Vai ter essa e mais uma song na fic... eu tentei tirar gente, juro que tentei... mas essa é muito especial... desculpe mesmo para quem não gosta... mas foi inevitável!

Quem raciocinar na linha certa vai descobrir o motivo de Harry beber tanto.

Sofra Snape! Sofra!

Ah... capítulo não recomendado para pessoas sensíveis... sangue... e quase suícidio.

Eu comparo esse capítulo ao 'Sem palavras' da Sucvs.(só que sem o sexo.)


.SOB.UM.CREPÚSCULO.PÚRPURA.

.06.Eu me machuquei.

A imagem que lhe tirou do sério foi do "casal" andando lado a lado. Nem quando Cedrico Digory a escolheu havia entendido... a garota era uma das criaturas mais rasas que conhecera... andando com suas coleguinhas, dando risinhos e fazendo cara de nojo para as poções.

Era apenas um pouco razoável no vôo.

Lembrou daquela imagem, outra memória alheia em seu estoque, em que ele e ela...haviam se beijado... e que ele defendera tanto como pensamento particular...Harry quase o derrubara.

Com a memória Snape acabou partindo o copo de uísque de fogo na mão, ergueu uma sobrancelha e abriu a mão ferida.

O conteúdo do copo molhara sua veste... e sangue começou a correr... vermelho escuro.

I... Eu...

Hurt myself today Me machuquei hoje

To see if I still feel Para ver se ainda sinto

I... focus on the pain Eu... me concentrei na dor

The only thing that's real A única coisa que é real

Era vermelho sangue... Harry olhou contra a luz... era engraçado que... parecia mesmo sangue... estava sentado naquela poltrona, depois de uma aula silenciosa para o terceiro ano , patronos, tão fácil, e todos pareciam ter medo de falar... sabia que haviam comentado que "atacara" Chang quando fora na verdade o contrário, não devia se chatear... nunca o julgaram do jeito certo mesmo, nem se importava... não? Talvez não... não mais... quando tinha tanto a pensar...

Havia aquela alegria amarga de vê-la chorando... de ver Snape furioso... estava pensando se era suficientemente "mau" para se preocupar quando sentiu o gosto de uísque de fogo... sim... podia sentir... porque não? Seria divertido? Não? Podia ficar ali a madrugada toda... Hermione sabia que ficaria ali... Embora a porta estivesse trancada por sua vontade. E ninguém pudesse perturbá-lo.

Mas quando esticou a mão para o cálice... viu vinho... vermelho escuro como sangue.

Parecia sangue... e estava o olhando tão fixamente que o cálice partiu... em sua mão...

Um corte e cacos...

The needle tears a hole A agulha rasga um buraco

The old familiar sting O velho ardor familiar

Try to kill it all away Tentando eliminar todo o resto

But i remember everything Mas eu me lembro de tudo

Harry entortou a cabeça... retirando o caco da pele... vidro quebrado e tinto... mas não tinha conciência da forma quase infantil com que olhava o corte... que avermelhou, pareceu inchar então...havia uma linha vermelha que ramificou um pouco, se uniu e formou uma gota... que escorreu até seu pulso...

Snape suspirou fechando a mão ferida... com raiva de si mesmo... apertando-a como punição... a dor era uma companheira conhecida... certeira.

Mitigava a raiva, a angústia... mas não a lembrança, não lembrança de olhos reverentes com uma mão ferida marcando seu rosto... não apagava a lembrança daquela noite sob um céu vermelho sangue.

What have I become? O que eu me tornei?

My sweetest friend Meu doce amigo

Everyone I know Todos que eu conheço

Goes away... in the end Vão embora... no fim

Mas era ilusão repetiu para si mesmo dentes cerrados e mão apertada a ponto das grossas gotas de sangue escorrerem... não tinha nada, nem nunca ia ter porque não merecia nada... nunca merecera.

O que tinha... era ilusão, pois tudo que gostava se esvaia... fora assim sua vida inteira... Não seria aquela criatura em especial que ficaria... ao seu lado.

Era... especial demais... para compartilhar sua dor... e no fim... era sua culpa... que aquele Harry que o amara... tivesse partido.

