Entro no County por volta das 6 da manha. Ainda me pergunto por que Deus inventou turnos a essa hora da manha. Eu estava morta, e acho que a razão não preciso dizer. Ok, talvez apenas mencionar que tem quase dois metros de bom caminho e dois olhos azuis que me engolem a noite inteirinha...
As coisas pareciam calmas essa manha. Deixei minhas coisas na SDM e fui para a recepção ver o quadro completamente vazio. Se eu soubesse disso tinha ficado na cama... E isso seria bem melhor mesmo. Quando eu ia me sentar Carter aparece na minha frente.
- Vamos tomar um café? As coisas estão tão calmas por aqui...
- Ok- não seria muito melhor ficar olhando para as moscas.
Atravessamos a rua e entramos no Ike´s. Ele pediu dois cafés e nos sentamos frente a frente em uma das mesas
- Então- o, faltinha do que falar, viu?
- Então- usei o mesmo monossílabo que ele- que tem feito? Muita balada? Mulher, beijo na boca?- lógico, Abby! Não tinha um assunto pior pra você tocar. Preferível era continuar no "então".
Ele apenas sorriu e aqueles olhos de amêndoas me olharam como se eu fosse a única que ele quisesse beijar. Ai meu Deus... Aquela carinha me enlouquecia.
- Não tenho idade pra muita balada... Mulher... eu vacilei muito com a única que amei... Beijo na Boca! Acho que desaprendi...
Sorri meio que querendo me enfiar em um buraco. Por que raios eu fui tocar nesse assunto?
- E você?- eis o que eu temia. O problema de se fazer uma pergunta indiscreta é sempre o "e você" que rola no final.
- O que? - ha ha ha. Me fazer de desentendia, a uma horas dessas?
- Não me enrola Dona Abby... E responda... - Ai Meu Deus! Como sair dessa agora! Bom... Uma hora outra ele ia ter que saber mesmo, então que se dane.
Alias por que eu estou tão preocupada assim!
- Eu não estou nada mal...
- Percebi...
- Como!
- Eu não sou idiota Abby... Eu reparei que as coisas entre você e Luka estão indo bem... - ele disse com uma raiva no tom de voz. Raiva? Quem ele pensa que e!
- É...realmente...- eu quis ganhar tempo- acho que agora estamos indo no passo certo.
- Passo?- ele sorriu irônico- sexo, você diz...- olhei escandalizada pra ele. Era só essa que me faltava.
- Como?
- Vai me dizer que as coisas entre vocês não são só sexo!
- O que interessa a você minha relação com o Luka!
- Muito, Abby... Mais do que você pensa!
Eu ali fiquei estática. Não queria de maneira nenhuma entrar nesse assunto. Não queria e não ia.
- Bom, eu preciso voltar- apertei mais minha blusa no corpo, sentindo um vento súbito.
- Mas você nem tomou o seu café- ele pegou no meu braço- não precisa ter medo do que vai acontecer, Abby- ele me olhou fundo. Eu não teria como escapar. Sentei novamente e fiquei olhando pra minha mão, cutucando o curativo que começa até a me dar coceira.
- Me responda... seu "relacionamento" com Luka e só sexo ou não!
Eu não agüentei mais. Se ele realmente quer ter essa conversa ele ira e ira ouvir tudo o que esta entalado na minha garganta.
- Não Carter, não e só sexo e o que te interessa isso também! Eu tenho o direito de transar com quem eu quiser! Afinal foi você quem saiu daqui e me trocou por aquela vadia!
Nhá! Abby, sua mula! Não era pra ser assim. Burra! Não é estourando assim que os problemas serão resolvidos e a conversa se tornará mais fácil.
- Calma- ele pegou na minha mão esquerda, que já batia nervosamente os meus dedos na mesa, em sinal do meu pânico.
- Eu não tenho que ter calma. Nunca tive calma e não é agora que vou ter!- pelo menos eu não estava gritando.
- Calma... Eu vou te explicar tudo!
