'A esperança adquire-se. Chega-se à esperança através da verdade, pagando o preço de repetidos esforços e de uma longa paciência. Para encontrar a esperança é necessário ir além do desespero. Quando chegamos ao fim da noite, encontramos a aurora.' Georges Bernanos
Quandoa companhia alcançou o Rhovannion, Eámanë assumiu a liderança. Ela levou-os colina abaixo até que a noite caiu novamente.
Morin limpou o suor do rosto, respirando fundo. "Aonde vamos mesmo?"
Eámanë olhou para o Conselheiro. Erestor deu de ombros. "Para uma vila de homens da Floresta. As fronteiras são passavelmente seguras e deveríamos descansar um pouco antes de irmos para o norte. Se tivermos que enfrentar aranhas, é melhor estarmos descansados e prontos para a batalha ao invés de estarmos caindo de cansados."
Morin fez uma careta. "Não estamos caindo de cansados," ele sussurrou, de mau humor. Seu ânimo ficava cada vez mais negro desde a passagem na montanha, mas Eámanë sabia que ele tinha motivos para isso. Hallatir era seu amigo.
E por isso, Eámanë mordeu a língua antes de responder. "Eu sei, Morin. É só cautela, nada mais."
A resposta calma pareceu chateá-lo ainda mais. Eámanë mudou as alças da mochila de ombro e decidiu que Morin queria lidar com suas emoções da maneira masculina. Puxando briga. Mas ela não era idiota a ponto de se prontificar para ser saco de pancada.
"Como cruzaremos o Anduin tão ao norte?" Erestor perguntou, irritado. "O Grande Rio deve ser frio demais para atravessar a nado."
"É como gelo nesta época do ano," Eámanë concordou. "Mas há um vau antigo a dois dias de viagem daqui."
"Não podemos viajar mais dois dias sem descansar," Morin protestou. "Você ficará doente!"
Eámanë franziu a sobrancelha, abriu a boca para soltar um belo carão, mas Erestor a salvou da discussão. "Andaremos à noite e dormiremos de dia. Assim poderemos nos manter aquecidos e não precisaremos acender fogo."
Morin ficou calado.
Eles passaram pelo Antigo Vau na manhã do segundo dia, e então Eámanë os guiou para o Sul. "Iremos pelo Sul até a Vila, ou arriscaremo-nos pela Floresta como estamos," ela disse rispidamente quando Erestor reclamou da perda de tempo, e forçou o grupo a manter o mesmo ritmo apressado de sempre embora estivesse, ela mesma, exausta.
Quando finalmente os Elfos viram ao longe a alta muralha de madeira, a Elleth tinha abandonado qualquer ilusão de força e se apoiava quase totalmente em Erestor para se manter de pé.
"Sente-te mal?" Morin perguntou. Ele mesmo não soava muito bem.
Erestor apertou os braços ao redor da cintura dela e respondeu algo que nem mesmo a audição élfica podia decifrar. Eámanë tropeçou e teria caído se não fosse por seus braços segurando-a.
"Não posso mais dar nem um passo," ela choramingou. "Vão, e peçam ajuda com os homens da Floresta."
Morin estava a seu lado imediatamente, checando seus olhos na luz do crepúsculo. "Não gosto da idéia de deixar-te só nem por um momento."
"Ela não ficará para trás!" Erestor gritou, e ajoelhou-se ao lado de Eámanë. A força da donzela élfica tinha-se esvaído quase totalmente, ele podia constatar apenas olhando para ela. O medo apertou-lhe coração como uma garra gélida. Carinhosamente, ele a pôs no colo, e depois lutou para pôr-se de pé.
"Eu a levarei até a vila," ele avisou ao companheiro. Quanto tempo ele poderia carregá-la era outra questão, mas era de certa forma muito anticlimático desistir tão cedo. Talvez eles conseguissem chegar até seu destino. "Estamos perto."
Morin estreitou os olhos, e depois estudou a donzela encolhida nos braços de Erestor. "Assim seja."
Eámanë encostou a cabeça no ombro dele e suspirou. "Erestor? Não me contará uma história?"
Qualquer distração seria bem-vinda, ele pensou. "Muito bem. Eu cantarei uma balada, embora minha voz não seja muito boa... cantarei as aventuras de Beren filho de Barahir e Lúthien a donzela élfica. Em Sindarin." Ele sorriu, e começou.
As folhas longas, verde a grama,
Esguia é da cicuta a umbela;
No prado há luz que se derrama
De um céu de estrelas a fulgir.
