PEQUENOS GRANDES PROBLEMAS
CAPÍTULO 04 - EFEITOS COLATERAIS
Dez dias depois do "acidente" com os jovens líderes, começaram a aparecer os
efeitos colaterais. Brad se sentou pra ler o jornal e começou a ter
dificuldades. Demorava alguns minutos pra decodificar palavras mais
elaboradas e não se lembrava de modo algum de palavras estrangeiras.
Arregalou os olhos, sentado no sof�, testando seu cérebro e descobrindo que
já não sabia verbos em francês ou em italiano, alemão era uma lembrança vaga
e russo ele nem sabia o básico... Aya já foi pego quando ajudava Omi a
fechar o caixa da floricultura. Descobriu que não conseguia dizer o aumento
no faturamento da loja de uma semana pra outra, já que as regras de
porcentagem haviam evaporado do seu cérebro. Omi percebeu a testa franzida e
foi ajudando a testar o quanto ele estava "falhando". Perceberam com horror
que ele estava limitado às quatro operações básicas. Os exames de tomografia
confirmaram que o cérebro estava regredindo para acompanhar a idade do
corpo.
-Quanto mais demorarmos pra achar um antídoto mais ele regredirá à
infância.
-EU ODEIO SER CRIANÇA! Demorou tanto pra eu crescer, agora me vejo limitado novamente-explodiu o ruivo - Sujeito à dependência e constrangimentos-
deu um tapa nas mãos solícitas de Manx - Não quero consolo! Não quero
colinho! Quero voltar a ser eu mesmo- se jogou no chão, tapando o rosto
com as mãozinhas e não demorou muito ouviram seus soluços desconsolados.
Omi foi ao banheiro buscar toalhas de papel, enquanto Ken tirava Aya do
chão. O jovem arqueiro limpou o rosto do espadachim mirim cuidadosamente
enquanto Ken o embalava devagar, Fujimiya ainda emburrado tentava os
afastar, com socos e pontapés desanimados. Yohji fez sinal aos dois para
leva-lo para o carro, voltando a conversar com Manx:
-A situação tá se complicando...
-Sim. Mas estamos trabalhando dia e noite na solução. Ele tem que ter
paciência...
-É um homem preso no corpo de um menino. Você não tem noção como é...
-Posso imaginar...
-Não. Não pode. Não me olhe assim. Nem to pensando em sexo. Tô pensando em
ter que comer coisas de criança senão o estômago não aceita, em não poder
beber e situações embaraçosas como molhar as calças.
-Vamos conseguir, Kudou.
-Mas quando? Quando talvez for tarde demais pra reverter a situação? Já
pensou se chegarmos num limite irreversivel?
Eles estavam encostados no carro, Aya no colo de Omi, a cabeça no ombro do
arqueiro, os olhos fechados, suspirando de tempos em tempos... Aquela imagem
doeu em Yohji, como muitas nos últimos dez dias... "Eu sou muito mole com
choro de criança, essa é que é a verdade. Ele chora, eu tenho vontade de
estrangular aquelas bruxas, químicas de araque." E automaticamente estendeu
os braços pra pega-lo. Mas Aya só fez agarrar mais o pescoço do jovem
loirinho... "Claro, ele está chateado. Nem Ken conseguiria tira-lo dali
agora."
Omi estava pensando a mesma coisa... Em como Aya estava ficando agarrado,
dependente dele a cada dia... Não que ele estivesse reclamando, mas aquilo
não era muito... o estilo Fujimiya de ser... Lembrou-se que, há alguns dias
atrás...
Aya estava na floricultura, ajudando Ken a embalar umas flores, já sentindo
a bexiga reclamar de vontade... Ken percebeu que ele não parava quieto em
cima do banco e recomendou:
-Pode ir, que eu termino aqui...
Fujimiya praticou pulou do banquinho e correu para o banheiro ao lado da
cozinha... Mas Omi, que estava fazendo o almoço, ocupava o aposento naquele
instante. Aya calculou suas chances de chegar a um dos banheiros no andar de
cima... "Acho que se eu me controlar, dá... O mais difícil vai ser subir as
escadas, mas..." Seu orgulho o impediu de fazer o óbvio: bater na porta... E
subiu correndo...
Todo mundo sabe como funciona, você pode segurar perfeitamente, chegou perto
da porta do banheiro, o corpo entra em pânico. Para crianças, é pior ainda.
