Capítulo Treze: A Caverna Maravilhosa

'Não há razão para termos medo das sombras. Apenas indicam que em algum lugar próximo brilha a luz'. Ruth Renkel

Os Elfos não encontraram mais trolls na Velha Estrada da Floresta.

Ficou claro o motivo pelo qual Eámanë estava em seu elemento como Morin e Hallatir estiveram, antes de cruzarem as Montanhas. Observando-a pressentir os humores e truques da Floresta, o Conselheiro teve uma boa idéia de como os Silvestres haviam sobrevivido o Necromante por tanto tempo. Eles conheciam bem o ambiente e como aproveitá-lo ao máximo.

E ainda assim o grupo levou quase uma semana para chegar ao Rio Corrente, e então os Elfos estavam realmente exaustos. Erestor então entendeu porque Eámanë insistira em visitar os homens da floresta: sem recuperar as forças, certamente os Elfos não conseguiriam ser rápidos o suficiente para cruzar a Floresta das Trevas sem mais baixas.

"O que faremos agora?" Perguntou Morin, estudando o rio imponente.

"Nós subimos", Eámanë respondeu com simplicidade. "Norte, e depois para o Leste quando o Rio Corrente separa-se do Rio da Floresta".

"Mais uma corrida de obstáculos?" Erestor quis saber. O ritmo tinha sido desgastante, e ele não acreditava que os Elfos o mantivessem dali em diante.

"Temos a luz do sol aqui nas bordas da floresta. Poderíamos descansar durante o dia. Mas quando A Lua estiver à mostra, todas as criaturas malignas saem para caçar".

"Onde é o posto de guarda mais próximo?"

Eámanë fez uma careta. "Alguns dias a noroeste daqui. Mas eu não arriscaria aquele caminho, não sem um bom grupo de soldados élficos. Há aranhas ali, é por isso que os guardas acampam por perto. Para mantê-las fora do nosso território".

"Não há outra opção além do caminho mais longo?"

Eámanë checou os cabelos com os dedos, assegurando-se que ainda estavam bem presos. "Nenhuma opção segura, além do caminho mais longo".

Erestor balançou a cabeça em concordância, com seriedade. "Deixe Morin examiná-la quando acamparmos".

Ela se virou para o curador. "Ainda estamos esperando por efeitos daquela pancada?"

Morin negou com a cabeça. "Eu acho improvável, mas não convém arriscar com ferimentos de cabeça".

Eámanë franziu o cenho. Ela tinha suas dúvidas quanto a sua cabeça dura mostrar efeitos colaterais assim tão tardiamente, depois de ter se comportado tão bem naquela carreira por entre a Floresta, mas não havia como discutir com um curador. Ele queria examiná-la todos os dias, e o faria sem se importar com a opinião dela.

"Então, está bem", ela falou com uma descontração exagerada, "achemos um bom local onde possamos sentar e comer antes do crepúsculo. Depois de eu ter meu jantar, você pode tocar minha cabeça e fazer seus ah-hãs até ficar satisfeito".

Morin presenteou-a com um olhar fulminante. "Eu estudei muitos árduos anos para fazer estes ah-hãs, minha senhora".

"Ah, Erestor não te avisou não, hein? Eu não sou uma senhora. Me chama de Eámanë, por piedade".

Erestor decidiu que era hora de cortar aquela discussão, antes que ele próprio terminasse o assunto batendo a cabeça deles uma na outra. "Acho que ali está bom", ele falou, apontando para a curva do rio. "Aquela praia além da curva. Teremos uma boa visão de lá".

"Hmm? O quê?" Eámanë perguntou, distraída. "Ah, sim, ali está ótimo".

"Podemos ir, então?"

Morin e Eámanë ficaram de boca aberta. Erestor jogou ambas as mãos para cima. "Eu não tenho inclinação para discutir o que quer que vocês discutirão pelas próximas duas horas, quando posso estar descansando e comendo".

Morin, ao invés de ficar chateado, abriu um sorriso luminoso. "Entendo".

"Não creio", Erestor respondeu com firmeza, andando a passos largos para o local escolhido.

"Perdoa-me", Morin disse, gaiato, "eu não sabia que minhas... discussões com a dama te irritavam assim".

