Tem gente que ainda não se tocou do corvo? É tão óbvio...

Alguém não gostou do que aconteceu em Hogsmeade... outro alguém ficou sabendo... Bernardo está prestando atenção e Harry... bem...


.SOB.UM.CREPÚSCULO.PÚRPURA.

.05.Eu esqueço.

A noite parecia eterna... pensou sentado segurando as pernas sob os cobertores... não entendia o motivo daquilo tudo que acontecera... não entendera onde errara e por que alguém como o Bernardo o atacaria... nem ao menos era atraente... acima de tudo, não sabia porque a idéia não lhe era de todo desagradável apesar de ter sentido um pouco de receio, não fora medo...

O fato era que não desejava aquilo, não sentia vontade de tocar alguém... não sentia vontade de ser tocado e agora... ficava pensando se havia feito aquilo antes...

Já que amara.

E se seria assim... aquele nada.

Pra sempre...


Aquele maldito vazio e frio raivoso, pensou ao segurar o copo próximo aos lábios olhando a pasta verde em seu braço ferido.

Maldito.- disse baixo.

Na sua mente o rapaz ainda tinha os olhos presos aos seus... não aquele olhar meio distante.

Dirigido a outro.

Quando iria se conformar de que ele nunca fora seu? Nunca seria seu?

Snape passou de leve a mão no abdomem nú.

Memórias roubadas são como drogas... persistem na cabeça... mesmo quando deixaram de ser verdade há muito tempo.

Mas aquele olhar de dor e devoção o perseguia...


Eram dias difíceis... ao mesmo tempo que os ataques e a histeria se multiplicava, Harry via que dentro de Hogwarts pouca coisa mudava... Era difícil aceitar que toda aquela gente podia ficar alheia a uma guerra, se dedicando a pensar em notas, jogos de quadribol, passeios a Hogsmeade... que agora aconteciam frequêntemente porque alunos e pais desejavam se encontrar, e todos queriam esquecer as notícias ruins... Hogsmeade era super protegida com feitiços e aurores.

Era difícil aceitar que havia gente se dedicando a tornar tudo mais difícil... Chang já tentara falar com ele uma vinte vezes... não queria vê-la... e tinha Bernardo.

Não Bernardo.- disse desanimado.

Você poderia parar de fugir de mim...- disse o outro.

Você poderia parar de me seguir... e talvez a gente pudesse conversar normalmente... depois de um tempo.- falou repondo a mochila no ombro dolorido por causa do puxão que o rapaz dera.

Não acredito que está fazendo isso.- Disse o outro.- Achei que você fosse diferente.

As pessoas acham muita coisa de mim.- falou frio.

Percebi.- disse ele já longe.

Harry soltou mais um de seus suspiros frustrados e entrou na biblioteca.

Havia encontrado apontamentos e mais apontamentos tortos no meio de seus pergaminhos e agora... não lembrava porquê...

Seria mais algo que decidira esquecer? Ou algo que Voldmort destruíra em sua mente?

E algo vago de desejo de ler e Hermione interrompendo...

Essas sensações as vezes o faziam odiar as pessoas a sua volta...

Não... parou de olhar suas anotações e fechou os olhos...

"Filho de uma PUTA!"

A dor de cabeça agora era algo normal, então tinha que se concentrar em sensações alienígenas em sua confusa rede de emoções... estava cada vez mais difícil.

Assim que percebia ele sumia nas brumas de sua mente...


Snape olhou lentamente o rapaz moreno, indolentemente com o rosto apoiado na mão e olhando para o nada... imagem da dispersão.

POTTER!

Fazia muito tempo que não sentia o prazer de pegá-lo realmente desprevenido, vieram risinhos da parte sonserina, Harry havia se assustado e o olhado.

Não deviam se olhar assim, Snape pensou quebrando o contato visual.

Dez pontos a menos por dormir na aula.

Eu não estava dormindo...

E menos dez por me contrariar.- disse andando.

Ora seu grande...- foi interrompido por Hermione que o beliscou.

