito olha assustada- Basta Hatori, isso são modos de se referir ao seu patriarca?- dá um tapa no rosto de Hatori

Apesar do tapa ter lhe doido, a dor não foi maior do que a dor que ele carrega em seu coração.

- Gomenasai Akito-san, isso não irá mais acontecer. Com licença, você está bem, apenas tome mais água e vista roupas mais leves- levanta-se e se retira sem ao menos dar tempo de Akito lhe dizer alguma coisa.

Muitas vezes chegara a pensar que Shigure é quem está certo na maneira como trata Akito, utilizando-se das infantilidades dela a seu favor, apesar de amá-la, ele consegue ser frio e calculista- Talvez Shigure tenha razão, sou bom demais, não deveria ter deixado as coisas chegarem a esse ponto, deveria ter sido forte, deveria ter enfrentado Akito e ter lutado pelo meu amor, pela minha felicidade, deveria ter lutado para que a minha primavera não acabasse. 'Mas agora é tarde'- pensa. Seus olhos se enchem de lágrimas mas ele não consegue chorar.

- 'Yuki (neve) , é você que deve ser chamado de Yuki, tão frio quanto a neve'- Essas palavras de Akito não saem de sua mente – talvez Akito esteja certa, mas como eu gostaria de ser diferente- pensa

Não vai para sua casa, sai novamente da sede e caminha pelas ruas da cidade despreocupado e sem rumo. De repente pára e então se dá conta de que está diante da loja de livros dos pais da Mayou, inconscientemente foi trazido para aquele local novamente.

- Porque ?- se pergunta

Mas antes que tenha tempo para encontrar a resposta ou ao menos pensar em uma, ouve vozes vindo de dentro da loja em direção a porta, então lá de dentro saem Mayou e Kana conversando.

- Kana? O que ela estará fazendo aqui?- pensa

Ele se esconde e observa, Kana parece triste e abatida, e parece que esteve chorando. Observa sem entender nada, ela não se parecia com a Kana toda sorridente das fotos do casamento há alguns meses atrás. Teria acontecido alguma coisa que a deixara triste? Seu coração se dilacerava ao vê-la sofrendo novamente, pedira tantas vezes para que ela encontrasse alguém. Sua vontade era correr até ela para saber o que estaria acontecendo, mas sabe que não pode- e se ficou algum lapso de memória?- pensa- e se ela se lembrar de mim?

' Deus permita que ela possa encontrar alguém que a faça feliz, eu lhe imploro, mesmo que minha neve nunca derreta, mesmo que minha vida termine aqui' Fruits Basket 2

Triste e com o coração partido observa Kana ir embora, assim que ela vai ele tem vontade de entrar e perguntar para Mayou o que aconteceu mas também não acha uma boa idéia.

Caminha pela cidade até anoitecer quando decide voltar para a sede. Triste e pensativo adentra em casa , retira o paletó, afrouxa a gravata e se joga no sofá. Não dorme, permanece acordado a noite toda pensando em Kana, no que viu, em tudo o que aconteceu e durante o pouco tempo que conseguiu dormir teve um sonho com ela e acordou assustado.

- O que faço?- se pergunta. Mas seu pensamento é interrompido por alguém que bate na sua porta. Levanta-se e vai atender, é Kureno lhe informando que Akito quer ir para a casa de praia também e que é melhor Hatori ir também caso ela passe mal ou precise dos serviços médicos dele. Ele não teve como contestar, mas tudo o que menos desejava nesse momento era se afastar dali. Começa a arrumar suas coisas sem vontade e em menos de uma hora partia para a casa de praia. Durante todo o caminho Hatori parece distante, isso incomoda um pouco Akito, mas ela tem Kureno para se divertir e não dá tanta atenção assim a Hatori.

Na casa de praia, Akito, de mau-humor por causa do calor, resolveu tirar a semana para infernizar a vida de todos , principalmente dele e de Kureno que ficaram hospedados na mesma casa que ela, na casa ao lado de onde estão os outros : Shigure, Kyo, Tohru, Yuki, Hiro , Haru e Kisa. Mas isso não quer dizer que os outros se livraram do mau-humor dela, definitivamente não.

Em meio a todas as confusões que ocorreram lá durante a semana, Hatori sempre que conseguia se livrar de Akito, saia para caminhar na praia. Ele costumava andar por horas descalço na beira da praia sempre pensando em Kana. A imagem dela chorando não saia de sua mente mas ele não sabia o que podia fazer para ajudá-la, não estava mais a seu alcance, entretanto ele não conseguia esquecê-la, não conseguia enterrar esse sofrimento que tanto o sufoca. Não conseguia se quer chorar até que toda dor do seu peito fosse embora, não conseguia se libertar nem libertar Kana.