Disclaimer : Bem que eu queria ser capaz de criar um mundo tão fantástico, mas não sou. Então todos os personagens e ambientação que se seguem pertencem a J.K.Rowling.
Traições, traidores, traídos
– Entre, Severo, temos visita.
– Sim, meu senhor – Severo Snape entrou no aposento e deu com uma bruxa muito loura, com ar deprimido. – Ah, Narcisa, é você? Como está, amiga?
– Bem, dentro das circunstâncias. Vim aqui pedir ao Lord das Trevas clemência para o meu Draco. Ele é só um menino.
– Ele já alcançou a maioridade, Narcisa, pare de tratá-lo como um bebê – Snape repreendeu a amiga. – A imaturidade dele não só quase pôs a sua missão a perder, como por pouco não me mata.
– A culpa foi sua, Severo – advertiu o estranho homem de olhos vermelhos e narinas de cobra. – Se o Voto Perpétuo fosse algo a ser feito assim tão levianamente, eu exigiria que todos os meus Comensais fizessem um de lealdade a mim. Evitaria traições como sofri quando aquela maldição da morte refletiu na proteção que Lílian Potter lançou sobre o filho. Mas, em compensação, hoje eu estaria quase sem servidores. Não controlamos as condições em que as coisas acontecem e podemos ser levados a descumprir o Voto por ocorrências fortuitas. Que fique bem claro para vocês dois que não me agradou nada vocês terem tomado essa atitude sem ter me consultado. Se você queria ajuda de Severo, Narcisa, podia pedir, desde que isso não atrapalhasse meus desígnios em relação ao seu filho. Mas não devia ter pedido algo tão drástico. E você, Severo, nem reconheço o homem sempre sensato que costuma ser, arriscando assim o pescoço por causa dos caprichos de uma mulher.
– Sim, meu senhor. Reconheço que foi um ato impensado. Não imaginei que o rapaz fosse agir como o fez.
– Como assim, expliquem-me? Não sei direito o que aconteceu – pediu Narcisa.
– Apesar de sempre ter tido uma convivência tranqüila e de confiança mútua com seu filho anteriormente, dessa vez Draco cismou que eu queria roubar a sua glória e teimou, não apenas em fazer as coisas a seu modo, mas em manter-me desinformado – começou Severo Snape. Se Minerva não tivesse me chamado para ajudar na defesa da escola, eu não saberia de nada, não estaria lá, quando ele esteve prestes a falhar e teria morrido por falta de informação.
– E agora, me diga, Narcisa, e você também, Severo, o que faço com esse menino?
– Por favor, poupe-o, Senhor – respondeu Narcisa. Ele cometeu erros, mas a missão foi cumprida no fim das contas. E conseguiu fazer entrar muitos Comensais da Morte dentro da escola de Dumbledore, permitindo que após a morte deste, todos os envolvidos pudessem se retirar sem maiores danos, inclusive Severo. Dê-lhe outra missão onde possa comprovar seu valor, como prender ou matar Potter.
– Na verdade houve uma morte, Narcisa. Mas não foi culpa de Draco ou do plano, mas de uma maldição mal lançada de um dos nossos – corrigiu Lord Voldemort. – Quanto a Potter, não quero ninguém se metendo com ele, nem para matá-lo, nem para torturá-lo. E quanto a prendê-lo ou não, isso só a mim cabe decidir. Eu já deixei isso bem claro para Draco, mas é bom que você repita. Você ainda não respondeu a minha pergunta, Severo.
