Capítulo II

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In the dark of night

Those small hours

Uncertain and anxious

I need to call you

Na escuridão da noite

Aquelas pequenas horas

Incerto e ansioso

Eu preciso ligar para você

Rooms full of strangers

Some call me friend

But I wish you were so close to me

Quartos cheios de estranhos

Alguns me chamam de amigo

Mas eu gostaria que você estivesse bem perto de mim

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Pela manhã, logo na primeira hora de sol, Petra estava na arena do Santuário, junto de tantas outras pessoas. Esperavam pelos soldados ou algum representante que lhes indicaria o serviço a ser feito, onde cada um iria trabalhar.

-Bom dia a todos... É um imenso prazer conhecê-los...

Petra deixou cair o queixo ao ver quem falava com todos os serviçais: era a própria deusa Atena, acompanhada de dois de seus cavaleiros de bronze, Seya de Pégasus e Shun de Andrômeda, e do mestre do Santuário, Shion. A jovem sorriu ao constatar que as coisas que seu avô falava sobre a deusa eram verdadeiras, qualquer um podia sentir o cosmo repleto de bondade e amor de Atena.

Logo, soldados, auxiliados por Seya e Shun, juntaram pequenos grupos que se dispersaram por vários cantos do Santuário, até restarem Petra e mais onze pessoas na arena, entre homens e mulheres.

-Vocês nos acompanhem, por favor... Irão trabalhar nas doze casas, diretamente ligados aos cavaleiros de ouro...

Nem acreditando no que tinha acabado de ouvir, a jovem acompanhou Atena e Shion pelas escadas que levavam às doze casas. Na primeira, simpatizou logo com seu morador e um rapaz de cabelos azuis foi destacado para trabalhar ali. Na próxima, a de Touro, outro rapaz foi recebido com um aperto de mão tão forte por parte do cavaleiro que chegou a se inclinar de dor. Petra ainda dava risadas discretas com isso quando chegaram à terceira casa.

-Saga! Está em casa?

Observando o entorno, Petra não ouviu Shion chamar pelo cavaleiro, muito menos quando ele apareceu na entrada da casa, prestando reverências ao mestre e à Atena. Só percebeu a sua presença quando a deusa a chamou.

-Senhorita Petra Niarkos...

-Sim, Atena...

-Este é Saga, cavaleiro de Gêmeos. A senhorita ficará aqui, nesta casa...

Ao levantar o olhar para cumprimentar o cavaleiro, Petra sentiu seu sangue ferver e seu rosto corar. Era o homem que a tinha ajudado na vila, na tarde anterior.

-Muito prazer, senhor... Espero corresponder as suas expectativas em relação ao meu trabalho...

Os demais continuaram a subir pelas doze casas, deixando Petra e Saga sozinhos no salão principal da casa de Gêmeos. Sem saber o que dizer, o cavaleiro ficou olhando a jovem, parecia tão mais bela que no dia anterior.

-Então esta é a nossa serviçal, Saga?

Virando-se para trás, a jovem viu um homem idêntico à Saga sair de um quarto, medindo-a de cima a baixo. Estava na cara que era seu irmão gêmeo, mas ele tinha algo diferente. O brilho no olhar não era o mesmo, os de Saga pareciam tristes e obscuros.

-Eu sou Kanon, irmão deste bobo que mal consegue abrir a boca para falar. - ele disse, cumprimentando a jovem com um beijo em sua mão direita. O gesto não passou despercebido por Saga, que fuzilou Kanon com o olhar.

-Meu nome é Petra, senhor Kanon...

-Você pode deixar suas coisas naquele quarto... - Saga finalmente falou, apontando para a pequena maleta que a jovem trazia.

-Sim, senhor... - Petra respondeu, já alcançando o quarto que Saga lhe mostrara. Um pequeno cômodo, com uma cama de solteiro, um criado-mudo e um guarda-roupa. A jovem deixou sua maleta sobre a cama e trocou de roupa para começar seu trabalho. E, estranhamente, sentia seu coração disparado.