Para uma criança totalmente apertada... Foi tocar na maçaneta e o mundo se
liquefez... Ao se sentir molhado, Aya fechou os olhos, batendo com a cabeça
na porta do banheiro. Deu um grito irritado, nunca em sua vida tinha se
sentido tão humilhado, aquilo tudo era constrangedor... Omi, que já tinha
voltado para a cozinha, ouviu o grito e subiu. Os olhos azuis e violetas se
encontraram por um breve instante, o rosto de Aya ficou mais vermelho que os
cabelos, Omi ficou tão constrangido quanto ele, mas resolveu tomar uma
atitude. Se abaixou na frente do garoto e tirou as roupas encharcadas,
limpando o chão com elas. Abriu a porta do banheiro e levou Aya para dentro,
a fim de lhe dar um breve meio banho... Depois o trocou e desceu com ele no
colo... Tudo sem o ruivo dar um pio ou erguer os olhos... Os outros dois
assassinos estranharam tanto silêncio na hora do almoço, mas Omi nem tocou
no assunto, apenas recomendou ao Yohji que quando fosse fazer as entregas
levasse o pequeno com ele... O loiro aceitou, no seu jeito alegre erguendo o
ruivinho da mesa e tagarelando enquanto ia tirar o carro... Com o movimento,
as senhoras das casas brincando com ele, ganhando afagos e doces, Aya foi
relaxando... Enquanto Yohji andava por um bairro distante e tranqüilo, Aya
abriu o cinto, ficando de joelhos no banco de trás pra ver a paisagem, muito
bonita. Yohji olhou pelo retrovisor, sorrindo do jeitinho dele. Mas ao se
dirigir a auto-pista pra voltar ao centro da cidade, recomendou:
-Aya, ponha o cinto.
O ruivo se sentou, enfiando-se de volta no X protetor e procurando apertar o
fecho com apenas uma das mãos. Prendeu a carne macia da palma na junção e
gritou. Yohji se assustou e virou-se, vendo com horror o menino sangrar e
agitar a mão, que não desprendia. Parou no primeiro vão que viu e se virou,
tentando soltar a trava... Mas fosse porque ele mesmo estava de cinto de
segurança, fosse pelo desespero, pelo choro do ruivinho, ele não conseguia soltar a trava. Quase arrancou o cinto pra se soltar, também empurrou o banco do lado pra frente com raiva e sentando-se ao lado de Aya, abriu o fecho. Ao peg�-lo no colo pra consol�-lo e ver a extensão do corte, se sentiu meio... úmido. Sem dizer nada, voltou pro banco da frente, carregando o pequeno espadachim. Continuou dirigindo até um postinho médico, onde explicou para uma jovem enfermeira que seu filhinho teve um acidente com o cinto de segurança. Ela deu uns dois ou três pontos na "mordida" do fecho, sorrindo com simpatia para "pai e filho".
-Ele é um garotinho bem corajoso...
-É, sim.
-Vejo que vocês tiveram... – mas um olhar de Yohji calou o final da afirmação "...um pequeno acidente a mais". Ela sacudiu a cabeça, como se dissesse "eu entendo" e sussurrou para o loiro – Tem uma loja de roupas virando a esquina seguinte.
Yohji agradeceu e segurando o garoto constrangido ainda no colo, foi andando com ele. Aya, de olhos fechados, vermelho feito um pimentão, só pensava em cavar um buraco no chão e sumir terra adentro... Mas ouviu Yohji pedir as peças de roupa e abriu os olhos ao ser posto no chão, descobrindo que estavam dentro de um provador e que o solícito atendente havia arrumado uma toalha de mão úmida e morna. Yohji tirou as roupas molhadas de Fujimiya e as suas, limpando o garoto e trocando de roupa normalmente. Aya olhou para sua muda de roupa novinha (camiseta, cuequinha e bermuda),os olhos violetas brilhando... O atendente depois cortou as etiquetas pra eles, sorrindo e se curvando, afirmando que eles haviam ficado muito bem naquelas roupas... (Depois em casa, contaria que atendeu um pai desajeitado mas muito amoroso, que comprara roupas novas ao filhinho que urinara nele...) Ao voltarem para o carro, Yohji não abriu a boca sobre o acontecido, mas colocou Aya no banco ao seu lado, ajustando o cinto de segurança para o tamanho dele... Fujimiya ainda pensou no que aconteceria se algum guarda os parasse, mas o banco de trás estava molhado e a sua mão estava latejando... Ao chegarem em casa, Aya colocou a mãozinha na perna de Yohji e apertou.
-Kudou... eu... sabe... muito obrigado.
-Eu queria há muito tempo comprar essa bermuda pra você, sabia? – sorriu Yohji desconversando. – Foi um prazer.
Ao entrarem em casa, Omi deu um grito, pegando Aya no colo e pondo em cima da bancada da cozinha:
-Mas o que aconteceu?
Yohji tinha ido à lavanderia colocar a roupa molhada no tanque, discretamente. Voltou correndo.
-Ai, bishounen. Foi só um cortezinho, provocado pelo estabanado, que nem consegue prender mais o cinto de segurança, sem se matar...
O olhar "shine" nem foi notado. Omi praticamente deu o jantar ao ruivo na boca e depois o levou no colo para o quarto, Aya deixando-se paparicar, afinal, o dia foi muito estressante e os analgésicos já estavam fazendo efeito.
N/A: Ta bom, ta bom, a parte do Brad foi ínfima, mas é que eu queria mesmo escrever esse pedaço do constrangimento do Aya e Deus sabe (a Evil também) que o negócio não rendia... Então quando descobri como fazer, eu não conseguia pensar noutra coisa além de colocar no papel...O fato de Aya fechar os olhos e mante-los fechados nas situações constrangedoras provém de um costume japonês, algo que eu andei lendo essa semana... No próximo capítulo, mais Schwarz e novo ataque das Scheirents... Aguardem! Ah, to sem micro ainda...