AS MARCAS DE UM ANJO

por Nina Neviani

Epílogo

"Tóquio, 6 de julho de 2005."

"Olá, Saori! Como você está? E o Seiya? E o Filippo? Estou com tantas saudades dele! Eu mandei uma carta separada para ele, mas diga-me você: está tudo bom com ele? Ele já se adaptou à escola?"

Shunrei pousou a caneta na mesa e olhou para o pouco que havia escrito. Filippo. Sorriu ao pensar no afilhado. Nas últimas fotos que recebera ele parecia ter crescido bastante. E em poucos dias ela o veria pessoalmente e poderia conferir quantos centímetros o garoto havia adquirido desde que se mudara do Japão para Grécia com o pai e a madrasta.

É claro que a mudança tão brusca tinha gerado uma série de implicações. Primeiro, o aprendizado do idioma grego. Facilitava imensamente a inteligência privilegiada de Filippo, contudo ele era apenas um garoto de seis anos. Segundo, e na opinião do garoto, o mais complicado, o rompimento do namoro. Shunrei riu. Ao contrário do que pudesse parecer o término do "romance" não pareceu ser algo tão traumático. Pois o garoto já tinha conquistado uma garota lá na Grécia.

Voltou a olhar para o papel e continuou a escrever a carta.

"Eu sei que estou fazendo muitas perguntas, mas acredito que seja inevitável! Ah, esqueci de perguntar como vai essa garotinha aí na barriga da mamãe! É, claro que se vocês já tivessem escolhido o nome dela eu não teria esquecido! Em menos de um mês ela já estará entre nós e continuaremos a chamá-la de bebê, ou a garotinha?"

Novamente pousou a caneta. E sorriu feliz. Crianças sempre a fascinaram. A "garotinha" do Seiya e da Saori seria muito bem-vinda. Todos estavam ansiosos pela chegada da irmãzinha do Filippo. Ele, especialmente. Contudo, o nascimento estava previsto para dali um mês. Esse era o motivo da viagem de Shiryu e Shunrei para a Grécia. Partiriam em quinze dias e esperavam chegar lá antes do bebê. Shunrei olhou para a sua própria barriga. Sim, crianças eram maravilhosas e fascinavam. Sorriu. Especialmente agora.

Apoiou a cabeça nas mãos. E lembrou-se do primeiro encontro com aquela que hoje era a sua melhor amiga.


Aproximadamente um ano atrás...

Shunrei entrou na casa do amigo. Ainda estava em férias por causa da lua-de-mel, teria mais três dias e então retornaria ao trabalho. A casa de Seiya estava como sempre limpa e em ordem. Virou-se, depois de trancar a porta, e a visão de uma mulher a sua frente a assustou. Porém, com toda certeza, Shunrei não estava mais assustada do que a mulher a sua frente, pois era nítido o pânico que se estampava no belo rosto.

Shunrei tentou se recuperar do susto e analisar quem seria aquela mulher. Bem, como sabia o amigo não era chegado a ter companhias femininas apenas por prazer. E a mulher que povoava os pensamentos dele era... "Oh, céus! Ela é Saori Kido!" E por julgar que ela vestia uma camiseta velha do Seiya, eles deveriam ter feito as pazes.

Percebeu que se não falasse nada o silêncio continuaria.

– Bom dia! –a enfermeira saudou com um leve sorriso nos lábios.

– Bom dia... – a mulher respondeu timidamente. – Eu.. Eu...

A mulher estava extremamente confusa e constrangida. Shunrei resolveu ajudá-la.

– Você é Saori Kido.

Shunrei não soube se atingiu seu objetivo de ajudar a mulher, pois ela parecia mais confusa ainda.

– Ah, não se preocupe já ouvi falar de você! Seiya está verdadeiramente apaixonado!

Agora as coisas começavam a se acertar. Saori pareceu estar menos constrangida, pois arriscou:

– E você é...?

– Ah! – apenas nesse momento percebeu que não havia se apresentado – Sou Shunrei... Suiyama. – ainda não estava acostumada a usar o sobrenome de casada – Sou amiga do Seiya, e esposa do Shiryu. Nós somos padrinhos do Filippo.

Definitivamente tudo acertado. A mulher pareceu agora completamente... normal. Um sorriso de alívio surgiu no rosto da mulher.

– Desculpe-me, Shunrei. Seiya me falou de você e do seu... – ponderou – Bem, quando nós conversamos sobre vocês, acredito que você e o Shiryu ainda eram noivos.

Shunrei sorriu.

– Sim. Acredito que sim. Nós voltamos de lua-de-mel anteontem. E ontem "raptamos" o Filippo e o levamos para nossa casa para entregar os presentes que compramos para ele. E hoje eu vim trazes os presentes dele. E os do Seiya. – disse mostrando a mala que carregava.

