Capítulo Dois: Jogos Entre Amigos

"Como seria satisfatório viver sem remorsos, poder a cada instante enfrentar a própria mente e trazer à memória o bem que se fez aos semelhantes, não achando na própria conduta senão objetos agradáveis e plausíveis". Paul Henri Dietrich Holbach

Havia mais de cem anos desde que Erestor tivera o pesadelo, mas eis que este ressurgia outra vez, aparecendo como um espírito inquieto. As chamas... Ost-in-Edhil ardia, o aroma enjoativo de fumaça carregado pelo vento até seu campo. Quando as defesas caíram, e tinham mesmo de cair, pois Sauron carregava o Um Anel em sua mão... Os orcs derramavam-se sobre as grandes muralhas como uma onda malevolente, negra e escarlate, com emblemas de maldade em suas armaduras. E então, a bandeira... Ela tinha parecido branca à distância, até ele perceber com horror que não havia bandeira alguma, mas sim o corpo empalado de um Elfo... Ele até reconheceu o infeliz como Celebrimbor, chefe dos Mírdain.

Erestor acordou empapado de suor, o rico tapete e objetos familiares de seu quarto dando-lhe pouco conforto. Os lençóis estavam enroscados em suas pernas, e um dos travesseiros havia escapado da cama totalmente. Ele levantou-se, ainda tremendo, e fez a cama com cuidado.

Tendo vestido-se em uma túnica e calças verde-escuras, Erestor derramou um pouco de água em uma bacia e lavou suas mãos e face. Depois, olhou-se no espelho.

Atrás das gotículas de água, a mesma face sempre jovem de tantos milênios estudava-o de volta. Havia quem dissesse que ele tinha um certo ar nobre ao redor de si, uma herança afortunada de sua mãe Noldo, e a prática sabedoria Sindar de seu pai. No momento, ele parecia vazio e cansado, com seus cabelos negros emaranhados por uma noite de sono inquieto. E, para sua vergonha, assustado por um sonho ruim, como um Elfinho. Ele esfregou os olhos.

Erestor esfregou sua face em uma toalha para secá-la, escovou os longos cabelos, e penteou-os em uma trança solta.

Você passou muito tempo enterrado em seus estudos, Erestor, ele pensou. Será o campo de treinos hoje.

Carregando sua antiga espada, Erestor deixou sua casa e se encaminhou para os campos de treinamento. Ao Sul do vale arborizado ao redor dos Vaus de Bruinen, havia uma área aberta com grama fofa, onde os animais às vezes pastavam. Por ordem do Senhor Elrond, o espaço havia sido esvaziado e os alvos preparados, com Elfos à espera para trazê-los à frente ou para trás conforme a necessidade. Erestor tinha certeza de que o Meio-Elfo havia organizado a prática apenas para distrair os servos e ter alguma paz. Havia também uma grande mesa posta nas sombras, com petiscos e grandes jarras de água e sucos para os combatentes. Alguns Elfos já estavam sobre a grama se aquecendo. Suas espadas afiadas refletiam o sol da manhã, e seus movimentos fluidos traíam o propósito das lâminas.

Era sempre uma surpresa perceber que armas podiam ser tão bonitas.

Um dos Elfos incubiu-se de declarar iniciados os jogos, e o som de sinos invadiu Valfenda. "Começam os jogos!"

Erestor esperou ao lado da mesa por Eámanë, que aceitara sua oferta para um duelo na noite passada, e observou Glorfindel metodicamente destruir seu adversário. Lindir tinha muitos talentos admiráveis e, mesmo que possuísse habilidade com a espada, o menestrel simplesmente não estava à altura do matador de Balrog. Erestor sorriu jovialmente quando Lindir desviou um ataque violento. O dia seria muito instrutivo, e não apenas para os jogadores.

Eámanë chegou ao campo sem fôlego e com um brilho maroto em seus olhos azuis. Ela avistou Erestor e foi ao seu encontro, mas encheu para si um copo com água e bebeu-o antes de falar com ele.

"Perdoe-me pela demora, Mestre Erestor. Levei mais tempo do que previa para achar o campo de treinamento. Mas agora... podemos começar?"

