Disclaimer: Todos os personagens e ambientação são criação e propriedade intelectual da generosa J.K.Rowling, que nos deixa brincar em seu parque de diversões.

Agradeço à Lua pelos palpites.

Pondo a conversa em dia

– E aí, dormiu bem? Provavelmente sim, pelo tanto que roncou – Harry e Rony acabavam de acordar.

– Estou varado de fome. Vamos descer para o café da manhã?

– 'Bora, que eu é que tenho que preparar. Sempre faço o café da manhã para todos quando estou por aqui.

– Eu te ajudo com um pouco de mágica. O Ministério sabe que estarei aqui esses dias e não vai poder pressupor que quem fez a magia foi você.

Os dois foram para a cozinha e enquanto arrumavam as coisas, conversavam.

– E aí, me conta como vão as coisas n'A Toca?

– As coisas ou as pessoas? Ou melhor, uma certa garota?

– Não enche. Conta as novidades.

– Vamos quase todos bem, na medida do possível. Os gêmeos continuam fazendo muita grana com a loja. O Percy continua não nos dando o desgosto de aparecer. Mas a Gina não 'tá nada bem.

– Você 'tá querendo zoar comigo.

– Nada, cara. É a mais pura verdade. Nunca vi a minha irmã assim. Ela até parou de ficar tirando sarro da minha cara. Parece um zumbi. Eu só ainda não te enchi de porrada, porque ainda tenho esperança de fazer você parar com essa bobagem. Ainda mais depois de ver você dizendo que a ama, ontem.

– Pô, achei que mais que qualquer pessoa, você entenderia que eu não posso vê-la correr mais riscos por minha causa. Irmãos supostamente se preocupam em proteger as irmãs, você, em particular, costumava ter essa mania.

– Justamente por isso eu acho que você precisa parar com essa história. Cara, a Gina está correndo perigo mortal de qualquer maneira, já te disse isso. Mas o negócio é que, deprimida do jeito que ela anda, ela fica com menos reflexos e menos capacidade de lutar.

Lembra da Tonks, como esteve este último ano, que nem conseguia mais mudar de aparência? Parecia sem vida?

– Claro.

– Pois a Gina está pior. Não estava brincando quando disse que ela parecia um zumbi.

– Eu a achei linda como sempre ontem.

– Ah! Seu retardado. Ontem ela ficou feliz de ver você. É isso que me fez parar de dar uma de irmão que protege a irmã dos namorados. É muito visível como essa separação a afeta.

– E você conversou com ela sobre essa história? Que ela disse?

– Ela disse que falou contigo, que sabe que você gosta dela, mas que morre de preocupação ao ser deixada assim de lado. Ela sabe que você deve estar se preparando para barras pesadíssimas e morre de pavor ao pensar no que te espera e que ela vai estar à margem, sem ter notícias, sem poder fazer nada. Eu disse que não tem muito jeito. Eu quero estar ao teu lado, mas sei que tem situações que não dá para compartilhar. Certas barras são tuas, são coisas que você é quem vai ter que enfrentar, mesmo. Ela chorou e ficou se lamentando pela injustiça da vida.

– Droga! Eu faço as pessoas sofrerem só por gostarem de mim. Não é mesmo justo com ela.

– Harry, pára com isso. Justo não é, nem com ela nem contigo, mas vocês estiveram felizes juntos e tenho certeza de que podem voltar a curtir. Basta você maneirar com esse complexo de salvador do mundo e curtir o que a vida ainda pode te dar e está te dando.

– Oi, Harry, trouxe o namorado desta vez? Ainda é o tal de Cedrico? – Duda entrou na cozinha e foi logo provocando.

– Escuta aqui, o baleia cor de rosa. Eu sou visita e espero ser bem tratado. Ou senão esqueço que sou visita e você vai ver.

– Ah, é? E o que você vai fazer?

– Que tal isso? – Rony fez o pijama de Duda se transformar numa camisola rendada, e fez aparecer um chapéu feminino de aba larga com uma flor de lado na cabeça do rapaz. –

Ah! Mas você vai querer ver, não é? – e transfigurou a porta da geladeira em espelho.

Harry quase se dobrava de tanto rir da expressão de espanto amedrontado de Duda.

Pô, vocês não podem fazer magia! Vão ser expulsos da escola;

– Olha aqui, seu babaca patético, posso e fiz. Já sou maior de idade e ninguém vai me espulsar da escola, que, diga-se de passagem, nem sei se ainda vai funcionar este ano.

Gostou da demonstração? Da próxima vez será pior – e, com um aceno da varinha, fez Duda e a geladeira voltarem ao normal. – Se você ficar enchendo o saco, vai ter troco.

Vamos, Harry, vamos dar uma volta. Ah! E você cuida do resto da louça , 'tá bem?