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- Isso não é justo! - resmungava Shura, enquanto treinava sua Excalibur nos fundos da casa de Capricórnio - Será que se eu pedir, Atena me deixa fazer uma troca?

-Que troca, Shura?

Era Afrodite, o cavaleiro de Peixes, que vinha pela escadaria. Trazia, como sempre, uma de suas rosas na mão, admirando sua perfeição e beleza.

-Uma troca de serviçais! Acredita que Shion designou um marmanjo para trabalhar aqui? Poderia ter feito isso com o Aioria, por exemplo!

-Aonde quer chegar com isso, espanhol?

-Não é óbvio? Para que uma serviçal na casa de Leão se Aioria é casado com a Marin e não precisa de uma companhia feminina?

-Eu não acredito no que estou ouvindo! Seu pervertido, tarado e sem-vergonha! Tá pior que o Miro!

-Hum, você diz isso porque aquele inseto de rabo torto também tem uma serviçal, e loira dos olhos azuis!

-Eu sei, é a irmã gêmea da que ficou na minha casa...

-Não falei que isso é injusto! Até você tá em situação melhor que a minha!

- O que está querendo insinuar com esse você sublinhado? - indagou Afrodite, já substituindo a rosa vermelha que segurava por uma branca. Shura deu de ombros e tentou achar uma saída. Acabou salvo pelo serviçal de sua casa.

-Senhor Shura?

-O que foi, Adrian?

-O café está servido.

-Ah, já estou indo.

Enquanto Adrian se retirava para dentro da casa, Shura não conteve uma gargalhada ao ver a cara de Afrodite; o cavaleiro estava de queixo caído e a rosa no chão, tamanha era a sua admiração pela beleza morena do rapaz, de olhos e cabelos negros.

-Depois reclama daquele você sublinhado...

-Como é que é? - Afrodite recuperou a pose - Querido, eu não tenho culpa de ter a mente aberta e saber admirar todo tipo de beleza... Inclusive a masculina. O rapaz é espanhol também?

-Pelo menos isso, um conterrâneo. Já tomou café?

-Já, mas tenho certeza de que o café de Elis nem se compara ao desse rapaz... - disse o cavaleiro de Peixes, já entrando pela casa de Capricórnio, sem a menor cerimônia.

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No one knows what it's like
To be the bad man
To be the sad man
Behind blue eyes

Ninguém sabe como é

Ser o homem mau
Ser o homem triste

Por trás de olhos azuis


And no one knows what it's like
To be hated
To be fated
To telling only lies

E ninguém sabe como é

Ser odiado

Ser enfraquecido

Contando apenas mentiras

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Na casa de Gêmeos, Petra limpava a cozinha, compenetrada em seu trabalho, esfregando o chão. De vez em quando, lançava olhares pelas janelas, na direção onde ficava a vila. É claro que estava preocupada com o avô, se tivesse como entrar em contato e saber como ele estava, se tomou café ou dormiu bem! Mas sentia-se feliz com o trabalho e sabia que logo poderia pagar um bom médico para o avô, assim como remédios e quem sabe até uma enfermeira para cuidar dele em tempo integral.

-Quer ajuda?

Era Kanon, entrando pela cozinha. Petra sorriu e levantou a cabeça, fitando-o com os belos olhos castanhos.

-Não precisa, senhor... Eu já estou terminando.

-Por favor, não me chame de senhor... Pareço tão velho assim?

-Na-não...

Sem graça, a jovem voltou sua atenção para o trabalho. Quando foi torcer o pano de chão no balde próximo à mesa, ela arregaçou a manga da blusa e Kanon viu sua marca de nascença.

-É uma rosa?

-O quê? Ah, está falando desta marca de nascença... É sim, diferente né?

-Muito... Parece até uma tatuagem!

-Kanon! - chamou Saga, também entrando pela cozinha Pare de importunar a senhorita Petra! Não vê que ela está trabalhando?

-Ow, desculpa aí... Eu vou nessa, Petra... Até mais tarde.

-Até...