- Não! Você não precisa me explicar nada! Você me acusou de fugir dos meus problemas, mas foi você quem fugiu dos seus! Então depois disso começou uma nova "vida" não foi assim?
- Abby, eu...
- Olha, quer saber? Não precisa falar nada- eu mantive serenidade nessa hora. Realmente não queria comprar brigar. Na verdade, até pagava pra ela não acontecer. Queria ser amiga dele, pelo menos colega. Que o tempo fizesse o seu serviço e me deixasse ficar bem com o Luka.
- Abby agora você vai me ouvir! Você acha que eu não sofri por ter te deixado aqui?
- Imagino seu sofrimento na cama com a outra Carter...
- Para a sua informação Abby da primeira vez em que eu fui para cama com ela eu estava caindo de bêbado e eu estava pensando em você!
Eu não me contive. Comecei a rir em disparada, era a pior coisa que eu tinha ouvido em toda a minha vida!
- Ok, Carter. Não está mais aqui quem falou, certo?- virei as costas, mas voltei apenas para dar um ponto final na história- por favor, não vamos mais tocar nesse assunto, por favor...
- Você não mudou nadinha...ele disse, sem nem olhar pra mim. Falava pra si, confabulando sobre mim como se eu não estivesse a sua frente- de que adianta ser essa grande médica que você se tornou, ter parado de beber, de fumar...ter se tornado uma pessoa melhor...se por dentro, você continua igualzinha
- Olha aqui Carter! Quem você pensa que e para me dizer isso hein! Ate parece que você mudou alguma coisa!
- Abby, eu estou tentando ajeitar as coisas entre a gente, mas que merda! - Coisas entre a gente! Que coisas? Ai ele estava me deixando irritada e não ia gostar se eu começasse a falar o quanto eu mudei!
-Que coisas Carter! Não tem o que ajeitar!
Ele bateu forte a mão na mesa, sinalizando aquela raiva contida. Bom, pelo menos eu tinha que concordar em uma coisa. Agora ele não mais escondia o que estava sentindo. O problema é que eu não estou bem certa se isso é uma coisa boa...pelo menos pra mim.
- Eu vou te dizer que coisas Abby! - ele não aumentou o tom de voz dele, mas a raiva dele estava mais do que clara. - Eu estou tentando pedir desculpas por ter sido um cachorro com você! Eu estou tentando dizer que não adiantou de nada eu ir para Africa e tentar comecar a minha vida! Eu... - ele olhou nos meus olhos como se fosse a ultima coisa que ele fosse fazer na vida - Eu estou tentando dizer que eu te amo...
- Eu não vou ouvir isso!- não, erra isso que eu nunca poderia escutar dele na minha vida. Quanto mais eu quero esquecer, mais ele aparece na minha vida. Corri pra fora dali antes que aquela informação chegasse ao meu coração, já que impedi-la de chegar aos meus ouvidos eu não podia mais.
Fui diretamente a SDM. Até minha mão começou a latejar mais. Parece que tudo ia contra mim.
Eu me sentei respirando fundo. Como e que eu deixei aquela conversa terminar daquele jeito? Peguei um café para relaxar. Quando eu achava que poderia ter um pouco de paz Luka aparece na SDM desesperado.
- Abby... Onde você estava? - ele olhou para a porta e logo depois me deu um beijo rápido.
- Tomando Cafe... O que aconteceu? Por que essa pressa toda?
- É que..- ele parecia meio ressabiado- eu preciso ajudar Sam.
- O que?- eu perguntei em um tom normal. Com certeza não era o que eu estava pensando!
- Alex...ele simplesmente sumiu- ele foi para o seu armário, pegou o moletom, vestindo-o rapidamente- ela pediu minha ajuda, Abby. Não tenho como negar...
Era só o que me faltava! Respirei fundo e acenei tentando ser simpática, afinal de contas era o filho dela.
- Ok, ok... Te espero em casa ok!
- Ta, mas não sei que horas eu vou chegar. - ele me beijou sem deixar eu responder e saiu pela porta rapidamente.