Harry ficou olhando fascinado a marca vermelha em sua pele... uma linha... seus olhos focalizaram-se no caco meio rubro pelo vinho mas translúcido... parecia uma jóia perigosa... olhou a própria pele pálida... a pele meio branca e fina do pulso... lavada de vinho... um cheiro... perfume em sua pele...

cheiro de sacrifício... não merecia aquele pele lisa... merecia marcas... porque carregava marcas... quis marcar-se... e não percebeu que o caco na outra mão pousou pesado contra o pulso.

O primeiro corte... foi pequeno.

You could have it all Você pode ter tudo

My empire of dirt Meu império sujo

I will let you down Eu te deixarei mal

I will make you hurt Eu te farei sofrer

Snape levantou só para parar e olhar em volta... lembrar de alguém parado vestindo um pijama e mostrando uma marca... lembrar daquela linha onde o pescoço chegava ao ombro... ombros estreitos ainda... entre o infantil e o adulto, jovem somente... e aquele fechar de olhos... aquele umedecer de lábios com a língua... Snape olhou infeliz para a mão ferida...num gesto de abraçar a si mesmo mas colocando a mão ferida no rosto... sentindo alguns dos cacos ainda na pele.

-Vá embora... por favor.- gemeu caindo de joelhos.

Harry apenas sentiu um leve arrepio no terceiro corte... agora as linhas se mesclavam... como uma cortina vermelha... ardia um pouco, a pele estava quente acima... e o primeiro corte não sangrava mais... o caco caiu no seu colo, mas... nem percebeu... olhava a mão esquerda erguida e sentia o pulsar de seu coração, não sabia quando... mas alguma vez escutara que a mão esquerda era a mão do coração... sentiu uma raiva imensa... de si mesmo... daquele coração imbecil e mudo.

A mão direita voltou a pegar o caco... mas dessa vez o maior deles entre os que estavam na sua veste já manchada... sua camisa já estava manchada... também.

O caco foi entrando na palma esquerda... como chave numa fechadura velha e emperrada.

-Agh!- cerrou os olhos.

I wear this crown of shit Eu coloquei essa coroa de merda

Upon my liar's chair Sobre meu trono de mentiras

Full of broken thoughts Repleto de razões quebradas

I cannot repair Que não posso consertar

Fazia muito tempo que não caía ao chão... para chorar sua amargura... fazia anos que não chorava... fazia muito tempo que não perdia o controle... desse jeito.

Ajoelhado no chão e apoiado na poltrona... a mesma onde sentava vendo-o sentado no chão... venerando-o... era um verme e merecia rastejar... por tentar agrilhoar aquela criatura mágica que era o menino... não importava sob que máscara de bondade se escondesse... era uma coisa má.

Sempre seria. Sempre seria sujo porque nascera sujo. Não importava o que estivesse fazendo... seus crimes não seriam apagados a tempo de... ter o direito de consertar tudo.

Aquele homem que fora sob o olhar de Harry... naquela noite... aquele ser superior... era uma bela mentira contada para si mesmo... não passava de um dêmoniozinho invejoso arrancando as penas daquelas asas feridas...

Daquele anjo perdido.

Harry ficou olhando agora... molemente sentado naquela cadeira... sentindo-se mais entorpecido que nunca antes... as gotas caírem de sua mão erguida e trêmula... cansado... desceu a mão e escutou o pingar no chão... inclinou-se para frente e sentiu-se tonto.

Riu.

E tentou levantar... tropeçando no vazio... caiu em algo macio... talvez tivesse desejado cair naquele tapete fofo de peles... vendo uma poça de sangue aos pés da poltrona onde estava sentado. E só agora estava levemente consciente de que estava ferido...

Na verdade a vida toda... sempre estivera vagamente consciente das coisas... sempre se escondera atrás das expectativas dos outros... atrás da imagem de herói... vestira o personagem tão bem... que acreditara nele... agora... não podia mais.

Beneath the stains of time Debaixo das manchas do tempo

The feelings disappear Os sentimentos desaparecem

You are someone else Você é outra pessoa

I'm still right here Eu ainda estou aqui

No nublado dos olhos úmidos... pensou que talvez o visse... parecia tão real... aquela criança... era mais um sonho não era... aquela criança de cabelos selvagens que escondiam o rosto, os olhos que sabia serem verdes... aquela criança abandonada... e que tinha os pulsos profundamente cortados...

