Capítulo V
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As my memory rests
But never forgets what I lost
Wake me up when September ends
Como as minhas lembranças descansam
Sem nunca esquecer o que perdi
Me acorde quando setembro acabar
Summer has come and passed
The innocent can never last
Wake me up when September ends
O verão veio e se foi
O inocente nunca sobrevive
Me acorde quando setembro acabar
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-Então a serviçal do Saga é realmente linda como eu suspeitava? - perguntou Shura, enquanto fazia seus exercícios nos fundos de sua casa, tendo Afrodite como platéia.
-Linda não, bela. E pensar que seu tipo é tão comum.
-Comum?
-É, ela tem olhos e cabelos castanhos como tantas outras nesse país... Mas não foi isso que me chamou a atenção.
-O que, então?
- Bem, quando eu dei uma das minhas rosas para ela...
-Peraí, você presenteou uma mulher com uma de suas rosas?
-De novo esse tom sublinhado?
-Desculpa, mas foi inevitável!
- A questão aqui é outra e não a minha orientação sexual, meu caro! O que eu estava falando?
-Do que aconteceu quando deu uma das suas rosas para a Petra.
-Ah, sim... Eu senti uma aura ao redor dela, bem fraquinha. E os olhos da Petra brilharam diferentes, como se fossem cor-de-rosa e não castanhos.
-Tem certeza?
Afrodite ia responder, todo ofendido por Shura duvidar, quando Adrian apareceu.
-Senhor, a salada de frutas já está pronta.
-Eu já vou, Adrian... Devo perguntar se quer me acompanhar, Afrodite?
-Acha que precisa, Shura?
-Meu Deus, terra abençoada seja a Espanha!- disse o cavaleiro para si mesmo, enquanto era servido por Adrian.
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Já era de noite quando Saga dignou-se a sair de seu quarto e ir comer alguma coisa. Encontrou Petra ajeitando a mesa, pronta para ir embora. Ao levantar a cabeça e dar de cara com o cavaleiro, a jovem fechou a cara em uma expressão séria.
-O jantar já está pronto, senhor Saga... Posso me retirar agora?
-Certamente.
-Boa noite, então.
Dando a volta na mesa, Petra logo alcançou a porta e saiu, sem dizer mais nada. Saga entrou pela cozinha e já ia se servindo quando o sentimento de culpa o invadiu.
-Droga!
Deixando o prato sobre a mesa, Saga correu para fora de sua casa e encontrou Petra descendo os primeiros degraus.
-Senhorita Petra, espere!
A jovem se virou e encarou o cavaleiro, muito séria. Saga se aproximou dela, esfregando as mãos de nervoso.
-Eu... Eu preciso... Preciso pedir desculpas para a senhorita.
-Desculpas?
-Sim... Eu usei um tom muito severo com a senhorita hoje, fui grosso... Me desculpe.
-Está tudo bem, senhor, eu aceito suas desculpas.
Petra então sorriu para Saga, que ficou momentaneamente encantado. Pela primeira vez também sorrindo, ainda que timidamente, o cavaleiro aproximou-se mais da jovem e segurou-a pelo queixo, acariciando seu rosto.
-Senhor...
Saga nada disse e, erguendo o rosto de Petra com as mãos, beijou-a. Um leve toque nos lábios, apenas para sentir seu sabor. Soltando-se do cavaleiro e muito vermelha, a jovem desceu correndo as escadas, sem olhar para trás. "Burro! O que foi que eu fiz? Burro!".
-Cara, a Petra é demais! Olha só, ela sabe cozinhar strogonoff! - disse Kanon, ao ver Saga entrando na casa. Instalando-se no sofá, os pés em cima da mesinha de centro, o ex-general marina ficou encarando o irmão, que tinha uma cara de bobo, o olhar perdido.
-Ow, cê ouviu o que eu disse?
-O quê?
-Deixa pra lá! Não vai jantar?
-Estou sem fome.
-Uma pena, vai perder o melhor strogonoff de frango que já comi na vida!