Puta que pariu! Não tinha outra expressão. Será que a minha sina era ser deixada de lado por algo ou alguma coisa mais importante do que eu? Puta que pariu de novo!
Terminei meu plantão na eminência de ter um chilique. A minha cabeça doía, as minhas costas estavam moídas e minha mão...eu ainda tinha mão?
Respirei fundo e decidi mandar tudo para a puta que o pariu! Se era tudo para dar errado nesse dia que pelo menos eu terminasse bêbada o bastante para não me lembrar de nada amanha. Entrei em um bar e pedi um drink. Quando eu olhei para o lado encontro Carter já meio alto. Era só o que me faltava!
Tinha cruzado a rua em busca de um pouco de paz pra minha cabeça, não de mais tormento. Tentei não fazer muitos movimentos pra evitar que ele me visse, mas isso parecia impossível.
- Abby?- escutei-o atrás de mim. Sorri, pegando meu drink e bebendo em um gole só quase metade do copo.
- Oi Carter... - eu disse sem jeito. Não sabia ainda como encara-lo.
- Pensei que você tivesse parado de beber. – ihh, nem bêbado ele me deixa em paz!
- Não começa não, Carter! Você também tinha parado, né!
- Eu nunca disse que parei...
- Bom saber...as mentiras nunca somem, não é mesmo?- vi que ele se acomodava no banco ao meu lado. O cheiro de álcool eu sentia de longe. Ele ficou encarando o copo a sua frente.
- Onde o Luka está?- ele sabia qual era o ponto fraco da conversa.
- Não sei e nem quero...
- Não sabe, nem quer! Nossa... Problemas no paraíso! - ele disse sarcástico.
- Que paraíso Carter? - Ate parece que eu tive algum relacionamento paraíso.
- Nao sei... Mas eu pensei que vocês estivessem no PASSO certo!
Sorri e dei o último gole no meu copo. Antes que eu pudesse colocá-lo no sobre o balcão, John sinalizou ao bar-man, pedindo mais duas doses.
- Você quer que eu pare de beber ou quer me embebedar?- sorri a ela, que tinha uma carinha fofa.
- Você já está quase bêbada...você se tornou muito fraca...Eu não queria que você bebesse, mas agora que já não posso fazer mais nada...- ele ficou sério agora e me olhou- até que não é uma má idéia, sabia?
- Muito engraçado Carter... Ate parece ta? - Eu disse bebendo o drink de uma vez so. - Vocês homens são muito engraçados... Se acham um bando de fodões, né!
- Eu não me acho isso não... - ele disse se aproximando mais ainda de mim. - O Luka por acaso se acha?
- Dá pra parar de bater na mesma tecla?- eu virei meus olhos- "Luka", "Luka"...- eu já sentia meus olhos pesarem e as luzes ficarem fracas ao meu redor. Ele tinha razão. Eu tinha me tornado muito fraca pra bebida- eu quero que o Luka se foda...
- Boquinha suja- ele terminou também o drink dele- quer outro?
- Eu não devia sabia, mas quem liga para isso! E me chama de boquinha suja mais uma vez eu jogo esse copo na sua cara.
Ele olhou para mim e sorriu dizendo.
- Boquinha suja...
Olhei pra ele incrédula. Ele estava colocando fogo naquela conversa, e isso poderia ser mais perigoso do que tudo.
- Bom, eu preciso ir agora...- levantei do banco, pegando minha carteira dentro da bolsa.
- Eu pago- ele tirou uma nota de 100 dólares e se levantou em direção a mim.
- Isso tudo é "caixinha"?- fiz uma cara estranha- dá pra mim, vai...
- Dou a hora que você quiser... Basta me pedir... Vai ser um prazer ter você na minha cama.
Eu olhei incrédula para ele. Se eu não estivesse tão bêbada eu ate daria um tapa na cara dele.
- Piadinha sem graça Carter... Eu vou embora antes que eu acabe caindo de bêbada.
