22 de Março de 2000.

Tonks não roncava, era óbvio; mas ainda assim, Snape não dormiu aquela noite. Seus olhos mal se fechavam, ele mal entrava num estado de semi-consciência, e despertava. Porque não queria perder um segundo sequer daquela experiência: Tonks, finalmente, em seus braços. Dormindo como um anjo, os lábios rosados entreabertos, a respiração acariciando seu pescoço. Uma mão deliciosamente aconchegada em seu peito e outra pressionando-lhe levemente as costas completavam o quadro da insônia mais maravilhosa que Severus Snape já tivera.

Oh, doce Slytheryn... quando foi que se tornara aquele tolo sentimental? Normalmente, nas raras vezes em que uma mulher rompera o velho coração de pedra e o fizera se apaixonar, Snape o negava com todas as suas forças. Chegara até ao ponto de insultar Lilly Evans... e o pensamento, ainda hoje, não era nada agradável. Ele definitivamente não sabia lidar com toda aquela intensa carga de sensações que acompanhava o "estar apaixonado". Com o tempo, foi amadurecendo; e, se não se tornou um romântico cavalheiro, ao menos havia ficado um pouco menos amedrontado, espantado com a sensação. Mas isso, oh, isso que sentia agora era, definitivamente, algo inédito em sua vida. Essa vontade constrangedora de... sair cantando pelos corredores. De beijá-la repetidas vezes até que perdesse o fôlego. De se sentir no paraíso apenas segurando as mãos dela. Em suma, de agir pateticamente, exatamente como ele havia se orgulhado a vida toda de não ser.

Snape se lembrava bem: a princípio, negara, sim, o que estava sentindo por Tonks. Fingiu ser vingança, despeito, desdém. Mas então, em algum momento... e ele tinha certeza de que fora durante a guerra, nos meses em que Tonks o escondera na Sala Precisa, cuidara dele emocionalmente como ninguém o havia feito... em algum momento as coisas haviam mudado de forma definitiva. Talvez quando decidira, amargamente, que jamais seria tão bom para ela quando Lupin era. Então, baixou a guarda: já que não a teria, não fazia mal deixa os sentimentos fluírem, ainda que secretamente.

E agora, ali estava ele, acordado por horas a fio apenas para sentir a respiração em seu pescoço. Beijando-lhe a testa pálida suavemente por várias vezes durante a noite, e abrindo os olhos a cada cinco minutos para conferir se Tonks realmente estava lá.

Tolo. Patético. Frouxo. Mas quem se importava? Ele, definitivamente, não.

A manhã chegou rápido demais, para grande infelicidade de Severus. Tonks resmungou algo ininteligível quando o quarto clareou; e se aconchegou mais junto a ele, escondendo o rosto em seu peito para se proteger da luz que atravessava as cortinas. Agora, Snape podia sentir cada curva e reentrância do corpo dela. O cheiro dela o embebedava, as mãos delicadas o despiam de todo e qualquer obstáculo que ele havia se imposto nos últimos cinco anos.

Logo Snape estava remoendo pensamentos outra vez; e aquela perna se insinuando por entre as dele não traria nada de bom. Era hora de ficar de pé. Depois de lavar o rosto, calçar as botas e vestir a longa capa negra, Severus quedou-se por longos minutos à beira da cama, continuando sua vigília. A tentação de acordá-la e revidar era grande: Tonks havia falado por horas e horas, como sempre, antes de apagar nos braços dele. E Snape se fingiu com sono e reclamou, apenas para implicar. Ele sorriu ao se recordar da cena; era tão maravilhoso ter aquilo de volta... Não era possível ainda dizer como seria o relacionamento dos dois; mas era doloroso sequer pensar em perdê-la outra vez. De repente, ele se descobria querendo ser um tolo sentimental. Não que fosse acordar um homem novo de um dia para o outro; ele já estava endurecido demais pela vida para mudar certos comportamentos. Tonks, porém, o fazia se sentir quase jovem novamente.

Ela era tão bonita dormindo que Snape poderia ficar horas apenas observando e sentindo-se ser preenchido por... amor. Porém, havia deveres a cumprir por parte dos dois; e logo, ajoelhando-se ao lado da cama, a despertou com um beijo. Sua Tonks era tão adorável com os olhos ainda um pouco inchados, os longos cabelos (que haviam se tornado loiros em algum ponto da noite) espalhados pelo travesseiro, se espreguiçando preguiçosamente entre os lençóis cor-de-rosa. Tantas primeiras vezes aquela noite: dormir em lençóis cor-de-rosa. Se sentir otimista e esperançoso. Dormir castamente ao lado da mais bela e desejada das mulheres.

"Mmm... que horas são?"

"Hora de estar de pé", ele respondeu num tom levemente arrogante.

Tonks sorriu no meio de um bocejo.

"É óbvio que não poderia ser diferente, ser acordada por você, não é mesmo? "'Está atrasada'", os olhos dela cintilavam quando o imitou.

Os lábios dele se crisparam levemente num falso desdém. Tonks então deu uma risadinha; e puxou-o para um beijo sonolento; o qual, lá no fundo, Snape desejava que o fizesse se atrasar para a primeira aula.

oOo

Graças a Slytherin ele era ainda muito bom em ocultar o que lhe ia por dentro. Pois seria constrangedor toda Hogwarts notar que ele não queria (e não conseguia) tirar os olhos dela. E que um sorriso bobo se insinuava por seus lábios, e logo era reprimido, todas as vezes em que apenas pensava nela.