Ao reparar na mala que ela mesma carregava, Shunrei compreendeu que o espanto que dominou Saori instantes antes era completamente compreensível.

– Desculpe-me novamente, Shunrei. – Saori agora estava completamente à vontade e seu tom de voz deixara do constrangido e inseguro para um tom meigo e amigável – Na verdade, lembro-me vagamente de o Seiya ter mencionado algo sobre a chegada de vocês da lua-de-mel e por isso a ausência do Filippo.

Shunrei gostou de ouvir a mulher chamando o seu afilhado pelo nome. E sentiu que ela seria uma perfeita mãe para o Filippo, afinal Seiya não se apaixonaria por alguém que não respeitasse o seu filho.

– Não precisa se desculpar. E falando no Filippo ele estuda em período integral. E pelo que eu lembro, as aulas do Seiya, hoje, só acabam onze horas, não? – olhou no seu relógio. Nove horas.

Ela confirmou com a cabeça. E pareceu dar-se conta de algo. Olhou para o próprio corpo. Ou melhor, para a roupa que o seu corpo trajava. Seu rosto estava um pouco vermelho quando parou de mirar-se e observou melhor a madrinha daquele que em breve seria seu afilhado. Ela estava impecavelmente bem vestida. Imediatamente começou a imaginar a sua cara de sono e o seu cabelo estava... Seu pensamento foi interrompido pela voz de Shunrei.

– O que você acha de eu preparar um café da manhã para nós duas? – era certo que já havia se alimentado, o mesmo não parecia ter ocorrido com Saori. – Se você quiser pode ir trocar de roupa e depois nós conversaremos com mais calma. – disse sorrindo.

Saori, imediatamente, percebeu que na mulher a sua frente encontraria uma grande amiga.


Pensou em algo mais para dizer na carta, antes de dar a notícia principal.

"O Shiryu está ótimo! Fale para o Seiya – como se ele não fosse ler essa carta! Por falar nisso, Seiya pare de ler a correspondência da sua mulher e vá pensar em um nome para a sua filha! – que com o Shun, o atual companheiro do Shiryu, também está tudo bem. Sei que eles são amigos também.

No hospital, felizmente, tudo anda tranqüilo. Mas ainda assim estou achando que as férias que vou tirar serão mais do que merecidas! Ah, hoje estou folga!"

Ok, diria agora. Não tinha mais assunto para contar, talvez porque já tinha mandado uma carta para a família Ogawara na semana passada.

"Certo. Chegou a hora de contar..."

Shunrei parou de escrever quando uma sombra projetou-se na mesa. Virou-se. Shiryu entrara silenciosamente em casa e tentava ler o que ela havia escrito.

– Shiryu, seu curioso! – repreendeu-o levando-se da cadeira, não sem antes dobrar o papel.

– Ora! Veja como eu chego e como você me recebe.

Shunrei prestou mais atenção no marido. Só agora notara que ele chegara com um enorme buquê de rosas vermelhas em uma das mãos e com um presente na outra. Ela apenas esperou, Não diria nada.

– Shunrei, você esqueceu que dia é hoje? – ele pareceu um pouco decepcionado.

"Bingo!" Shunrei pensou. Sabia que ele iria fazer essa pergunta e não conseguiu reprimir um sorriso.

– Ora, mas é claro que eu sei que dia é hoje! É o nosso aniversário de casamento!

Ele pareceu aliviado. E disse em um tom sério.

– Eu te amo.

– Eu também te amo. – Ela disse em tom igualmente sério.

Então sorriram.

– São pra você. – Ele disse entregando as rosas.

Ela deu um beijo rápido nele e foi colocar as flores em um vaso, que já deixara previamente preparado. Tinha certeza de que o marido de que o marido traria flores.

Enquanto Shunrei foi colocar as flores em um vaso, Shiryu deu uma olhada furtiva em direção a cozinha. Franziu a testa. "Shunrei não havia feito nenhum jantar especial? E pior: ela não havia feito nem um jantar simples! Será que deveria convidá-la para jantar fora?" Ela voltou para a sala.

Sentaram-se no sofá e ele entregou o presente. Comprara meses atrás e tinha guardado para dá-lo somente naquele dia. Fora difícil controlar-se, mas ele conseguira.

Shunrei abriu o estojo de veludo com o coração acelerado. Shiryu sempre tivera bom gosto para presentes. Mas perdeu o fôlego com o que viu. Suas feições se enterneceram. Dentro do estojo estava uma linda corrente com um lindo e delicado pingente de anjo, ambos em ouro branco.

– Deixe-me ajudar a colocar. – Shiryu pediu, Era desnecessário perguntar se a esposa tinha gostado. A transparência dela era uma das qualidades que ele mais amava.

