Capítulo Cinco – Como Vamos Sair Daqui?

- Droga, Potter! Que brincadeirinha mais sem graça! Dá para, por favor, você abrir esta maldita porta?

- Eu não posso! Não fui eu quem a trancou! Sem falar que estou sem a minha varinha; não gosto de carregá-la quando estou jogando; ela pode cair e quebrar. Lily! Você já tentou abrir a porta há dez segundos atrás; se não abriu antes, não abrirá agora!

Lílian tirou suas mãos da maçaneta, suspirou derrotada e sentou-se numa das cadeiras da sala de feitiços.

- Tia... Potter! – corrigiu-se. – Pela última vez – disse cansada –, pegue a sua varinha e abra esta porta.

- Lily! Eu não acredito... Você não ouviu o que eu disse?

A bruxa apoiou a cabeça em seus braços, olhou para Tiago e respondeu ainda num tom cansado:

- Sinceramente? Só prestei atenção no que você dizia na primeira meia hora, que ficamos trancados aqui, na verdade, quando eu ainda não sabia que você tinha nos trancado!

- Eu NÃO tranquei você aqui! Aliás, eu nem estou com a minha varinha aqui para trancar esta porta!

Lílian, mais uma vez, suspirou. Dessa vez seu suspiro foi mais longo, para mostrar que estava realmente perdendo a paciência. Levantou-se, caminhou mais uma vez até a porta e mexeu na maçaneta. Nada. A porta continua trancada. Nervosa, a bruxa começou a bater nela desesperada, mas ninguém de fora parecia ouvi-la. Na verdade, eles estavam há tanto tempo presos naquela sala que, provavelmente, todos em Hogwarts já haviam se recolhido. Sentou-se no chão, próxima a Tiago e à porta e, em seguida, começou a beliscar o seu braço.

- Ficou louca? – perguntou Tiago depois de um longo tempo observando a garota fazer o mesmo movimento tantas vezes.

- Não. – respondeu a bruxa, parando de se beliscar. – Só queria me certificar de que não estava sonhando.

Tiago, que começava a se irritar com a outra – pois ela o culpava por algo que ele não tinha feito; ele estava falando a verdade quando disse que não os trancara -, começou a rir.

- Espere um pouco. Então estar presa numa sala comigo é um sonho para você?

- Correção: pesadelo. – O sorriso do bruxo desapareceu rapidamente. – Como foi que isso aconteceu? – pensou em voz alta.

À tardinha, Lílian saíra do seu dormitório, e fora à procura de Filch, o zelador de Hogwarts. Encontrou-o em sua sala escura, acariciando sua gata, Madame Nor-r-ra. O homem a levou até a sala de feitiços, que estava completamente suja.

- Eu ia limpar esta sala hoje, mas, por sorte, alguém irá poupar o meu trabalho – riu. – Bem, como você é nova nessa coisa toda de detenções, vamos às regras: eu quero TUDO brilhando. Oh, não, não, não... – disse Filch rindo ao ver Lílian tirar de suas vestes a sua varinha. – Assim seria muito fácil. – O zelador pegou a varinha das mãos da garota e guardou em suas vestes. – Ficarei com isto por enquanto.

E saiu, deixando a bruxa numa sala completamente às avessas: o professor Flitwick na última sexta-feira havia ensinado ao quinto ano o feitiço silencio e, para fazer este feitiço, era preciso levar alguns animais para a sala de aula. Penas, fezes e objetos quebrados estavam espalhados pela sala inteira.

Lílian pegou a vassoura e a pá que estavam na sala e começou a trabalhar. Não teve dificuldades ao limpar da maneira trouxa; sua família era trouxa, estava mais do que acostumada a fazer esse tipo de serviço. Depois de algumas horas, quase tudo estava limpo, menos as mesas; alguns estercos só sairiam com esfregar muito.

Faltavam apenas cinco mesas para que aquela maldita detenção terminasse. A bruxa estava exausta e a única coisa que queria ver era sua cama – óbvio que antes de se entregar ao sono profundo ela faria questão de tomar um banho de uma meia hora. Estava sonhando com os lençóis de sua cama quando a porta da sala se abriu e Tiago surgiu.

Após um longo dia treinando quadribol, Tiago praticamente obrigou Remo a descobrir qual era a detenção que Lílian ia cumprir e onde seria isso. Assim que soube, foi atrás da garota. Sua idéia era chegar até a sala de feitiços e, de alguma forma, descobrir se a bruxa tinha ou não voltado a namorar Luan. Um plano simples, que tinha tudo para dar certo, se não fosse pelo fato de que, ao entrar na sala, Lílian brigaria com ele, afinal, se ele não tivesse brincado com o cabelo da bruxa, ela não teria a idéia de pegar "emprestado" o pomo.

