AS MARCAS DE UM ANJO
por Nina Neviani
Capítulo X – Reduto do CrimeEm uma manhã que não se decidia se seria chuvosa ou ensolarada, dois homens conversavam em uma das várias delegacias que existiam na cidade de Tóquio.
– Seiya, você tem certeza de que quer seguir em frente com esse seu plano maluco?
– Shiryu, eu já respondi inúmeras vezes que não vou desistir! Provavelmente, essa é única chance que eu tenho de entrar no Reduto.
Shiryu resolveu usar outra estratégia.
– Pense no seu filho! Quem vai cuidar dele se acontecer alguma coisa com você?
– Que tal o padrinho dele?
– Claro que eu cuidarei dele sem problemas se acontecer algo com você. Mas, você é o pai dele!
– O que está acontecendo aqui? – perguntou Shun, que acabava de retornar ao trabalho. Tinha passado um tempo em férias por conta de um tiro que levara no braço.
– Shun! – exclamaram os dois ao mesmo tempo.
– Como você está, rapaz? – perguntou Seiya.
– Novinho em folha – respondeu enquanto movia o braço esquerdo, como se quisesse certificar os colegas de trabalho de que não havia ficado com seqüela alguma. – Agora, eu quero saber que maluquice é essa que vocês tão falando. – disse olhando para Seiya.
– Não é maluquice! É uma oportunidade de investigar o Reduto – explicou Seiya.
– O Reduto? – indagou. No seu rosto havia uma expressão de espanto – Você quer dizer o bairro Reduto do Crime?
Foi Shiryu quem começou a explicar os fatos a Shun.
– É isso mesmo. No dia em que você foi baleado nós conseguimos capturar um carro dos criminosos do Reduto. Já que o assaltante que estava nele morreu. E nós sabemos que o controle de entrada de veículos no Reduto se dá pelas placas dos carros.
E Seiya concluiu o raciocínio lógico de Shiryu.
– Uma vez que esse carro era deles, deve estar autorizado a entrar.
– É loucura, Seiya! Você está sendo muito impulsivo.
Seiya meneou a cabeça e disse:
– Eu jurei que vingaria a morte do meu pai, e não me importo em morrer tentando. – a menção ao pai que morrera em trabalho fez os amigos se calarem – Desejem-me "boa sorte" – disse e levantou-se da cadeira.
– Você vai agora? – perguntou Shun.
– Vou. Imagino que a vigilância esse horário seja menos intensa. – vendo incompreensão no rosto do policial mais novo, esclareceu – Puro palpite. – e virando-se para Shiryu, disse – Cuide do meu filho se acontecer algo comigo. Se eu não voltar até as cinco da tarde, pegue-o na escola e leve-o para a sua casa. Aqui está chave da minha casa, caso ele precise de algo. – Suspirou – Obrigado. Tchau.
Os dois policiais que permaneceram na sala ficaram olhando a por ser fechada. Não podiam fazer nada além de torcem para que nada de ruim viesse a acontecer com o amigo.
Shunrei chegou na casa do noivo. Desde o dia em que Ohko deixara a casa dela naquele estado deplorável, ela morava na casa do noivo. Contudo logo voltaria para sua casa. Não achava correto morarem juntos sem serem casados. Mesmo indo dormir e acordar abraçada com Shiryu ser maravilhoso.
Porém, sabia que alguma coisa errada estava acontecendo. Shiryu não passara para apanhá-la no hospital, como de costume. E, quando ligou para avisá-la do fato, não deu motivos.
Na cozinha, as embalagens de comida comprada pronta a fizeram franzir a testa. Viu que a luz do quarto de Filippo estava acesa. Foi até lá.
Shiryu estava dando um beijo de "boa-noite" na testa do menino. Eles notaram presença dela. Shiryu olhou-a com um olhar estranho. Não soube identificar o que aquele olhar realmente refletia... medo? Insegurança? Não saberia definir. O menino, por sua vez, estava visivelmente triste. Ele apenas abriu os braços pedindo um abraço dela. Ela, prontamente, realizou o pedido silencioso do garoto. Achou melhor não perguntar o que estava acontecendo.
– Durma bem, querido! – abraçaram-se fortemente. Ela copiou o gesto do noivo, e também beijou o menino na testa.
Quando deixaram o quarto, foi a vez de Shiryu a abraçou fortemente. Ela retribuiu o abraço, sem ainda ter certeza do que estava acontecendo. Contudo já sabia que um dos envolvidos era Seiya.
– Por favor, Shiryu, explique-me o que aconteceu com o Seiya.
– Sim, mas vamos até a cozinha. Enquanto eu explico, você come.
Ela assentiu. Poucos minutos depois, já sabia o que Seiya tinha feito. Concordava plenamente com Shiryu. Seiya tinha feito uma loucura. Como ele pensara que um policial sozinho poderia entrar em bairro onde só moravam criminosos e conseguir se sair bem? Ou melhor, como imaginava que conseguiria sair vivo?
