Capítulo Nove – Repetindo A Dose
- Intuição feminina! Se bem que as pernas peludas e os dentes parecidos com os de um roedor me ajudaram a reconhecê-lo – disse Lílian, e suas amigas começaram a gargalhar.
- Ah, desculpe, professor – desculpou-se Ingrid ao notar o olhar malévolo que o professor Flitwick lançou para elas.
- Eu adoraria ter visto Pedro vestido de garota – confidenciou Anne maldosamente ao olhar para o garoto que estava a alguns metros de distância com os amigos.
- Eu queria ter visto a cara do Luan quando soube que quem estava em cima dele era Pedro! – disse Lua entre risinhos.
- Por falar em Luan – começou a falar Lílian –, Sol, por que você entregou aquele bilhete para ele?
- Por que Sirius pediu. Lembra-se de que eu fui procurar o meu tinteiro? Então, antes de eu subir ao dormitório, ele pediu-me para entregar o bilhete a Luan; disse-me que era sobre o Quadribol. Bem, como a Grifinória irá jogar neste sábado contra Lufa-lufa, eu acreditei no que Sirius me falou e entreguei o bilhete.
- Sirius, de novo Sol? – perguntou Lua nervosa. – Você ainda não percebeu que ele não presta? Viu como ele te enganou?
- Sua irmã está certa. Acho melhor você começar a evitar o Sirius – aconselhou Ingrid. – Está claro que você será a próxima vítima.
- E é aí que nós entramos: estamos aqui para ajudá-la a evitar que isso aconteça – disse Lílian em tom de brincadeira.
- Quem bom. Fico feliz em saber que tenho amigas tão corajosas! – disse Sol, sorrindo enquanto se culpava mentalmente por estar enganando suas amigas.
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- Ótimo! Agora virei piada! – reclamou Pedro ao ver Lílian e suas amigas rindo dele.
- Relaxa, Rabicho. Daqui a algumas semanas elas esquecem... – disse Sirius.
- Semanas? – exclamou Pedro.
- Se eu fosse você, não ficaria tão chateado com isso – disse Remo enquanto enfeitiçava um sapo, fazendo-o pular sem parar. – Você tem sorte, pois essas garotas são discretas, não são de ficarem espalhando historinhas por aí, e por Luan ser realmente calmo... Do contrário, além de virar piada de Hogwarts inteira, você ainda ficaria um bom tempo na ala hospitalar!
Pedro tremeu ao imaginar a cena.
- É, você tem razão, poderia ser pior.
- E você, cara, o que pensa em fazer? - perguntou Sirius a Tiago, que desde o tapa que levara ficara tão triste que mal falava.
- Esperar a poeira baixar.
- Esta foi a melhor idéia que você teve hoje! – disse Remo rindo. – Dê um tempinho e, quando Lílian se acalmar, você pode tentar se aproximar dela com o argumento de que você quer se desculpar.
- É... talvez funcione... – falou Tiago sem por muita esperança em suas palavras.
A sineta tocou e vários alunos começaram a guardar seus materiais, exceto Sirius que, antes de colocar tudo em sua mochila, rasgou um pedaço de pergaminho e escreveu rapidamente nele. Em seguida, jogou seu material de qualquer jeito na mochila, saindo da sala correndo.
- Aonde ele vai? – quis saber Pedro.
Remo e Tiago trocaram olhares.
- Não é óbvio? – perguntou Tiago mal-humorado.
- Sol – disse Remo ao ver que Pedro realmente não sabia.
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- Uma coisa é fato: Tiago realmente gosta de você, Lílian. Quero dizer, armar tudo isso... – falou Anne enquanto caminhava com suas amigas para a aula de Runas Antigas.
- Ele não gosta de mim! – disse Lílian interrompendo a amiga. - Tiago insiste comigo, pois sou a única garota que sempre diz "não". Sou apenas um desafio para ele.
- Eu também acho que ele não gosta de você – concordou Lua. – Luan, sim. Dá para notar que ele gosta muito de você.
- Eu também acho. E mais, se Tiago namorasse Lílian, era certeza que, depois de um tempo, ele acabaria desistindo dela, pois já teria conseguido vencer o desafio. Eu realmente acho que Tiago não gosta da Lily e sim de discutir e brigar com ela – opinou Ingrid.
- Vocês já pensaram que talvez Tiago goste dela de verdade, que faz estas loucuras para tê-la, pois acha que dessa forma ele conseguirá conquistá-la e que ele age como um bobo porque não sabe como lidar com o amor? – replicou Sol. – AI!
- Desculpe – desculpou-se Sirius ao esbarrar em Sol e, em seguida, saiu andando.
- É – começou a falar Ingrid enquanto acompanhava os passos de Sirius com um olhar de terror -, definitivamente você foi a escolhida...