Tinúviel dançando bela,
Ao som que flauta oculta inflama;
Há estrelas no cabelo dela
E no seu manto a reluzir. (1)
E mesmo quando a sua voz tremeu e falhou, ele cantou num sussurro baixinho. A lua reinava soberana quando alcançaram as árvores jovens que estavam nas bordas da floresta.
Erestor estava exausto e pronto para cair onde estava, mas continuou a forçar-se até que chegaram à clareira. Lá aguardaram um momento, recuperando o fôlego e admirando as estrelas que brilhavam acima deles, quando ouviram o som indisfarçável de um arco sendo retesado.
Morin ficou completamente parado, mas Erestor soube pelo modo como seus braços estavam relaxados e soltos nos lados de seu corpo que o curador estaria pronto para lutar num piscar de olhos.
"Paz", um mortal alto falou, erguendo os braços. "Não queremos mal, mas estamos acostumados a encontrar orcs por estas bandas, não Elfos".Ele olhou para Eámanë, curioso, mas não comentou sobre seu estado.
"Então as trevas de fato cegam os olhos Mortais, quando confundem Elfos com orcs".A voz dela estava apenas levemente estridente. "Ponha as armas de lado, peço-lhe. Pode ver que não temos condições de causar-lhe mal algum".
Os guardas colocaram suas armas de lado enquanto o líder se adiantava, com um olhar preocupado, vendo claramente as condições dos viajantes pela primeira vez.
"Este é Morin filho de Nardil, eu sou Erestor de Valfenda, e esta é minha amiga Eámanë, filha de Galiond. Atravessamos o Passo Vermelho. Nosso companheiro tombou pouco antes. Viemos em busca de auxílio do seu senhor, e algum abrigo onde possamos passar o resto da noite em segurança."
"Sou Amir, o chefe deste vilarejo. Vocês têm minha permissão para descansar conosco esta noite, e pelo tempo que lhes for necessário." Aparentemente o Mortal achou que as formalidades já estavam satisfeitas, pois se virou e começou a guiar o caminho até o vilarejo.
Percebendo que Erestor não podia continuar a carregá-la ou cairia ele próprio, Eámanë fez um esforço final para atravessar aqueles últimos metros. A vila não estava muito longe de onde os guardas mortais os encontraram, graças a Elbereth. Ela não poderia caminhar por muito mais tempo. Era realmente espantoso que tivessem chegado até ali. Os Elfos foram guiados através dos portões e de um pequeno jardim de ervas, por entre algumas pequenas casas campestres até entrarem na casa do líder. De fato, esta era um edifício comunal com alguns apartamentos para a família do senhor e o hóspede eventual.
Ela estava tão cansada que apenas quando Morin os deixou, entrando em um daqueles apartamentos, foi que ela entrou em pânico. Eámanë não era assim tão tola a ponto de confiar nos Mortais cegamente, considerando o quão fascinados eles pareciam ficar com a beleza élfica. Ela estava cansada demais para defender-se. Era verdade que os homens da floresta comportavam-se de modo rude, porém honroso, mas ainda assim... Ela não queria testar a teoria estando sozinha e indefesa.
Eámanë virou-se para Erestor, seu cabelo dourado escapando das tranças e balançando suavemente com os movimentos sutis, e falou-lhe baixinho em élfico para que os homens não a entendessem. "Pode ficar comigo esta noite? Não desejo ficar só."
Erestor não parecia compreender a implicação dela, e Amir abriu a porta do próximo apartamento. Este era simples, mas aconchegante, e Eámanë podia ver uma pequena sala de estar e o quarto. Ela tentou transmitir sua urgência nos olhos azul-profundos, mas o conselheiro não estava captando a mensagem.
"… Eu ordenarei que uma refeição seja trazida para você, e que preparem um banho quente. Descanse esta noite, podemos conversar com o sol da manhã quando seus ossos estiverem funcionando como devem," o homem concluiu, dando um passo para o lado para que Eámanë pudesse entrar. Ela mordeu os lábios.
Em desespero, Eámanë puxou Erestor pela mão. Antes que o Elfo pudesse protestar, Eámanë fez uma pequena reverência para o homem que já fechava a porta. "Agradecemos muito, meu senhor. Meu marido e eu realmente carecemos de descanso."
Se Amir achou que o comportamento daqueles Elfos era estranho, não o demonstrou. Aparentemente todas as coisas relativas aos Elfos lhe pareciam esquisitas. "Eu desejo-lhes uma boa noite."
"E para você também," ela respondeu, fechando a porta com firmeza, e quase desmaiando contra ela.