Discutiram, discutiram... até que Lílian ficou nervosa e, praticamente, o expulsou. Tiago iria sair da sala se a porta não estivesse trancada – mas ele só percebeu este pequeno detalhe muitos minutos depois de ter entrado nela, muito tempo depois da bruxa finalmente ter terminado a detenção. Nos minutos seguintes, Tiago e Lílian tentaram de tudo para abrir a porta. Tentativas estas que foram inúteis, já que ambos estavam sem suas varinhas, ou seja, o único objeto que poderia libertá-los.

- Eu tenho uma idéia – disse Tiago depois de um momento de silêncio.

- Qual? – perguntou a bruxa, ainda sentada no chão, sem olhar para o outro.

- Antes de falar – começou o bruxo -, bem, não fique nervosa! Já brigamos muito por um dia.

- Fala logo.

- Hum... podemos sair daqui com a minha vassoura – sugeriu o bruxo.

Lílian olhou para a vassoura que estava encostada numa das mesas. Ela tinha se esquecido completamente de que ela estava ali, paradinha; Tiago a trouxe, pois há um bom tempo atrás ele estivera no campo de Hogwarts jogando quadribol e, de lá, havia ido direto para a sala onde a bruxa estava cumprindo a detenção.

- Eu topo – disse levantando-se do chão.

- Como? – Tiago perguntou incrédulo. – Sem nenhum escândalo, sem nenhuma discussão? Será que Lílian Evans finalmente está cedendo? – perguntou, esperançoso.

Lílian revirou os olhos, impaciente.

- Não, Potter, Lílian Evans não está cedendo, embora, se demorarmos mais algum tempo aqui, certamente cederei. Pode tirar esse sorrisinho malicioso do rosto! Eu estou com vontade de fazer xixi; se demorar muito, acabarei não agüentando segurar mais!

- Hum... ok – foi o melhor que conseguiu dizer.

Tiago caminhou até a vassoura. Montou nela e chamou a bruxa. Esta se sentou atrás dele, que continuou parado.

- Então, você não vai fazer essa coisa voar?

- Espere um pouco. Não fale nada. Estou gravando este momento... Lílian Evans, pegando carona na minha vassoura. Que cena linda!

Mais uma vez, ela revirou os olhos.

- Sem querer bancar a estraga prazeres, mas se você ficar muito tempo "gravando" o momento, daqui a pouco sua lembrança não será "Lílian Evans, pegando carona na vassoura do Potter", e sim "Lílian Evans fazendo xixi na calça"! Portanto, ande logo! – ordenou a garota cutucando as costas do outro com o dedo.

- Eu gostaria muito, mas não posso.

- Como assim não pode? Eu já o vi fazendo esta vassoura funcionar várias vezes!

- Ahá! Então você anda me olhando enquanto vôo?

- POTTER! – sua voz já estava mais elevada e seus cutucões ficaram mais fortes.

- Eu não posso voar enquanto você não se segurar em mim!

- Ah... seu atrevido!

- Não é atrevimento – disse irritado -, é uma questão de segurança. Não quero matar a mãe de meus futuros filhos, entende?

- Eu seguro a vassoura aqui atrás – falou a bruxa, ignorando o comentário do outro.

- Não! Se você segurá-la aí, o vôo será horrível; você acabara guiando a vassoura para outro lado.

- Ai, céus! Quanta frescura. Ok, pronto. Satisfeito? – perguntou a garota ao abraçar a cintura do bruxo. – E, então, o que aconteceu agora? – perguntou ao ver que Tiago ainda não havia saído do lugar.

- Espera. Estou tentando gravar...

- Ah, não! Pare com isso! – cortou.

- Tudo bem, tudo bem...

Tiago deu impulso com os pés e a vassoura começou a flutuar. Em questão de segundos, os dois já estavam fora da sala de feitiços. Na verdade, estavam fora do castelo, sentindo uma leve brisa passar por seus rostos. Lílian, que segurava, frouxamente a cintura do outro, assim que levantou vôo, abraçou fortemente o bruxo, que não pode evitar sorrir; ela tinha medo de altura.

- E então, te levo para a janela do teu dormitório?

- Não, não. Sol sempre deixa as janelas do dormitório fechadas; ela tem medo de que alguém possa entrar por elas enquanto estivermos dormindo. Sabe, no começo eu tinha achado essa idéia meio estúpida, mas agora vejo que ela tem razão.

- Certo. Então deixarei você na sala comunal; as janelas sempre ficam encostadas, nunca fechadas.

