Capítulo VI

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Here comes the clown

His face is a wall

No window

No air at all

Lá vem o palhaço

O rosto dele é uma parede

Sem janela

Sem ar algum

In the dark of night

Those faces they haunt me

But I wish you were

So close to me

Na escuridão da noite

Aqueles rostos me assombram

Mas eu gostaria que você estivesse

Bem perto de mim

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Pela manhã, antes de Petra sair para o trabalho, Homero a chamou.

-O que foi, vovô? Fale depressa que não posso me atrasar para o trabalho, o senhor Saga acorda cedo.

-Não é nada de mais, minha querida... Eu só ia pedir para que não se atrase hoje à noite.

-Por quê?

-Porque nós precisamos conversar, apenas isso.

Dando um beijo na testa do avô, Petra saiu de casa. Estava quase fora da vila quando percebeu que estava esquecendo o lenço que usava sobre os cabelos, prendendo-os.

-Oi, Petra! - cumprimentou Adrian, que vinha pela rua carregando uma cesta de compras.

-Ah, oi Adrian! Fazendo compras tão cedo?

-Claro, é a melhor hora do dia para isso... Você mora por aqui?

-Moro, no fim da rua... Aliás, eu estava voltando para casa, esqueci meu lenço.

-Eu te acompanho, depois vamos para o Santuário juntos.

Aceitando a companhia do rapaz, a jovem voltou para casa e o convidou para entrar.

-Olá, vovô!

-Petra? Por que voltou?

-Eu esqueci meu lenço... Ah, deixe-me apresentar uma pessoa para o senhor... - Petra chamou Adrian para o quarto - este é Adrian, ele também trabalha no Santuário. Este é meu avô, Homero Niarkos.

Adrian inclinou-se para cumprimentar o avô de Petra, que o encarou. Então, assustado, viu que duas pequenas labaredas brilharam dentro dos olhos negros do espanhol.

-Fiquem à vontade que vou procurar meu lenço. - disse a jovem, saindo do quarto. Na mesma hora, Homero soltou de uma vez a mão de Adrian.

-Você é... É um deles não?

-Do que está falando, velho? - o rapaz perguntou, cinicamente.

-Sabe muito bem! Estão atrás dela, seus desgraçados!

Homero tentou se levantar e bater em Adrian, mas o rapaz esquivou-se e ainda segurou o velho homem pelos braços.

-Então já sabe de tudo, não é?

-Eu não vou permitir que encostem um único dedo em minha neta!

-E como vai impedir, seu velho esclerosado? Da mesma maneira patética que tentou me acertar agora?

E, dizendo isso, Adrian soltou um dos braços de Homero e acertou-o com um golpe na cabeça, fazendo com que o senhor desmaiasse. Ele estava ajeitando o velho homem na cama quando Petra voltou.

-Encontrei... Ué, meu avô voltou a dormir?

-Sim... Acho que está muito cansado e doente.

Preocupada, Petra colocou sua mão na testa do avô para ver se estava com febre. Estranhou ele não estar com a expressão serena que sempre tinha quando dormia.

-Acho melhor eu ficar aqui, com ele. Pelo menos até a senhora que cuida dele chegar.

-Não precisa, ela acaba de entrar, Petra. - apontou o rapaz para a porta da frente, por onde uma senhora de idade entrava.

Pouco depois, os dois jovens saíam da vila, conversando entre si. E, Petra notou, Adrian parecia muito estranho, pensativo demais. "Eu preciso avisá-los do que aconteceu...", pensava ele.

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No Santuário, Saga tinha acordado antes do sol nascer. Ou melhor, não dormia desde que despertara por conta do sonho. Por causa disso, o cavaleiro estava na entrada de sua casa, sentado nos degraus e pensando no que aquilo podia significar. De cabeça baixa, ele ouviu risos vindo de baixo e viu Petra e Adrian subindo a escadaria, conversando animadamente e rindo muito. Na mesma hora, sua expressão tornou-se séria e sua voz soou seca ao cumprimentar a ambos. Percebendo isso, o rapaz subiu rapidamente para as outras casas e a jovem entrou na de Gêmeos.