Nem aí para o irmão, Saga voltou para o quarto. E não sairia de lá até o dia amanhecer.
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Nas ruínas do templo, Tristão e Heiner apreciavam a vista quando Edward se apresentou, todo sorridente.
-O que foi, Edward? Pela sua cara, falou com ele!
-Não gostei desse tom sublinhado, seu alemão sem sal! Mas, respondendo a sua pergunta, sim, eu falei.
-E?
-E parece que nosso mestre estava certo... Ela está aqui, nesta região. E muito perto.
-Então podemos atacar?
-Ainda não, Heiner! - uma voz grave e gutural falou ao rapaz, que sentiu seu corpo estremecer. - O cosmo dela precisa se manifestar ainda, somente assim poderei tê-la de volta para mim.
-Mas como faremos isso, senhor?
-Não faremos nada, Tristão... O Santuário está cheio de belos e jovens cavaleiros, logo um deles despertará o interesse de nossa pequena presa...
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All that noise and
All that sound
All those places I got found
And birds go flying at the speed of sound
To show you how it all began
Birds came flying from the underground
If you could see it, then you'll understand
E todo aquele barulho
E todo aquele som
Todos aqueles lugares que encontrei
E os pássaros vão voando na velocidade do som
Para mostrar-lhe como isso tudo começou
Os pássaros vieram voando do subsolo
Se você pudesse ver, então você entenderia
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-É você, minha neta? - perguntou Homero, ao ouvir o barulho de chaves na porta da frente. Pouco depois, Petra entrou pelo quarto para cumprimentar o avô, que não deixou de notar que a jovem parecia estar em outro lugar que não ali. Tinha um olhar perdido, não ouvia nada do que ele dizia. Um comportamento que ele conhecia muito bem, sabia do que se tratava.
-Petra?
-Ah, o que foi, vovô?
-Por que está com essa cara?
-Que cara?
-Essa cara de peixe morto, toda anuviada... Não é o que estou pensando, é?
-Não sei do que está falando, vovô... - a jovem desconversou, um pouco nervosa, o que levou o velho homem a confirmar sua suspeita.
-Petra, quantas vezes eu já lhe falei para tomar...
-Eu não estou apaixonada, senhor Homero Niarkos! - Petra gritou, muito nervosa - Não sei de onde tirou essa idéia absurda!
-Eu conheço muito bem a vida e as peças que ela nos prega, minha querida... Eu mesmo já vivi esse sentimento e não foi bom e vi sua mãe sofrer por ele! Não quero que você siga pelo mesmo caminho!
-Eu sei, vovô... O senhor pode ficar tranqüilo, eu não estou gostando de ninguém... Eu prometi que nunca iria me apaixonar por alguém, não prometi?
-Está bem... Me desculpe, é que eu tenho medo de que ele apareça... Homero calou-se de repente, percebendo que falara demais. Petra o encarou com as mãos na cintura, sinal de que seu interrogatório começaria naquele instante.
-Ele quem, vovô?
-Ele? Ele quem?
-Esta pergunta é minha, senhor Homero Niarkos.
-Eu... Eu estava falando... Falando... - uma idéia iluminou sua mente - Daquele homem que lhe deu a rosa, anos atrás... Você vivia falando nele, dizendo que o achava bonito e tal...
-Ai, vovô! Essa história tem mais de 10 anos, eu hein!
Rindo muito, Petra beijou a testa do avô e saiu do quarto, foi preparar o jantar de ambos.
-Quase que eu soltei tudo, minha filha... - ele comentou, olhando para o retrato da mãe de Petra - Mas, seu eu estiver certo quanto aos sentimentos da nossa menina, eu terei de contar tudo a ela, antes que seja tarde...
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Saga passeava por uma área isolada ao redor do Santuário, sozinho. Era um dos raros momentos de lucidez e paz que tinha, quando sentia que seu coração ainda era vivo e batia como de outra pessoa qualquer. Momentos que podia caminhar em silêncio, pensar em tudo que acontecia e, principalmente, poder se livrar da máscara que usava o tempo todo.