Eámanë abriu a boca para reclamar do tratamento imerecido, de novo, mas decidiu que a discrição era mesmo a alma da virtude. Do que eles estavam falando, em nome de tudo o que era verde e florescia? Ela tinha uma relação com Morin muito melhor do que tivera com o falecido Hallatir, que Mandos o cure e o mantenha na paz e graça dos Valar. Por que Erestor estava dando piti agora?

"Não me irrita", Erestor disse por entre os dentes cerrados. "Pare com isto!"

"Retiro minhas palavras," Morin respondeu, sua voz muito séria e grave. Mas piscou para Eámanë por trás das costas de Erestor.

Ah, Elbereth. Ela sentiria uma falta tremenda de Morin também quando ele retornasse a Imladris. Depois de terem passado por tantas desventuras juntos, ele mostrou-se um bom companheiro, com um senso de humor sofisticado e afiado. Eámanë estudou a área ao redor da praia e, satisfeita por achar que as aranhas estavam caçando longe dali, jogou as mochilas e sacolas no chão. "O queijo acabou", ela afirmou com tristeza. "Mas eu posso pegar um peixe".

Erestor jogou seu equipamento ao chão, fazendo muito barulho, e partiu para dentro do rio ele mesmo. "Eu o farei".

Ela perguntou 'o que está acontecendo?', sem palavras, para Morin. O Elfo apenas deu de ombros. Ela então observou Erestor, que estava tentando usar a longa espada como se fosse uma lança e espetar o primeiro peixe distraído que chegasse perto o suficiente. Antes que uma hora inteira tivesse se passado ele havia pegado quatro, e limpou-os na água do rio com a ajuda de uma pequena adaga.

"Arriscaremos o fogo mais uma vez?" Morin perguntou, e a sua seriedade não era fingida agora.

"Não podemos comer peixe cru", Erestor respondeu secamente.

"Estamos à luz do dia, Morin", Eámanë tranqüilizou-o.

Eles comeram e descansaram em silêncio depois disso. Quando o sol afundou no Oeste, os Elfos pegaram suas coisas e retomaram a longa caminhada ao longo do Rio Corrente. E novamente um longo, árduo dia se moldava tão completamente ao outro que Eámanë tinha apenas a memória de uma caminhada interminável. Quando eles abandonaram o Rio Corrente e aventuraram-se para Oeste, a Floresta ficou mais clara ao invés de aterrorizadora. Apesar de as árvores ainda estarem próximas demais uma das outras, a luz do sol passava por entre as folhas, e as criaturas selvagens andavam livremente por entre os galhos. O ar era mais limpo, leve, e rico, e onde a luz do sol incidia pequenos arbustos mostravam cachos de flores selvagens mesmo em pleno inverno.

"Bem-vindos, amigos, a Taur-e-Ndaedelos", Eámanë anunciou reverentemente.

"Já estamos dentro das fronteiras?" Erestor perguntou. "Talvez possamos achar uma patrulha que nos leve até o palácio?"

"Mestre Erestor," Morin falou, suavemente. "É meu entender que as patrulhas achar-nos-ão".

"Meu caríssimo Morin," Eámanë disse também, "as patrulhas já nos acharam. A questão é, quanto tempo nos observarão até certificar-se de que não somos inimigos, e quando se farão visíveis?"

"Ou talvez eles saibam que não vocês não são inimigos, mas queriam saber se essa pestinha nos apresentaria?" Um Elfo alto e corpulento pulou de cima de um alto galho de carvalho e aterrisou com perfeição em frente ao grupo. "Nunca antes me encontrou sem me saudar. Eu pensei que o propósito da sua estada com o golda era aprender boas maneiras?"

"Fique no Sindarin, Maglin." Eámanë não estava mais de bom-humor. "E seja simpático. Eu avisei a papai que era você quem precisava de lições de etiqueta, mas não havia como tirá-lo do serviço na Guarda, então terá que esforçar-se para comportar-se de maneira decente". Ela virou-se para os Elfos de Imladris. "Este é meu irmão Maglin, Tenente da Guarda Real. Estes são Mestre Erestor," – Eámanë percebeu então que não conhecia o nome do pai dele, e emendou com tato, "Ele é Conselheiro Chefe de Elrond Semi-Elfo; e Morin filho de Nardil, também de Imladris".

Maglin fez uma careta estranha, um movimento sutil do nariz, e a semelhança familiar ficou ainda mais forte. "Você deve ter ficado bem importante, para ter uma escolta assim".