E com isso desembainhou sua espada e olhou Erestor nos olhos, parecendo uma criança com um brinquedo novo. Ainda que Erestor fosse um estudioso em seu coração, era também um guerreiro renomado por sua participação na Última Aliança dos Elfos e dos Homens na Guerra do Anel. Sentia-se honrada em lutar com ele.

Erestor não respondeu, apenas sacou sua espada com um floreio elaborado.

"Se acha que pode derrotar-me", ele disse, afastando-se da mesa em direção ao gramado. Ali ele esperou, estudando seu oponente enquanto ela se posicionava à sua frente. Eámanë era esbelta como uma árvore nova, mas ele suspeitava que ela seria mais rápida que ele por isso. A partida seria certamente interessante.

Duas mulheres estavam competindo no treinamento daquela manhã. Ainda que fosse pouco comum para uma mulher de Valfenda portar armas, a Floresta das Trevas tinha estado sob a sombra da guerra por muito tempo. Ali, donzelas tinham pegado em armas para defender seus lares, e Erestor estava curioso para ver como ela lutava.

Ele ergueu sua espada em uma posição defensiva e manteve os olhos fixos no rosto de Eámanë, esperando pelo primeiro movimento.

"Eu estou aqui para me divertir, Mestre Erestor", ela falou com um enorme sorriso malicioso. E acrescentou, divertida, "orgulho é uma coisa tão feia…"

Erestor a mediu de alto a baixo. Eámanë movia-se em círculos sem notar nada que estivesse fora de seu perímetro imaginário. Não havia audiência, som, vida alguma fora dele. Ela sabia que o primeiro movimento seria dela, e calculou os ataques que poderia usar nele. Decidindo evitar contato físico ao máximo, ela pulou para frente, sua espada mirando acima da linha da cintura de Erestor. Eámanë não poupou sua força, mesmo sabendo que era um blefe. No momento final ela abaixou-se, e chutou a perna dele em uma manobra feita para desequilibrá-lo, enquanto as espadas se encontravam com um barulho surdo.

Com uma velocidade espantosa, ela pulou para trás e estava de pé novamente. Era prudente manter-se firme sobre seus pés quando um Senhor Élfico vinha em sua direção com uma espada...

Ele tinha esperado uma ofensiva tradicional, facilmente defletida, e a manobra súbita de Eámanë havia deixado-o perplexo. Ele absorveu o impacto da lâmina com a sua, mas seu braço foi empurrado para trás pela forca do ataque, deixando seu peito desguardado.

Rápido, Erestor trouxe sua espada para baixo, com a intenção de atingi-la quando ela estava no chão e desarmá-la enquanto estava indefesa. Mas a dama foi rápida e já estava de pé.

Não querendo admitir fracasso assim tão cedo, Erestor pulou para frente, atingindo a arma de Eámanë com a parte cega de sua própria lâmina, empurrando-a para trás sem dentar no lado afiado. Usando toda a força do braço armado, ele a empurrou, uma gargalhada brotando em sua garganta pelo puro prazer de bater-se contra um oponente bem treinado numa manhã adorável.

Ela o havia pegado de surpresa, mas ele recuperou-se logo. Eámanë não esperava por menos. Pensando rápido, ela rodopiou, separando as espadas numa tentativa de atingir o lado esquerdo sem guarda. Não tinha grandes chances, mas tinha que tentar. A lâmina fez um arco descendente no ar e ela não estava surpresa em ser bloqueada com um poderoso contra-ataque.

Valar, Erestor era mesmo forte!

Eámanë fez uma série de movimentos defensivos curtos, recuando antes que ele tivesse chance de elevar o ataque até algo que ela não conseguiria defender. Bloquear, atacar, disparar para frente, recuar, tudo muito rápido numa dança graciosa para manter Erestor a uma distância razoável dela. Em matéria de força bruta, ele tinha a vantagem, mas isso pouca importância tinha para Elfos que estavam acostumados a combater seres com muito mais força física e menos destreza.

Ao acostumar-se com o ritmo do combate, Erestor acelerou seus movimentos. Era quase uma dança, com a beleza da espada brilhando ao sol; os destros, bem-marcados passos de seus pés na grama. Ele lutou com mais força e afinco, buscando o limite da sua força e da sua oponente também, mas ela tinha uma defesa muito boa e não o deixava chegar perto. Frustrante, mas divertido. Numa batalha de verdade a elegância daria vez à amarga disputa pela sobrevivência, mas aquilo não era importante no momento.