– Senhor, creio que o rapaz comportou-se de modo imaturo, mas esse é um problema que a idade e a experiência corrigem. Sei que Dumbledore só não deu cabo dele porque tinha esperanças de afastá-lo do compromisso com o senhor e deve ter oferecido alternativas ao rapaz. Ele teve dificuldades em proferir a Maldição da Morte, e foi bom assim, pois a fênix de Dumbledore estava a postos para socorrê-lo. Dumbledore não precisaria de varinha para se defender. Lembram como se livrou de dois aurores, do Ministro da Magia, de Dolores Umbridge e daquele pateta do Percy Weasley, todos ao mesmo tempo, no ano passado? Enfim, apesar de sua hesitação, Draco não cedeu à tentação de fugir do dever ou de se aliar a Dumbledore. E mostrou-se muito inteligente e hábil conseguindo que vários Comensais entrassem na escola, apesar de todas as defesas que Dumbledore erigiu. Ele tem inteligência que poucos bruxos, sejam ou não seus servos, possuem. Ainda pode ser muito útil. Mas deve ser advertido, é claro. De modo a apressar esse processo de amadurecimento.
– Como sempre, bons conselhos, Severo. O menino quase estraga tudo e quase me fez perder um de meus servidores mais capazes, que é você. Mas ele tem futuro, de fato. Por que não o deixou terminar a missão, Severo?
– Porque, como disse, Dumbledore estava preparado para enfrentar o rapaz e os Comensais que chegaram para ajudá-lo também. Por isso tive que matá-lo imediatamente quando cheguei à Torre. Nesse lapso de momento, ele se descuidou de seu plano para me suplicar que o ajudasse a convencer Draco. Minha resposta o tomou de surpresa, não lhe dando ocasião para acionar seu pássaro e fazer os feitiços previstos.
– Bem, Narcisa e Severo, estão dispensados. Pensarei melhor em como ao mesmo tempo reconhecer e recompensar os aspectos positivos da atuação de Draco e mostrar-lhe sem sombra de dúvidas que não se pode admitir tais vacilações nem tal comportamento infantil de alguém que se pretenda meu servo.
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Chegando na casa dos tios, Harry foi ajeitar suas coisas e ler o pergaminho.
Como imaginava, o seu conteúdo era destinado a lhe passar informações que porventura o diretor não tivesse tido oportunidade de dar pessoalmente. Para sua surpresa, porém, havia muito pouco sobre Horcruxes, só indicações sobre possíveis lugares onde buscar mais informações sobre relíquias de Rowena Ravenclaw e anotações sobre a localização da caverna em que tinham obtido a falsa Horcrux, mas provavelmente aquilo tinha sido escrito alguns dias antes da morte de Dumbledore. Na apresentação, Dumbledore explicava que iria modificando o pergaminho, à medida que obtivesse novos dados ou transmitisse novos conhecimentos ao rapaz. Não tinha tido tempo de atualizá-lo depois da ida à caverna.
Harry ficou desanimado, dali não sairia muita coisa. No entanto não era só disso que o pergaminho tratava. Ao final, estava escrito o seguinte:
Harry, sei que você não gosta de Severo, mas é preciso que tente superar seus preconceitos. Severo não sabe, nem deve saber de toda a profecia nem das Horcruxes, pois sua proximidade com Voldemort e os Comensais da Morte lhe traz muito perigo. Se, por algum descuido ou infortúnio, ele deixa cair um pouco da sua oclumência, e alguém descobre sobre as Horcruxes, não apenas ele estaria imediatamente condenado à morte pela posse de tal informação, como nossa probabilidade de conseguirmos exterminá-las seria consideravelmente diminuída.
Apesar disso, você sempre poderá contar com ele para ajudá-lo a superar os efeitos da Magia Negra que porventura estejam protegendo as Horcruxes. Sempre que for atingido por efeitos de Magia Negra poderosa é a ele que deve recorrer. Papoula, apesar de muito competente, não conhece nem um décimo das maldições que Severo é capaz de enfrentar.
Se ainda tem desconfiança quanto à verdadeira lealdade de Severo, acho melhor que saiba toda a história. Não lhe contei em vida porque é um segredo dele. Mas sei que, se estou morto, fica muito mais difícil ao pessoal da Ordem da Fênix confiar cegamente em Severo Snape. Por isso vou lhe confiar seu segredo, pois você é a pessoa que acho que mais precisa confiar nele. Não conte para ninguém, todavia, nem para seus amigos, pois isso coloca a segurança de Severo em risco. Quanto mais gente souber, pior.