-Isto não é certo e você sabe! Por que não acaba com tudo de uma vez, revela toda a verdade sobre Atena e a morte de Aioros? - dizia para si mesmo, observando a paisagem, as árvores que balançavam com o vento.
De súbito, ele chegou a uma clareira que não conhecia e ficou bobo ao ver que nela cresciam inúmeras rosas, de cores e tamanhos variados. Tão ou mais belas que as rosas de Afrodite. Pegando uma delas, vermelha, ele notou que era muito vistosa e exalava um delicado perfume.
Estava com ela nas mãos quando ouviu um som de folhas secas sendo pisadas. Tentou se afastar dali o mais rápido possível, mas foi surpreendido pela presença de uma menina, de longas tranças e pernas finas, segurando uma boneca. Seus olhinhos castanhos o encaravam com curiosidade, não devia ter mais do que oito ou nove anos.
-O que faz aqui, menina? Não sabe que esta é uma área isolada e proibida para os moradores das vilas vizinhas?
-Eu sei, mas eu gosto de brincar aqui... Mas não conta para a minha mãe, senão ela briga comigo, tio!
-Eu não conto, fique sossegada.
A menina continuou a encará-lo e Saga sentiu-se fascinado por aqueles olhos. Era como se enxergasse algo além dentro deles. "Ei, você não é nenhum pedófilo!", disse para si mesmo, assustado com seu próprio fascínio.
-Você... - ele retomou a palavra, desviando seu olhar da menina - Está ficando tarde, melhor voltar para casa.
-Isso é uma rosa? - ela perguntou, apontando a flor que ele segurava. Saga fez que sim com um aceno.
-Posso ficar com ela? É tão bonita!
-Po-pode...
Saga estendeu a rosa para a pequena que, em agradecimento, o abraçou. E, quando foi despedir-se dele, o cavaleiro não deixou de notar que os olhinhos, antes castanhos, agora brilhavam em cor-de-rosa.
-Eu voltarei um dia, para você... - ela disse, com uma voz em tom mais grave e sensual para sua idade. Perplexo, Saga a encarou novamente e o brilho sumiu, a menina sorriu para ele e sua voz infantil voltara.
-Tchau, tio! Obrigada pelo presente!
Observando a menina se afastar, Saga sentiu uma terrível dor de cabeça e levou as mãos às têmporas. Quando a dor passou, estava diferente. Seus cabelos azuis tinham se tornado brancos e os olhos, vermelhos e odiosos. Já não era mais Saga, o cavaleiro de Gêmeos.
-Sei que voltará, minha deusa... Eu estarei esperando por você... - ele disse, afastando-se da clareira, voltando ao Santuário.
Suando, Saga despertou e viu que estava em seu quarto, ainda vestido com as roupas do dia a dia e o livro que lia jogado no chão. Tinha sonhado com aquilo de novo! Sentando-se na cama, tentava botar as idéias em ordem. Por que acontecimentos de seu passado que ele julgava esquecidos voltavam com tanta força?
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Muito bem, quinto capítulo e uma pequena nota contendo algumas informações inúteis, mas relevantes. Bem, acho que neste capítulo deu para perceber que a o homem que deu a rosa para a Petra quando criança era o Saga, né (Sério? Margarida, se você não fala, eu não ia saber!)? Isso nos leva a um ponto da saga de CDZ que, para muitos, é meio confuso e que eu quase me perdi na hora de escrever esta fic: as idades dos cavaleiros. Pelo andamento da história, dá para perceber que o Saga tinha quinze anos quando a Petra nasceu. Assim ele tinha 23 quando deu a rosa para ela (e ela 8 anos) e morreu com 28 na batalha bronze x ouro. Mas foi revivido por Atena (na minha imaginação fértil e sem sentido) após as lutas contra Hades, o que ocorreu 7 anos antes do início propriamente dito desta fic. Sendo assim, Petra tem 20 anos e Saga, 35.
Era isso o que eu queria esclarecer. Só espero que o nó que fiz na minha cabeça não tenha ido parar na de vocês que acompanham esta fic...
