Uma estrela em campo
II
- Ron, quando estiveres pronto vem ter connosco. – Disse Cwen, que olhava para ele com interesse.
- Sim. E vê se te despachas. – Continuou Petra. – Nós vamos começar o aquecimento. – Virou-lhe as costas para sair e falar com Eda. – A Ânia já chegou? – Perguntou fechando a porta atrás de si. Ron ficou sozinho no balneário, estava com uma camisola laranja com uma bala de canhão adornada na frente e dois "Cs" em amarelo nas costas. Estava finalmente onde sempre ambicionara estar. Vestiu a camisola e as calças pretas, que faziam parte do equipamento, e olhou-se ao espelho. Estava a admirar o seu novo visual quando o espelho lhe falou.
- Fica-te muito bem, meu rapaz. Keeper, suponho.
- Sim. – Respondeu tentando perceber de onde vinha a voz.
- Ok. Então, nome e número.
- Ronald Weasley, 12. – Disse quase sem pensar. De imediato, o número 12 surgiu-lhe nas calças e nas costas da camisola adornado juntamente com as letras. O nome "R. Weasley" brilhava a beira da gola num amarelo dourado.
- Podes ir meu rapaz. Dá o teu melhor lá fora.
Ron saiu do balneário com a sua vassoura na mão e alguns pensamentos passaram-lhe pela cabeça. Caminhou olhando a chão, tentando não encarar os colegas que via lá ao longe a voar. Como poderia ele substituir a actual keeper? Poderia ele ceder à pressão? Ainda não tinha respondido às perguntas, quando alguém se cruzou no seu caminho. Olhou para cima e deu de caras com uma rapariga que não conhecia.
- Quem és tu? – Perguntou a rapariga num sotaque que Ron sabia não ser inglês.
- Ronald Weasley. E tu, quem és?
- Ânia, chaser dos Braga Broomfleet. Prazer! Que fazes por aqui? – Ânia era uma rapariga aparentemente normal. Baixa, ou pelo menos bastante mais baixa do que Ron, cabelo comprido um pouco ondulado e castanho. Os seus olhos, também castanhos, brilhavam, olhando-o por entre um sorriso.
- Então, não és inglesa?
- Não, sou portuguesa. O meu clube emprestou-me aos Chudley Cannons. Acho que foi tipo um contrato amigável.
- Ainda bem. Ainda não estás equipada? – Ron, finalmente, notou na roupa que ela trazia, não era, sem dúvida, o equipamento dos CC. Trazia uma mini-saia preta com dois pequenos "Bs" a branco e um top vermelho com dois "Bs" grandes nas costas, também a branco. O cabelo que ondulava pelo pescoço, perdendo-se de vista sobre os ombros, era seguro por uma fita de cor preta. Era, sem dúvida, muito bonita. A sua observação foi notada.
- Passa-se alguma coisa? – Perguntou Ânia intrigada, vendo o olhar de Ron um pouco esgazeado e mostrando-lhe um sorriso.
- Não, não. – Respondeu atarefado. - Isso é uma Nimbus 2001? – Perguntou desviando o assunto e dando uma pequena nota de admiração, olhando a vassoura que ela trazia na mão.
- Sim! Recebi-a como prenda nos meus anos. – Disse olhando a vassoura com orgulho. – Tens uma Cleansweep Eleven! Ouvi dizer que são bastante estáveis.
- Sim, por acaso é! – Disse animando-se um pouco por ela não ter feito nenhum tipo de comentário mais agressivo. – Depois, se quiseres, deixo-te experimentar, não voa tão rápido como a tua mas…
- Adorava! – Respondeu ela sem esperar pelo fim da oferta. – Agora, se me permites, vou-me equipar. Este não é propriamente o equipamento que vou usar daqui para a frente. – Disse dirigindo-se ao balneário.
- Queres que espere por ti? – Perguntou Ron ficando um pouco vermelho de embaraço. Ânia acenou-lhe que não e ele seguiu para o campo. Estava completamente perdido a pensar nela quando ouviu Petra berrar-lhe aos ouvidos.
- Novato! Onde estiveste?
- Eu, eu... – Disse acordando do transe. – Eu estava ali com a Ânia, ela apareceu e estavamos a conversar. – Disse embaraçado. Petra desatou a rir. Aquilo não fazia sentido, pensou Ron. Petra pegou na varinha e apontou para a garganta.