- E você acha que eu vou deixar você dirigir nesse estado?- ele pegou as chaves do carro no bolso traseiro- nada disso, mocinha!
- E você acha que eu vou entrar em algum carro com você?- eu olhei surpresa- você está muito mais bêbado do que eu!
- Mas eu to acostumado...você não...vem!- ele pegou na minha mão, saindo do bar.
- Que acostumado o que? Ta louco, é! Andar de carro assim? - eu disse espantada. Me doía saber que ele estava acostumada a andar de carro bêbado.
- Eu dirigo devagar! Vamos logo Abby!
Fui pra perto dele contrariada. Maldito dia que eu resolvi vir de metrô para o trabalho.
- Entra no carro- ele mandou, sem eu dizer nada.
- Escuta- eu cruzei os braços na frente dele- eu moro em um canto de Chicago...você mora em outro. O que o faz pensar que eu vou entrar ae, e ainda mais com você nesse estado. Poderíamos ser presos...!
- Não seria a primeira vez- ele começou a gargalhar alto. Completamente embriagado.
Eu não consegui me conter e gargalhei junto com ele. Na verdade se eu estivesse sóbria eu não teria achado graça nenhuma.
- Eu ainda acho melhor ir de metro.
- Olha Abby não me faca te colocar nesse carro a forca! Anda logo e entra! - ele disse irritado e eu finalmente entrei.
- Você faz qualquer barbeiragem e eu saio desse carro!
- Não se preocupe que eu não me chamo Abby
- Vai cagar, Carter!- ele continuava me irritando. Meu porre não estava passando, mas minha cabeça já começava a doer.
Ele andou pelas ruas de Chicago meio sem rumo, poderia judar que ele estava perdido.
- Esqueceu onde eu moro?- olhei divertida pra ele.
- Nem que eu quisesse- ele não me olhou ao dizer isso, mas eu senti um clima meio estranho no ar.
- Então por que você não entrou a direita à dois quarteirões atrás?- indaguei.
- Eu não estou indo para a sua casa Abby!
- E para onde você ta indo! - eu perguntei sorrindo achando que el estivesse enrolando.
- Para a minha casa...
Fechei a cara na hora. Isso não podia e não ia acontecer.
- Para esse carro agora!- eu gritei e ele parece não me ouvir- Carter, agora! Eu não vou pra sua casa...
- Ah, vai, sim!- ele começou a dar risada da minha cara de desesperada. Não era nada legal vê assim tão vulnerável...
- Carter para esse carro! - eu não podia ir para a casa dele. Eu sabia que ir ate lá não ia acabar bem mesmo.
- Esta com medo de mim Abby? Medo do que você possa fazer lá? - Ele perguntou dando um sorriso safado que ao mesmo tempo me deixava irritada e muito atraída.
- Não, Carter- fui taxativa- mas eu preciso ir pra casa dormir, amanhã meu plantão é as 6. E eu preciso esperar a ligação do Luka...
- "Luka que se foda"- ele gargalhava mais uma vez. Ele sempre foi mestre em usar minhas próprias palavras contra mim- primeiro...- ele pegou perto da minha cintura e eu já esta pronta pra dar um tapa na mão dele quando vi sua real intenção- isso aqui existe- ele me mostrou meu próprio celular- segundo...a minha casa é mais perto do hospital- ele assistia minha reação- e terceiro...você é uma alma caridosa...- ele não parava de rir.
- Que isso tem a ver?- perguntei, estranhando a colocação dele.
- Você por acaso tem alguma idéia - ele começou a falar baixinho, como que sussurrando, como se ninguém pudesse ouvir- de quanto tempo eu não...- ele parou, me olhou e voltou os olhos pra direção- não...transo.
- E o que eu tenho a ver com isso? - eu disse incrédula - Você pode ir desistindo se você acha que eu vou transar com você! - eu disse irritada. Eu não podia acreditar na cara de pau dele em me dizer aquilo. - Eu quero ir para casa Carter! E melhor você da meia volta com esse carro agora!