- Bem, pelo menos não temos que assistir a todas as aulas que ele e a sua turminha têm (isso já ajuda Sol, deixando-a afastada dele por um tempo), como acontecia nos primeiros anos de Hogwarts – disse Lílian ao ver Sirius subir as escadas, provavelmente indo até a sala de Estudo dos Trouxas.
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Sol estava tirando suas vestes para tomar banho quando um pequeno pedaço de pergaminho caiu de um dos bolsos.
Na mesma hora, no mesmo lugar.
S.B.
Então foi por isso que ele esbarrou em mim, pensou Sol depois de terminar de ler a mensagem.
Sol estava encantada com o primeiro encontro, porém estava decidida a não aparecer neste segundo. Tinha medo de acabar gostando mais ainda do bruxo; tinha medo de se magoar futuramente por gostar tanto dele e ver que não era correspondida – como acontecia com muitas garotas de Hogwarts; tinha medo de descobrir que suas amigas estavam certas - Sirius apenas a usaria. Além disso, a garota estava morta de sono – apesar do almoço ter espantado um pouco a sonolência, com o final da tarde ele retornara.
Mas, por outro lado... Sirius tinha sido tão atencioso e gentil com ela... Eles tinham se divertido tanto na noite anterior. Não importavam os inúmeros truques que o garoto pudesse usar, ela tentaria ao máximo não cair, não acreditar. Não iria deixá-lo seduzi-la. Além disso, se ele quisesse bancar o abusado, oras, ela era uma bruxa! Só precisaria usar o feitiço certo e pronto.
É, eu irei, pensou enquanto saía de debaixo do chuveiro.
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Novamente, Sol deixava seu dormitório de madrugada e trocava de roupa enquanto descia as escadas em espiral, encolhendo sua camisola e guardando-a no bolso.
Chegando à sala comunal, encontrou Sirius próximo às janelas com uma vassoura na mão.
- Aonde vamos?
- Você verá – respondeu o bruxo com um aspecto misterioso.
Sirius abriu uma das janelas, montou a vassoura e esperou Sol montar também; o que não aconteceu. O bruxo revirou os olhos e então disse sem conseguir esconder a raiva:
- Prometo que não te seqüestrarei, que você voltará sã e salva, antes do dia nascer. Agora podemos ir?
- Hum... desculpe – disse meio sem jeito; sua intenção não era irritá-lo, ela apenas queria ter certeza de que não aconteceria nada demais, afinal, ela conhecia muitas histórias de Sirius Black.
A bruxa montou na vassoura, Sirius deu um impulso e, em questão de segundos, estavam voando.
Os dois sobrevoaram uma boa parte dos terrenos de Hogwarts que, naquele momento, estava escura e silenciosa. E então, Sirius e Sol começaram a descer.
Chegando ao solo, Sol foi a primeira a desmontar da vassoura.
- Vai me dizer que me trouxe até aqui para jogarmos quadribol! – brincou.
- Não - riu Sirius. – Embora estejamos num campo de quadribol, trouxe você aqui porque – ele tirou do bolso de suas vestes um pequeno embrulho que, com um toque de sua varinha, foi aumentando cada vez mais – eu fui o culpado por você ter perdido o café-da-manhã. Achei que poderia compensá-la.
O pequeno embrulho transformou-se numa grande cesta de piquenique. Sirius tirou desta um grande lençol xadrez que colocou sobre o gramado verde do campo de quadribol e, com a ajuda de Sol, começou a tirar o conteúdo da cesta e colocá-lo em cima do pano xadrez.
- Nossa! Isso é um verdadeiro banquete! – disse Sol após colocar o último item da cesta no pano xadrez. – Você deve ter tido um enorme trabalho para preparar tudo isso.
- Bem, para ser sincero, eu não tive trabalho algum...
Nossa, como ele é modesto! Nunca imaginei que fosse... Ele deve sim ter tido um trabalhão para fazer tudo isso, pensou a bruxa enquanto se sentava no gramado.
O que Sol não sabia era que tanto a cesta quanto a comida, tudo aquilo, fora arrumado pelos elfos domésticos que são encontrados facilmente na cozinha de Hogwarts.
- Ah, Sirius? – começou a dizer Sol após alguns minutos de silêncio. – Sobre o plano de Tiago que não deu certo...
- Você teve problemas com Lílian ou com as outras garotas por causa disso? – Sirius interrompeu Sol.
- Não – respondeu à garota após um grande gole de cerveja amanteigada.
- Então não vejo motivo para tocarmos nesse assunto. Deixemos que o assunto Tiago e Lílian seja resolvido por Tiago e Lílian; ontem à tarde tivemos a prova de que, se entrarmos nessa história, só atrapalharemos.
- Mas...