No tempo que conviveram com o amigo policial, Shunrei percebera que Seiya tinha um lado impulsivo, mas jamais pensara que esse lado da personalidade dele pudesse, um dia, ser mais forte do que a responsabilidade de pai. E mais ainda, da responsabilidade de pai de um menino que já tinha perdido a mãe.
Sentia-a se mal. Muito mal. Não por ver-se inesperadamente com a responsabilidade de cuidar de um adorável garotinho de seis anos. Mas por ver este mesmo garoto como ele estava agora. Triste. Assustado. Sentiu raiva de Seiya. Como ele pôde fazer isso com o próprio filho! Mas é claro que ela se sentia arrasada com a terrível perspectiva de não ver mais o amigo. O seu jeito sempre brincalhão, divertido e sempre disposto a ajudar. Involuntariamente, enterrou o rosto nas mãos e sentiu a mão de Shiryu deslizar pelas suas costas tentando confortá-la.
Shiryu. Se não fosse Seiya não teria Shiryu. E se não fosse Shiryu, o que seria dela com o retorno de Ohko? Shiryu a abraçou e ambos ficaram tentando confortar um ao outro.
Três dias depois...
Era Sábado. Um sábado chuvoso. Shiryu e Shunrei deixaram Filippo na casa de Shiryu para irem fazer compras. Nada animava o menino, nem a idéia de saírem para brincar, ou fazer compras. Desde o dia anterior ele ficava calado e pedia para ficar sozinho, e para desespero do casal, ele não estava nem se alimentando direito.
Procuraram ficar fora o menor tempo possível. Devido a forte chuva, poucas pessoas se atreviam a sair de casa, o que facilitou as coisas para os noivos. E quando voltaram para casa ouviram vozes. Shiryu correu depressa para o quarto do menino. E incrédulo, disse:
– Eu não acredito!
– Por um acaso, vocês pensaram que se livrariam facilmente de mim?
Nesse momento, Shunrei juntou-se aos demais. Da sua boca saiu um gritinho de surpresa e ela foi correndo abraçar o homem.
– Seiya, seu maluco! Que susto que você nos deu! – ela disse visivelmente alegre e aliviada.
– Nossa, vocês não confiam em mim mesmo! – quando o abraço terminou, ele continuou – E você, Shiryu? Ainda vai ficar me olhando como se eu fosse um ser de outro planeta por muito tempo, é?
Essa foi a deixa para o amigo o abraçar.
Shiryu ainda não estava acreditando plenamente que o melhor amigo estivesse ali, sem nenhum machucado aparente.
– Seiya, como você conseguiu sair de lá?
– É uma longa história...
– Sei, sei... Uma longa história que você não quer contar agora!
– Isso. Mas logo contarei, é que eu prometi um sorvete pra esse garotinho aqui. – Seiya espalhava os cabelos do filho, que desde o retorno do pai exibia nos lábios o maior dos sorrisos.
– Com essa chuva? – Shunrei arrependeu-se de ter perguntado no mesmo instante, pois os três homens ali presentes a olhavam de uma maneira estranha. Ela rapidamente mudou de opinião – Tudo bem. Tudo bem, ele merece!
Horas mais tarde...
Quem visse aqueles três adultos sentados calmamente a mesa de jantar tomando café depois de uma saborosa refeição, jamais imaginaria como foram complicadas as recentes horas da vida deles. Estavam os dois homens e a mulher inegavelmente felizes. O garotinho que até instantes acompanhava os adultos, havia ido deitar instantes antes.
– Seiya, você vai demorar muito pra contar como foi a sua aventura no Reduto? – Shiryu perguntou.
Seiya riu. Shunrei levantou-se e começou a recolher as xícaras já vazias. Seiya a olhou e disse.
– Shunrei, estou começando te entender. Não precisa sair, bobinha. Você é minha amiga, não tenho motivo para ter segredo com você. E também tenho certeza de que se eu não voltasse você cuidaria do meu filho, como se fosse seu. E não se esqueça de você está em minha casa, e aqui quem cuida da louça sou eu.
A enfermeira sorriu e voltou a sentar-se.
Seiya relatou os três dias que passou no bairro criminoso com a maior riqueza de detalhes que conseguiu. Ao final do relato, Shunrei o olhava atônica. Não se conteve e disse:
– Seiya, estou muito feliz por você estar aqui, mas a forma com que você saiu do Reduto foi... foi muito... ora, nem sei como classificar! Ainda mais a mulher sendo... sendo... – a mulher estava a um passo da indignação.
– Shunrei, eu não sabia que ela era virgem! – ele procurou se defender.
O amigo o ajudou:
– É, Shunrei! Ele não sabia que ela era virgem!
Foi a vez do noivo receber um olhar indignado.
– Bem, isso não é o pior. – os dois viraram-se para ele – Eu acho que me apaixonei pela Saori.
– O quê? Você se apaixonou pela deusa?