- Hum Abby... Tinha me esquecido o quão sexy você é quando esta irritada... - ele disse no meu ouvido - E alem do mais você sabe que a minha casa vai ser sempre sua casa... - ele disse sorrindo ainda mais.
- Vai te fuder Carter vai! - eu abri minha bolsa pegando meu celular para ligar para o Luka - Vou ligar pro Luka... E melhor assim...
- A mais não vai mesmo! - ele disse pegando o celular e jogando pela janela do carro. Mas que filho da p...!
- Você tá louco?- confesso que eu já começava a ficar assustada. Onde esta o John Carter que eu conhecia? Controlado e sereno, SEMPRE!
- Sim, to louco! Porra, cansei! Parei de ser o certinho, o controlado e bom moço...
- Bom moço? Agora você que se fazer de coitado?- vi que ele parava no acostamento da estradinha que tinha entrado e eu, particularmente, não tinha a menor idéia de onde dava- você não é bom moço coisa nenhuma...e agora ainda tá querendo se dar bem as minhas custas? Eu to bêbada, não morta!- abri a porta do carro e ele me segurou pela mão. Ainda bem, eu diria pois aquela rua estava escura e sombria . Não havia alma viva ali.
- Calma, vamos conversar, vai!- ele fez com que eu ficasse a centímetro dele, me puxando pelo braço.
- Me solta, você tá me machucando!- eu gritei, mas ele não se separou de mim- já disse que não quero conversar, caramba!
- Eu tento ser objetivo e você não gosta, eu tento conversar e você não quer! - ele disse sorrindo - Não sei mais o que fazer!
- Me deixa em paz Carter! - eu disse querendo me soltar.
- Olha Abby! Para de querer se fazer de vitima aqui ta me entendendo! Não adianta você negar para mim que não quer nada comigo, que toda vez que eu estou assim próximo de você, você não tem medo que eu vá te beijar!
Ele disse olhando nos meus olhos e eu me soltei dele.
- Escuta aqui Carter! Deixa de ser prepotente! Primeiro eu não tenho medo de você! Segundo eu já estou em outra ta bom! Será que da para me esquecer caramba?
- Não...- eu ouvi ele dizer assim que sai do carro. Não tinha pra onde ir então me encostei na parte traseira do carro dele e peguei um cigarro da bolsa. Ainda bem que eu guardava alguns pra situações como essa. Acho que na verdade sempre guardei um, esperando que ele viesse "me importunar".
Escutei a porta abrindo e a sobra dele vindo em minha direção.
- Desculpa...- ah, agora? Filhdamãe!
- Desculpa! Nem vem tentar se redimir para ima de mim não ta? Você acabou de jogar meu celular da janela!
- Eu te dou um novo! O modelo que você quiser! Agora entra nesse carro!
- Nem fudendo eu entro ai de novo Carter!
- Não me faz ficar nervoso de novo, Abby- ele me olhou- e joga essa merda fora!- ele tirou o cigarro da minha mão! Será que você não consegue seguir em frente com nada? Po!
Eu ajeitei a minha bolsa no colo e olhei bem na cara dele.
- Olha bem, porque vai ser difícil você me ver outra vez na sua vida!
Ele colocou a mão na minha cintura. Quando eu ia tirar as mãos dele de mim ele disse no meu ouvido.
- Você sair da minha vida? Não mesmo! Nem que eu gaste todo o dinheiro que eu tenho eu te acho.
- Ta bem... Ate parece que vou acreditar nas suas promessas! Vai fazer elas para a macaca lá quem sabe ela acredita e ainda de quebra te tira da seca Carter!
Vi o ódio nos olhos dele. Eu também não era fácil! Ao invés de acalmar as coisas, provocava mais, mas eu não poderia deixar pra menos.
- Me leva pra casa, Carter. Por favor...- eu disse abaixando os olhos.
- Eu não! - ele foi indo em direção ao carro- você que se vire!
Filhodapuuuuuuuuuuta! Como eu odiava quando ele agia feito um meninho!
