Capítulo Onze – Conversando Com O Armário

Ouviu-se a sineta tocar ao longe e anunciar o final de mais uma aula e o início do horário de almoço. Sol, Lua e Anne foram as primeiras a caminharem da Floresta Proibida para o castelo.

Nesta quinta-feira, o sétimo ano teve que acompanhar um unicórnio em seu habitat natural. O professor Richard Rizzo vinha ensinando no decorrer do ano as diferenças entre os animais domesticados e selvagens.

A aula poderia ser considerada tranqüila – os alunos seguiram cada passo do unicórnio e fizeram anotações para a redação que o professor pediu -, se não fosse pelo fato de Ingrid, sem querer, ter sentado em cima de um Tronquilho. Por sorte, o professor de Trato das Criaturas Mágicas estava próximo e conseguiu salvar a garota antes que o animal arrancasse seus olhos, mas infelizmente Ingrid quebrou o braço direito – apesar de pequeno o Tronquilho é muito forte e ágil.

Lílian, que já voltara para seu humor habitual – suas amigas evitaram falar muito com a bruxa no dia anterior, pois a garota estava meio agressiva devido ao seu mau humor -, ofereceu-se para levar Ingrid até à ala hospitalar enquanto Sol, Lua e Anne ficaram encarregadas de guardar o lugar das amigas na mesa da Grifinória.

- Meninas – começou a dizer Sol assim que chegaram no Salão Principal -, vocês poderiam guardar o meu lugar por uns minutinhos? Eu vou ao banheiro.

- Tudo bem, mas não demora muito; somos apenas duas e temos que guardar, além de nossos lugares, mais três – disse Lua.

Sol saiu do Salão Principal, que aos poucos ia ficando mais e mais cheio, e foi caminhando até o banheiro mais próximo, o do primeiro andar.

- Olá – cumprimentou uma garota com seus longos e soltos cabelos castanhos escuros e ondulados. Era Elisabeth Brooks, monitora da Corvinal.

- Oi – disse Sol depois de passar por Elisabeth, que havia acabado de sair do banheiro.

Como sempre, o banheiro feminino estava bem movimentado: havia garotas arrumando os cabelos em frente ao enorme espelho retangular preso à parede; outras conversavam sobre garotos enquanto esperavam o banheiro ser desocupado; outras trocavam dicas de beleza…

Após sair do banheiro, Sol sentira-se extremamente aliviada, pois ela odiava ver alguém vomitar – principalmente se esse alguém resolvesse vomitar justo na hora de uma refeição -, e foi o que ela viu: Chris Wendy, uma Lufa-lufa, colocando para fora tudo o que acabara de engolir no almoço. E, enquanto Wendy vomitava, sua amiga Ashley Maeder anotava num pergaminho os ingredientes de uma poção inibidora de apetite, que Lia Moss, uma corvinal, lhe ensinava.

Seu estômago dava voltas e mais voltas. Via e revia Wendy vomitar... Definitivamente a fome que ela sentia tinha evaporado. Estava prestes a vomitar no corredor – já sentia algo subindo por sua garganta -, quando ouviu uma voz conhecida que a fez esquecer do vomito de Wendy, e até fez com que a vontade de vomitar de Sol se dissipasse.

- Então, hoje à noite está bem para você? - perguntou Sirius à garota com longos cabelos escuros e ondulados.

Elisabeth! Apesar de eu só estar a vendo de costas, tenho certeza de que é ela, pensou.

- Tudo bem. Acho melhor nos encontrarmos de madrugada próximo ao banheiro dos monitores; a essa hora a possibilidade de alguém nos encontrar é mínima.

Filho da mãe! Diz que sente saudades de mim, mas está marcando um encontro com outra, pensou a bruxa. Sol estava tão nervosa que resolveu não ficar mais ouvindo, resolveu dar uma palavrinha com Sirius.

- Todas estavam certas: você, Sirius Black, é um cachorro! – disse Sol após sair detrás de uma armadura onde esteve ouvindo a conversa dos dois.

- Sol...

- E quanto a você, Elisabeth – começou a dizer Sol, interrompendo Sirius -, tenha cuidado: Sirius é muito falaz! – disse a bruxa com um tom forte, porém demonstrando fraqueza com os olhos cheios de lágrimas.