Kanon saiu, dando um tapinha amigável nas costas do irmão. Saga lançou-lhe um olhar de desprezo e voltou-se para a jovem, que parecia estar esperando alguma ordem ou palavra.

-Er... Desculpe meu irmão... Ele é meio sem noção às vezes...

-Eu não me importo, senhor Saga...

Petra sorriu, e Saga não viu mais nada além daquele sorriso tão doce e perfeito. Meio sem jeito, o cavaleiro pediu licença e saiu para os fundos. Encostou-se em uma coluna, sentindo as pernas trêmulas. Parado, de cabeça baixa, ele de repente sentiu uma força estranha no ar. "Esta força... Ela me parece familiar...". Levantando os olhos para o céu, um brilho vermelho e repentino tomou conta de seu olhar. Algo que durou pouco mais de um segundo, mas suficiente para trazer de volta velhas lembranças.

"Ela está aqui, eu sei... Bem perto de mim...", dizia para si mesma a tal força, passeando por entre as nuvens.

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O dia passou sem maiores preocupações e a tarde chegou. Reunidos na arena, os cavaleiros de ouro tinham terminado a primeira bateria de treinos e descansavam pelas arquibancadas, trocando impressões sobre diversos assuntos.

-Eu preciso agradecer à Atena! Já viram a garota que agora trabalha lá na minha casa? - alardeava Miro, dando risadas.

-A irmã gêmea foi parar lá na minha casa. Cozinha que é uma beleza.

-Na sua casa, Afrodite? - indagou Aldebaran, achando graça no que o cavaleiro dizia.

-Posso saber por que toda vez que se referem a mim vocês usam esse tom sublinhado? Isso é perseguição!

Alheio aos comentários dos companheiros, Saga estava quieto em seu canto, pensativo. Não se sentia no direito de participar dos momentos de descontração junto a eles.

-Auto-piedade não faz bem a ninguém...

Saga levantou o olhar e viu Shura parado ao seu lado. Sem cerimônias, o cavaleiro de Capricórnio sentou-se junto ao amigo, esperando alguma resposta ao seu comentário infeliz (que fizera de propósito, somente para incitar algum tipo de reação). Mas Saga nada disse, apenas desviou seus olhos para o horizonte.

-Eu... - Shura resolveu mudar de assunto - Eu soube que Atena designou uma jovem para trabalhar na sua casa.

-E?

-Bom... É bonita?

-Por que quer saber?

-Nada de importante...

Saga soltou uma exclamação de descrédito. O cavaleiro riu e deu um tapa nas costas do amigo.

-Mal a menina chegou e já quer lançar a sua rede?

-Não sei, mas pelo menos consegui te fazer rir.

-Hum... - Saga pigarreou - Afrodite me contou que Atena mandou um rapaz para a sua casa.

-Fofoqueiro! Mas é verdade, um conterrâneo. Gente fina, o Adrian... Mas é muito caladão!

-E você não gosta nem um pouco de conversar...

-Escuta, as duas madames vão continuar a tricotar ou vão voltar ao treino? - gritou Afrodite. Shura suspirou fundo e se levantou, oferecendo a mão para ajudar Saga.

-Madame? Vê se sou eu a andar por aí admirando rosas...

Voltando à arena, os dois cavaleiros reiniciaram os treinos. E foi assim até o sol se pôr.

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Puxa, mais um capítulo... Estou me surpreendendo comigo mesma, eu geralmente sou meio desorganizada com minhas fics, começo de um jeito, escrevo a cena final antes da metade, deixo personagens de lado...

Bem, eu disse na nota do capítulo anterior que apareceriam mais duas músicas na fic e aí estão elas: "By my side", do INXS e "Behind blue eyes", do The Who. A primeira é, na minha opinião sincera, uma das melhores músicas românticas que existe e tinha de ser o tema do Saga e da Petra. Já "Behind blue eyes" dispensa explicações, ela é quase um clássico quando se trata do outro eu do cavaleiro, ele terá uma participação importante nesta fic...

E aguardem as emoções reservadas aos próximos capítulos!