- Você me deixa doente! Sabia? Você não tem noção de nada!- eu gritava e ele ia mais e mais em direção ao carro. Quando pensei q finalmente ele ia se sentar no volante e sair correndo, me deixando pra chegar sozinha, sabe-se lá como, em casa. Ele voltou.
- Cala boca! Fica quieta! Não diz mais nada!- ele veio vindo pra cima de mim. Agora ele estava nervoso. Nervoso como nunca achei que eu pudesse ver.
Ele me agarrou pela cintura me empurrando contra a porta e me beijou como nunca havia me beijado. Uma mistura de bebida, raiva e desejo. Senti a língua dele deslizando contra a minha como se estivesse provocando. Eu apenas correspondi o beijo da mesma maneira. Enquanto ele me beijava como se aquilo fosse a última coisa no mundo eu sentia suas mãos segurando as minhas a cima da minha cabeça. Eu tinha que parar antes que aquilo tomasse proporções inaceitáveis.
- Carter- eu chamei, ainda dentro do beijo. Até parece que ele ia parar. Comecei a virar meu rosto de lado, mas ele sempre acompanhava.
- Pára...- pedi mais uma vez. Eu já não tinha força pra nada. Além da bebida, toda aquela discussão de poucos minutos atrás e aquele beijo magnífico me deixavam sem força pra abraçar uma formiga.
Ele me beijou de novo antes que eu pudesse falar alguma coisa. Não que eu não estivesse gostando, mas das vezes em que eu pensei em nos dois juntos, agressividade nunca estava presente. Eu senti as mãos dele na minha blusa e eu o empurrei para longe.
- Sai fora Carter! - eu falei antes que eu começasse a chorar. - E se você não me levar para casa eu vou!
- Abby você não entende não é? Acha que tudo tem que ser do seu jeito? Pois hoje eu te digo o que fazer!
Ele veio de novo e ao contrário do que eu esperava, me deu um beijo na testa. Um ato tão angelical depois de tanta brutalidade? Depois dizem que as mulheres que são incompreensíveis!
- Fica calma- ele me abraçou forte- eu não vou machucar você...- e me deu outro beijo, agora no rosto. Eu tremia até meu último fio de cabelo. Ele parecia um maníaco daqueles bem perigosos que a gente atende lá no County, com a diferença de que eu não tinha dois policiais perto de mim agora. Mas...poxa, vida! Era Carter, ali. O homem que eu amei por muitos anos...aquele pelo qual eu não consigo definir meu sentimento hoje.
- Relaxa...- ele falou bem perto do meu ouvido, fazendo com que todos os meus músculos se contraíssem. Eu disse TODOS. Ele passou a beijar o meu pescoço, enquanto prendia as minhas mãos pra baixo, com a força dos braços.
Ele continuou falando no meu ouvido com aquela voz tão sexy que fazia eu morder meu lábio para não gemer.
- Já disse para relaxar... Não vou fazer nada de que você não goste... - Ai Carter estava me deixando louca. Tentei empurra-lo quando eu senti ele chupando meu pescoço, mas foi em vão. Quanto mais eu tentava afastar, mas forte ele chupava o meu pescoço e aquilo estava me deixando muito "animadinha".
Ele me olhou nos olhos antes de me beijar de novo. Dessa vez com mais calma, mas não com menos desejo que antes. Parecia que ele queria me enlouquecer.
Parecia, não. Ele queria e não fazia questão nenhum de disfarçar. Senti um chupão mais forte no pescoço. Puta merda! Ele me conhecia, sabia o quanto eu odiava ficar marcada. Isso não era nada legal, principalmente eu que costumava sempre ir trabalhar com as blusas decotadas nessa época do ano.
- Pode fazer barulho, não tem ninguém aqui pra escutar- ele voltou a me beijar no pescoço, enquanto as mãos iam descendo pelas costas e eu já podia sentir algo tocando a minha barriga- viu? Viu como você é gostosa?- ele me olhou nos olhos e falou bem perto da minha boca- Não tem como ter controle...olha só como você me deixa...- ele pegou a minha mão e puxou pra entre nós. Eu fiz um pouco de força pro lado contrário, inutilmente, é claro.