Depois de dar o aviso À monitora da Corvinal, Sol saiu correndo para que nenhum dos dois a visse chorando.

- Sol, espere! – pediu Sirius.

Ao ouvir os passos de Sirius atrás dela, a bruxa começou a correr ainda mais.

Talvez fossem as longas pernas de Sirius; talvez fosse o fato do bruxo estar em excelente forma por causa do quadribol; talvez ele tenha feito algum feitiço; ou talvez fossem as duas opções anteriores. Fosse o que fosse, o fato é que o garoto estava alcançando Sol facilmente.

Ao perceber que Sirius logo a alcançaria, a bruxa desistiu de correr pelos corredores do castelo e se escondeu no primeiro lugar que encontrou: o armário de vassouras. Entrou dentro do cubículo, sentou-se, e deixou as lágrimas contidas em seus olhos escorrerem livremente pelo seu rosto.

- Sol! Sol! Abra este armário! – Sirius pediu assim que chegou perto do móvel.

- Não! – respondeu desafinando a voz.

- É o que vamos ver...

Ele tirou do bolso de suas vestes a varinha e disse "Alorromora!". Nada aconteceu. O Alorromora, só funciona quando a porta está fechada magicamente ou fechada por chave. Certamente o feitiço falhara, pois o que estava prendendo a porta eram as mãos da garota.

- Certo – disse ele guardando a varinha. – Sol, saía daí, precisamos con... – calou-se abruptamente ao notar que três sonserinas primeiranistas passavam pelo corredor e o olhavam como se ele fosse um louco. – Precisamos conversar e, convenhamos, conversar com um armário é um tanto quanto constrangedor.

- Na... não! – respondeu aos soluços. – Não quero conversar com você... porque sei que... você vai conseguir me enrolar... porque eu... ah, que droga! Quero dizer, eu sou uma idiota mesmo, como pude pensar que... que... nós nem se quer nos beijamos e eu... Sirius, por favor, vá em... bora!

- Não antes de esclarecermos algumas coisas! – teimou o outro.

- Esclarecer? – repetiu tristemente. – Mas está tudo muito claro: eu fui mais uma que acabou caindo na sua rede. Você é o garoto mais cafajeste que já conheci em toda a minha vida!

- Sol, eu e Elisabeth não temos nada!

- Claro que sim! E eu sou a nova apanhadora da Grifinória! Oras, Sirius, vá me dizer que você não estava convidando Elisabeth para sair.

- Eu não a convidei... quero dizer, convidei – os soluços de dentro do armário aumentaram -, mas não é o que você está pensando! – falou o bruxo enquanto terceiranistas da Grifinória o observavam enquanto passavam pelo corredor.

- Não é o que estou pensando! – repetiu nervosa. – Então me diga, o que então você e Elisabeth estavam fazendo?

- Bem... na verdade – começou a falar o garoto, sem jeito -, eu não posso contar.

- Não pode me contar ou não pensou ainda numa desculpa aceitável? – ela ouviu Sirius recomeçar a falar, mas a garota não deu chance para que ele terminasse: - Sirius, a única verdade de que tenho conhecimento é que você é um moleque inflexível cuja única utilidade que vê nas mulheres é a diversão!

- Eu NÃO sou esse monstro que você pensa! – gritou ele sem paciência – E vou provar isso.

Sol ouviu passos apresados. Deveria ser Sirius, mas como Sol não tinha certeza, resolveu permanecer no armário. Talvez seja um truque, talvez Sirius ainda esteja lá fora...

Novamente ouviu passos.

- Sol? – Era Remo.

- Sim?

- Você poderia sair daí para conversarmos? – perguntou amigavelmente.

- Não! Não saio porque sei que aquele cachorro está aí do seu lado!

- Cachorro? – sussurrou Remo – Então ela descobr...?

- Não! – respondeu Sirius no mesmo tom que Remo. – Ela está nervosa pelo episódio entre Elisabeth e eu que lhe contei, só isso.

- O que vocês estão cochichando aí? – quis saber Sol.

- Nada! – responderam em uníssono.

- Aluado, pelo jeito ela não irá sair. Você terá que contar a ela e ao armário.

