CAPÍTULO 4
"Você está tenso hoje ou é impressão minha?" perguntou Lois a Clark quando chegaram à esquina da Fifth Street com a Concord Lane.
Moramos tão perto do Planeta Diário, pensou ele, olhando para o globo ao alto do edifício em frente, enquanto aguardavam o sinal abrir.
"Eu estou bem, Lois" disse ele, com as mãos nos bolsos.
Quando chegaram ao andar onde ficava a redação, Clark ficou deslumbrado. Jamais havia estado ali antes. Pessoas corriam de um lado a outro, um telão mostrava as últimas manchetes do dia, telefones tocavam incessantemente e vozes frenéticas se misturavam naquele ambiente dinâmico e contagiante. Perplexo, Clark ficou olhando tudo aquilo de dentro do elevador, temeroso pelo quê o aguardava do lado de fora.
"Sabe, uma hora você vai ter que sair do elevador" disse Lois, observando-o da porta.
Clark sorriu e saiu, e Lois nada disse. Ela apenas o observava, com denotada curiosidade. Alguma coisa estava errada com o seu marido, mas ela ainda não sabia o que era. Ele parecia o mesmo com quem ela havia se casado. Só estava mais... distante.
"Lane! Kent!" chamou uma voz bastante familiar a Clark.
E ele se virou para ver quem era. Só não ficou mais surpreso ao ver que se tratava de seu velho conhecido Perry White pelo fato de que Lois o havia mencionado antes.
"Vocês não sabem da maior!" exclamou ele, acompanhado de um garoto com uma máquina fotográfica.
"A maior bomba dos últimos anos!" interrompeu o garoto.
"Jimmy!" censurou Perry.
"Desculpe, chefe!" disse ele.
"Um avião caiu na costa leste hoje cedo. Doze pessoas morreram. E nem sinal do Superman!" disse ele, preocupado.
Superman? pensou Clark. Seria o mesmo que foi homenageado na Casa Branca? Ele era mesmo uma pessoa?
Lois encarou Clark, que não entendia coisa alguma, embora a tragédia também o tivesse abalado.
"Lois, quero que fale com o nosso correspondente em Santa Mônica e veja o que consegue descobrir" disse Perry, finalmente, dando-lhes as costas.
"Kent!" gritou ele, antes de voltar à sua sala. "Como vai a matéria sobre os manhunters?"
"Er... bem, eu -"
"Ele trabalhou nisso a noite inteira, chefe" disse Lois. "Até o final do dia vai estar na sua mesa"
"Ótimo!" exclamou Perry.
"Chefe! Telefone! É Simone D´Neige!" chamou a secretária de Perry.
"Já estou indo!" disse ele, que se virou uma vez mais para Lois e Clark: "Ao trabalho, crianças!"
Jimmy observava Perry se afastar, quando perguntou:
"Onde será que está o Superman?"
"Não faço a menor idéia" respondeu Lois, encarando Clark com firmeza.
Quando Jimmy também se afastou, Clark se virou para Lois.
"Por quê fez aquilo?" perguntou, referindo-se ao fato de que ela provavelmente havia mentido para o chefe sobre a tal matéria dos manhunters.
Mas ela o ignorou. Pegou-o pela mão, e o puxou para o que parecia ser um almoxarifado.
"Lois? O quê está acontecendo?" perguntou Clark, confuso. De todas as esquisitices que tinham acontecido naquele dia, aquela era a maior de todas.
"Eu é que pergunto!" exclamou ela. "O quê está acontecendo?" repetiu ela a pergunta, visivelmente furiosa, com os braços cruzados, encarando-o nos olhos.
E Clark se lembrou de todas as vezes que a viu daquele jeito antes. Ela realmente estava furiosa. Mas ele não conseguia responder, pelo simples fato de que não sabia do que ela estava falando.
"Por que não impediu que aquele avião caísse? Uma dúzia de pessoas morreu! E você não fez nada!"
"O quê eu poderia ter feito?" perguntou Clark, nervoso, e cada vez mais confuso.
E as dúvidas latentes eram: Afinal de contas, quem era o Superman? E por que ele estava com aquela estranha sensação de que tinha alguma coisa a ver com esse tal de Superman?
"Quem é você?" perguntou ela, subitamente.
"Como assim quem sou eu?"
"Você não é o meu marido" disse Lois, então, dando-lhe as costas, e abrindo a porta do almoxarifado.
"Espere!" pediu Clark, segurando-a gentilmente pelo braço.
"Não me toque!" exclamou ela, afastando-se dele.
"Lois, eu..." disse Clark.
E houve um silêncio, enquanto ela o encarava, esperando que continuasse.