Duda ficou estatelado, boquiaberto e logo voltou a comer, enquanto Harry e Rony saíram para uma caminhada em direção ao parque.

– Falei da minha irmã, mas você não disse como está se sentindo.

– Pô, eu 'tou ferrado, cara. Não tenho conseguido dormir direito. Tudo o que acontece, o que eu descubro, quero falar com ela, mostrar para ela. Quer dizer, nem tudo, não o negócio do Régulo. Mas todas as coisas que têm a ver com a minha vida, com as minhas emoções. A história com a tia Petúnia, as coisas da minha mãe. E, é claro, sinto uma saudade imensa de tocar nela, de beijá-la.

– Pode parar por aí – Rony interompeu, pois não estava interessado no rumo do papo.

– Pelo menos com o espelho a gente pode se falar, mas não sei se isso não vai me deixar ainda com mais vontade de estar junto dela, de dar uns amassos.

– Cara, você precisa se dar conta que, pela própria segurança de ambos, vocês têm que dar um jeito de contornar esta situação. A depressão prejudica nos duelos.

Harry ficou calado, cabisbaixo.

A presença de Rony permitia aos dois rapazes o treinamento prático dos feitiços de defesa que Harry andara estudando. O ministério não tinha como saber qual dos dois estava fazendo os feitiços e eles passaram a treinar todas as manhãs.

No fim da tarde do sábado, Hermione aparatou na rua dos Alfeneiros para colocar os amigos a par do seus avanços.

– Não consegui achar muita coisa em Hogwarts, uma história. Só essas figuras dos fundadores. O livro é mais sobre a escola, mesmo. E nos outros livros que tenho, não há nada – e a garota mostrou as imagens dos fundadores.

Godric Gryffindor não usava adornos e tinha a espada embainhada de um lado do corpo e a varinha na mão. Salazar Slytherin estava desarmado e usava o medalhão e o anel. Rowena Ravenclaw tinha a varinha pendurada num aro trabalhado, num cordão amarrado em sua cintura. Tinha também um pequeno broche com a efígie da deusa Minerva. Helga Hufflepuff usava também um medalhão e apoiava a mão numa mesa, onde estava a sua taça.

– Legal, Hermione. Nessas figuras estão todas as relíquias que conheço: a espada de Godric, o medalhão e o anel de Slytherin, a taça de Hufflepuff. Dê uma olhada, Rony. Assim vocês, que não estiveram na Penseira de Dumbledore, podem saber o que estamos procurando.

– Será que a relíquia de Rowena é alguma dessas coisas que ela usa? – perguntou Rony. – Tem o broche, esse aro que sustenta a varinha.

– E a própria varinha – acrescentou Hermione.

– De Gryffindor não tem mais nada, só a própria varinha.

Harry considerou as imagens um tempinho. – Bem, já é alguma coisa. E o Krum? conseguiu alguma coisa com ele? – Harry perguntou sem olhar para Rony.

– Recebi notícias não muito animadoras. Eu mandei uma carta normal, contando as coisas que se passaram por aqui e, como quem não quer nada, comentei que, sendo Durmstrang uma escola que trata das Artes das Trevas, talvez a biblioteca deles tivesse mais material de estudo sobre o assunto do que Hogwarts e que talvez a gente pudesse encontrar algo que explicasse como Voldemort não morreu quando sua própria Avada Kedavra se voltou contra ele. Vitor disse que depois que Voldemort retornou e Karkaroff fugiu, a escola passou por uma crise. Bom, é claro que ele já estava se formando e saindo de lá, de qualquer maneira, mas o fato é que a escola encolheu um pouco. E o novo diretor achou que deveria diminuir a carga de Artes das Trevas e tirou vários livros de circulação. Além disso, a biblioteca não é aberta ao público, só a alunos, professores, funcionários e ex-alunos. Eu não poderia ir lá e não sei se poderíamos pedir algo ao Vitor. A notícia se espalharia e ele também estaria em perigo. Ele joga quadribol profissionalmente, mas está pensando em largar. Está preocupado com a guerra e quer ser útil...

– Hermione, não estamos interessados nos planos do Krum. O que você acha? Vale a pena irmos lá e tentarmos descobrir algo nos livros? – interrompeu Rony.

– Harry olhou para o amigo espantado. Rony parecia nem estar com ciúmes, apesar de ter cortado bruscamente Hermione. Será que alguma coisa acontecera para diminuir a insegurança de Rony desde a volta de Hogwarts?

– Não sei, tenho a impressão de que colocaremos nosso segredo em risco e a chance de termos algo realmente interessante não é das maiores. Régulo deve saber de alguma coisa. Afinal ele foi atrás de uma Horcrux e diz que a destruiu.