Erestor observou Eámanë. "Agora ele acha que somos casados," disse o conselheiro. "Isto pode ser interessante..."
Eámanë conseguiu erguer a cabeça, com algum esforço. "Você não estava ajudando," ela esbravejou. Uma leve batida na porta impediu a ambos de continuar a discussão.
Erestor franziu as sobrancelhas quando viu Eámanë puxar a adaga da bota e escondê-la atrás das costas antes de abrir a porta.
"Trouxemos a ceia e a água do banho, minha senhora," disse uma donzela muito jovem. Ela tinha as bochechas ainda rosadas e redondas da adolescência, um corpinho levemente rechonchudo e um ar de moleca travessa. Eámanë perguntou-se se a jovem estava tão feliz em ser responsável pelo banho por ter esperanças que Morin aceitasse que ela o lavasse.
Eámanë abriu a porta até escancará-la sem falar palavra, mas agradeceu aos servos quando eles saíram. Erestor virou-a com força e abruptamente quando a porta estava novamente fechada. "Se não confia neles, por que nos trouxe aqui?"
"Confio neles tanto quanto confio em quaisquer Homens Mortais," Eámanë respondeu com aquela franqueza assustadora dela. "O bastante para procurá-los quando a necessidade obriga. Mas não confio em Homem Mortal algum para deitar-me sozinha e indefesa em sua casa, não quando eles estão sempre a comentar o quanto os Elfos são tão incrivelmente belos."
"Por isso me queria perto," ele sussurrou, dando um passo para trás. "Por todas as estrelas, mulher, você é jovem demais para ser assim tão cínica."
"Seguro morreu de velho, imprudente morre jovem." Ela deu de ombros. "Por falar nisso, quer que lhe esfregue as costas, senhor meu marido?" Ela jogou os cabelos desalinhados por sobre o ombro enquanto caminhava, com passos pesados, até a larga tina de madeira no canto do quarto.
"É tão gentil da sua parte, minha doce esposa," Erestor respondeu baixinho. Nunca antes ele pensou no terror de uma donzela no meio dos Ermos. Mesmo quando lutaram contra os orcs e goblins, ele preocupou-se com a vida dela, não sua virtude. A idéia simplesmente não lhe passou pela cabeça. "Mas eu não a cansarei mais esta noite. Pode banhar-se primeiro, se quiser."
Eámanë nem pestanejou. "Eu quero," ela disse, e fechou a porta do quarto. Ela despiu-se e banhou-se tão completamente quanto os membros exaustos o permitiram. Era maravilhoso sentir-se como uma Elfa novamente, não um pedaço de lama ambulante.
Muitos minutos depois, ela se arrastou para fora da tina –apenas porque se lembrou que Erestor deveria desejar um banho tão ferventemente quanto ela o tinha – secou-se e colocou um enorme roupão que achou no baú ao pé da cama. Então Eámanë caminhou até a sala, encontrando Erestor esparramado sobre as almofadas no chão.
Ele olhou para ela e sorriu um pouco. Ela estava linda, ainda mais linda com toda a sujeira fora do seu rosto pálido. Um dia ele lhe diria isso, quando a sua língua funcionasse o suficiente para completar a frase (para sua mortificação, ela não cooperava muito).
"Você está bem melhor."
Bom, seria o suficiente por enquanto.
"Oras, Obrigada, Senhor Língua Doce. Contudo, você não escapará do banho," ela disse, tentando esconder o fato que estava ruborizada. Desde quando ela, uma Silvestre liberada, ficava vermelha como uma adolescente com um comentário elogioso? Tentando recuperar a pose, ela suavizou o tom de voz. "Vá e aproveite um pouco. Terei seu prato pronto quando voltar."
"Acho que preciso mesmo de um banho," ele disse. "Não demorarei." Com passadas rápidas, ele entrou no quarto e fechou a porta.
Eámanë ocupou-se servindo dois pratos com a salada verde que estava na mesa e cortando pedaços do bife para os dois, depois examinou seu trabalho com um olhar crítico. Ela organizou a mesa, encheu dois cálices de vinho. O Elfo demorava demais. Ela sentou-se e lutou contra o sono enquanto bebericava o vinho.
O que Erestor faria se ela lhe trouxesse o copo no banho?
Eámanë soltou um risinho histérico, imaginando a reação dele. O próximo gole fez com que ela calculasse o modo como entraria no quarto. Não havia fechaduras no quarto, apenas na porta do corredor. Ele era um Senhor Élfico de importância, e tinha salvado a vida dela. Certamente isso lhe comprava um copo de vinho, para relaxar? Se ela não espiasse... Ah, seria difícil segurar-se, mas ela apenas queria...