A mãe de Severo casou duas vezes com trouxas. Sim, Tobias Snape era um trouxa e os Comensais sabem disso vagamente, mas para eles ser "mestiço" não é considerado tão terrível. O que eles não admitem são os nascidos trouxas, como sua mãe ou Hermione, e os traidores de sangue, os de "sangue puro" que se misturam a trouxas e nascidos trouxas. Eileen, a mãe de Severo, passou a ser bastante visada, pois apesar de seu sangue puro e seu sucesso entre os bruxos sangue puro, traiu o sangue, não apenas uma vez, mas repetidamente. Isso atraiu o ódio de alguns comensais contemporâneos dela, como o pai de Rodolfo Lestrange, que tinha sido apaixonado por ela, quando moços e tinha sido rejeitado. Por isso a matou. Tom Riddle permitiu que isso ocorresse, sem saber que ela era a mãe de Snape. Lembrava mais de seu nome de solteira, Prince e do nome do segundo marido, Jones, que era o nome que ela usava já há muitos anos na época em que foi assassinada.
Mas Severo amava com paixão sua mãe. Idolatrava-a, por assim dizer. Quando soube do que aconteceu, caiu em si acerca de como essa perseguição aos "traidores de sangue" é tola e perversa. Por isso voltou-se contra Voldemort e seus asseclas. Por isso, arrependeu-se de ter praticamente enviado Lilian Potter para a morte.
Lílian o tinha defendido muitas vezes e era uma pessoa extraordinária. Severo a chamava de "sangue-ruim", com desprezo, na época da escola. Mas isso era mais uma coisa de adolescente que quer ser aceito no seu grupo. E o grupo dele era o de gente esnobe, defensores da pureza do sangue.
Quando caiu em si quanto ao absurdo da perseguição a nascidos trouxas, Severo pôde admitir para si mesmo que até admirava Lílian e que gostaria de ser seu amigo. Porém, ela estava praticamente condenada, por culpa dele mesmo, que contou a primeira parte da profecia para Voldemort.
Nessa ocasião, você tinha acabado de nascer, Severo veio até mim, contou toda a sua história, admitiu que era um Comensal da Morte e pediu-me que o ajudasse a se redimir. Não queria mais participar do grupo, mas sair dele era suicídio. Você já deve ter ouvido falar do que aconteceu com Régulo Black, por exemplo.
Examinamos várias possibilidades e chegamos à conclusão que o melhor seria ele continuar se fazendo passar por Comensal da Morte e espionar para a Ordem da Fênix. Isso nos ajudaria e muito e ele tentaria evitar a morte dos Potter. Foi ele que me contou que Voldemort pretendia matá-los e que provavelmente havia um traidor muito próximo aos Potter.
Fizemos o Feitiço Fidelius, tendo Gideão Prewett como Fiel. Voldemort não desconfiaria, pois não eram muito ligados. Mas Prewett tinha ouvido a história de Snape por acaso, então valia a pena usá-lo para isso, pois Voldemort não desconfiaria dele. Foi quando ele morreu e tivemos que trocar o Fiel que seus pais quiseram que fosse alguém íntimo, alguém de sua inteira confiança, Sirius Black. No entanto, Sirius os convenceu que se trocassem de Fiel na última hora ficariam ainda mais protegidos, pois ninguém imaginaria que iam escolher logo o Pedro. O que se seguiu você já conhece.
Espero que com esses esclarecimentos e com o conhecimento que a intervenção de Severo foi fundamental para que seus pais tenham vivido por mais um ano e que você tenha tido ao menos um ano de vida com eles ( você pode nem lembrar desse ano, mas ele certamente foi fundamental na formação de sua personalidade), você possa superar seus preconceitos e tratar Severo com mais tolerância.