- Sol, Sirius me chamou e... bem, vim dizer que ele está dizendo a verdade; Elisabeth e ele não estão saindo, bem, pelo menos eu espero que não. – Ao ver o olhar malévolo que o amigo lançou, Remo corrigiu-se: - Er… eu estava brincando. Eles não estão saindo. Sol, o que quero dizer, é que Sirius estava sim convidando Elisabeth para sair, mas não com ele e sim comigo... Eu sei que isso é um pouco estranho – Remo falou quando notou o silencio da bruxa após a revelação -, mas eu pedi para que Sirius a convidasse em meu nome porque... bem, eu gosto dela a um bom tempo, mas sempre que vou falar com ela sobre o assunto uma onda de insegurança toma conta de mim e acabo não falando nada; adiando para uma próxima oportunidade. Bem, pedi para Sirius não contar isso para ninguém porque é um tanto quanto constrangedor... Mas, enfim, fui obrigado a contar. Afinal não queremos que você viva o resto da vida dentro do armário! Céus, Sol fale alguma coisa! – pediu o garoto ao ver que a garota continuava em silêncio.

- A história é muito bonita e comovente, mas quem é que garante que ela é verdadeira? – finalmente Sol resolveu se pronunciar – Quero dizer, você é um dos melhores amigos de Sirius, você pode muito bem ter inventado esta história...

- Eu receio que essa história seja verdadeira – disse Elisabeth quando se aproximou do armário e dos bruxos.

- Elis? – perguntou Remo assustado. – De onde você surgiu?

- Devo confessar que estive atrás de uma coluna desde o momento em que Sol se trancou no armário. Eu resolvi seguir Sirius e Sol, porque ela estava muito alterada e, como monitora, achei que seria bom estar por perto para evitar possíveis acidentes. Enfim, Sol, sei que já ouviu, mas mesmo assim, repito: o que eles disseram é verdade; Sirius me convidou para sair em nome de Remo e eu aceitei.

- Aceitou? - repetiu Remo incrédulo.

- Digamos que o sentimento é recíproco e que eu só estava aguardando certa pessoa se pronunciar... E se aquela onda de insegurança ainda o estiver dominando-o – brincou Elisabeth -, acho que isto pode secá-la.

Elisabeth aproximou-se de Remo e roubou-lhe um beijo.

- Ótimo! – exclamou Sirius irritado. – Enquanto os dois se beijam e se entendem, eu tenho que ficar aqui, tentando me acostumar com a idéia de namorar com um armário...

- Você está me pedindo em namoro? – perguntou Sol com a cara toda inchada, finalmente abrindo a porta do armário.

- Não. Estou pedindo o armário em namoro! É óbvio que estou pedindo você em namoro.

- Acho que chegou o momento de sairmos de fininho - sugeriu a monitora da Corvinal a Remo.

- Tirou as palavras de minha boca – disse sorrindo e, em seguida, os dois caminharam de volta para o Salão Principal.

- Desculpe – murmurou Sirius ao notar que Sol fechara a cara. – Mas é que você conseguiu me irritar com essas desconfianças... Bem, talvez você estivesse certa; a princípio, eu realmente não tinha as melhores intenções, mas naquela primeira noite eu quis tanto te provar que você não precisava ficar tão desconfiada, que eu era um cara legal... acabei te conhecendo melhor e - eu sei que isso pode parecer estranho, afinal só nos falamos apenas algumas vezes -, eu não sei explicar... eu simplesmente não consigo tirá-la da minha cabeça.

Sol sorriu e o abraçou fortemente, dizendo, logo depois, em seu ouvido:

- Eu sei exatamente o que você quer dizer; eu também estou apaixonada.

Ao dizer isso, Sirius empurrou Sol para dentro do armário, entrando em seguida e finalmente se beijaram pela primeira, segunda, terceira, quarta, quinta, sexta vez.

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- Onde você estava? – perguntou Lua assim que Sol entrou na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.

– E nem adianta dizer que estava no banheiro, pois nós fomos procurá-la lá – informou Anne.

- Bem, eu...

Sirius entrara na sala – Sol pediu para que ele chegasse depois dela, pois achava que ainda não era o momento de eles assumirem o namoro; primeiro ela teria que preparar as amigas para depois dar a notícia. Os dois trocaram longos e significativos olhares.