Eámanë soltou uma gargalhada triste num bufo de ar, mas desviou os olhos.

Erestor suspirou e adiantou-se. Ao que tudo indicava, a dança política não esperaria pelos salões do rei. "Há noticias e discussões que são imperativas. Apesar de que escoltar a adorável Eámanë não seria um motivo insuficiente para trazer-nos aqui".

Eámanë riu de novo, mais discretamente desta vez, e ruborizou-se. Maglin ficou sério, e Erestor não sabia se era pela gravidade da situação ou por algum sinal que tivesse lido no rosto da irmã.

"Pensarei num modo de escoltá-los até o palácio. Não podemos fazê-lo agora, contudo, nossos batedores nos deram aviso de um grupo grande de aranhas que ficou ousado demais. Nós estamos a caçá-las".

"Quantas são?" Eámanë perguntou, calmíssima.

"Achamos que umas dez, talvez mais".

"Adultas ou jovens?"

Por Varda Elentári, Erestor pensou. Eles tinham caminhado diretamente para um grupo grande de aranhas, e provavelmente escapados da morte certa graças aos guardas, e ainda assim a donzela estava completamente serena. Nada fora do normal, apenas algumas descendentes de Ungoliant por perto. Criaturas maliciosas, comedoras de carne humana, perigosamente inteligentes e completamente dominadas pelo Mal.

"A maior parte é adulta, achamos".

Eámanë suspirou, e concordou. Ela colocou as mãos na cintura e estudou a copa das árvores, contando os guardas encarapitados lá em cima, ainda em alerta. "Se acharem elas logo, poderemos estar de partida em uns dois dias".

"Eu preferiria que não estivesse por perto quando chegar a hora, Eáspenna".

Os irmãos se entreolharam, e milhares de palavras silenciosas foram trocados naqueles olhares compridos. "O tempo em que me podia proteger acabou, Maglin".

"Temia escutar isso". Ele abraçou-a, rápido e com força. "Fique atrás dos guardas, nada de truques. Eu tirarei estas criaturas dunna do nosso caminho e a levarei para casa assim que for possível".

Eámanë limpou a garganta e fez uns gestos nada sutis em direção aos Elfos do vale.

"E também estes bons gentis-seres ao palácio".

Eámanë repetiu o gesto, desta vez com complicados sinais de mão indicando que ela iria junto.

"Vai ao palácio também?" Ela concordou com a cabeça. "Pode parar de se comportar como se fosse muda?"

"Pode parar de se comportar como se fosse um chato?"

Morin caiu na gargalhada, mas rapidamente disfarçou com um acesso falso de tosse.

"Eu até podia," Maglin admitiu, "mas aí você não me reconheceria mais".

"Verdade". E ela beijou o irmão no rosto.

Quando a noite caiu um grupo de guardas chegou no acampamento, por ordens do capitão Laedhel. Maglin estava obviamente dividido entre sua responsabilidade com o grupo e o desejo de acompanhar a irmã, mas terminou ficando enviando três de seus melhores guerreiros para acompanhá-la na última parte do caminho. Eles partiram para o palácio a toda pressa, e chegaram aos Portões de Ferro no segundo pôr-do-sol.

"Lar, doce lar", Eámanë disse, e virou-se para os companheiros. Os guardas estavam apenas um pouco cansados, e felizes em estar na cidade de novo. Morin estava confuso com a construção diante dele –ou talvez com a falta de uma construção. Uma ponte simples por sobre o veloz rio frio, e um portão de metal encravado na boca de uma caverna rasa na montanha, não era o bastante para impressioná-lo.

Erestor parecia fascinado. "E as portas se abrem pela sua vontade?" Ele perguntou de novo.

Eámanë riu. "Nas horas de perigo, assim o é. Mas em geral deixamos os portões abertos, e à noite eles são fechados. Se você bater do modo apropriado, um guarda lá dentro a abrirá para você". Ela saudou os guardas de serviço na porta com a familiaridade do costume antigo. Então eles entraram na caverna, e palavras não eram mais necessárias.