- Hum... Se fazendo de difíci, né? - ele disse me beijando de novo - Sabe que quanto mais você resiste mais eu quero te dominar Né? - ele disse colocando a mão por dentro da minha calca jeans. Ai meu Deus! Ninguém merece isso! Eu gemi alto quando senti a mão dele encostando em mim. Era difícil resistir. Difícil demais.
- Hum... Minha Abby esta de volta...
Me dei conta do que tinha feito e me calei de imediato. Ótimo! Além de estar sendo bolinada eu ainda tinha que ficar calada! Logo vi ele entrar com as mãos por de baixo da minha blusa, que não era tão larga assim. Foi com uma mão apenas para atrás das minhas costas e fez o que tanto temia: abriu meu sutiã. Eu não podia falar nada, uma vez que ele não parava de me beijar pra eu não ter como gritar. Consegui tirar a mão que ele tinha me obrigado a por onde não devia e passei a empurrá-lo da minha frente
- Sai!- eu gritei quando ele deu uma trégua. Imediatamente senti suas mãos irem de encontro com os meus seios e senti uma pressão muito grande- ai ai, Carter, você tá me machucando...Tira a mão dai!- peguei naquele braço dele e tentei empurrar, enquanto com a outra mão ele me segurava e na parte de baixo, a todo custo, tentava "aumentar nosso contato".
- Abby... Para de se fazer de difícil, linda... Eu consigo sentir que você esta louca de tesão para que isso aconteça e só de pensar nisso eu fico com mais vontade de ter você.
- Carter... - eu dizia num sussurro baixo enquanto ele acariciava meu seio.
Eu não parecia colaborar com ele e eu via que aquilo o estava irritando... Irritando ate demais.
- Olha...vamos conversar- ele disse apertou ainda mais meu seio e a mão que me segurava passou a desabotoar minha calça- se você não colaborar comigo, vai ser pior...- ele parou e riu- ou melhor, né? Depende do ponto de vista...
Ele estava louco! Bêbado, louco! Não tinha noção do que dizia, não mesmo! E não era o Carter...não era o meu John...o John Carter que...quer eu queira ou não, eu amava.
Eu o empurrei e ajeitei minha roupa. Se ele pensava que eu ia transar com ele desse jeito nesse lugar ele ia ficar pensando isso!
- Eu não transo com cafajestes não Carter! Então me deixa em paz de uma vez por todas. Ele ficou me olhando de esguio e se afastou um pouco. Eu me controlava pra não chorar daquela situação que eu jamais tinha que passar.
- Você quer o que?- ele gritou, da outra ponta da estrada- olha como você anda me tratando? O que você acha que eu deveria fazer pra te ter de volta?- ele parou um pouco de falar. Antes que eu pudesse falar algo, ele voltou a berrar- quer que eu fale com os seus pais, diga que te ame, espere você "estar preparada"? Eu já fiz tudo isso, Abby
- E jogou fora!- eu devolvi no mesmo tom- jogou e agora não tem como conquistar tudo de novo assim então...
- É isso mesmo! Se não dá pra ser como foi, estou tentando de outra forma, não dá pra você ver? Somos bem crescidinhos, você não acha?- ele começou a chorar. Bêbado é foda mesmo.
- Crescidinhos? E só porque eu sou adulta você acha que pode me estuprar assim, no meio do mato e eu tenho que ficar quieta?- ele pareia ao menos pensar no que eu disse- me poupe! Não é assim que você vai conseguir o que você quer... - Você me irrita! Você me irrita demais!- eu berrei e fui caçar outro cigarro na minha bolsa! Que merda!
- Você que é escandalosa demais! Affff- ele vinha na minha direção quando um carro virou, fazendo com que ele tivesse que esperar um pouco para então atravessar- vamos, vou te levar em casa...