Detenção Potter!

E Hermione o impediu de continuar embora Neville e Rony a olhassem com caras pouco amistosas.

Mione!- disse irritado.

Harry...

Snape não se virou... havia perdido a paciência de novo... culpa daquele olhar...

Teria que dar uma detenção a cargo de Filch...


Limpar a biblioteca... não era tão ruim...

O problema de se limpar a biblioteca de Hogwarts é que... bem... era ENORME!

Quantas noites?- perguntou olhando Filch que o olhava com um sorriso maldoso.

Quantas noites o quê?- remungou Filch.

Quantas noites eu tenho pra limpar essa... biblioteca.- se conteve.

O seu colega está atrasado.- disse Filch.- Terei que informar.

Os passos reboaram lá do início do corredor.

Eu... me... atrasei...- Adrian ofegou.- estava... na... aula de astronomia...

Que seja.- disse Filch estendendo a mão.- Varinhas.

SEM VARINHAS?- Adrian olhou para a biblioteca.

Andem logo... não tenho a noite toda.-Disse Irma Pince lá de dentro com um espanador na mão.- E tomem cuidado! É um trabalho delicado!


Estavam finalmente com panos em frente a área reservada... Adrian lhe sorriu marotamente.

E Harry também... passando pelo corredor... até os tomos proibidos... Pince jazia adormecida na seção de História Antiga da Magia.

Ah... Harry.- começou Adrian.

Quê?- Harry esticou o pescoço.

Manual de conservação de lesmas...

Harry riu.

O que isso está fazendo aí?

Pince vai ficar furiosa se isso continuar aqui...

Hum... Compêndio das artes negras...- Harry disse baixinho.

E sentiu Adrian se aproximar por trás e olhar por cima de seu ombro...

Humhum esse sim é proibido...

Queria ler isso.- disse baixinho.

Pra quê?- o outro se virou para olhá-lo.

Você não tem curiosidade? ergueu o rosto para olhá-lo.

E viu Adrian encará-lo firmemente, e descer os olhos... estudando-o... certo no mínimo parecia suspeito não? Mas o jovem de cabelos negros fechou os olhos violetas por alguns segundos e se afastou.

Certo...- disse sorrindo.- parece mesmo meio macabro.

Harry... posso perguntar uma coisa...- disse Adrian num tom baixo um pouco afastado, meio que lhe dando as costas.

Harry soltou meia risada.

Depende...

Você... foi ao Javali Sapateante?

Ah... se for por causa do tal de...

Matheus? Ele é um bobo metido... tem sangue de trasgo... não sei como foi parar na minha casa...

Harry soltou uma risada inteira, e viu Adrian lhe sorrir.

Então?

Você... o derrubou mesmo?

Ah... sabe como é... um pouco de empolgação...

Soube que Bernardo... teve que levar... você embora.

Harry sentiu um estranho frio, se virou para pegar um tomo.

Não, voltei com a Mione e o Rony...

Ah... e... porquê? Vocês brigaram?

Não... não... brigamos...

Bernardo... e você não se falam mais na AD.

Fechou os olhos... porque não queria pensar naquilo em suas mãos estava um livro que lhe pareceu familiar...

"Rituais espôntaneos de união, ritos, simbolos e filtros."

Desculpe Harry.- disse Adrian.- Só fiquei... preocupado.

Preocupado?

Você... anda meio abatido esses dias... achei que estava chateado...

Chateado... talvez.

Hum... olha isso.

Olhou, mas Adrian estava segurando um livro aberto no título "Cinquenta motivos para se fazer cachinhos nos pêlos do nariz."

Credo.- disse rindo.

Cada coisa absurda nesses livros velhos...

Gostaria de ver algo novo sobre Dcat.

Hum... tem uns livros sobre o curso de auror na biblioteca da minha casa... quer dar uma olhada?

Eu gostaria.

Nesse sábado? Você pode fazer uma visita a Corvinal.