– É, mas não seria bom eu falar com ele sobre isso – comentou Harry. Ele pensa que o medalhão é a única Horcrux e ficaria desconfiado da gente estar tão interessado no assunto, sendo que aquela Horcrux possivelmente já foi destruída.

– Bem, ele tirou a informação de algum lugar. Como não foi da biblioteca de Hogwarts, deve ter sido dos próprios livros daquela casa – considerou Hermione.

– É claro! Vamos fazer o seguinte, amanhã vamos lá. A gente diz para o Aluado que a gente quer continuar a procurar o medalhão. Ele tem mais o que fazer, não vai ficar vigiando a gente para saber que estamos só lendo na biblioteca. Vou mandar uma coruja agora para avisá-lo.

– No dia seguinte, os três tiveram sorte, pois Remo e Tonks estavam aproveitando o domingo de folga para passarem um tempo juntos e os deixaram à vontade. Conseguiram achar dois livros que levaram para ler em casa.

– Também aproveitaram para procurar de fato o medalhão que não estava em lugar nenhum. Harry foi até o sótão e indagou dele a Régulo, que disse que não se interessara mais pelo medalhão depois de destruir a Horcrux.

– Harry perguntou-lhe se não seria o caso deles tentarem confirmar a sua destruição e Régulo concordou, chamando Monstro e perguntando se ele sabia de algo.

– Senhorzinho Black, quando o seu irmão traidor do sangue estava destruindo as relíquias da família, Monstro não se preocupou em salvar medalhão que não era da família. Acho que aquele ladrãozinho o roubou.

– Que ladrãozinho, Monstro? – perguntou Harry.

– Aquele que vivia lançando olhares compridos na prata da casa e acho que até roubou alguma coisa mesmo. Porque tem muita coisa faltando.

Mundungo Fletcher, Harry pensou com raiva no sujeito que vivia fazendo trapalhadas.

Harry voltou à biblioteca e teve a impressão que Rony e Hermione tinham ficado sobressaltados.

– E agora, como fazemos para ir atrás do medalhão sem atrair suspeitas?

– Eu podia comentar que vi o medalhão aqui e o achei bonito e o quero para mim.

– Você usando um medalhão, Harry? Não me faça rir. Ninguém vai acreditar.

– Você poderia querê-lo para dar de presente para a Gina.

– De jeito nenhum! Posso até tentar namorá-la, mas escondido, Hermione. Mesmo que ela já esteja em perigo mortal, não vou aumentar ainda mais esse perigo. Só se eu pedisse para dar para você, no seu aniversário.

– Mas seria um presente bom demais. Também lançaria desconfiança.

– Faz o seguinte. É um medalhão daqueles de colocar foto, não? Você o dá para a Hermione como presente de aniversário, mas também como celebração pelo nosso namoro, com a minha foto dentro – sugeriu Rony.

– Ah, e foi esse o jeito que vocês finalmente me confessaram que já estão namorando. Custou, hein? Isso foi indireta para eu deixar vocês sozinhos?

Não foi essa a intenção, mas seria uma boa idéia – respondeu Rony, enquanto Hermione o cutucava.

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Dois dias antes do casamento de Gui foram todos para A Toca. Harry já não agüentava de saudades da Gina. Durante esse período tinha falado com a (ex-)namorada com uma certa regularidade, mas tinham sido conversas curtas, apenas trocando notícias. Ambos queriam primeiro esclarecer sua situação e isso só poderia ser feito pessoalmente.

Ao chegarem n'A Toca, Molly estava à sua espera e foi logo abraçando cada um deles com aquele seu jeito maternal. Enquanto reclamava de como estavam magrinhos, principalmente Harry, Gina apareceu.

O coração de Harry se apertou ao vê-la. Estava magra e abatida. Cumprimentaram-se como se fossem apenas amigos, mas ambos estavam ansiosos por poder conversar.

Molly pediu para que Rony e Gina dessem um jeito nos gnomos do jardim e Harry e Hermione logo se juntaram a eles, indo cada casal para um lado, em busca de maior privacidade.

– Como tem andado, Harry? Tem feito alguma coisa em termos da sua luta contra Voldemort?

– Alguma coisa. Sim. Não tenho andado bem, Gina. É duro para mim admitir isso, mas acho que estive errado em tentar tirá-la da minha vida. Tenho estado triste, saudoso. Sinto falta dos seus comentários e do seu humor em cada coisa que acontece comigo. E o seu irmão ficou martelando na minha cabeça que de qualquer maneira você estará correndo perigo mortal. E que deprimidos, nós ficamos com piores reflexos e com mais dificuldades para usar a magia. Ou seja, a minha tentativa de protegê-la poderia ter efeito contrário.

– O Rony disse isso? Quer dizer que resolveu deixar de ser um hipócrita mal resolvido que gosta de empatar a minha vida?

