Capítulo Sete – Passeios Noturnos

- Lily, por que você não entrou na sala de transfiguração quando eu perguntei se você ia ou não entrar?

- Sabe, Sol, eu estava com vergonha porque... bem... aquela cena no quarto de Tiago... pensei que Remo tinha contado sobre isso a Prof. McGonagall. Imagina como seria estar na mesma sala que ela por longos minutos? Por sorte, Remo adivinhou meus pensamentos e me garantiu que não disse nada sobre aquele imprevisto.

- Muito gentil da parte de Remo – disse Ingrid enquanto observava o céu escuro através da janela do dormitório.

- Sim, o Remo é gentil... e, obviamente o Sirius também, não é mesmo, Sol? Aliás, você pode me explicar da onde vocês tiraram tanto assunto? - quis saber Lua, sua irmã gêmea, que no momento estava vestindo sua camisola.

A bruxa corou em resposta.

- Bem lembrado! Achei muito estranho vocês dois conversando animadamente – disse Lílian. – Você nunca foi de ter amizade com Sirius.

A bruxa continuou muda, apenas se encolheu escondendo-se um pouco por debaixo dos cobertores e ficou mais corada.

- Sol, é impressão minha ou você caiu na teia daquele... devorador de inocentes? – perguntou Lua arqueando uma das sobrancelhas.

- Claro que não! A Sol não é tão ingênua para acreditar nos flertes do Black, certo, Sol? – perguntou Anne.

- Fale alguma coisa! – ordenou Lílian.

- Bem, eu... – começou a falar – nós só conversamos sobre a aula. E umas besteiras... mas só. E não, não cai na teia do devorador de inocentes – disse a garota.

- Umas besteiras? Que tipo de besteiras? – perguntou Lua.

- Hum... quadribol, sobre a insuportável aula de poções, que seria a próxima aula... Ah! E parem com isso, só foi uma conversa! Não vejo o motivo de todo esse interrogatório!

- Só não queremos que você seja mais uma na lista de Black – respondeu a irmã. - Não queremos que você sofra.

- Mas...

- Ei, olhem isso! – Ingrid cortou Sol, que ficou muitíssimo feliz por não ser mais o centro das atenções.

No parapeito da janela, encontrava-se uma coruja enorme e marrom, com um pequeno envelope preso na pata e uma rosa amarela no bico.

- É para Lily – disse Ingrid ao tirar o envelope que estava preso na coruja.

Lílian pegou a rosa e o envelope de Ingrid, abriu e leu. As outras garotas, enquanto isso, ficaram em silêncio esperando a outra dizer sobre o que se tratava.

- Ah... que gentil!

- Quem mandou? - perguntou Anne, se entortando ao máximo para ler a mensagem.

- Luan – respondeu Lílian enquanto respondia a mensagem com a pena e o tinteiro que acabara de pegar do seu malão.

- E o que ele escreveu? – quis saber Ingrid.

Lílian prendeu o mesmo envelope na pata da ave – ela havia escrito a resposta no verso da carta -, e despachou a coruja o mais rápido que pôde, pois sabia que as amigas acabariam forçando-a a mostrar o conteúdo do envelope.

- Hum... nada de tão importante – respondeu.

- Sabe, estou começando a achar que aquela teoria de que Lílian e Luan estejam voltando não é tão maluca assim – comentou Anne.

- Ei, nem pense em voltar atrás agora! – falou Lua. – Você já fez sua escolha!

- Sobre o que vocês estão falando? – perguntou Lílian confusa.

- Sobre nada! – responderam Lua e Anne em uníssono.

- Estou começando a odiar essa coisa de segredinho entre vocês!

- Não é nenhum segredo – começou Ingrid. – Nós... bem... Hum, Lily, você está mudando de assunto! Você não respondeu o que Luan escreveu!

- É isso mesmo, e nem me diga que foi só uma carta de um amigo, pois eu tenho amigos, e nenhum até hoje me mandou uma coruja há estas horas com uma rosa amarela. Vejam bem: amarela. E todas aqui sabem que amarelo significa amor eterno; todas lêem o Semanário das Bruxas que eu sei – acusou Sol, que se levantou de sua cama e agora estava ajoelhada na mesma.

- Ei, ei, ei! Calminha aí, Sol! – começou Lílian. – Não me comprometa só para fazer com que as outras esqueçam da sua história com o Sirius. Essa história está muito mal contada, mocinha... – retrucou a bruxa.

- Céus! PAREM! – gritou Ingrid exaltada. – Vamos parar com isso, senão vamos acabar brigando! E não sei por que discutir por algo tão óbvio: a Lílian está com Luan e a Sol está flertando com Sirius e sendo correspondida. Ponto. Agora vamos dor...

Puft! Lílian e Sol jogaram seus travesseiros em Ingrid. Lua e Anne aprovaram a idéia e fizeram o mesmo em seguida. As quatro garotas começaram a rir da cara amassada da amiga, que acabou rindo também.

- Vamos dormir – disse Lua ainda rindo.