Alguns candelabros estrategicamente posicionados davam uma impressão de glamour e charme, mas a iluminação era devida principalmente a grandes lâmpadas cheias de uma substância entranha que emitiam uma luz azulada. As paredes eram de pedra, não como se blocos de mármore tivessem sido colocados por sobre a rocha nua, mas como se todo o palácio fosse um enorme bloco de mármore esculpido. Mármore branco entrecortado com raios de ouro no teto alto e nas paredes, e pilares de vermelho vivo nas colunas, e o chão era de um tom tão escuro que parecia negro na meia-luz. Veios de ouro brilhavam em um padrão caótico, dando ao palácio a impressão de ser ele todo uma jóia viva.

Havia vasos em todos os lugares, com flores e pequenas plantas ornamentais. Enormes tapeçarias com cenas de Doriath e Ossiriand, e também do que Erestor concluiu ser a vista do Rhovannion antes da Sombra chegar. Havia um retrato particularmente adorável descrevendo a visão da floresta do topo das Montanhas Sombrias que Erestor viu de relance em uma enorme câmara.

"O Senhor Legolas o fez, quando retornou de sua primeira missão no Monte Gudaband. Ele é bastante bom como artista, se me permite dizer".

"Perdoe minha ignorância, mas... quem é este Senhor Legolas?" Erestor perguntou baixinho, seguindo Eámanë enquanto ela os guiava pelo labirinto de corredores. "Um capitão do rei? Seu conselheiro? Um nobre?"

"Tudo isso e mais alguma coisa", Eámanë respondeu, toda sapeca. "Legolas é o segundo filho do rei Thranduil".

"Ah". Erestor ficou vermelho. "Fico feliz de ter descoberto com você, então".

"Ele teria brincado com você, nada mais. Adhenard!" Eámanë balançou a mão no ar enquanto gritava, e um Elfo enorme e extremamente ameaçador parou e virou-se na direção do grupo. "Eu trouxe viajantes muito cansados de Imladris que precisam de descanso e de uma refeição reforçada antes de terem sua audiência com o Rei Thranduil".

"Abençoada seja, criança!" O Elfo enorme disse, enroscando Eámanë em seus braços fortes. Ele era duas cabeças mais alto que Eámanë, no mínimo, e pelo menos uma maior que Erestor. Ela dava tapinhas nas costas largas do amigo, sua cabeça quase desaparecendo entre os braços e peito largo. O Conselheiro mudou o seu peso de uma perna para a outra, sentindo-se como se fosse um anão, e o Elfo tagarelava palavras carinhosas sobre Eámanë em Nandorin e a beijava em ambas as faces "Eu estava tão preocupado contigo! Por que não escreveu?"

"Eu escrevi, sim!" Eámanë defendeu-se. "Ah, Adhenard, estes Elfos realmente precisam descansar..."

"Nem uma palavra em um século! Seu pai ficou preocupadíssimo, ficou sim. E todos aqueles rumores sobre coisas tenebrosas na Floresta, achei que nunca mais te veria!"

"Ah, oras, não há motivo para tanto. Sério".Eámanë tentou livrar-se de Adhenard. "Eu não sei o que houve com as cartas. Mas acho que há uma hipótese razoável. Não deveríamos ter confiado nos homens da Floresta para trazer as cartas até aqui."

Adhenard fez uma careta esquisita. "Talvez seja."

"Adhenard... os hóspedes?"

"Ah, sim, os hóspedes!" E o Elfo focou sua atenção em Morin e Erestor, que estavam muito encabulados. "Sou Adhenard, assistente de Galion, e cuidarei para que estejam ambos bem acomodados, senhores".

"Agradecemos muito, Mestre Adhenard", Erestor falou, mas não com tanta suavidade e estilo como de costume. O Conselheiro estava um tanto preocupado em se seria abraçado e beijado, também. Embora a experiência fosse bastante agradável com Eámanë, ele não pretendia tentar o mesmo com aquele Ellon enorme. "A viagem foi bastante... atribulada".

Adhenard ficou sério. "A Floresta das Trevas geralmente o é, meu senhor".

Eámanë tentou aliviar a atmosfera. "Eles precisarão de algo bem nutritivo, Adhenard. Como está o humor do Rei?"

"Sombrio", ele continuou naquela voz séria e perturbadora. "E ficando cada vez mais sombrio com o passar do tempo. Ele quererá ouvir de Além, tenho certeza". E ele os levou por um novo corredor confuso, halls e salões comunais.

"Não se preocupem em demasia, o latido de Thranduil é pior que a mordida da fera".

