Capítulo I

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Summer has come and passed

The innocent can never last

Wake me up when September ends

O verão veio e se foi

O inocente nunca sobrevive

Me acorde quando setembro acabar

Like my father's come to pass

Seven years has gone so fast

Wake me up when September ends

Como o meu pai que veio para ir embora

Sete anos passaram tão rápido

Me acorde quando setembro acabar

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Vinte anos depois...

Sete anos. Mas para ele era como se fossem sete dias, tamanho sentimento de culpa que ainda o perseguia. Sete anos convivendo com a dor e com a certeza de ter de manter a tampa de seu coração bem fechada, sob a pena de algo perturbador e maligno se revelar. Sete anos que poderiam muito bem terem sido evitados quando morreu naquela guerra insana contra o imperador dos mortos, mas sua deusa era a bondade e a clemência em pessoa e não permitiria que seus cavaleiros fossem castigados até na morte pelos deuses. Uma deusa que ele próprio tentara matar, ato do qual se arrependia profundamente e se penitenciava todos os dias por isso.

Os tempos eram de paz, o que permitia à Atena e seus cavaleiros levarem uma vida, na medida do possível, normal. Alguns se casaram, tiveram até filhos, outros preferiram continuar como antes. E ele? Ah, ele renunciara a tudo como uma forma de castigar-se por seus pecados, um monstro que não merecia perdão ou misericórdia. Muito menos amor.

Mestre Saga? O senhor está bem?

Estava tão perdido em seus pensamentos que demorou a notar o pequeno homem que lhe estendia uma maça, enquanto indagava sobre sua saúde. Saga agradeceu o presente, esboçou um sorriso e se afastou, voltando a caminhar pelas ruazinhas da aldeia.

Aquele era um dos raros prazeres a que se permitia, caminhar pelas ruas tranqüilas da Vila de Rodorio, nos arredores do Santuário de Atena. As pessoas ali o viam como um homem de extrema bondade, não faziam idéia de seu passado vergonhoso. Por ordens de Atena, nenhuma história a respeito da guerra entre os cavaleiros de bronze e ouro foi contada além dos limites do Santuário. Por isso as visitas à aldeia eram sempre tão tranqüilas e convidativas.

Ei! Voltem aqui! Voltem aqui, estas frutas são para meu avô doente! Voltem!

Levantando o olhar para a direção de onde vinham os gritos, Saga viu um grupo de garotos correndo por uma ruazinha estreita e com calçamento de pedra, rindo muito e carregando duas pequenas cestas de frutas. Atrás deles, uma jovem que os perseguia, muito cansada e pedindo que devolvessem suas coisas.

Quando os meninos passaram pelo cavaleiro, os dois que carregavam as cestas foram içados pela gola de suas camisas, esbravejando.

Mas que coisa feia! Roubando frutas de uma pobre jovem que não tem como se defender!

Mestre Saga!

Os meninos baixaram os olhos e Saga os largou no chão. Morrendo de vergonha, eles deixaram as cestas aos pés do cavaleiro e sumiram pelas ruas da aldeia. Bem na hora que a jovem, completamente sem ar, alcançou Saga.

Obrigada, senhor... Que Atena o abençoe por isso.

A jovem parou diante de Saga, que se abaixou para pegar as cestas e ajudá-la. Ao levantar a cabeça, seu olhar encontrou o dela e uma onda de choque percorreu sua espinha: nunca vira olhos tão lindos, apesar de serem castanhos, comuns. Possuíam um brilho diferente, assim como também eram os traços da jovem e seus cabelos, longos e da cor de seus olhos. Uma beleza comum e, ao mesmo tempo, tão rara e estarrecedora.

Obrigada, mais uma vez, senhor... Eu preciso ir agora... ela disse timidamente, sentindo suas bochechas ficarem quentes e a face corar diante daquele belo par de olhos azuis e profundos.

A jovem virou à direita e sumiu por uma ruela, deixando Saga sozinho, parado feito um poste no meio da calçada. Foram longos minutos até ele acordar e se dar conta de que o sol já se punha no horizonte. Precisava voltar à sua casa. Ao Santuário. Ao castigo que se impunha todos os dias...

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How long, before I get in?

Before it starts, before I begin?

How long before you decide?

Before I know what it feels like?

Quanto tempo antes de eu entrar?

Antes que inicie, antes que eu comece?

Quanto tempo antes de você decidir?

Antes que eu saiba qual é a sensação?

Where to, where do I go?

If you never try, then you'll never know

How long do I have to climb?

Up on the side of this mountain of mine?

Para onde, para onde eu vou?

Se você nunca tentar, então nunca saberá

Por quanto tempo eu tenho que escalar?

Ao topo dessa minha montanha?

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Vovô! Já voltei e trouxe as frutas que o senhor tanto gosta! gritava a jovem, entrando pela casa simples, de dois cômodos, onde vivia com o avô. Como resposta, ouviu uma tosse seca, seguida de um suspiro longo e rouco.