E evitar de me esbarrar nos namorados, Chang e Bernardo... perfeito, pensou.

Claro... desde que Matheus não esteja junto!

Com certeza!- disse Adrian.

E voltaram a se divertir com os livros mais absurdos... o humor de Adrian era mais leve... elegante que o de Bernardo... era mais para Sirius que para Gêmeos... Sim... Adrian lhe lembrava remotamente Sirius...

Saiu da bilioteca mais mudo e triste do que poderia ter entrado...

Filch os encaminhava quando Adrian lhe botou a mão no ombro.

Está bem?

Estou porquê?

Ficou quieto e triste de repente.

Impressão.- forçou um sorriso.- Estou cansado.


A semana foi passando lentamente... e algumas coisas ficaram em sua cabeça... o livro que vira e que sabia ter lido... e não lembrava... das anotações tortas que... vira.

Quer o quê?

Que você me diga... se reconhece... alguma dessas poções...- disse enquanto Rony se adiantava para a mesa.

Hermione olhou o monte de pergaminho amassados enrolados de maneira precária.

Certo.- disse olhando o embrulho com receio.

Obrigado... mas... não comenta com ninguém, tá?

Tá.- deu um sorriso fraco.- Vamos comer.

É... vamos...

Mas Hermione sabia que o amigo iria apenas empurrar a comida de um lado para outro no prato, como fazia quando estava preocupado... Harry se afastara de Bernardo, provavelmente lembrando dos motivos de sua memória ter sido alterada... poderia ser cruel, mas ele sabia, os motivos, para ter esquecido...

Agora... poções eram igualmente um tabu... Dumbledore lhe dissera "Avise se Harry começar a passar tempo demais na biblioteca..."

"Porquê?"

"Por que... encontrar respostas para o que não se pergunta... é mais perigoso do que perguntar sem ter respostas..."

Foi a primeira vez que via Dumbledore sério e abatido, nervoso até. Sentaram na ponta da mesa e como de costume Harry ficara de frente para eles... Neville ao lado.

O olhar do amigo estava na mesa da Corvinal... e era difícil saber se... chegou a olhar para trás quando Harry desviou o olhar e praguejou baixinho... Rony não reparou porque estava dando um sermão em Gina que estava fazendo sinais para Zacharias da Lufa-Lufa.

Agora Hermione sabia porque Harry praguejara... Chang estava se aproximando.

E chegou a mesa exatamente ás suas costas.

Não.- Harry disse antes que a garota abrisse a boca.

Seria mais educado se me deixasse falar primeiro...- Chang disse num tom sentido.

Você veio saber se podemos conversar... estou economizando seu precioso tempo. Não.

Seria muito menos grosseiro de sua parte... se pudéssemos conversar.

Harry...- Hermione lhe chamou atenção.

Certo, tinha muita gente olhando... se levantou e fez sinal com a cabeça para ela o seguir.

Saíram lado a lado... mas ele não estava prestando atenção... apenas andava, se prestasse atenção veria muitos olhos seguindo a cena... pelo menos três muito interessados.


Saíram do salão principal e foram até as proximidades de uma das janelas do outro lado do saguão de entrada.

Certo Cho... fale.

Eu esperei... certo... esperei um período inteiro... estou cansada de esperar.

Seja lá o que estivesse esperando o que eu tenho com isso?- perguntou frio.

Chang pareceu perder-se um pouco... falou num tom magoado.

Achei mesmo que ia me procurar Harry... achei que gostava de mim...

E agora era Harry que se perdia.

Seria Chang? A quem decidira esquecer? Fazia sentido, mas não, no seu íntimo algo dizia que Chang havia sumido de seu coração porque nunca estivera lá de verdade... mas poderia estar enganado? Não... havia se apaixonado por alguém muito recentemente... Chang era público não? O que Voldmort teria com isso, era outra pessoa...

Sabe... as pessoas se enganam... muito.- respondeu.

Não era Chang... olhando-a, tinha certeza.