E que havia sido impossível interromper um beijo roubado em plena sala de aula, pouco antes do início do período da tarde. Tonks era realmente louca.

E, oh, deuses. Como ele a... adorava.

oOo

Snape era sinuoso, sussurrante, insinuante. Como uma serpente. Começava beijando-a da forma mais sutil, quase inocente, percorrendo-lhe todo o rosto com doces beijos, mal roçando os lábios na pele de seda e então... sem aviso passava a devorá-la. As mãos, deliciosamente longas e finas, tentaram se insinuar por baixo da camiseta pela terceira vez naquela tarde, arrancando-lhe arrepios; e em algum momento ele havia se deitado sobre ela. Snape a estava fazendo se sentir ainda mais viva outra vez, despertando novamente seu corpo... mas ainda era muito cedo; e um avisozinho no fundo da mente piscou em vermelho. Ainda não. Ainda era muito cedo. Pela terceira vez, ela segurou os pulsos dele e o afastou.

Snape apenas a beijou, suspirando de frustração. Então, deitou-se comportado ao lado dela sobre a colcha com estampa de oncinha.

"Ah, droga, me desculpa, Sev... tô me sentindo uma adolescente outra vez", Tonks resmungou.

"Ora. Achei que jamais houvesse deixado de ser uma algum dia", ele replicou, erguendo a sobrancelha e tentando, sem sucesso, não sorrir.

Tonks socou-lhe o peito em resposta; e se aninhou nos braços dele. Erguendo os olhos, estudou-lhe o rosto. Como nunca havia prestado atenção naqueles cílios tão compridos que lhe adornavam os olhos? Era tão bonitos... e deixavam os olhos negros e passionais ainda mais atraentes. O nariz, claro, era impossível de se ignorar. Ela, porém, ao contrário de quase todo mundo, jamais o havia achado ridículo; para Tonks, desde o princípio, aquele nariz comprido e ganchudo sempre havia sido secretamente... másculo. Havia depois os lábio finos, que eram tão amargos e azedos quando despejavam todas aquelas ironias, mas tão doces e deliciosos quando a beijavam...

Ela suspirou e lançou-lhe um olhar da mais pura adoração, ao qual ele retribuiu plenamente. Então, de repente, o semblante dela escureceu; e Tonks desviou os olhos. Snape se sobressaltou.

"O que aconteceu?", perguntou, tomando-lhe as mãos.

"Ah. Nada", ela desconversou. Mas ele tinha um bom palpite sobre aquela mudança de comportamento.

"Tonks, eu... não sou a melhor pessoa do mundo para se conversar, mas..."

Ela mordeu o lábio pensando profundamente, naquele gesto que ele conhecia tão bem. Por fim, disse:

"Ah, você sabe... 'ele'. Quer dizer, me desculpa , me sinto até ingrata de estar aqui com você e falar do... do Remus, mas..."

"Não está sendo ingrata, garanto-lhe", ele mentiu; pois um estranho e despropositado ciúme começa lentamente a queimar como azia. A dúvida pela primeira vez surgiu em sua mente: estaria Tonks com ele apenas porque... não tinha mais Remus? Mas não iria pensar naquilo agora, não devia... se sentia tão egoísta e insensível... Snape voltou a se concentrar na mulher em seus braços. "É normal, Tonks, se sentir assim..."

"É, eu sei. Ah, tudo bem, a vida continua, blá blá blá... e", as covinhas despontaram-lhe dos lados do rosto; e ela estendeu um dedo e percorreu-lhe os lábios finos. "Sabe? Até que não está sendo assim tão ruim, essa continuação..."

Suspirando, ela aconchegou-se a ele. Mas o clima agora era definitivamente outro. Um braço possessivamente passado ao redor dos ombros dela, Snape fitou o teto por muito, muito tempo, tentando ignorar a sensação não muito boa que ameaçava tomar conta dele.

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bem. estive relendo o capítulo 21 e definitivamente falta alguma coisa nele. quem sabe um pouco mais de ação; ou encurtar a cena e acrescentar algo mais inovador/menos repetitivo/mais ação. não sei. pretendo reescrevê-lo assim que tiver uma boa idéia. se alguém tiver uma sugestão, também, é só dizer. espero que esse capítulo tenha ficado um pouco melhor, tive que reescrever duas vezes; eu definitivamente não estou com cabeça pra fic: trabalhando, estudando e sendo perseguida por um louco-obsessivo de internet (não, ele não sabe das fics, aiiiinda bem. aqui ainda é território seguro e posso me expressar livremente; acho que até por isso atualizei antes do previsto D). mas não sei, tenho medo de estar "perdendo a mão" com essa fic, mesmo que já tenha planejado este e mais uns 5 ou 6 capítulos desde o começo /

talvez eu dê um tempo até recuperar o que eu tinha no começo / não queria, adoro escrever essa fic, me distrai dos problemas, mas... prefiro escrever capítulos bem-ecritos a postar tudo de qualquer jeito.

/fim do desabafo

por último, se você ainda não leu, vá AGORA ler o epílogo (e a fic toda de novo) da vinola. é lindo, doce e tudo de bom: sussurros.

(ok, os comentários praticamente ficaram maiores que o capítulo, hehehe, mas quem se importa? P)