- Sonorus! – A sua voz foi magicamente ampliada. – Pessoal. – Disse dirigindo-se aos colegas que pararam no ar para a olharem. – Imaginem quem é que também já está babado. – Petra parou o feitiço, subiu para a vassoura de novo, uma Cleansweep Nine, e mandou Ron segui-la, continuando a rir.
Ele não percebia porque é que todos os elementos femininos da equipa se riam agora as gargalhadas. Babado? Ele? Por quem? Notou a cara de embaraço dos rapazes, que se afastaram um pouco do resto do grupo, cada um na sua direcção. Ignorando aquela reacção para seu próprio bem, subiu para a vassoura e descolou. O ar fresco da manhã entrou-lhe nos pulmões e sentiu-se leve. Era aquela a verdadeira sensação de jogar quidditch. Olhou para as bancadas e encontrou Ginny sentada, que lhe acenou energeticamente. Ganhou mais confiança, a irmã estava a vê-lo, nada podia correr mal.
- Não ligues ao que a Petra disse. Acho que é tudo ciúmes. – Disse Fear que parára ao lado de Ron na formação.
- Mas de que estão todos vocês a falar? – Perguntou intrigado.
- Da Ânia. – Disse sem mais palavras.
Ron começara finalmente a perceber. Agora que pensava nisso, realmente devia ter feito figura de parvo na desculpa que dera, mas não era nada do que eles estavam a pensar, ele não estava interessado nela.
- Olha, lá vem ela. – Disse Toh no seu sotaque japonês apontando uma figura que entrava no campo. – Ron olhou para baixo e deu de caras com uma imagem deslumbrante. Sobre o relvado queimado pelo sol caminhava uma deusa. O equipamento dos Chudley Cannons brilhava em cada contorno do seu corpo, parecendo melhor nela do que em qualquer outro membro da equipa. À medida que ela subia na vassoura, Ron notou que escolhera o número 18. Naquela altura, aquele número pareceu-lhe a melhor escolha. Aliás, tudo o que ela escolhesse seria uma boa escolha para ele. Abanou a cabeça tentando esquecer o que vira, aquilo só podia ser alguma espécie de truque. Olhou os outros rapazes que ainda a fitavam, perante a cara de desprezo de Petra, que se encontrava de frente para eles.
- Olá. Desculpem o atraso. – Disse Ânia chegando finalmente e acenando aos colegas.
- Olá. – Responderam todos os rapazes acenando também e sorrindo. Estavam completamente malucos, pensou Ron. Olhou para ela e pôde jurar por momentos que ela lhe tinha piscado o olho. Mas ela já estava alinhada com toda a gente. Ficou a admirar um bocado os dois "Cs" bordados juntamente com o número 18, estava a deixar-se levar novamente.
- Sei o que estás a pensar, meu! – Disse Fear, que o olhava de novo.
- Ya. Nenhum de nós teve hipótese. – Disse Toh.
- Joven, olvídese de ella. – Disse Paolo. Ron não percebeu nada.
- Acho que ele está a dizer para esqueceres. – Interveio Roger. – É muito para nós amigo.
- Mas vocês estão todos doidos? Que se passa com vocês? – Disse Ron acordando de novo. – Acordem. Parecem malucos. Eu não quero nada com ela. Ponto final. – Finalizou chateado, aquela conversa estava a chegar-lhe aos nervos.
Petra começou o discurso sobre a nova época e eles calaram-se.
- Uma nova epóca está prestes a começar. Eu sei que pode ser um pouco frustrante para vocês jogar neste clube. Os Cannons atravessam tempos difíceis. Mas eu acredito que, com aqueles que aqui estão, este ano será diferente. Chegaremos mais longe e vamos todos lutar para que o destino da nossa equipa mude.
- Ela deu-nos este discurso o ano passado. – Disse Toh.
- Ya, fomos literalmente fuzilados em quase todos os jogos. – Continuou Fear. Todos aplaudiram tentando mostrar algum entusiasmo. Petra prosseguiu.
- Temos o prazer de ter entre nós, finalmente, e depois de dois longos anos de espera, a jogadora do Braga Broomfleet que nos foi prometida. – Disse apontando Ânia com um pouco de desgosto. – Ouvimos dizer grandes feitos desta jogadora, esperemos que nos traga imensas alegrias e muitos golos. – Ânia corou um pouco, mas virou-se para os colegas para fazer uma vénia e voltou a formatura. – Temos também entre nós dois antigos alunos de Hogwarts, que se juntaram as nossas fileiras e foram recomendados pelos líderes das suas casas. Uma salva de palmas para Ron Weasley e Roger Davies. – Disse batendo palmas euforicamente. O resto da equipa seguiu e Ron sentiu-se a ser invadido por um calor enorme que insistia em não esfriar. Os aplausos cessaram finalmente e Petra continuou.