Seu amigo,
Alvo Dumbledore
Harry estava muito confuso. Parecia que as razões de Dumbledore para confiar em Snape não eram tão frágeis. Snape tinha podido prolongar a vida de seus pais e isso certamente era importante. Mas se Snape os tinha ajudado então, por que teria matado Dumbledore?
Exausto, depois de um dos dias mais fatigantes emocionalmente de sua vida ( e olha que ele já tinha passado por poucas e boas), Harry resolveu ir dormir cedo.
Mas quem disse que conseguia dormir? Os acontecimentos do dia não paravam de rodar em sua mente. O funeral de Dumbledore, os conselhos deste quanto a voltar para Hogwarts, as informações sobre Snape, a ruptura com Gina e a conversa com ela no trem. Ali, sozinho em sua cama, o seu pensamento foi gradativamente deixando Dumbledore, Horcruxes, Snape e se concentrando na garota.
Como queria poder estar nos seus braços, esquecer seus problemas só por um momento nos beijos dela, para em seguida discutir os problemas com ela e ouvir suas idéias. De repente, Harry teve uma epifania. Sim, era isso, como era tolo. Ele precisava dela. Quando tivera necessidade de falar com Sirius no passado, fora ela quem o ajudara a encontrar a solução. Ela tinha coragem e criatividade para pensar em soluções inusitadas. Ele estava acostumado a trabalher com Rony e Hermione, formavam uma equipe afinada, mas em certas horas a cara dura de Gina, aquela dose de travessura que ela aprendera com os gêmeos poderiam ser necessários.
– Nada disso – pensou. Nada de arranjar desculpas para colocá-la em perigo.
– Mas ela já está em perigo de qualquer jeito. E está infeliz com isso. Só quero a felicidade dela.
– É mesmo, tem certeza de que esta sua súbita vontade de reatar não tem nada a ver com certas reações de certas partes de seu corpo ao pensar nela?
E com esse tipo de discussão interna, Harry só conseguiu dormir umas poucas horas.
No dia seguinte, logo cedo sua tia o chamou para ajudar no café da manhã. Tonto de sono, o rapaz saiu correndo para ajudar a tia. Não conseguia nem abrir os olhos direito e não viu um sapato de Duda no meio do caminho. Tropeçou e rolou escada abaixo, batendo com a cabeça e desmaiando.
Algum tempo depois, Harry acordou dentro do carro com sua tia.
– O que houve?
– Você bateu com a cabeça e estou levando-o ao hospital.
– Cadê o tio Válter? Você o deixou sem café da manhã?
– Convenci-o de que precisava trazer você no hospital. Negligência é crime.
Harry pensou consigo mesmo por que será que tia Petúnia tinha resolvido descobrir esse pequeno fato agora, depois de todos aqueles anos em que fora tratado da maneira mais abjeta? Talvez a conversa de Dumbledore com os tios no ano anterior tivesse mexido em alguma coisa dentro da cabeça dela.
No hospital, como havia suspeita de traumatismo craniano, fizeram uma porção de exames. Enquanto isso, Harry resolveu conversar com a tia.
– Tia Petúnia, a senhora está diferente. Está me tratando como se eu fosse gente e não um ser de outra galáxia, que não merece consideração – disse o garoto meio sem jeito.
– Não fique constrangido. Você tem razão para estranhar. Foi aquela conversa de Dumbledore quando ele veio te buscar o ano passado. De repente me dei conta que em breve você iria embora e provavelmente, depois de tudo o que passou lá em casa, nunca mais voltaria nem me daria notícias. Foi isso que construí ao longo de toda a sua vida e até antes dela. Quis eliminar toda a minha ligação com o mundo da magia. Mas quando Dumbledore contou que aos dezessete você já não teria motivos para ficar conosco, dei-me conta que vou sentir muito a sua falta. Eu o criei, Harry. Você é filho da minha irmã. Por mais que eu tenha tentado não ter laços emocionais com você, eles existem e vou sentir muito essa separação, mais ainda do que senti a falta de Lílian, quando deixamos de nos ver.
