Disclaimer: Os personagens ( com exceção de Newlands) e ambientações são criação e propriedade de J.K.Rowling.

Agradeço à Lua pelas correções.

Quero também dizer que o livro sugerido por Newlands a Hermione é O Erro de Descartes, do neurologista português António Damásio. Trata-se de obra de divulgação científica sobre o que podemos saber acerca do processo decisório a partir dos pacientes de lesões no lobo frontal e no córtex pré-frontal.

Sonhos Desfeitos e Novo Sonho

Nos dias que se seguiram, Harry e seus amigos retomaram a rotina anterior ao casamento de Gui. Não havia mais razão para saírem pelo mundo procurando notícias de alguma relíquia de Rowena Ravenclaw. O documento que Dumbledore tinha deixado para Harry não tinha mais importância. As únicas coisas a serem procuradas, além de informações sobre Horcruxes e como destruí-las, eram a taça de Hufflepuff e o próprio Voldemort. O último só adiantava ser procurado quando as demais Horcruxes estivessem destruídas, pois ele estava sempre se deslocando e, pelo que Harry sabia, a Ordem estava tentando manter-se informada sobre seu paradeiro.

Encontrar a taça era uma questão de tentar descobrir mais coisas sobre o Lord das Trevas, para imaginar o que poderia ser significativo para ele. Harry tentava pensar e repensar, encontrar padrões nos locais escolhidos por Voldemort para colocar suas outras Horcruxes. Quebrar a cabeça demais sobre o tema deixava-os muito cansados, com a exceção de Hermione. Os demais, inquietos, sentiam necessidade de atividade física para lidar com tudo aquilo. Então retomaram os treinos de defesa pela manhã e os jogos de quadribol eventuais e de novo convidaram Luna e Neville para se juntarem a eles n'A Toca.

Num desses treinos os convites para a festa de Slughorn foram feitos, convite aceito entusiasticamente por Luna e nem tanto por Neville, que todavia, mesmo sem muito interesse, topou.

Com relação à Horcrux em sua cabeça, Harry, e também Gina, procuravam não pensar muito nela, principalmente pela manhã, pois não queriam que mais ninguém, além dos que já sabiam do assunto, notasse que havia algo de muito diferente e trágico acontecendo. Mas, se conseguiam fingir que o problema não existia durante o dia, à noite era mais difícil e acabavam se juntando para um pouco de chocolate, choro e compartilhamento de suas angústias tarde da noite.

Harry pensava que era estranho que, apesar de ter sido amigo íntimo de Rony e Hermione por tantos anos, não conseguia dividir sua dor com eles. Também estavam abalados, é claro, mas tinham outras maneiras de lidar com a situação. Hermione ficava tentando achar consolos que não existiam e Rony simplesmente mudava de assunto e falava de estratégia. Gina, embora tentasse desesperadamente encontrar motivos para ter esperança, conseguia acolher o desespero e a raiva de Harry, ela também desesperada e furiosa com a injustiça de, tão jovem, ter que passar por tudo o que já passara e ver o seu namorado sofrer coisas ainda piores.

À noite, quando todos na casa dormiam, eles choravam, se abraçavam, dançavam, conversavam, xingavam o destino, tinham acessos de dor ou de ira e invariavelmente terminavam se beijando e se acarinhando com intenso ardor.

É claro que com isso, dormiam pouco e à tarde tiravam uma sesta prolongada, enquanto Hermione esquadrinhava os livros que mencionavam Horcruxes, tentando ver se não havia algo neles que tivesse passado despercebido.

Finalmente chegou o sábado, quando Harry e Hermione saíram logo depois do almoço para a casa dos Granger.

A mãe de Hermione estava em casa, mas o Sr. Granger ainda não tinha chegado do jogo de golfe. Hermione comentou brevemente com a mãe que desejava uma opinião profissional do Dr. Newlands e pergutou se ela achava que isso era abusar da amizade dele. A Sra. Granger achou que não tinha nada demais, desde que eles não impusessem o assunto e sondassem a situação.

Quando os homens chegaram, todos se reuniram em torno a um bule de chá e muitos bolinhos e conversaram despreocupadamente por um tempo.

Lá pelas tantas, como quem não quer nada, Hermione deu um jeito de mencionar que Harry costumava ter uma dores estranhas na cicatriz. O médico perguntou que cicatriz era aquela e Harry respondeu.

– Na verdade, não sei bem. Ganhei esta cicatriz no mesmo acidente que tirou a vida de meus pais, quando eu tinha apenas 15 meses de idade. Mas recentemente, caí da escada e fui ao hospital verificar a gravidade da queda e a médica de plantão descobriu que há um objeto não identificado dentro de meu cérebro.

– Mesmo? – o médico perguntou espantado. – Decididamente não é um fato corriqueiro. Você tem os exames consigo?

– Só esta radiografia. A tomografia ficou no hospital – E Harry passou-lhe a radiografia.

– Deixa ver... Hum. É, parece que há mesmo algo. Interessante como essas lesões, quando ocorrem em cérebros de crianças muito novinhas podem não trazer maiores conseqüências. Você, aparentemente não sofreu maiores efeitos desse objeto invasor.