– Disse. E eu acho que concordo, ainda mais vendo que você emagreceu e está abatida.

– Estou feia.

– Não! Eu não disse isso! Você não está feia, Gina, e eu ia gostar de você mesmo que estivesse parecida com a lula gigante. O que quis dizer é que você visivelmente não está bem. Eu te fiz sofrer. Eu não estou bem. Não sei se estou concordando com o Rony rápido demais porque no fundo não quero me separar de você. Não importa. O fato de que não estamos bem é visível. Isto chama a atenção dos meus inimigos tanto quanto a nossa felicidade do último mês. Se importa de voltar a namorar comigo, mesmo que seja um namoro escondido e mesmo que a gente não possa estar sempre junto?

– Acho que posso pensar no seu caso – Gina disse, enquanto aproximava o seu rosto ao dele.

Beijá-la foi como encontrar um poço num deserto depois de muito tempo de procura. Os dois se buscaram com sofreguidão e perderam a noção de tempo e espaço por alguns minutos.

– Ah, Gina, Gina, como eu senti falta de estar com você. Nem conseguia dormir direito. E o pior é que mesmo que a gente assuma que está namorando, não vai ser muito diferente do que tem sido.

– Como assim?

– Lembra da profecia? É como se ela me impusesse uma tarefa secreta. Cada pessoa que souber dela diminui a minha segurança e a dos que estão me ajudando e das próprias pessoas que vierem a saber dela, você entende, não? Nem a Prof. McGonagall sabe de nada, nem o pessoal da Ordem.

– Então você não vai me contar?

– Não, pelo menos não todos os detalhes. A missão é perigosa, mas talvez ainda mais perigoso seja descobrirem que estou nela.

– Quer dizer que as coisas vão continuar na mesma para mim. Vou continuar no escuro, morrendo de preocupação?

– Não exatamente. Nem tudo o que eu faço é perigoso ou secreto. Por exemplo, desde que saímos de Hogwarts não fiz coisas que pudessem trazer mais problemas do que os de sempre. A não ser rolar da escada, sonolento, depois de passar a noite pensando em você.

– O quê? E não me contou nada?

– Foi logo que cheguei na casa dos meus tios. Quando consegui estabelecer contato seguro com você, isso já era assunto velho. Depois te conto melhor. Então, como eu ia dizendo, por enquanto só tenho feito preparação para duelos com o seu irmão e andei procurando algumas coisas na sede da Ordem, inclusive o espelho em que a gente se fala. Nada de terrível, como pode ver. Aliás, não quer se juntar a nós nos treinamentos de duelos?

– Claro que sim. Acho até que a gente podia chamar a Luna também, ela mora aqui perto e sempre me dizia que tinha saudade da AD.

– É uma boa idéia. Não sei se volto para Hogwarts, mas seria legal que lá houvesse um grupo preparado, uns capazes de apoiar os outros. Podíamos chamar o Neville também.

– Bem, mas não vamos mudar de assunto. Afora aperfeiçoar as defesas, que mais pretende fazer? O que pode me contar?

– É um trabalho de investigação. Até aqui, quase que só a Hermione andou fazendo pesquisas, porque eu e seu irmão não podemos aparatar e também porque ela é a melhor nisso. Mas haverá momentos em que terei que ir fisicamente atrás do que estou procurando e aí poderá ser mais perigoso. E no final, vou atrás do próprio Voldemort.

– E eu nisso?

– Não sei, talvez você possa me ajudar nas pesquisas, mas por enquanto não tem nada, sério. A gente não tem muito material.

– Por que você fala em não voltar para Hogwarts?

– Porque talvez tenha que sair por aí procurando. Não sei o rumo que a minha investigação vai tomar. Mas a diretora disse que me deixaria sair disfarçado da escola, eventualmente, se o retrato de Dumbledore disser que é necessário. Então, talvez eu fique por lá. Isso acho que seria bom. Estaria perto de você.

– Mas a gente estaria fingindo que não namora.

– Isso. Vai ser difícil, mas vai ser ainda mais difícil não namorar, creio. O que você acha? Você fica numa situação ruim. Ligada a mim, mas sem poder de fato ter tudo o que uma namorada tem. Talvez prefira mesmo ficar livre para ter um namorado inteiramente disponível.

A garota o interrompeu com um beijo. – É o jeito de fazer você parar de falar besteira. É claro que não quero outro namorado. Harry, o meu namoro com você não tem nada a ver com o que tive com outros caras. Não é uma coisa de curtir estar com alguém simpático e dar uns amassos. Você me disse que me ama. Não sei se é verdade, mas acho que também te amo.

– É verdade, Gina. Bom, eu não tenho experiência nesse assunto, mas acho que o que sinto por você é realmente amor.

E a conversa foi deixada de lado para atividades mais interessantes até Molly chamá-los para o almoço.