-Senhor, me desculpe pelo atraso, é que eu estava preocu... - Petra já foi dizendo, achando que Saga estava bravo por conta do seu pequeno atraso.

-Senhorita, eu não estou interessado nos motivos de seu atraso.

Entrando pelo salão principal da casa, Saga ficou em silêncio. Petra deu de ombros e foi para a cozinha preparar o café. E Kanon, que espetacurlamente tinha acordado cedo naquele dia, assistiu toda a cena de um dos corredores, dando risadinhas abafadas. "Quem diria que debaixo dessa casca grossa existe um coração, meu caro irmão...".

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-Ele me pareceu estranho hoje! - comentou Shura com Kamus e Afrodite, falando sobre o comportamento de seu serviçal. Estavam na escadaria dos fundos da casa de Capricórnio.

-Estranho como?

-Sei lá, o cara tá muito calado, mal abriu a boca para dizer algo além do necessário... Eu não tô gostando disso!

-Credo, o espanhol tudo de bom tá virando uma cópia do nosso iceberg!

Kamus fuzilou Afrodite com os olhos. Até o ar em volta pareceu se congelar.

-Pelo menos eu não fico por aí elogiando certos tipos de pessoas...

-Olha aqui, esse tom...

-Sublinhado que você não gosta e um monte de blá blá blá... Ah, dá um tempo com essas frescuras, Afrodite!

Exasperado, os cavaleiros de Peixes e Capricórnio começaram uma discussão inútil. Kamus balançou a cabeça e subiu de volta para a casa de Aquário, pelo menos lá havia pessoas mais interessantes para conversar e serem vistas (leia-se uma jovem serviçal de cabelos azuis claros e olhos idem).

-Seu fresco!

-E você é um feio!

-Bicha!

-Atropelamento de caminhão!

-Ow, será que a troca de elogios pode ficar para depois? - perguntou Kanon, chegando junto dos dois amigos.

-O que você quer aqui?

-Nada de mais, apenas uma pequena ajuda para um coração apaixonado...

-Quê? - os dois cavaleiros perguntaram ao mesmo tempo.

-Já disse: uma ajuda para um coração apaixonado. No caso, o do meu irmão.

-O Saga, apaixonado? Conta outra! - riu Afrodite, baixando a cabeça. Shura quase caiu de tanto rir.

-Se continuarem a rir desse jeito, irão fazer um passeio pela outra dimensão!

-Opa, peraí... Vamos com calma... Que tipo de ajuda, Kanon?

-Sei lá, por isso eu vim até aqui. Eu sei que o Saga tá apaixonado de cair no chão pela Petra, mas ele nunca vai admitir, mesmo para ela!

-A serviçal da casa de Gêmeos? Puxa! Olha, a gente pode armar para eles ficarem sozinhos em uma situação do tipo...

-Não será preciso nada disso... - Afrodite interrompeu os planos de Shura e Kanon - Deixe que o destino se encarregará de tudo...

-Vixe, papo de bicha astrológica...

-Repita se for homem o suficiente para isso, seu dragão de água doce!

-Ei, ei, nem terminamos a primeira troca de elogios e já querem partir para a segunda? - Shura acalmou os ânimos dos dois, que já elevavam seus cosmos - Agora, metendo o bedelho no papo de bicha astro... - Afrodite lançou-lhe um olhar mortal - Como pode ter tanta certeza nessa coisa de "destino"?

-Por que eu sei das coisas, querido... Coisas que nem imagina...

E assim, todo enigmático, o cavaleiro de Peixes despediu-se dos amigos e rumou para sua casa. "Bem, eu pelo menos desconfio das coisas...".

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No one bites back as hard
On their anger
None of my pain an' woes
Can show through

Ninguém mastiga

Na sua raiva

Nenhuma da minha aflição ou dor

Eu posso mostrar

But my dreams, they aren't as empty

As my conscience seems to be
I have hours, only lonely
My love is vengeance
That's never free

Mas meus sonhos não são vazios

Como minha consciência parece ser

Eu tenho só horas, sozinho

Meu amor é vingativo

Isso nunca é de graça

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Edward estava sentado em uma ponta do templo na colina, em posição de Lótus, meditando. Heiner, achando a atitude do inglês bizarra, deu-lhe um tapa nas costas, quase derrubando o rapaz abismo abaixo.