- Você não estava com ele, estava? – quis saber Lua.

- Com quem? – perguntou Sol assim que a voz de sua irmã afastou seus pensamentos para longe do armário de vassouras.

- Oras! Com Sirius! Pensa que não vi os olhares que acabaram de trocar?

- Sirius e eu? Oh, não, não – mentiu. – Eu estava... Eu fui... Ei, olhem: Lílian e Ingrid chegaram! – exclamou Sol aliviada. Salva pelo gongo!

- Ingrid, foi algo muito grave? Quero dizer, vocês nem apareceram para almoçar – disse Anne.

- Nada grave. Só terei que usar esta tipóia por uns dias. Demoramos porque tivemos que esperar a poção que Madame Pomfrey me deu dar efeito.

- Bem, pelo menos aprendemos uma lição com isso tudo: sempre olhe para onde você vai se sentar! – brincou Lílian.

- Chega de conversa! - mandou o professor assim que entrou na sala. – Página quinhentos e quatro.

Sol ouviu o som de livros sendo abertos por todos os lados e não conseguiu segurar o sorriso de felicidade; seria uma aula teórica. Minutos e minutos de leitura seguida por mais minutos de explicações... isso seria suficiente para que Lua esquecesse que não teve sua pergunta respondida.

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- Pelo sorriso estampado no seu rosto, eu acho que deu tudo certo entre você e Sol – disse Remo quando Sirius sentou-se ao seu lado.

- Estamos... namorando. Nossa! Nunca pensei que diria algo do tipo. Ah, e, Remo, não diga "eu sabia que você gostava dela" ou algo do gênero, que eu juro que te azaro! – ameaçou num tom brincalhão.

- É claro que não vou dizer isso, afinal, você sabe que já sabia.

Sirius revirou os olhos, mas não discutiu - estava contente demais para isso.

- Quem diria – começou a falar Pedro. – Sirius Black, o mulherengo, namorando!

- Oras! Pedro, eu não era tão mulhere... – Sirius calou-se. Finalmente perceberá que Tiago estava presente. – Er... ele está bem? - perguntou quando observava o amigo que mantinha seus olhos fixos em Lílian que acabava de chegar, acompanhada por Ingrid.

- Hum... na verdade, Tiago está na mesma – informou Pedro.

- Eu realmente achei que ele ficaria melhor se não visse Luan e Lílian juntos – admitiu Remo – Ele não os viu mais juntos, pois o horário em que eles normalmente conversam é o horário das refeições, e isso conseguimos evitar atrasando ou adiantando a ida dele para o Salão Principal... Mas, mesmo assim, ele continua tão pior quanto antes.

- Para você ter uma idéia, Sirius, do quão mal Tiago está, por várias vezes Snape, o Seboso, passou por nós e Tiago em nenhum momento pensou em azará-lo! – contou Pedro.

- Eu nunca imaginei que veria Tiago tão mal assim – confessou Sirius.

- Nunca vimos Tiago assim, porque Lílian nunca namorou antes – comentou Remo. – Sem falar que existe o fato desse ser o nosso último ano em Hogwarts. Talvez, quando nos formarmos, Tiago nunca mais veja Lílian... isso tudo deve estar afetando o coitado!

- Ei cara! – disse Sirius dando leves tapinhas nas costas do amigo, que ainda estava distraído observando sua amada de longe. – Não fique assim. Tenho certeza de que Lílian percebera que Luan é um babaca e irá procurar por você.

- Eu estou torcendo para que isso aconteça, mas se demorar muito... Eu desistirei, afinal, estou há anos investindo nisso e praticamente nada aconteceu – desabafou.

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Eu queria agradecer a TODOS por estarem lendo e comentando.
Não é a minha melhor fic. Eu descobri que definitivamente não sou muito boa para T/Ls... mas queria agradecer por pelo menos ver que tem gente que está gostando!

Como disse no início desta fic: eu havia escrito a fic, mas acabei não passando do papel para o PC o restante dela... enfim... este era o último capítulo que passei para o PC.

Agora terei que reescrever o final e preciso de uma beta – dessa vez uma que GOSTE de T/L.

Bom... é isso.

Beijos.