"Está se divertindo, Mestre?" Ela perguntou com uma risada baixinha.

Ele fez uma careta quando seu pulso foi jogado para trás, mas manteve a espada firme em suas mãos. Enfiando a ponta da espada no chão para recuperar o equilíbrio, ele decidiu não subestimar os Elfos Silvestres nunca mais. Estava impressionado.

"Estou sim", ele respondeu. "Há anos, anos incontáveis desde que eu me bati em combate. Estou feliz de não ter perdido o jeito".

"E também eu!" Ela gargalhava mais ainda. Tudo parecia para ela uma grande piada. "Uma boa partida, Mestre.'".

"Mas temo que deva reclamar uma falta".Ele soltou um grunhido e renovou a ofensiva. "Eu fui levado a crer que Glorfindel a ensinava as primeiras lições de combate ainda, e a encontrei uma espadachim habilidosa".

"Meu irmão está na Guarda Real", ela respondeu simplesmente. "Costumava treinar com ele. Jamais serei tão boa quanto ele é, mas Maglin fez questão de me ensinar truques suficientes para que eu me defendesse em caso de necessidade".

"Os Elfos da Floresta das Trevas tem jeito com a espada. Mas estão muito além de suas habilidades. Nós de Valfenda temos alguns truques na manga, também."

"Além das suas habilidades? Ora, não exagere! É apenas uma—"

Mas ele a interrompeu, girando a espada num movimento acima de sua cabeça. Ela teria que desviar, ou bloquear...

Eámanë achou que tinha irritado Erestor, pois o ataque foi um tanto quanto agressivo demais. Ela jamais teria antecipado isso do Elfo gentil da noite passada. Ela pulou para trás e contra-atacou quando um golpe dele não atingiu seu ombro por centímetros.

Ela girou a espada novamente, tentando colocar algum espaço entre eles. Erestor estava chegando cada vez mais perto de seu espaço pessoal e ela não gostava disso nem um pouquinho. O som do metal encontrando metal enchia o ar da manhã em uma batida frenética. Eámanë recuperou o fôlego com um suspiro fundo.

"Fico feliz em saber que tem truques na manga, Mestre Erestor", ela disse. "Mas nem por um momento pense que eu não os tenho também".

E com isso Eámanë partiu para cima dele em um ataque de ponta-de-lança que transformou em golpe lateral no último segundo. Enquanto Erestor se concentrava em bloquear a espada, ela o chutou na batata da perna - forte.

O que foi bastante doloroso.

Erestor soltou um grito abafado e apertou o local afetado, quase largando a espada no chão. Ele ergueu os olhos.

Eámanë estava parada diante dele, um sorriso quase doce em seus lábios. Quem diria que um exterior tão belo poderia esconder uma trapaceira de baixo escalão?

"Que tipo de truque de orc..." ele grunhiu. Agora a coisa tinha ficado séria. Era uma questão de honra. Ninguém chutava sua perna e não respondia por isso. Com um grito medonho ele pulou na direção de Eámanë, com o único objetivo de dar-lhe a pisa da vida dela. Era o que ela merecia, para aprender a seguir as regras como todo mundo.

"Truque orc?" Eámanë perguntou, fula da vida. Agora era uma questão de honra. Ninguém a chamava de orc e ficava tudo por isso mesmo. E o dito-cujo ainda se comportava como se ela é que tivesse quebrado as regras!

Numa batalha, as pessoas não lutavam apenas com suas armas, lutavam?

O treino mudou para uma briga de verdade. Erestor estava usando toda a sua força e experiência, mas Eámanë também não estava a fim de ser derrotada tão facilmente. A Elfa abandonou a defensiva e partiu para cima do Conselheiro Chefe como uma possessa, brandindo a espada com toda a sua força. Empenhada em usar o impulso do seu oponente a favor dela, Eámanë manobrou a fim de induzi-lo a uma certa posição... Sua respiração escapava em grandes suspiros e o coração galopava dentro do peito, enquanto tentava bloquear uma complicada série de estocadas.

"Deixe-me ensiná-lo como se luta na Floresta das Trevas", ela desafiou, os olhos brilhando de fúria.