Na verdade, ele não sabia o que dizer. Não sabia como dizer. Queria apenas fazer a coisa certa. Mas não fazia idéia do que era certo, dadas as circunstâncias.
Foi então que Clark viu algo que o deixou ainda mais estupefato. No pulso esquerdo de Lois havia um bracelete turquesa, o mesmo que um dia lhe disseram que pertenceria à mulher da sua vida. Não o havia percebido antes por conta das mangas do tailleur de Lois, que agora estavam levemente arregaçadas.
"O quê...? Mas, como?"
"Não mude de assunto!" pediu ela, sem perceber que ele olhava para o bracelete.
"Onde conseguiu isso?" perguntou ele.
Lois olhou o bracelete.
"Perfeito!" exclamou ela. "Vai dizer que não lembra?"
E Clark nada disse. Sentindo que devia aquela satisfação a ele, Lois explicou:
"Eu o encontrei a caminho de Metrópolis há alguns anos atrás. Depois o perdi. De alguma forma você o encontrou e me devolveu"
Clark olhou para Lois, como nunca havia olhado para ela antes.
"Vamos" continuou ela. "Diga logo o quê está acontecendo. Quem é você, e o que fez com o meu marido!"
"Sou eu mesmo, Lois. Quer dizer... Não sou o Clark do presente. Eu vim... meio que... do passado" disse ele, pausadamente, esperando que ela acreditasse.
Lois enrugou a testa.
"Espera um instante!" pediu ela. "Acho que eu perdi essa última parte"
"Eu vim do passado" repetiu ele.
"Eu entendi o que você disse" retrucou ela. "Só quero que me explique como isso aconteceu e onde está o meu marido!"
"LOIS, SOU EU!" exclamou ele.
"Não. Não é. E não precisa gritar!"
"Desculpe" disse ele.
"Então me conte como foi que isso aconteceu, porque o mundo está girando, e em algum lugar alguém está precisando da ajuda do Superman" pediu ela, impaciente.
"De novo esse tal de Superman?"
Lois o encarou.
"Você realmente não é daqui" disse, chocada.
"Não. Eu vim de Smallville há dez anos atrás. A última coisa que acontecia antes de eu vir parar aqui era a corrida senatorial entre meu pai e Lex Luthor" explicou ele.
"Eu lembro disso" disse ela, com o olhar perdido.
Clark suspirou, e procurou a mão de Lois quando esta descruzou os braços.
"Por favor" pediu ela, olhando-o nos olhos. "Não me toque"
"Sinto muito" disse ele.
"Como vou saber que está mesmo falando a verdade?"
Clark ficou pensativo. Não conseguia pensar em nada.
"Lembra daquela noite no The Windgate?" arriscou ele. "Você me deve vinte dólares"
Lois arqueou as sobrancelhas, surpresa. Sim. Realmente ele era o Clark do passado.
"Olha, Lois... Preciso que me ajude" pediu ele. "Não sei como lidar com isso"
"Claro que não sabe!" exclamou ela, empurrando-o e abrindo a porta do almoxarifado. "Você é apenas um garoto de dezoito anos de idade!"
Clark arregalou os olhos, surpreso com a reação dela.
"Então pode pelo menos me dizer quem é esse tal de Superman?"
Lois então se virou e o encarou com firmeza:
"Você não é mesmo o meu marido"
E ela bateu a porta, deixando-o sozinho naquela salinha em meio a produtos de limpeza.
Não podia ser verdade, pensava ele. Nada podia ser pior.
Ele finalmente havia encontrado a mulher da sua vida dez anos no futuro. E era justamente a pessoa que menos imaginava, e que esteve por tanto tempo bem diante dos seus olhos! E agora que se sentia tão bem junto a ela, deixava-a escapar pelo simples fato de que não compreendia sua própria natureza. Então, aquela era a resposta. Ele é o Superman. Lois Lane é a mulher da sua vida. E ele começava a gostar daquilo tudo.
"Lois, espere!" pediu Clark, arrependido, saindo do almoxarifado e procurando por ela pelo jornal. Ao vê-la caminhar na direção do elevador, Clark foi atrás dela. Alcançou-a a tempo da porta se fechar.
"Você tem que me ajudar!" pediu ele, segurando a porta.
Lois o encarou com desprezo. Porém, algo a impulsionou a ceder. Talvez fosse aquele olhar... o mesmo que a fizera ceder tantas vezes outras.
"Se vai ficar parado o dia inteiro ai, não vou poder fazer nada por você" disse ela.
Clark sorriu, aliviado, e entrou no elevador.
"Mas não crie esperanças, Smallville" completou ela, quando a porta se fechou.
Continua...