Para Shiryu e sua mente de policial era inconcebível que Seiya, também policial, tivesse se apaixonado, em menos de três dias, pela criminosa mais procurada de Tóquio, por mais encantadora que ela fosse. Era certo que ele, Shiryu, tinha se apaixonado por Shunrei no instante que a vira. Mas ela estava longe de ser criminosa e era a mulher mais encantadora que ele já vira. Pensou melhor. "Será que se a Shunrei fosse uma criminosa eu me apaixonaria por ela?" Olhou a noiva. A resposta era óbvia. E ele começou a entender o amigo.
– Eu notei que havia algo diferente em você, Seiya. Mas em momento algum eu imaginaria que fosse amor. – Shunrei compreendeu o amigo mais rápido do que o noivo. – E como ficam as coisas daqui pra frente?
– Eu não sei. Eu, realmente, não sei.
Dias depois...
Era cedo, mas mesmo assim a manhã já estava ensolarada e depois policiais caminhavam por ruas próximas a delegacia, mais tarde começaria o turno deles. Seiya havia retornado ao trabalho, não sem antes receber uma bronca do seu superior. Shiryu agora voltara a morar sozinho. A casa de Shunrei havia sido arrumada, e por precaução a fechadura tinha sido trocada.
– O que você acabou de dizer, Seiya? – Shiryu não acreditava que as palavras do amigo fossem verdade!
– É isso mesmo, Shiryu! Eu vou deixar a polícia. Já te disse vai ser melhor para mim e para o Filippo. Os dias que eu passei no Reduto me fizeram ver o quanto a minha profissão é inadequada para um pai de um garotinho órfão de mãe. Além do mais o meu pai não me deixou sem nada. E eu também ainda tenho um diploma que acho que servirá para alguma coisa.
– Tudo bem, você tem razão. Mas é que... vai ser difícil achar um parceiro tão bom como você!
– Que é isso, amigo! – Abraçaram-se fortemente.
Agora caminhavam por uma avenida.
– Bom o que eu tinha para te contar acho que é um pouquinho mais agradável. – respirou fundo e confidenciou – Hoje à noite eu vou pedir a Shunrei em casamento.
– Ah, mas isso é uma ótima notícia! – Seiya se mostrava verdadeiramente feliz com a notícia – Até que enfim! Não sei como a Shunrei ainda está esperando você! – brincou Seiya. Ambos sorriram.
– Ela me ama, por isso! – brincou o amigo. Mas imediatamente Seiya lembrou da mulher que ele amava. E perguntou-se o que não daria para poder pedí-la em casamento como o amigo faria com Shunrei. Voltou à realidade quando percebeu que o amigo continuava a falar.
– Então, eu queria saber se você aceitaria ser meu padrinho.
– Claro que sim! Depois de tudo o que você e a Shunrei fizeram por mim, eu recusar o seu pedido seria uma desfeita não seria?
– Seria!
– Então, tá vendo! – voltou a brincar o amigo.
Continua...
N/A: Eu sei o capítulo ficou curto, não é? É que na verdade esse capítulo era pra ser junto com o anterior, mas daí o anterior ficaria longo demais... E sei que o título não ficou bom. Mas vocês gostaram mesmo assim?
Oh, que tristeza esse é penúltimo capítulo! Tá, alguém estar reclamando que teve Seiya demais nesse capítulo, né? Sinceramente, eu não gosto muito dele. Porém, vamos ser razoáveis: se não fosse ele os dois não estariam juntos! E essa fic só saiu por causa da outra fic "A Deusa do Crime", na qual o Seiya é o personagem principal. E vamos ser mais razoáveis ainda, se não fosse ele não teria Saint Seiya!
Ok, provavelmente vocês já sabem (especialmente a minha querida amiga Saory-san, hehe) que eu não recomendo a minha fic "A Deusa do Crime" pra ninguém por que eu simplesmente a considero muito, muito ruim. Mas tem um trecho que eu não sabia se colocava ou não nessa fic, porque é só do Filippo e do Seiya, então resolvi coloca-lo aqui "embaixo". Lá vai:
"... O que importaria acima de tudo, daquele dia em diante, era o seu filho.
E o encontrou no quarto. Estava sentado na sua escrivaninha lendo um livro.
– Filippo? – chamou. O menino virou-se rapidamente, soltou um sorriso que expressava visivelmente a sensação de alívio que o menino estava sentindo.
– Você voltou! – exclamou o menino que ainda dava um abraço apertado em seu pai.
– Claro que eu voltaria, meu filho.
– É que às vezes eu pensava que você não fosse voltar mais, que nem a mamãe.
– Que bobagem, Filippo. O papai sempre vai estar junto de você."
Nada de espetacular, eu sei. Só que sei lá, achei que seria interessante colocar. Ah, não estranhem o começo do próximo capítulo! Mas falando nele, ele só será escrito se tiver reviews! (Nina Neviani, a chantagista)
Gente, final da fic. Você que leu a fic inteira e não deixou nenhum review, deixe a timidez de lado e me de um "oi". Eu não mordo, eu juro!
Beijos!
Até o próximo capítulo!
Nina Neviani