"Lá isso é verdade", o assistente concordou.

Morin permitiu-se um sorrisinho convencido. "Ele não gostaria de ver-vos diminuindo a importância de sua ira".

Eámanë olhou para trás e piscou. Erestor fechou as mãos com força e escondeu-as no bolso da túnica para não resmungar e rugir. Não é sua, não é sua, ela não é sua. Você a mandou embora. Não é da sua conta!

"Eu não diminuo coisa alguma, meu amigo. O latido é pior que a mordida, e Thranduil não se importaria em saber que eu o disse. Mas se ele ficar quieto, então eu aconselho que corram por suas vidas". Ela virou-se de corpo inteiro, tão séria e preocupada quanto Adhenard. "Thranduil não avisa antes de lançar-se ao ataque, e ninguém que o tenha visto em ação o subestimaria em sua ira. Mas são ambos amigos do reino, e ele é um líder justo e bom. Vão e descansem, e não temam o escuro aqui". Adhenard abriu a porta para um aposento de hóspedes espaçoso, e levou Morin pelo braço para mostrar os ambientes e as facilidades. "Estarei com você na audiência", ela sussurrou para Erestor.

Ele ficou aliviado, lisonjeado até, mas recusou. "Não há necessidade, minha amiga".

Eámanë balançou a cabeça em negativa, num gesto quase violento em sua rapidez. "Não. Estarei com você na audiência". Não havia suplica em sua voz, apenas a afirmação de um fato consumado. "Eu o verei amanhã".

E depois ela gritou um adeus alegre para Morin, e desapareceu entre os corredores como um sonho.


N.A.: Mais um ensaio…

1- Golda: Nandorin para Noldo, aqui Maglin falava de Elrond.

2- Dunna: Nandorin para escura, nojenta, maligna. O pobrezinho esqueceu-se de falar em Sindarin na sua raiva.

3- Monte Gudaband: Montanha que fica na juntura das Montanhas Sombrias e das Montanhas Cinzentas.

4- Legolas, segundo filho: Há uma corrente de pensamento sobre Legolas não ser o filho único de Thranduil, que acho interessante e resolvi seguir. Embora não seja incomum que um príncipe herdeiro, rei (mesmo os que não tem sucessores) fosse para a batalha ou tomassem riscos suicidas na história da Terra-média (exemplos: Fingon, Gil-galad, etc), ainda faz mais sentido para mim que Elrond, tendo tantos guerreiros de valor e renome em sua própria casa, não enviaria o filho de Thranduil para a morte quase certa se ele fosse filho único e herdeiro de Thranduil. (Não com Glorfindel dando bobeira pelos corredores...)

(Sendo Thranduil imortal, a questão da sucessão não pesa tanto assim. Mas também, a Floresta das Trevas está sob ameaça constante, e Thranduil pode bem ser morto qualquer dia e batalha, o que significaria a necessidade de um herdeiro que assumisse o trono.)

5- Galion: em O Hobbit, vemos um Galion, mordomo do rei. Cuidado para não confundir com Galiond, pai de Eámanë, que está na Guarda Real.

E para a maravilhosa Sadie, que gosta da Floresta das Trevas e seus elfinhos tanto quanto eu:

6- O latido, a mordida, e um rei justo e bom: eu estou pessoalmente engajada no que chamo de Demanda Por Um Thranduil Cânone. Depois de ler O Hobbit, ficou muito mais difícil para mim aceitar fics que mostram o Rei Élfico como estuprador, torturador, pervertido ou simplesmente maligno. Nas poucas páginas que Thranduil teve, ele se mostrou um personagem rico, complexo e fascinante. Capturar todas as sutis nuances do rei Élfico tem sido a minha obsessão particular por algum tempo. Isso pode ser também o meu lado Fã Pervertida dos Elfos, contudo. (Eu vou usar idéias, adaptadas, de um ensaio chamado A Case of Mistaken Identity, da Coriel, postado no Stories of Arda. Quem ficar interessado, vale dar uma olhada, mas use o bom senso. Nem tudo que ela fala cola. Uma alusão ao Feanor como homem de família, então, depois que ele abandona a mulher pra correr atrás das jóias perfeitas dele e assassina seus primos os elfinhos de Alqualondë foi Foda com PH.)