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Sol saiu de debaixo dos cobertores, abriu cuidadosamente as cortinas em volta de sua cama, fechando-as em seguida para o caso de alguma de suas amigas acordar e ver que ela não estava na cama, caminhou até seu malão, de onde tirou uma muda de roupa e saiu do quarto literalmente nas pontas dos pés. Enquanto descia as escadas em espiral, a bruxa se vestia. Quando faltavam apenas alguns degraus para chegar à sala comunal – onde tinha combinado mais cedo de se encontrar com Sirius -, pegou sua varinha, encolheu o seu pijama e o guardou no bolso.

A sala estava completamente escura. Na lareira, Sol, só conseguiu ver faíscas frascas morrendo. Olhou para toda a sala a procura de Sirius e nem sinal do bruxo. Xingou-se mentalmente por ter caído direitinho na brincadeira de Sirius. Imaginou o bruxo em seu quarto, rindo da cara dela e ainda comentando o que fizera com seus amigos, que gargalhavam. Bufou furiosa, deu meia volta e...

- Pensei que não viria mais – sussurrou Sirius atrás dela.

- Por que você não veio falar comigo antes? Eu estava voltando para o dormitório; pensei que você só estivesse brincando!

- Não falei antes com você porque tinha que ter certeza de que era você. Bem, aqui está muito escuro; só se eu fosse um lobo para poder ver nesse breu.

- Hum... certo.

- Bem, agora que já nos entendemos, preciso que você coloque isto.

Sol abriu mais os olhos para tentar enxergar o que estava na mão de Sirius.

- Não... não, não, não, não. Eu não vou colocar essa venda. Céus, as meninas estavam certas, as histórias que ouvi são verdadeiras: você é um cafajeste pervertido! – Sol pronunciou as últimas palavras com tanta ênfase que acabou falando um pouco mais alto.

- Shiiiiiuuuu! – fez o bruxo. – Eu não sou nenhum cafajeste! Muito menos um pervertido! Fique sabendo que a maioria desses boatos são falsos, e os verdadeiros, bem... eu não tenho culpa por elas quererem que eu seja pervertido!

Sol revirou os olhos. Igualzinho a Tiago! tão arrogante quanto o amigo! Bufou nervosa e mais uma vez deu meia volta para subir as escadas em espiral.

Sirius segurou o braço dela impedindo-a que continuasse.

- Espere... – hesitou um pouco e depois continuou. – Esqueça a venda, mas prometa-me que não contará nada a ninguém!

- Se o que fizermos não tiver nada a ver com perversões, ou masoquismos, ou qualquer coisa do gênero... bem, eu prometo.

Na realidade, mesmo que o que eles fizessem fosse só jogar xadrez, ela não contaria a ninguém; suas amigas a matariam se soubessem que saiu com Sirius Black, o "Devorador de Inocentes".

Sirius riu.

- Que tipo de estórias a meu respeito você andou ouvindo?

- Acredite, é melhor não saber.

- Então promete?

- Você ainda não respondeu a minha pergunta!

- Não, o que penso em fazer não tem absolutamente nada relacionado com "perversões, ou masoquismos, ou qualquer coisa do gênero".

- Então eu prometo – respondeu sorrindo.

Sirius caminhou até o retrato da Mulher Gorda, abrindo-o e saindo pela abertura. Pegou sua varinha e sussurrou "Lumus!" - Sol fez o mesmo. Andaram durante alguns minutos em silencio; Sirius estava tão concentrado – tentava ouvir algum ruído estranho, qualquer sinal de que Filch estava por perto (ele poderia ter usado o Mapa do Maroto, mas Sol estava sem a venda... então resolveu confiar em sua audição) - que a bruxa não quis interrompê-lo.

Finalmente chegaram a uma grande parede branca e, oposta a ela, estava uma enorme tapeçaria onde Barnabás estava sendo golpeado por trasgos.

- Fique aí – mandou Sirius, encostando a garota na tapeçaria.

Sol não protestou e ficou lá bem quietinha tentando adivinhar o que diabos Sirius queria fazer. Viu o bruxo se concentrar novamente e andar de um lado para outro; andava da janela ante a enorme parede branca para um vaso de tamanho natural que estava no outro lado. Não agüentou de tanta curiosidade e perguntou:

- Sirius, o que…? – a garota parou de falar assim que uma porta bastante lustrada apareceu na parede.

O bruxo a olhou sorrindo.

- Entre.

- Você quer que eu entre numa porta que, até alguns segundos atrás, não estava aí, sem nem ao menos saber o que tem dentro dela? Sinto muito, Sirius, mas eu não entro aí, não antes de você.

- Nossa! Como você é desconfiada, hein? – disse e em seguida passou pela porta.

Ao ver Sirius entrar, Sol respirou fundo numa tentativa de arrumar coragem, e entrou. Ficou boquiaberta quando viu o conteúdo da sala.

- Esta é a Sala Precisa, ou Sala do Requerimento, você escolhe – falou Sirius parecendo um narrador de jogos de quadribol. – O nome já diz tudo: quando você está precisando de algo e se concentra nisso, puf! Ele aparece.