Eu, acho que poderíamos tentar... sabe? Harry... vamos tentar! Eu esqueço o que passou!

Olhou-a, com certeza... Não! Não era ela... ela não o escutava não é? Mas algo no seu coração acenou triste de que aquilo, não ser ouvido... era algo... comum... um gosto amargo lhe subiu pela garganta.

Harry?- Chang se aproximou.

Sabe... você faria bem em virar as costas... e ir embora Cho.- disse dando em passo para o lado esquivando-se.

Eu achei que você era diferente.- ela disse magoada olhando o chão.

Harry olhou para o lado, suspirou, andava ouvindo muito isso ultimamente... muito.

Harry... eu posso te dar mais uma chance...hum?

E Harry a olhou, com aquele olhar determinado... então algo dentro de si... explodiu em riso... alto.

Chang! Você é uma palhaça!- Não conseguiu parar de rir.

E não conseguiu parar de rir nem quando os olhos dela se tornaram brilhantes e úmidos, pelo contrário... imaginá-la chorando apenas o fez rir mais.

Pare...- ela murmurou.

Mais uma chance?- quase engasgou-se como a Luna fazia.

Pare.- ela disse.

Você não tem mesmo noção não é?- disse no meio do riso...

PARE!- ela gritou... lágrimas escorrendo pelo rosto.

Você não tem noção de quanto eu odeio essas suas lágrimas.- disse com desprezo e sorriu se virando.

E voltou a rir no meio do caminho, vendo Adrian sair pela porta... o olhou rindo, adoraria que ele curtisse a piada também, onde estavam os outros? Adoraria vê-los rir...

ESTUPEFAÇA!

Protego.- disse se virando.

Cho ainda soltou um grito ao sentir o feitiço se chocar com a vidraça ao lado estourando-a. E o olhou com olhos arregalados.

Que ridículo... achei que tinha aprendido direito.- disse ainda sem controlar o ronco de riso que forçava passagem.

Olhando-a ali, perdida... caiu de novo no riso.

POTTER!- a voz grave se fez ouvir.

Harry se virou para ver Snape andando de modo furioso em sua direção, Adrian estava ainda perto da escada ao lado estavam Bernardo e Rony... que provavelmente tinha sido mandado lá por Hermione. Mas a porta estava aberta agora e muita gente estava atrás.

O que tem na cabeça atacando outro aluno!- Snape disse sério.-Parece que anda se achando muito bom com sua varinha.

Ele apenas se defendeu professor!- Adrian disse irritado.

O senhor.- Snape se virou para Adrian.- Deveria estar ajudando sua companheira de casa a ir até a enfermaria ver se não está ferida!

Adrian pareceu encolher-se sob o olhar furioso do diretor da sonserina... mas não se moveu para olhar Chang que tremia.

Você está bem Harry?- perguntou Bernardo que estava mais próximo.

É melhor não se meter nisso senhor Wiry... ou a Lufa-Lufa vai precisar de alguns anos para recuperar os pontos perdidos.- Snape rosnou.

Bernardo também se calou.

Você... poderia... parar de ameaçar todo mundo... professor?- perguntou cinicamente.

Snape se virou lívido de raiva... e Harry não pode evitar a onda de prazer que o inundou... simplesmente por vê-lo furioso... embora não entendesse o motivo, talvez finalmente alguma parte herdada de seu pai estivesse ativa... só apertou a varinha como o homem sua frente fazia.

Snape o azararia se falasse mais alguma coisa... apenas sentiu seu sorriso crescer e o olhar de Snape se cerrar.

O que está havendo aqui?- A voz de Dumbledore se elevou.

Snape se virou sério e composto... na medida do possível.

Ao que parece Potter andou... atacando... uma colega.

AH! Me faça o favor!

Harry!- Dumbledore disse muito sério.- Me espere em frente a gárgula de meu escritório.

Trocou um leve olhar com Rony que em seguida entrou no salão... só agora via que Minerva estava na frente da porta... provavelmente impedindo a passagem dos outros para fora.

Quanta consideração.