Lílian ia perguntar como Tiago sabia disso, mas desistiu; alguma coisa lhe dizia que ela não iria gostar de saber.

Finalmente, a torre da Grifinória. Tiago, voou bem próximo às janelas para poder, com uma das mãos, ver qual delas estava entreaberta e, por pura "sorte" – pelo menos foi isso que ele disse para a bruxa -, Tiago a encontrou na primeira tentativa. Tanto ele quanto seus amigos deixavam aquela janela aberta - depois de uma noite de Lua cheia fazendo companhia a Lupin, eles saíam sorrateiramente da Casa dos Gritos, pegavam suas vassouras e voavam até aquela mesma janela, para depois irem até o dormitório.

- Chegamos – informou Tiago.

Lílian desmontou da vassoura e, em seguida, Tiago fez o mesmo. A sala estava completamente vazia com exceção dos dois; deveria ter passado de meia noite.

- De nada – disse o bruxo ao ver que a outra ia subindo as escadas que davam acesso aos dormitórios femininos.

- Isso – ela começou, após dar meia volta - é o mínimo que você poderia ter feito. Afinal, foi por sua culpa que eu recebi aquela detenção. Portanto, sem agradecimentos.

Minha culpa? – pensou ofendido – Sinto informar, mais não tenho culpa se sou irresistível! Não tenho culpa se você não conseguiu se segurar e foi até o meu quarto me agarrar usando a desculpa de que iria roubar o pomo! – Mas não disse isso; não estava com a mínima vontade de começar outra discussão. Já bastou o longo tempo que tinham ficado discutindo na sala de feitiços sobre esse mesmo assunto. Em resposta, Tiago apenas suspirou – um longo suspiro - em protesto.

- Er... Lily? – chamou ele ao ver que ela recomeçara a andar. Bem, ele ainda não tinha perguntado. E se não perguntasse agora, certamente não conseguiria dormir de tanta curiosidade.

- Sim?

- Hum… - começou meio sem jeito, passando a mão em seus cabelos. – Você e o Rogger... você sabe... hum... vocês voltaram?

- Sim... Bem, eu não queria, mas depois que descobri que estou grávida... Bem, não encontrei outra solução a não ser reatar o namoro.

Tiago ficou boquiaberto. Ficou tão nervoso que teve que se apoiar em uma das poltronas para não cair. Lílian ficou o observando com uma expressão divertida, o que deixou o garoto completamente confuso.

- Tiago... eu só estava sendo sarcástica – após dizer isso, subiu as escadas correndo; foi até o banheiro.

O bruxo ficou um bom tempo tentando absorver o que ouvira há poucos segundos atrás. Ótimo, ela não disse se estava ou não com ele! Então, um sorriso de canto a canto surgiu em seu rosto. Espera aí... ela me chamou de Tiago?

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- Não sei quem foi que teve essa idéia de me trancar lá dentro com a Lily, mas, seja lá quem for, eu agradecerei eternamente! – exclamou Tiago feliz, ao entrar no seu dormitório; Pedro, Remo e Sirius, apesar do horário, estavam acordados jogando snap explosivo, enquanto Christian Thomas dormia pesadamente em sua cama.

- Nós achamos que vocês precisavam de mais intimidade...

-... depois daquela noite fogosa de vocês dois! - disse Remo, cortando seu amigo Sirius.

- Para vocês terem total privacidade, tivemos até que enrolar o Filch; jogamos dez bombas de bosta bem próximo da sala dele – contou Pedro. – Tudo isso para evitar que ele voltasse para a sala de feitiços para verificar se Lílian estava ou não cumprindo direito a detenção.

- É... pensando bem, eu achei muito estranho o Filch não ter aparecido. Isso é meio estranho, não? Se fosse eu quem estivesse cumprindo a detenção, ele não sairia do meu pé, mas com foi outra pessoa, ele a deixou sozinha e ficou tranqüilamente em sua sala. Essa é boa!

- Enfim... aconteceu? – perguntou Sirius.

- Não – disse Tiago sorridente. – Nós apenas discutimos, discutimos, discutimos... e depois eu a trouxe em minha vassoura. Foi perfeito!

- Definitivamente você ama essa garota – concluiu Remo. – Quero dizer, veja Sirius, por exemplo: estar trancado durante horas com uma garota numa sala, discutir com ela durante todo este tempo, e não acontecer nada... Bem, é assim que ele descreveria um encontro ruim.

- Receio que esteja enganado, Remo. Se fosse eu naquela sala, teria acontecido – corrigiu Sirius.

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Obrigada pelos comentários, pessoal. Responderei por e-mail e em breve.