(Tradução livre porque eu só tenho a versão em inglês de O Hobbit) "Em uma caverna enorme a algumas milhas das fronteiras da Floresta das Trevas, vivia naquele tempo o seu maior rei. Diante das suas portas altas de pedra um rio corria das alturas da floresta e fluía até o pântano aos pés das terras de árvores altas. Esta grande caverna, da qual inúmeras cavernas menores saíam de ambos os lados, ia até o fundo no subterrânea e tinha muitas passagens e salões espaçosos; mas era mais iluminada e completa que qualquer moradia de goblin, e nem tão profunda nem tão escura. De fato, os súditos do rei viviam e caçavam em sua maioria na floresta aberta, e tinham casas ou cabanas no chão e nos galhos de árvores. As faias eram suas árvores favoritas. A caverna do rei era seu palácio, e o cofre-forte de seu tesouro, e a fortaleza de seu povo contra os seus inimigos".

Ao que tudo indica, quem fundou o reino foi Oropher, e não Thranduil; ou pelo menos Oropher estivera com os Silvestres por mais tempo. Ainda assim, Thranduil é citado como seu maior rei. Mas no seu reinado, Thranduil perdeu a maior parte do território do seu reino, sendo encurralado nas cavernas das montanhas da Floresta. Ainda assim, os Elfos estavam resistindo (de novo friso, sem Anel de Poder algum) ao próprio Sauron, sob o codinome Necromante, por muitos séculos. Não apenas isso, mas eles mantinham-se alegres e esperançosos. Então, nesse ponto eu concordo com a Coriel, o Thranduil deve ter ganhado pontos em carisma, liderança em tempos difíceis, etc.

Em A Sociedade do Anel, Legolas diz no Conselho de Elrond: "e a Floresta das Trevas é um lugar maligno, exceto onde nosso reinado está sendo mantido".

Tratamento dado aos anões, antigos inimigos dos Elfos. Vide N.A. do capítulo cinco, ponto um- Mitos, poemas e canções. Olha no finalzinho da balada de Lúthien. Vê se não parece muito com o que aparece em O Hobbit: "em dias antigos eles os Elfos tiveram guerras com os anões, que acusavam de roubar seu tesouro. É justo porém dizer que os anões deram uma versão diferente, e disseram que apenas levaram o que lhes cabia, pois o rei barganhara com eles e recusou-se a pagar o preço justo depois."

Se você der uma olhada no Conto dos Anos, vai ver que não aparece guerra entre Elfos e Anões (salvo a dos Cinco Exércitos, mas aí é outra história) nem na Primeira nem na Segunda Eras. Mas Oropher era parente de Thingol, e provavelmente estava em Doriath, e sobreviveu à guerra com os anões e as subseqüentes (conseqüentes) guerras contra os filhos de Feanor (que queriam a Silmaril da tal jóia). Guerras estas que praticamente mataram todos os Elfos de Doriath, com poucos sobreviventes. Thranduil pode ter sido um elfinho na época, ou ter crescido ouvindo os horrores de seu pai.

Ainda assim, Thranduil só prende os anões depois que eles invadem a festa dos Elfos na Floresta três vezes, e não os maltrata nem tortura, apenas os prende nas masmorras. Ele dá ordens específicas para que os anões sejam levados embora para a masmorra e mantidos presos, quando se recusam a dar explicações sobre o que faziam nas terras do rei sem permissão. Não vejo muita crueldade aqui. A menos que você queira argumentar que os anões foram para a solitária na masmorra. Verdade isso.

Thranduil também vai ao socorro dos homens de Esgaroth quando o dragão destrói sua vila, emprestando comida e os materiais de que precisavam. E embora estivesse P da vida com os anões pelo estrago que fizeram, atiçando o dragão, Thranduil (tido como avarento e ganancioso nos fandoms) é na verdade a voz da razão nas negociações, ele não pede por si, mas Bard de Dale o faz (por Thranduil, fique claro, e por si mesmo e seu próprio povo também); e Thranduil afirma categoricamente 'muito tempo me demorarei antes de declarar guerra por ouro'.

Thranduil nunca foi santo, mas monstro ele também não era. Se você algum dia peitar descrever este personagem, cuidado com a caracterização. Ele é fascinante, não é mesmo? Boa sorte!

Ah, e obrigada pela audiência e pela paciência! É isso aí amiguinhos, semana que vem tem mais!