Sol não conseguiu responder nada. Ficou ainda admirando aquela sala cheia de enfeites, com uma música suave tocando – que ela tentou descobrir da onde vinha, mas não encontrou -, e toda iluminada com luzinhas coloridas. No fundo da sala havia uma grande mesa decorada com rosas, cheia das sobremesas que ela mais gostava. E o que mais a espantou foi o fato de Sirius ter se concentrado para que aquela sala maravilhosa aparecesse. Ela nunca imaginara que o bruxo fosse... romântico.

- E então, vai dançar comigo ou ficará parada a noite inteira?

Sem jeito, os dois foram se aproximando. Sirius parecia que tinha nascido sabendo dançar. Ele a guiava perfeitamente. Enquanto dançavam, conversaram sobre várias coisas: sobre como Sirius soubera da existência da Sala do Requerimento – o bruxo enrolou Sol, mas não disse nem uma palavra a respeito -; sobre a possível reconciliação de Luan e Lílian – Sol contou-lhe sobre a coruja que a garota recebera há algumas horas atrás e confessou que tinha quase certeza de que eles estavam juntos, embora era preferisse que Lílian ficasse com Tiago -; sobre o que eles iriam fazer após Hogwarts; sobre os gostos um do outro – e Sol descobrira que Sirius e ela tinham gostos bem parecidos...

Sol, que desde o momento em que começara a dançar com Sirius, não tivera coragem de encarar o bruxo, resolvera dar uma espiada e não gostou nem um pouco da careta que ele fez. Parou de dançar e se distanciou dele.

- Desculpe-me, deveria ter lhe dito que não sabia dançar – disse envergonhada.

- Não se preocupe, eu percebi isso no quinto pisão consecutivo que você deu no meu pé – respondeu sorrindo. – Mas eu gostei! - adicionou assim que percebeu que a bruxa estava ruborizada. – Digo, não gostei dos pisões – começou ele ao ver o olhar incrédulo que a garota lhe lançou -, mas gostei de estar assim, tão próximo de você.

Sol ficou se perguntando o porquê de ela ter pensado nas palavras: Sirius é tão fofo. Aliás, por que sua mente arranjou esta palavra? Sirius era o cafajeste da Grifinória, não o fofo!

- Acho melhor irmos – sugeriu.

- Mas já? Escute, se for por causa das pisadas… se você quiser, posso te ensinar...

- Não, não é isso. Eu realmente preciso ir – riu a garota. – E, Sirius, já estamos aqui há três horas e meia! Daqui a pouco o dia nasce!

- Hum... então vamos.

Saíram da sala e Sol não conseguiu não se espantar ao ver que a porta já não estava mais lá. Mais uma vez, caminharam em silêncio, os dois atentos a qualquer sinal, tanto de Filch quanto de sua gata, Madame Nor-r-ra.

Finalmente chegaram em frente ao retrato da Mulher Gorda. Sirius disse a senha – a Mulher Gorda estava tão sonolenta que nem reparou que os dois estavam passeando pela escola num horário impróprio -, e a entrada surgiu.

A sala comunal permanecia vazia e escura, mas não tanto quanto na hora em que eles tinham saído de lá. Sol estava certa: o dia nasceria em breve.

Andaram até próximo do início das escadas em espiral - as escadas que davam nos dormitórios femininos. Sol estava pronta para dizer "Foi uma noite maravilhosa!", e pedir pela milésima vez desculpas, quando Sirius resolveu brincar com os seu cachinhos negros. Ela ficou paralisada, principalmente depois que o bruxo começou a se aproximar dela, mais e mais... até que:

- Foi uma noite maravilhosa – sussurrou no ouvido dela, e então subiu as escadas que levavam aos dormitórios masculinos.

Sol continuou ali, em frente às escadas, boquiaberta. Nenhum beijo? Ela saiu com Sirius Black e eles não se beijaram nenhuma vez? Só agora ela entendera o porquê do bruxo ter dito que as garotas queriam que ele fosse pervertido... Ok, ela não queria que ele fosse pervertido... Talvez, hum... só um pouquinho, pensou sorrindo maliciosamente.

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Sirius chegou no dormitório e viu que seus amigos ainda estavam acordados – Remo e Tiago jogavam xadrez bruxo em cima da cama de Remo enquanto Pedro os observava.

- Péssimas notícias, Tiago – disse enquanto trocava de roupa. – Tudo indica que Lílian e Luan estão mesmo juntos. Além desses encontros durante o horário das refeições em que eles ficam sozinhos conversando sabe-se-lá-o-quê, Luan inventou de mandar uma coruja para Lílian com uma rosa amarela que, de acordo com Sol, significa amor eterno. Nem me pergunte o conteúdo da mensagem, pois Lílian não revelou isso nem para as amigas!

- Então eles estão realmente juntos! – finalmente Pedro absorvera a informação que o amigo trouxera.

- Mas não por muito tempo – disse Tiago.