Havia uma certa conduta associada a combates amigáveis. Era possível colocar força num golpe, claro, e também derrubar o oponente, mas havia limites. Limites que haviam se tornado irrelevantes para os dois combatentes enquanto a sua dança se tornava mais e mais furiosa. Erestor perguntou-se vagamente se ele devia parar enquanto ainda era possível, recuar, antes que Elrond em pessoa tivesse que separá-los.

Raiva. Ele tinha deixado que sua raiva interferisse com seu bom senso. Mas, era o jogo apenas um jogo, de fato? Em um confronto real, Orcs teriam alguma decência ou cuidado com regras e tradição? Não.

E de repente, aproveitando-se de uma abertura onde ela havia posto força demais num golpe violento, ele girou em seus calcanhares, a própria manobra deslizando a espada dela num ângulo ineficaz. Com um movimento curto, ele a mandou para o chão, a espada caindo longe de sua mão.

Eámanë estava confusa. Ela queria dar uma surra nele, fazer ele se arrepender de chamá-la de Orc. Mas enquanto ela tinha considerado a hipótese de ser derrotada, nunca imaginou que acabaria a luta de bunda no chão. A coisa toda era tão embaraçosa que ela teve até vontade de gargalhar. Mas respirou fundo para recuperar sua compostura.

"Eu acho que ambos precisam se recompor. Foi uma partida e tanto".Elrond deu alguns passos adiante, saindo da sombra de um pinheiro. Para seu profundo embaraço, Erestor notou que a maioria dos contestantes tinha parado para assistir ao espetáculo. "Não aconselharia que vos desgasteis mais sem uma pausa primeiro".

"Seria prudente", Erestor disse, ainda sem fôlego. Ele embainhou a espada e podia jurar que viu um brilho diferente nela, aprovando o exercício após tantos anos de inércia.

"De fato", Eámanë concordou, perguntando-se o que raios o Senhor de Valfenda estava pensando. Ele parecia estar achando tudo muito divertido; mas também, podia ser o diplomata em ação.

Erestor só queria um drinque gelado, e um pouco de calma para pensar no que tinha acontecido antes de ter de se envolver em qualquer coisa. Mas antes, havia um assunto importante a tratar.

"Senhora Eámanë", ele falou, oferecendo a mão, "obrigado por uma partida excelente. Eu nunca tinha enfrentado uma luta tão... interessante".

A donzela olhou para ele como se ele tivesse perdido completamente o juízo antes de aceitar a mão que ele oferecia e empertigando-se para aproveitar ao máximo seus 1,90 de altura, mas ele ainda era mais alto que ela, droga! Eámanë largou a mão assim que estava de pé e tratou de catar sua espada do chão.

"O prazer foi meu", ela se forçou a responder. As boas maneiras a obrigavam a ser cortês ainda que ela ainda estivesse com raiva. Infelizmente, ela estava hospedada na casa dele, e não o inverso.

"A dama me daria o prazer da próxima partida?" Um Elfo louro se adiantou dentre o grupo de observadores. Ele colocou a mão sobre o coração, "tão logo tenha descansado deste embate, claro".

"A dama não repousará por muito tempo".Eámanë não conseguir suprimir o sorriso de seus lábios. "Mas ela gostaria de ter um nome para acompanhar o desafio".

"Orophin, minha Senhora, um seu criado".O Elfo curvou-se graciosamente, e depois a levou para longe da mesa e de toda a confusão, fazendo comentários sobre a técnica dela enquanto procurava uma área onde pudessem praticar.

Erestor ainda estava parado diante de Elrond, pensando em algo que pudesse dizer, ou mesmo se deveria dizer algo. Antes de o Senhor passar-lhe um sermão, contanto, uma mão forte agarrou o braço de Erestor e o arrastou de volta ao edifício principal. O Conselheiro acompanhou-lhe o passo para não deixar tão óbvio o fato de estar sendo levado embora. Apenas quando estavam longe de olhos curiosos ele enfrentou o olhar furioso do Senhor Glorfindel.

"Presumo que esteja zangado comigo, e com razão", Erestor afirmou serenamente.

Glorfindel tomou um passo atrás, um pouco mais calmo. "Ah, não, tu não ficarás aí todo calminho e arrependido quando eu finalmente tenho um bom motivo para te dar um sermão! Não é justo!"

"Apenas aceito o óbvio. Peço perdão se isso o deixa perturbado".