-Seu... Seu...

-Sem elogios, por favor... Não interrompi nada de importante mesmo!

-Isso é o que você pensa, seu branquelo! Eu estava conversando com ele!

-Ai, me perdoe por interromper seu romance à distância... - o alemão fez uma mesura com a mão torta, irritando ainda mais Edward.

-Que romance, idiota! Ele estava transmitindo informações importantes sobre a nossa presa...

-Que tipo de informação?

-Algo que descobriu... E que nosso mestre poderá usar em seu proveito.

Pouco depois, os dois e Tristão estavam diante de seu mestre, relatando todas as informações. Com um grande e terrível sorriso, ele deu seu parecer sobre o que tinha acabado de ouvir.

-Muito bem... Escute, Heiner... Não era você que estava louco por um pouco de ação?

-Sim, meu senhor!

-Então, vá até a vila que fica nos arredores do Santuário e divirta-se um pouco...

Prestando reverências, o rapaz vestiu o elmo de sua armadura em tons de vermelho e saiu rumo à vila de Rodorio.

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Na casa de Gêmeos, tudo corria da maneira mais normal possível. Saga evitava ter de se encontrar com Petra após o ocorrido do dia anterior e dos modos rudes com que trocara algumas palavras com a jovem pela manhã. O fato é que, admitia depois de muito relutar, estava com ciúmes. E tinha vontade de beijar aquela boca novamente, desta vez com mais força e ímpeto.

Petra, por sua vez, tentava botar suas idéias e sentimentos em ordem. E percebeu que sofria por estar desobedecendo ao avô. Desde pequena, ela ouvia as histórias do amor sofrido dele e de sua avó, e também da paixão de sua mãe por um marinheiro francês que a abandonou assim que soube de sua gravidez. Havia crescido tentando acreditar que o amor não era para ela, que se por um acaso se apaixonasse por alguém, teria o mesmo destino de sua família. Mas estas coisas não há como controlar e agora ela se pegava gostando de um homem, um cavaleiro de Atena, seu patrão. O que fazer, meu Deus?

-Posso conversar com você, Petra?

Era Kanon, entrando no quarto de hóspedes que a jovem limpava naquele momento. Ela sorriu, concordando.

-Sobre o que quer conversar, Kanon?

-Sobre você... E meu irmão.

Petra acabou engasgando com as palavras dele, não sabia nem onde enfiar a cara de vergonha. Kanon nem se abalou.

-Eu não sou cego, Petra, eu percebo as coisas... E nunca vi meu irmão se abrir para sentimentos, ele não se acha digno de poder senti-los... - a jovem ia questionar isso, mas ele a deteve - Um absurdo, em minha opinião, mas isso não vem ao caso. Eu só quero dizer que dou a maior força para vocês, só isso.

Petra nem sabia o que dizer. Kanon também não esperou uma resposta, saiu antes que a jovem pudesse formular uma frase simples. E Saga apareceu logo em seguida, tinha visto o irmão saindo do quarto.

-Ele estava te importunando?

-Na... Não. Ele só queria... Queria conversar um pouco.

-Se foi somente isso, volte ao trabalho então. - disse o cavaleiro, deixando a jovem sozinha. E ele se controlava para não voltar atrás e aproveitar o momento a sós para extravasar o que sentia.

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Era fim de tarde. E Heiner estava parado em uma rua da Vila de Rodorio, em frente a uma casinha simples e aparentemente vazia. Olhando à sua volta, constatou que ninguém o observava.

Elevando seu cosmo, o rapaz desferiu um golpe contra a casa e chamas surgiram do nada, subindo pelas paredes e telhado. Satisfeito com seu trabalho, ele saiu depressa, antes que os moradores percebessem o incêndio.

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Puxa, sexto capítulo! Definitivamente, eu me surpreendi comigo mesma...