Eámanë fez uma careta. Talvez a fraqueza tivesse permitido que o álcool lhe subisse à cabeça. O que ela poderia querer no banho de um Elfo que já havia deixado bem claro que as investidas dela não eram bem-vindas?
Ainda com a careta, ela pegou o segundo cálice e entrou no quarto.
Eámanë tinha razão, Erestor pensou. Era maravilhoso sentir-se limpo novamente. Erestor deliciou-se na tina, lavando seus cabelos, seu rosto e seus pés.
Ela abriu as cortinas dando-lhe apenas uma fração de segundo de aviso –apesar de ela não olhar em sua direção. Com a face ainda virada para a parede, a Elfa Silvestre declarou, "Eu trouxe-lhe algum vinho. Talvez o ajude a enfrentar a sonolência que a água quente provoca. Eu quase desmaiei aí dentro."
Ela teve a coragem de gargalhar ao som das águas turbulentas, enquanto Erestor se posicionava de forma mais dignificada. Ele mexeu-se na tina como se todas as legiões de Mordor tivessem invadido seu banho, e relaxou apenas um pouco quando percebeu que era Eámanë, com um motivo tão inocente quanto uma bebida.
O que o perturbava tanto? Ele tinha lutado contra ela, feito suas refeições com ela, ensinado-a, enfrentado orcs a seu lado e salvo sua vida. Por que ele ficava tão desconcertado com a visão da Elfa aparecendo para lhe oferecer vinho?
"Ah... oi."
"É uma pena vocês em Imladris serem tão reservados. De outra forma eu poderia tê-lo ajudado a lavar as costas," ela então se virou para encará-lo nos olhos, com cuidado e bem devagar, e passou-lhe o cálice. Ah, se ela tivesse à mão um artista que pintasse a expressão no rosto dele naquele momento! "Não tem alguém que o faça em Valfenda? Não é algo assim tão raro, especialmente quando você toma conta de todo mundo na casa."
"Nunca precisei de ajuda para me lavar," Erestor disse, não contendo um leve esgar diante da observação calma dela. Ele sentia-se nu, de modo literal e figurado. "Eu sou... bastante capaz, muito obrigado. Até onde eu sei, pelo menos." Para demonstrar, ele pegou a busha e deliberadamente lavou suas costas com movimentos circulares rápidos. "Tirei toda a sujeira?" Ele perguntou, inocentemente.
"Na verdade..."
Antes que o Elfo pudesse protestar (e ele iria, se tivesse oportunidade para tal) Eámanë adiantou-se e começou a lavar-lhe os cabelos vigorosamente- ele tinha alguns pedaços de lama seca presos nas mechas aqui e ali. E, a bem da verdade, Eámanë estava louca de vontade de enterrar as mãos naquelas madeixas negras.
Ela passou aos ombros quando os cabelos estavam limpos, metodicamente relaxando a tensão ali acumulada através dos dias. Estava claro que o gentil Elfo não estava acostumado com exercício físico, e que este lhe tinha sido penoso.
"Agora sim," ela anunciou com leveza forçada, deixando um selinho rápido em seu ombro esquerdo. Com sorte Erestor colocaria a culpa daquele beijo em uma educação silvestre demasiado livre, e não em um súbito desejo de sentir o sabor daquela pele exposta. "Tente não demorar muito, sim? Estou faminta."
Então, Eámanë fugiu do quarto e só parou no meio da sala, nervosamente enchendo novamente sua própria taça e bebendo tudo de uma só vez.
Erestor piscou algumas vezes quando ela saiu. Surpreso e sem saber exatamente o que tinha acontecido. Apesar de adivinhar as motivações dos outros ter sido sempre um mistério para ele, o conselheiro tinha quase certeza que ela não tinha sido movida pelo desejo de vê-lo limpo...
Ainda assim, nos últimos dias muitas coisas tinham acontecido que o deixavam desconcertado. Com um dar de ombros, ele saiu da tina e enxugou-se. Não seria de bom-tom deixar a dama esperando, com fome. Ele achou, para seu imenso prazer, algumas roupas limpas no baú: uma túnica de algodão grosseiro, e um par de calcas que eram um tanto largas demais e curtas demais. Erestor vestiu-se e prendeu os cabelos úmidos para que não lhe caíssem sobre os olhos. Uma trança inacabada teria de agüentar as pontas, afinal ele era apenas um humilde viajante com pés doloridos esta noite, não um mestre em sabedoria ou hóspede de honra.