Orra, demorou, hein? Mas eu não disse nada. Não queria provocar mais discórdia. Ele simplesmente sentou no banco e esperou que eu entrasse. Acendi meu cigarro e me pus no meu lugar. Logo o vi fazer a volta com o carro e nos encaminhar para a avenida conhecida que dava na minha casa.
- Carter...
- O que! - ele disse irritado.
- Nada... Nao quero mais discutir...
- Nem eu... Desculpe por hoje... Eu estou bêbado... Não sei o que faço.
Eu fiquei quieta por um instante. Finalmente o álcool fazia efeito em mim e eu tinha vontade de vomitar até o que não comi.
- O melhor é esquecer..- eu disse, pegando na maçaneta pra sair do carro- vamos voltar a onde nunca deveríamos ter saído. E ninguém precisa ficar sabendo de nada disso, ok?- olhei pra ele que me encarava- NADA mesmo...
- Ok..- ele ia continuar a falar quando eu não pude mais agüentar. Abri a porta e pus tudo pra fora. Voltei a cabeça dentro do carro e ele já me esperava com um lenço de papel na mão.
- Obrigada- disse sem olhá-los, limpando a minha boca.
- Acho que você vai ter uma boa ressaca- ele disse, meio sem jeito
- É. Pior que nem tive uma boa noite de porre pra compensar...
- Desculpe... - ele disse sorrindo - Parte disso e minha culpa.
- E, concordo, mas eu também estou fraca para bebida. - eu disse rindo, aquela carinha triste me partia o coração.
- Tudo bem... Agora tente descansar esses minutinhos. - ele disse rindo.
Sai do carro calmamente. Ate que o clima estava bom. Pelo menos ele não tava me atacando.
- Abby... - ele me chamou antes de eu entrar.
- Sim...
- Eu fui um indelicado essa noite e fui o causador da sua ressaca... Então por que eu não subo e preparo um chá para você? E antes que você me faca essa cara de desconfiada deixa eu te dizer que eu não tenho segundas intenções não...
Ele não era lindo! Eu não sei se era a bebida ou fato de eu ter aceitado que ainda amo aquele homem, mas aquela carinha de preocupação derretia minha defesa.
- Não sei não Carter...
- Ah vai... Juro que nada vai acontecer...
- Hum... Ta vamos... Mas só porque você sabe fazer um chá perfeito- "chá perfeito"? De onde eu tirei isso? Qual é o segredo de por um pouco de água quente em um saquinho?
- Na paz...- ele fechou o carro e vinha na minha direção- chega de "estupros"- ele virou os olhos- por hoje.
Subimos as escadas e chegamos finalmente a porta do apartamento. Entrei primeiro naquela escuridão enquanto ele fechava a porta. Já era noite e nada estava aceso.
Fui até a cozinha e abri a geladeira
- Nada pra comer...- fiz uma feição decepcionada- vá fazendo meu chá. Vou tomar um banho pra ver se passa essa dor de cabeça.
Carter apenas acenou e ficou tentando achar algo que prestasse para comer, vendo que apenas tinha coisa ruim. Ele se sentou no sofá quando o telefone tocou. Ele olhou para o lado e atendeu no segundo toque.
- Alo!
- Abby?
- Não... E o Carter...
- Carter? - Luka ficou se perguntando o que o ex-namorado de Abby fazia no apartamento dela às 11 horas. Ele respirou fundo tentando tirar aqueles pensamentos da cabeça e tentou falar em um tom calmo.
- A Abby ta ai!
- Não... quer dizer... Sim, mas esta no banho... Ela estava com dor de cabeça...
- E por que ela não atende o celular?
- Ela teve, digamos assim, um probleminha com ele...
- Probleminha! Que problema?
Carter aparece na porta do meu quarto com o telefone na mão quando eu estava só de calcinha e sutiã. Ele sorriu e disse num tom divertido:
- Luka no telefone.
Oh, Deus! Tudo o que eu mais precisava nesse momento! Problemas com o Luka! Segurei o telefone sabendo que por aí vinha briga.