- Eu realmente não me importo com o que você inventou para convencer Lílian de que você não sabia o conteúdo do pergaminho; confio em você, sei que não falou nenhum absurdo e se Lílian vier me procurar a fim de confirmar a história – o que duvido, pois certamente ela confia na amiga -, eu confirmarei – disse Sirius surpreendendo Sol, pois era exatamente sobre isso que ela gostaria de falar com ele.
Silêncio. Após alguns minutos, só o ruído de animais e do farfalhar das folhas, possivelmente da Floresta Proibida, eram ouvidos.
- Então, está preparada? – perguntou Sirius, finalmente quebrado o incomodo silêncio.
- Preparada para quê?
O bruxo sorriu quando se levantou, estendeu as mãos para a garota, que as segurou e as usou como apoio para se levantar.
- Oras! Para a sua primeira aula de dança.
- Eu sou uma péssima aluna – advertiu Sol.
- E eu um ótimo professor...
Novamente, os dois se aproximaram. Sol deixou que Sirius a guiasse; o bruxo pegou uma das mãos da garota e colocou sobre seu ombro, e uma de suas mãos na cintura da garota – ao fazer este movimento, o bruxo trouxe Sol mais para junto de si.
- Vamos começar bem devagar para você ir pegando o jeito, ok?
- Certo.
- Certo, quando eu disser três.: Um, dois… três...
- Desculpe – desculpou-se Sol, pois assim que começaram a se mover a bruxa pisara no pé de seu par.
- Tudo bem, você ainda está aprendendo. Não esperava que você se saísse bem logo no começo. Vamos tentar de novo. Um, dois... três.
Os dois ficaram praticando até Sol pegar o jeito da dança.
- Veja só! – disse a bruxa sorridente. – Não pisei mais nos seus pés!
- E eles estão muito gratos por isso – brincou o outro.
- Bobo! – disse a garota dando um leve tapa no ombro de Sirius.
- Bom, agora que você já está dançando tão bem uma música lenta, acho que já podemos ir para a próxima etapa: música agitada!
- Sirius, eu não sei se essa é uma boa...
Tarde demais, o bruxo já havia rodopiado-a algumas vezes seguidas. Quando Sirius parou de rodopiar, Sol teve que se segurar fortemente nele, pois quase caiu de tão tonta que estava.
- Menos rodopios – concluiu Sirius.
Sol sentiu o hálito quente dele bem próximo de seus lábios. Era uma questão de centímetros, logo se beijariam. Ela queria muito que isto acontecesse, embora temesse que o garoto poderia querer mais que simples beijos. Sirius foi se aproximando mais, e bem devagar, Sol fechou os olhos, sentia que ele estava mais próximo a cada segundo e, então...
- Acho melhor voltarmos para a sala comunal – disse o bruxo soltando Sol bruscamente.
- Ahhh... certo – falou a bruxa confusa. Por que ele não me beijou de novo?
Com um rápido movimento de varinha, Sirius conseguiu guardar o resto do piquenique na cesta. E, com um segundo movimento, aquela enorme cesta havia encolhido, voltando a ser apenas um mero embrulho, que o bruxo pegou e guardou no bolso de suas vestes. Em seguida, Sirius montou na vassoura e Sol fez o mesmo.
Novamente estavam na sala comunal. Ambos não trocaram palavras desde a saída do campo de quadribol. Ao fechar a janela por onde tinham acabado de entrar, Sirius viu Sol bocejar.
- Foi tão chato assim?
Ela riu.
- Não! Eu adorei o piquenique! A verdade é que não estou acostumada a passar duas noites consecutivas em claro. Não sei como você consegue. Quero dizer, eu não te vi cochilar em nenhuma das aulas que tivemos, nem um bocejo sequer eu vi! – após dizer isso Sol ficara vermelha. Ela acabou de admitir que o observa nas aulas!
- Ah... Eu estou acostumado. Bem, sempre é difícil se levantar de manhã, mas quando me levanto, meu sono vai embora. Em todo caso, peço desculpas por ter feito você ficar duas noites consecutivas acordada. Eu vi que você dormia na maioria das aulas e mesmo sabendo do seu cansaço, eu te convidei, mas... a noite anterior foi tão agradável que quis repeti-la logo.
Eu ouvi direito? Ele… ele também fica me observando... Ah, Solzinha, para de se iludir, por favor!
- Não se desculpe. Eu adorei as duas noites e não me importaria em ficar acordada por uma terceira noite seguida.
Sirius sorriu.
- Isto por um acaso é um convite?
- Por que não? – ela deu de ombros.
- Seria ótimo, mas tenho que recusar; se você já está morta de sono agora, imagine depois de três noites consecutivas sem dormir?
- É... você está certo.
- Bem – começou a dizer Sirius ao se aproximar de Sol e lhe dar um beijo na testa -, boa noite.