Pegando algumas das frutas, ela as lavou e descascou e foi até o quarto, onde o avô a esperava recostado em um travesseiro.

Aqui está, vovô...

Obrigado, Petra... Mas onde arrumou dinheiro para comprar tantas frutas?

Isso não importa, vovô. Vamos, coma que o senhor precisa para melhorar dessa gripe insistente.

Petra...

Sem tocar na comida, o homem encarou a neta com um olhar sério. O olhar inquisidor que ela conhecia muito bem.

Está bem, eu digo... Conversei com o dono da banca e comprei estas frutas pedindo fiado.

Petra, quantas vezes eu já falei para não...

A sua saúde é mais importante, senhor Homero Niarkos! E não se preocupe, eu vou pagar tudo!

Homero suspirou resignado e começou a comer. Não adiantava discutir com a neta, ela tinha personalidade forte e não admitia ser contrariada. Observando o avô com carinho e preocupação, a jovem só foi tirada de seu estado de atenção por batidas vigorosas na porta da frente.

Já vou!

Ao abrir, deu de cara com um dos soldados do Santuário de Atena.

Senhorita Petra Niarkos?

Pois não?

Trago uma mensagem do Santuário de Atena para a senhorita...

Petra recebeu o envelope branco, lacrado com o selo da deusa. Agradecendo, ela fechou a porta, o coração disparado. Será que era a resposta que tanto aguardava?

Quem era, minha querida?

Um soldado do Santuário, vovô. Veio me entregar esta carta.

Então abra logo... Deve ser o que tanto espera, Petra.

Trêmula, a jovem abriu a carta e leu seu conteúdo. Ao final da leitura, um sorriso iluminava seu rosto e ela deu pulinhos de alegria pelo quarto.

E então?

Eu fui aceita, vovô! O Santuário aceitou-me como serviçal!

Que bom, minha neta...

Bom para o senhor, vovô... Com o que vou ganhar, eu poderei pagar um médico e remédios para o senhor.

Não precisa se preocupar com isso.

Pare de dizer bobagens, vovô... Agora descanse, o sono vai lhe fazer bem.

Beijando a testa do avô, Petra saiu do quarto. Com a carta na mão, a jovem saiu de casa e foi procurar por uma vizinha, velha amiga da família. Agora que tinha conseguido um trabalho, precisaria de alguém para cuidar do avô.

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Onde estava, cara? perguntou Kanon, assim que viu o irmão entrar na casa de Gêmeos, com olhar perdido e a cabeça nas nuvens.

Por aí...

Por aí, é...

Kanon soltou um sorriso de deboche, irritando Saga. O cavaleiro ia soltar sua coleção de impropérios contra o irmão quando Kiki, o pupilo de Mu de Áries, entrou pela casa, todo esbaforido.

Saga! Saga!

O que quer, moleque?

Trago uma mensagem de Atena para todos os cavaleiros de ouro... disse o rapazinho, entregando uma carta para o cavaleiro e já se teletransportando para a próxima casa, a de Câncer. Saga abriu a carta com certa impaciência e não gostou nada quando viu do que se tratava.

O que tem aí? perguntou Kanon, ao vê-lo amassar a carta e jogá-la fora com indiferença.

Um comunicado de Atena... Amanhã o Santuário irá receber novos serviçais e alguns deles serão designados para trabalharem nas doze casas.

Uau, até que enfim! Essa casa está mesmo precisando de uma empregada!

Empregada?

Claro! Ou pensa que vou querer um marmanjo servindo a nós dois por aqui?

Você tomou mesmo conta dessa casa, né?

Kanon deu de ombros e entrou pela casa, indo até a cozinha para assaltar a geladeira. Saga suspirou fundo e se recolheu para o quarto, de onde não sairia antes do sol nascer, mesmo sabendo que logo outros cavaleiros iram aparecer e convidá-lo para sair e se divertir. Mas não participaria de nada disso. Não se julgava merecedor de diversão ou sequer de estar no mesmo ambiente que os colegas.

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Ai, pronto! A partir daqui, seja o que Deus quiser e a minha imaginação permitir. Bem, algumas considerações antes de me despedir. A música que abre o capítulo é "Wake me up when September ends", do Green Day. Eu estava de bobeira ouvindo rádio quando a música tocou e eu parei para pensar na letra, ela tem muita coisa a ver com o Saga (pelo menos da maneira que eu o vejo) e veio o estalo de escrever a fic. Já a segunda música é "Speed of Sound", do Coldplay, eu a ouvi quando rascunhava o argumento da fic, acho que tem a ver com o relacionamento que pretendo mostrar do cavaleiro com a Petra. Essas canções vão voltar a aparecer, assim como outras duas, mas isso fica para depois...