- Espero que estes novatos nos tragam novas ideias e novos conhecimentos, pois a esperança que depositamos em vocês é muito grande. Todos nós queremos que a equipa funcione como um grupo e quem tentar ser individualista, quer fora ou dentro do campo, será castigado. Somos uma equipa e jogamos como tal. Do mesmo modo, espero que não hajam conflitos de segunda ordem, que não têm nada a ver com quidditch. – Disse rolando os olhos em direcção aos rapazes e depois fitando Ânia. – Deixem os vossos gostos fora do jogo.
Ron estava a ver aquele discurso durar imenso. Parecia o tipo de discurso de que Harry se queixava que Oliver Wood, o antigo keeper de gryffindor, que jogara antes dele na equipa, fazia e estava, sem dúvida, a deixá-lo sonolento. O discurso prosseguiu, pelo que pareceu ser mais de uma hora, o ceú já parecia minimamente interessante e a sua vassoura já não saía do sítio há uma data de tempo, era a mesma coisa que estar no chão. Arriscou olhar para Ânia, tentando que ninguém notasse, e admirou-se com a atenção dela, parecia dar imensa importância ao quidditch e a tudo o que o envolvia. Pensara, lá no fundo, que ela seria mais uma rapariga bonita e sem grandes paciências para quidditch, tal como as duas outras chasers, Eda e Cwen, que já bocejavam. Mas Ânia não, encontrava-se ali, parada no ar, sem dar marcas de cansaço, olhando Petra muito fixamente e abanando a cabeça em confirmação sempre que ela dizia algo importante. Olhou de novo para Petra e ela estava no que parecia uma corrida para o fim do fôlego.
- E pronto, era isto que vos queria dizer. A mensagem está passada. Como já disse, espero o melhor de vocês. "Disparem os canhões, os Chudleys vão passar" – Todos assobiaram bem alto. – Vamos jogar quidditch.
- Alguma acção, finalmente. - Pensou Ron. Toda a gente começou a formar uma roda para começar um aquecimento, pois estavam parados há muito tempo.
- Este exercício é básico, quero que passem esta quaffle entre vocês. Quero movimentações e passes para desmarcação. Nada de lesmas. Vamos começar com velocidade de voo lenta. Fase um, tudo a andar em círculo. Eu começo. – Petra passou a quaffle a Cwen, que passa a Ânia, que a passou para Toh, que, por sua vez, passou a Ron. Pela primeira vez, pegou na quaffle, imediatamente, atirou-a para Fear e ficou contente por ter feito um bom passe. Passados uns bons minutos, Petra mandou-os parar.
- Agora vamos passar à velocidade de voo número 3, ou seja, a mais rápida de todas. Quero toda a gente espalhada pelo campo. Ron, tu ficas com os postes do lado direito, Autumn, lado esquerdo, não quero ver golos. Agora voem à vossa velocidade máxima e passem a bola o mais rápido que puderem. Quando estiverem a 100 metros da baliza, rematam. Vamos treinar os remates à distância, talvez venham a fazer jeito no futuro. – De imediato, o jogo recomeçou. Ron estava, finalmente, a competir contra Autumn, tinha de mostrar que era melhor que ela. Paolo recebeu a quaffle, passou-a para Roger, que a passou para Ânia, ela ia rematar. Preparou-se para adivinhar o lado, fixou a quaffle e…
- Mas o que é isto? – Ron nem teve tempo de se mexer, a quaffle já entrara no aro esquerdo e ele ficou perplexo. Ânia introduzira a bola sem ele ter qualquer reacção.
- Muito bom, Ânia. – Disse Petra, sorrindo para ela. – Que estás a fazer Ron? Mexe-te. - Começou a ficar nervoso, estava tudo a correr mal. Não se podia deixar ir abaixo logo no primeiro treino.
- Ainda só estou a aquecer. – Disse Ânia enquanto passava por Roger. – Vamos jogar quidditch. – Terminou num sussurro imitando Petra, numa vozinha irritante. A quaffle foi de novo lançada, desta vez, dirigia-se para Autumn. Ron aproximou-se para ver como ela reagia. Roger passou para Petra, depois para Paolo, para Cwen e rematou. A quaffle foi atirada para o aro direito e Autumn defendeu com a cauda da vassoura, mostrando bons reflexos. Ron desanimou, o que mais podia correr mal naquele dia?