"Sinto tê-la deixado esperando," ele disse suavemente, pois não queria assustá-la.
"Está tudo bem," Eámanë respondeu, apressadamente colocando a taça na mesa. Que parecia, de fato, ter-se recolhido alguns centímetros, mas este era um problema facilmente remediado. "Podemos comer agora?"
"Por favor. Está tudo com uma aparência deliciosa, obrigado por preparar o jantar."
"Não sou muito boa cozinheira, então terá de ser grato por nossos anfitriões terem-nos suprido tudo,' ela tagarelou alegremente, estendendo-lhe um dos pratos. "Eu tenho algum jeito com saladas e massas, então não terá que temer ser envenenado pela comida..."
Erestor gargalhou, e pôs-se a atacar o bife e a salada. Pelos Valar, tudo era tão apetitoso... Fresco e suculento, melhor ainda que os vegetais de Valfenda. "Certamente comida tão boa não pode estar envenenada?"
Ela estava realmente grata pela refeição. Estava simplesmente divina. Eámanë concentrou-se em comer a seu contento pela primeira vez desde que saiu da Casa de Elrond. Quando percebeu o olhar divertido de Erestor, ela ficou vermelha de novo. "Perdoe-me. Eu simplesmente não consigo me conter com comida quando fiquei privada por algum tempo... Por sorte, quase sempre estou em casa e mamãe conhece-me o suficiente para não se importar muito. Somos todos fazendeiros, e então as prioridades são bem parecidas."
"Não peça desculpas,' ele disse. "Eu apenas... É bom vê-la sorrir outra vez, minha amiga."
"Estou feliz por você estar comigo." Ela ficou ainda mais vermelha, o rubor espalhando-se pelo pescoço e colo, mas decidiu não mencionar o beijo nos Ermos. "Morin é realmente um doce, mas prefiro ter você comigo. Talvez ele não compreendesse o meu tipo particular de humor. E isso me lembra uma outra coisa que devemos discutir..." ela torceu e retorceu a manga do roupão, perguntando-se distraidamente se teriam tempo de lavar as roupas sujas. Havia ainda uma muda de roupa que ela não usara, um luxo que não teve coragem de deixar para trás: um vestido simples, cor de creme que ela manteve consigo embora fosse desnecessário na estrada. Se não achasse algo em que dormir, ele serviria de camisola. "Parece que deveremos dormir juntos novamente."
Sem mais delongas, ela saiu da mesa e entrou no quarto, procurando algo que servisse de camisola. Eámanë tentou não pensar que ela estava prestes a compartilhar uma cama com um Elfo adulto e solteiro. Eles haviam dormido lado a lado nos Ermos antes, e ela estava dando atenção exagerada à questão. Seria bastante provável que ambos simplesmente desabassem na cama e dormissem pesadamente como os Mortais.
Certo?
Quando Eámanë achou camisão satisfatoriamente longo, ela armou-se de coragem para abrir a porta. Por sorte a peça era ainda mais casta que suas roupas habituais. Ela pigarreou para deixar a voz macia e firme, e as palavras não tremeram quando ela perguntou. "Você não vem dormir?"
N.A.:
1- Aragorn canta essa balada para os hobbits em A Sociedade do Anel, capítulo XI, Uma faca no escuro, e depois conta um não-tão-breve resumo da história... ele teria 'traduzido-a' para a Língua Comum. Mas na falta do original em élfico, que os elfos obviamente estão falando entre si, vai ela mesma...
Faz de conta que a teclinha SAP está ligada. Não faz muito sentido colocar trechinhos de Élfico 'Comum' na conversa (Sindarin), se todos os elfos o estão falando... quando aparecer um outro tipo de élfico, aí eu coloco a 'tradução' embaixo.
2- Havia, de fato, alguns pontos na Floresta das Trevas marcados como villarejos de Homens das Florestas nos mapas do SdA. Um pouco ao norte da velha Floresta das trevas, a casa de Beorn, e um pouco ao Sul, os Homens da Floresta, perto da fronteira com as Montanhas Sombrias.
3- Elbereth – nome Sindarin de Varda. Varda Elentárié o equivalente Quenya de Elbereth Gilthoniel. Por ter criado as Estrelas, era a Valië mais amada pelos Elfos.
4- Cabelos Élficos- Ainda de acordo com o LCE, os Elfos tinham um fascínio por cabelo, e um amor todo especial por cabelos especialmente bonitos. Algo tipo bumbum para brasileiro, ou seios fartos para americanos, só que sem ser tão 'indecente'...