Quando terminou de colocar, disse em um tom profundo.

– Assim você nunca esquecerá que é meu anjo.

– Oh, Shiryu. – Ela disse emocionada.

Beijaram-se por um longo momento. E depois Shunrei descansou a cabeça no peito do marido.

Passaram alguns instantes até que ele falasse:

– Shunrei?

– Sim? – ela disse sem levantar a cabeça, pois não queria mostrar o sorriso que estava nos seus lábios. Novamente podia adivinhar o que o marido iria perguntar.

– É que... você não vai me dar nenhum presente? – ele parecia novamente um tanto decepcionado.

Ela escondeu o sorriso, e disse calmamente.

– Eu acho que tenho um presente para você.

E saiu em direção ao quarto. Deixando Shiryu atônito. "Ela acha que tem um presente pra mim? Afinal, o que está acontecendo com a minha mulher?"

Logo ela voltava com as duas mãos atrás das costas. Olhou bem nos olhos dele e mostrou um envelope branco.

– O que é isso? – ele perguntou desconfiado.

– O seu presente. – ela disse calmamente e então ele aceitou o "presente".

Abriu-o e retirou uma folha, ainda sem entender aonde a mulher queria chegar. No alto da folha estava escrito.

Paciente: Shunrei Suiyama.

Seguiam-se umas palavras estranhas e então no final da folha, lia-se.

Resultado: positivo.

Ele ainda levou alguns segundos para entender. Foi a vez dele ficar sem fala. Não por muito tempo. A sua voz voltou no mesmo instante em que seus olhos começavam a marejar.

Shunrei pensara que naquele momento estaria dando risada. Mas não aguardava ansiosamente Shiryu entender o significado daquele exame. Tudo aconteceu muito rápido. A expressão de espanto no rosto de Shiryu, viu quando ele tentou falar e não conseguiu. Viu também quando os olhos dele se encheram de lágrimas. E no instante seguinte ele a abraçava fortemente. E chorava. Assim como ela.

– Eu te amo, te amo, te amo. Você me faz o homem mais feliz do mundo. – ele dizia com voz embargada. Chorava e sorria ao mesmo.

– Eu também nunca fui tão feliz.

– Em quanto tempo nosso bebê estará aqui com a gente?

– Pouco mais de sete meses.

– Quando você soube?

– Ontem.

– E não me contou nada?

– Se eu contasse, você realmente ficaria sem presente.

Ele riu. E pousou as grandes mãos no delicado e ainda reto ventre da esposa. Encostou sua testa na dela. Ficou um tempo assim. Então as mãos passaram para a cintura fina.

– Temos que comemorar. – disse e já a beijou.

Ela retribuiu. Porém antes de perder totalmente a razão, afastou-se e explicou:

– Antes de nós comemorarmos, eu tenho que terminar algo.

Andou até a mesa pegou a caneta e escreveu:

"... estou grávida!

Beijos a todos!"

Fim!


Nota da autora: Não acredito que escrevi essa palavra!

"FIM"

Meus rápidos comentários sobre esse capítulo. Tudo acabou bem, obviamente.

Dia seis de julho é o meu aniversário. Por isso é a data de aniversário de casamento deles.

Eu quis retratar o primeiro encontro entre a Shunrei e a Saori. Não sei se ficou bom.

Não consegui pensar em um título decente pra esse capítulo, por isso ficou "epílogo". Mesmo não tendo um "prólogo".

Bom, que leu "A deusa do crime" (se não você leu, não precisa ler, a fic é "beeem fraquinha"- pra não dizer outra coisa!) já deve ter percebido que essa carta que a Shunrei escreveu é a que é citada no último capítulo daquela fic.

Ok, é chegada a hora de agradecer! Eu agradeço a todos os que leram essa fic. Porém têm um agradecimento especial aqueles que deixaram reviews. (Mas se vc não deixou, ainda é tempo!) Pois assim eu sabia que realmente liam a minha fic. Ok, claro tem os "hits" e você deduz que aquele que visitou o último capítulo postado, é porque leu os demais. Mas não é a mesma coisa.

Eu confesso que tive muito receio de escrever essa fic. Por causa do casal. "Fuçando" o percebi que são poucas as fics do casal Shiryu & Shunrei.

"E se ninguém ler a minha fic?" Me perguntei várias vezes. E para minha surpresa... leram a minha fic! E para o meu espanto... mais pessoas do que eu podia imaginar!

Eu imaginava que escreveria umas duas páginas aqui "nessa minha última conversa vocês". Mas, acho melhor não.

Simples e realmente agradeço pelo apoio!

Um abraço e não me abandonem!

Ah,... um outro devaneio meu surgiu: "Deixe-me cuidar de você" é Ikki e Mino. Se puderem dêem uma passadinha lá.

Nina Neviani.