"O que me perturba é o Conselheiro Chefe ter se portado de maneira inaceitável com uma convidada desta casa. E em público!"

"Deveria então ter feito isso em particular?"

"Não deveria ter feito de modo algum!" O Elfo louro gritou exasperado, cada vez mais frustrado com o amigo. "O que você estava pensando?"

"Não sei ao certo o que estava pensando... Estava zangado".Erestor suspirou. "Ela trapaceou, e eu fiquei furioso. Foi uma coisa tão pequena, mas antes que eu soubesse tinha tomado proporções que eu não previa".

"Ela seguiu um conselho que eu havia dado, seu tolo!"

Erestor cruzou os braços. "Já terminou de me insultar?"

Glorfindel emitiu um som geralmente associado a animais selvagens.Erestor suspirou de novo. Subitamente o Conselheiro Chefe lembrou-se das palavras bem-humoradas do Matador de Balrog na noite anterior. "Eu pedirei desculpas o mais cedo possível".

"Assim seja", Glorfindel disse, e depois se virou para sair da casa.

"Não está com raiva por eu ter sido rude", Erestor falou baixinho, mas ainda assim Glorfindel podia ouvi-lo claramente. "Mas sim porque o fiz lembrar de coisas que preferia esquecer".

Glorfindel não respondeu nada, apenas desapareceu entre os muitos corredores da Casa de Elrond.


N.A.:
Mais uma vez, a Guerra do Anel mencionada aqui é a Primeira Guerra do Anel, ao fim da Segunda Era. (E o capítulo dois, que só tinha isso de N.A., ganha seu próprio mega-ensaio...) Mais uma vez, a Guerra do Anel mencionada aqui é a , ao fim da Segunda Era. (E o capítulo dois, que só tinha isso de N.A., ganha seu próprio mega-ensaio...)

1- Ost-in-Edhil:era a principal cidade da nação Eregion (pronuncia É-ré-gi-ôn. Todos os g élficos são fortes, não existe o som gi de 'giz', apenas o som gi de 'guilhotina'. Mas não coloque um u tremado no meio, por favor). O país foi fundado pelos Noldor, provavelmente por Celebrimbor embora haja algumas correntes menos conhecidas que dizem que Galadriel e Celeborn participaram, em 750 S.E., e destruída por Sauron em 1697 S.E.

(Tolkien é, pra variar, muito vago aqui, ele diz que 'Eregion foi fundada pelos Noldor' ... Celebrimbor é Noldo, e Galadriel também, mas Celeborn é Sinda... Além do que, Galadriel e Celeborn estavam ocupados reinando a região ao sul de Lûn e dos Portos Cinzentos na época. Coisas do Tolkien... Às vezes, eu acho que nem ele se entendia...)

Mas em 1200 S.E. Sauron, em uma forma corpórea deslumbrante (e se apresentando com outro nome, Annatar), 'seduz' os Elfos posando de bonzinho e lhes ensina muitas coisas, inclusive a técnica da fabricação dos Anéis de Poder. Vale ressaltar que Celebrimbor, líder dos elfos de Eregion, era neto de Fëanor, que tinha sido roubado pelo chefão de Sauron, Melkor, dando início à fratricídios, traições, e intermináveis batalhas contra Melkor. Mas foi exatamente ele e seu povo que cedeu, e acolheu Sauron. Celebrimbor só percebe que Annatar é um belo FDP mais ou menos em 1600 S.E. quando, por acaso, ele escuta o Annatar falando o encantamento pra fazer o Um Anel: Um Anel para a todos governar... Aí ele acorda pra vida e chama os seus súditos pra guerra contra Sauron, esconde os Três Anéis Élficos (que foram feitos à parte, Sauron nunca tocou neles, embora o Um tenha poder sobre todos). A Guerra dos Elfos contra Sauron vai de 1693 S.E. até a devastação de Eregion e a morte de Celebrimbor em 1697, durando quatro anos.

Elrond tinha sido enviado por Gil-galad para ajudar Eregion na luta contra Sauron/Annatar em 1695, portanto é bastante provável que ele e Erestor tenham se conhecido lá. Com a derrota e a devastação de Eregion, Elrond Meio-Elfo leva os sobreviventes até um vale encravado nos sopés das Montanhas sombrias. O refúgio ganha o nome de Imladris, 'vale-encravado', ou Valfenda em português.