– Sempre pensei que não gostava de mim.
– Mas eu gostava. Tentava não demonstrar isso, pois não podia admiti-lo nem para você, nem para o Válter, que realmente não suporta a minha ligação com a bruxaria, nem para mim mesma. Mas como é possível não gostar de um bebezinho que vem parar nas minhas mãos, meu sobrinho, ainda por cima?
– Pensei que não gostasse da minha mãe.
– Nós éramos irmãs, com idades próximas. É claro que gostava dela. É claro também que vivíamos brigando e disputando coisas. Quando ela foi para aquela escola, fiquei com vergonha de ter uma irmã tão estranha, e zangada também, porque nossos pais acharam aquilo maravilhoso. Também fiquei curiosa em relação àquele mundo tão diferente. Nunca deixei de gostar dela, no entanto.
– Por que então deixou de ter contato com ela ainda antes do meu nascimento, como disse agora?
Nesse momento a conversa deles foi interrompida pela chegada dos resultados dos exames. A médica foi logo dizendo.
– Não há edema. Tudo não passou de um susto. É bom, porém, que o rapaz não durma nas próximas horas. No entanto, há uma coisa muito intrigante nos exames. Parece que há um objeto dentro de seu crânio. Vocês têm alguma idéia de como foi parar lá?
– Lá, onde? – perguntou Harry .
– Na sua testa, dentro da caixa craniana, veja – e a médica mostrou-lhe o exame.
– Suponho que tenha a ver com a minha cicatriz ?
Petúnia, de repente interrompeu e não deixou Harry dizer mais nada. – Oh! Ele ainda era um bebê. Houve uma explosão na casa dele. Eles tinham acabado de se mudar e o proprietário anterior tinha uma firma de explosivos e tinha sobrado alguns no porão. Os pais dele morreram e ele ficou com essa cicatriz, mas se recuperou bem, nem se queimou gravemente, imagine.
– Bem, parece que alguma coisa foi arremessada contra a cabeça dele e foi parar lá dentro. Muito estranho que ele não tenha morrido. Ele nunca apresentou problema neurológico? – a médica comentou, enquanto Harry olhava espantado para a tia. De onde ela tinha tirado aquela mentira ?
– Não, que eu saiba, não. E fui eu quem o criou, saberia de algo, portanto.
– Sorte. Que idade ele tinha ?
– Quinze meses.
– Bom, nessa idade, o cérebro ainda é muito plástico, o que certamente deve ter ajudado na recuperação. Não é o caso de se tentar retirar, pois provocaria uma lesão no cérebro. E parece que o objeto está inerte aí há muito tempo e seus neurônios se acomodaram em torno dele.. Acho que não precisa se preocupar. Se começar a ter dores de cabeça, porém, volte aqui, para acompanharmos o que acontece com esse negócio. De qualquer maneira, Sr. Harry Potter, você está liberado no momento.
Na volta para casa, Harry e a tia retomaram a conversa.
– Tia, posso perguntar por que sempre me tratou como se eu fosse um perigo para você, sua casa e sua família ?
– Pode perguntar o que quiser, desde que estejamos a sós. Acho que já está na hora de responder algumas perguntas. A resposta é : em parte, porque era assim que eu sentia, Harry, e ainda sinto. Em parte, para que seu tio não ficasse com a idéia de que aprovo esse negócio de bruxaria e nos abandonasse.
– Como um garotinho poderia ser perigoso?
– Não era exatamente o garotinho, mas tudo o que você significava. O mundo de onde saiu. Válter não suporta os bruxos, mais porque os vê como pessoas de hábitos não aceitáveis por gente de bem, como nós. Eu também não aprovo os hábitos de vocês, mas tenho bem mais claro como podem ser perigosos. Lilian foi atraída por esse mundo e com pouco mais de vinte anos teve que se esconder de todos, viver quase que clandestina. Você nem batizado direito foi, sequer tem uma madrinha. Porque tudo era sigiloso e escondido. E mesmo assim ela acabou morrendo.