Falara com Dumbledore sobre sonhos e premonições... tão incapaz de saber algo... só que os olhos azuis ocultos pelos óclinhos em meia lua escondiam algo, mas como os vermelhos viperinos que conhecia, não poderia saber o que era escondido... sentia-se um rato... uma coisa pequena e medrosa a ponto de correr para o primeiro buraco na parede...

Para Snape o buraco era uma cama fria... desarrumada e eternamente vazia...

Vazia.

A sala estava vazia... ou devia estar... Harry olhava talvez semi-adormecido... talvez fraco por estar esvaindo-se em sangue... a sala vazia a ponto de sentir o chão frio já que o tapete sumira...

Mas havia uma sombra a frente... onde antes estava a poltrona... de alguém que andava... capa enfunada ás costas, mas que se aproximava... ia ou vinha?

What have I become? O que eu me tornei?

My sweetest friend Meu doce amigo

Everyone I know Todos que eu conheço

Goes away... in the end Vão embora... no fim

Mal havia percebido que se arrastara para cama... jogado infeliz ali... catando cacos da palma da mão, amaldiçoando ao ponto onde chegara a própria insanidade... o reflexo do garoto ali... com os eternos olhos verdes felinos... infelizes... tristes... furiosos... desesperados.

Antes tão transparentes... agora tão frios e turvos...

Sua visão estava nublada... Harry inspirou lutando para sentir algo no meio do entorpecimento e reconhecer a figura a sua frente...

Ele mesmo estava ali... mas com um sorriso mau...

-Me ajude...

O múrmurio apenas fez o outro se agachar ao seu lado... escuro... frio... o sorriso persistindo nos lábios... o outro... tão parecido consigo...

Não tinha os olhos.

Apenas um espaço escuro nas órbitas.

-Você não veio me ajudar...

Com um sorriso ainda maior... a figura negra tão parecida com ele mesmo apenas balançou a cabeça negativamente.

Harry fechou os próprios olhos... enjoado com o cheiro do próprio sangue.

Forçou-se a sentar... sozinho.

You could have it all Você pode ter tudo

My empire of dirt Meu império sujo

I will let you down Eu te deixarei mal

I will make you hurt Eu te farei sofrer

Snape se levantou de súbito... bebera demais... no escuro mesmo encontrou seu pequeno banheiro particular...

E encarando-se no espelho... lavou o rosto sentindo-se imensamente velho... imensamente perdido, lavou o sangue que secava na mão...

Engraçado... sentia um cheiro de sangue muito forte... mas devia ser só o enjôo da bebedeira... houvera tempo mais feliz em seus limites...

Os olhos cerrados de dor... angustiosa dor, não pelo ferimento... Harry pensou tristemente, mas pelo vazio imenso que sentia... deles apenas um piscar decidido para acabar com aquela bruma...

A sala precisa pareceu clarear... e ao seu lado havia... uma poção e bandagens.

If I could start again E se eu pudesse começar de novo

a million miles away Muito longe daqui

I would keep myself Eu continuaria eu mesmo

I would find a way Eu encontraria um jeito

Devia tentar... esquecer... mas não conseguiria, então haveria um jeito... um jeito de ficar em paz... pensou Snape olhando a água na banheira... soltando um vapor de ervas relaxantes... purificantes...

Ficar em paz seria... manter o outro bem... e em paz... sua paz, minha paz.

Era uma equação quase perfeita.

Se não houvessem tantos tropeços no início.

Se não houvessem marcas.

Mas marcas ficariam... Harry pensou ao passar pela porta... roupa limpa, andando devagar pelos corredores... ignorando qualquer coisa que pudesse lhe cruzar o caminho...

Marcas não podiam ser esquecidas... ali estava um pergaminho infalível.

Onde contaria uma história nova de recomeço...

Não podia deixar de ser quem era, de todo, não podia ignorar, totalmente e nunca poderia fugir...

-Sempre viva.

-O que está fazendo fora da cama menino?- perguntou o retrato.

-Estava morrendo.- disse ao passar.

A mulher no retrato apenas balançou a cabeça, antes de se acomodar na moldura. Pra quê se preocupar? Era apenas Harry Potter...


A música é Hurt do Nine Inch Nails... linda na versão acústica, ou com David Bowie... a versão Quiet, não lembro de que álbum é muito boa também... que eu saiba existem umas seis versões... baixem e escutem!

Vocês podem achar a tradução estranha... mas eu achei melhor assim.

Outras traduções são muito ao pé da letra e a música é muito mais poética.