Eregion ficava entre as Montanhas Sombrias e as Montanhas Azuis. Se você olhar no mapa vai ver as Montanhas Azuis lá em cima, perto dos Portos Cinzentos. Ou seja, sim, o Condado está em terras que já foram Eregion, embora onde aparece a legenda Eregion no mapa é mais ou menos a região onde ficava Ost-in-Edhil. Se você ler a Sociedade do Anel, vai ver que quando a companhia passa pelo Azevim, a caminho de Caradhras, Legolas comenta que ele sente que elfos já moraram ali, porque seu efeito benéfico sobre a terra ainda era 'sentido'.

A menos que eu esteja completamente caduca, o que não é assim tão improvável...

2- Mulheres élficas e o combate armado: a bem da verdade, o Tolkien diz que até o nascimento dos filhos havia pouquíssima diferença entre Elleth e Ellon no que diz respeito à força física. Galadriel ficou famosa por ser uma atleta formidável na sua juventude. Nada impedia as mulheres de treinar artes marciais, até porque a sociedade élfica era 'iluminada', 'igualitária', etc e tal. Entretanto, as mulheres não iam pra frente de batalha a menos que a situação estivesse desesperadora – quando Gondolin foi atacada e destruída, na Primeira Era, a população estava presa dentro das muralhas que serviam de proteção à cidade junto com os inimigos que entraram nela graças à traição de Maeglin, e só sobreviveram alguns que escaparam por um túnel secreto feito pela princesa Idril que não ia com a cara do primo. Pois muito bem, em Gondolin as mulheres foram pro quebra-pau. Provavelmente em Alqualondë também, já que os Teleri estavam sendo atacados sem aviso prévio e era mesmo caso de vida ou morte. Mulheres são sempre a última linha de defesa.

Por quê, se elas lutam tão bem quanto os homens?

Porque as mulheres são geralmente as curadoras da sociedade élfica, e o contato com a violência e a morte 'sujaria' as suas almas, as suas energias vitais, deixando-as menos eficazes na sua função primária de curadoras – e se isso acontece com a cura, imagina com a gestação, onde a alma e a energia da mãe 'passava' um pouco pro bebê? (daí a diferença entre a força das Ellith que tinham filhos para os Ellyn. Os pais também 'passavam' alma e energia, mas no meu entender era em menor grau.)

E porque Elrond cura e vai pra batalha?

Elrond é Elrond, poxa. O cara é descendente de Lúthien, filha de Melian a Maia, portanto tem sangue 'de anjo' correndo nas veias, embora esteja a algumas gerações atrás. Ele é simplesmente um dos caras mais poderosos da Terra Média. Além do que, se as mulheres não vão pra porrada alguém tem que fazer os primeiros socorros, até os feridos chegarem onde elas estão... :P

3- Valar, eu sou obrigada a dizer, são os entes mais poderosos entre os primeiros espíritos que Eru criou, antes mesmo da criação do Mundo (você pode fazer uma relação entre eles e os Serafins e Querubins da mitologia cristã). Exemplo: Melkor, Varda, Aulë, Mandos (na verdade, o nome do cara é Námo, mas ele termina sendo confundido com o seu palácio, os Salões de Espera ou Salões de Mandos).Também há outros, pouco menos poderosos, chamados Maiar (Os anjinhos soldados-rasos)– Gandalf, Saruman, e Melian de Doriath são alguns exemplos. (O 'r' indica plural. É como o 's' do Português. E você realmente não precisava ficar sabendo disso...)

4- Elfos com 1,90 de altura: não ria não, os elfos são mais altos que os Mortais. Para Tolkien, altura é um indicador de nobreza (hmm, Freud teria um prato cheio aqui), então todo mundo que ele quer mostrar como nobre, honrado, geralmente aparece alto. Com exceção dos hobbits, que são baixinhos mesmo e não tem jeito... Não, péra, Merry e Pippin terminaram 'crescendo' por causa da 'água de Ent'...

Eámanë é uma mulher, e mulheres geralmente são mais baixas que os homens; além do mais ela é uma Silvestre sem estirpe, e como eu já disse, os nobres são mais altos... Erestor, que é Noldo, tem mais ou menos 2 m. :P