– Mas antes dela morrer você já tinha se afastado dela, não é? Pelas coisas que o tio Válter diz...
– Tinha. Como eu disse a você achava essa coisa de bruxaria muito esquisita, mas as coisas pioraram nas férias de Natal do último ano de Lílian na escola. Ela já namorava o seu pai, mas quando veio passar o feriado conosco não foi o Tiago quem ela trouxe e sim o tal de Black. Ele estudava uma matéria sobre como as pessoas normais vivem, existe isso, não é?
– Sim. Estudo dos Trouxas. Sirius era de uma família totalmente bruxa, não devia saber nada sobre o modo de vida de gente "normal", como você diz.
– Exato, ele não sabia nada mesmo. E tinha de fazer um trabalho mais aprofundado, pois parece que teria um exame bem difícil no fim do ano, como um A-Level(1), pelo que entendi. Como ele estava rompido com a família e os Potter estavam com problemas de saúde, eles resolveram que seria melhor o Black vir com a Lílian ao invés de ficar com o Tiago, como costumava fazer. Ele aproveitaria para aprender sobre a tal matéria.
– E daí? Qual o problema com o Sirius?
– Black era um rapaz muito charmoso e eu, que estava numa fase rebelde, resolvi parar de implicar com a estranheza dos bruxos e me deixei seduzir pelo seu encanto. Trocamos uns beijos e carícias. Fiquei apaixonada. Mas ele não prestava e dali a uns dias, ainda me namorando, já estava dando em cima da minha melhor amiga. Ele aprendeu logo os nossos hábitos, principalmente os de como chegar numa garota. Foi aí que fiquei desiludida de vez com os bruxos.Eles não prestam, aproveitam-se de seus poderes para nos enganarem. E para completar, ouvi uma conversa dele com sua mãe, em que falavam desse tal de Soudemorte
– Voldemort – consertou Harry.
–Que seja. O tal que matou os seus pais. Sirius contou que o irmão e as primas dele estavam se passando para o lado desse Voldemort e que queria que fossem todos parar na tal prisão cheia daquelas criaturas horríveis que atacaram o meu Duda. Fiquei horrorizada com o que ele contou e nunca mais quis chegar perto de vocês. Parece que o tal de Voldemort, e os parentes do Black também, não aceitavam gente como nós nem os bruxos ligados às pessoas normais, por isso Lílian sempre ia ter problemas, que de fato ela acabou tendo. E eu fiquei com muito medo que esses problemas acabassem por me atingir.
– Mas você não teve problemas, teve?
– Até você chegar em nossas vidas, não. Pouco depois desse Natal conheci seu tio, um homem que não aceita essas esquisitices e que me ajudou a me manter longe de tudo isso, mesmo quando aceitamos ficar com você.
– Não se preocupe, tia. Eu atraio problemas, mas logo vou sair para sempre da sua vida. Mas se quiser saber de mim, a gente pode pensar num jeito de manter um contato de vez em quando. Sei usar o correio trouxa e o telefone público, afinal de contas.
– Bem, chegamos. Não conte nada dessa nossa conversa para Válter nem para o Duda, tá? Depois, quando estivermos sozinhos, tem umas coisas que vieram com você e que eram de seus pais que quero te dar.
Harry entrou e foi para o quarto. Nunca tinha imaginado que poderia ter uma conversa dessas com tia Petúnia. Sentiu falta dos amigos e de Gina, queria poder lhes contar o que acontecera. A conversa tão inesperada fez com que ele nem se lembrasse da coisa mais estranha ainda que acontecera no hospital. Harry nem pensou em como era bizarro ter um objeto dentro de seu cérebro.
(1) A-Levels são o equivalente trouxa dos NIEMs ou NEWTs no Reino Unido.