– Ainda assim, tenho dores de vez em quando. A médica que me atendeu no início do verão disse que seria muito arriscado tentar a extração, que eu poderia morrer. Como o senhor vê essa questão?

– Bem, sou neurologista, mas cirurgia não é o meu negócio. Posso entretanto dar um palpite que, embora sujeito a erro, provavelmente é mais informado do que o da médica que o atendeu, que não deve ser neurologista. Acontece o seguinte, Sr. Potter. A morte não é o pior que pode acontecer se resolver fazer a cirurgia.

– Não? O que poderia acontecer de pior?

– Seria praticamente impossível tirar esse objeto sem criar nenhuma lesão nas áreas adjacentes. E lesões ali teriam conseqüências piores do que ficar cego, ter dificuldades de fala ou uma paralisia de alguma parte do corpo. Esse objeto está na área pré-frontal de seu cérebro, por trás do lobo frontal, a área ligada à responsabilidade social. Uma lesão ali modificaria o modo como você é afetado pelas emoções. Por exemplo, você ficaria indiferente diante de uma cena de horror, como as pessoas queimadas por um incêndio ou uma bomba. Você não conseguiria mais amar nem se importar com ninguém. Poderia ter atitudes agressivas a troco de nada, porque seria indiferente a tudo. E também a sua capacidade de decidir se extinguiria. Você não seria mais capaz de trabalhar, porque não conseguria decidir qual o momento de parar com qualquer tarefa que iniciasse. Poderia saber teoricamente o que é certo e errado em termos morais, mas não agiria de acordo, porque não conseguiria decidi-lo. Enfim, você seria um animal viável, se alguém se encarregasse de alimentá-lo, mas não teria mais muitas das características que nos tornam humanos. Seria algo semelhante a um sociopata. Deixaria de ser a pessoa que é. Sua personalidade ficaria inteiramente transformada, seria dependente e não confiável.

Harry se esforçou para não demonstrar o quanto a resposta o abalara. De que adiantaria ficar vivo nessas circunstâncias? Melhor ser beijado por um dementador. Nem viu que o médico e Hermione conversavam sobre um livro que ela poderia ler para conhecer melhor o problema.

Voltando para A Toca, contaram tudo para Gina e Rony. Harry então disse.

– Sabem, eu estava decidido a, caso não conseguíssemos encontrar um jeito mágico de destruir esse troço, fazer uma cirurgia trouxa para o extrair. Nem que tivesse que apelar para a Maldição Imperius para convencer o médico a fazê-la. O que eu poderia perder? Ia ter que morrer de qualquer jeito! Mas o que soube com o Dr. Newlands foi uma ducha de água fria. A lesão que eu provavelmente teria, se sobrevivesse, consegue ser pior que a morte.

No dia seguinte o treino de defesa foi cancelado. Harry precisava de tempo para se recompor e ser capaz de ir à festa sem ficar tão óbvio que algo de muito errado acontecera.

Molly ajudou-os, tentando os Feitiços para Animar mais fortes que conhecia. Ela não se abalou com a notícia, pois sempre achara que dos trouxas é que não viria a solução para o problema, mas respeitou a dor dos adolescentes ao verem se fechar um possível caminho.

À noite, devidamente enfeitiçados, Harry e seus amigos até conseguiram parecer alegres e festivos. Gina estava linda em vestes novas que Harry tinha lhe comprado para dar de presente de aniversário. O aniversário dela seria só no dia seguinte, mas ele antecipou o presente, dizendo que pelo menos queria ter o prazer de saber que a garota mais bonita da festa o amava, mesmo que o seu acompanhante oficial fosse Neville.

Galanteios à parte, ela realmente estava linda e Hermione e Luna também estavam muito bem. Luna estava até com uma roupa discreta, sem colares de tampas de cerveja amanteigada. Harry deu-lhe uma orquídea para colocar no vestido, como um pretexto para evitar que ela usasse algo realmente disparatado, mas nem precisava ter se preocupado.

Para fazer Slughorn ficar mais receptivo às suas questões, Harry mencionou que o sexteto era exatamente o mesmo que tinha lutado contra os Comensais da Morte no Departamento de Mistérios. Slughorn ficou encantado, embora o episódio já não freqüentasse as páginas d'O Profeta Diário.Mais tarde, Luna, devidamente incentivada, pegou Slughorn de jeito.

– Professor, sabe, o meu pai descobriu que Cornélio Fudge tem um plano de voltar ao poder usando zonzóbulos – e prosseguiu descrevendo os efeitos dos zonzóbulos e terminou perguntando se Slughorn conhecia Piers Caret.

Slughorn, visivelmente se segurando para não rir, disse que não, nunca tinha ouvido falar nele, acrescentou que provavelmente, se era alguém com mais de 35 anos, não tinha freqüentado Hogwarts. Luna ficou um tanto desconcertada, pois realmente tinha esperança de que o tal Caret fosse algum gênio em poções e ia tentar voltar ao assunto, quando Gina, percebendo que o tema já estava suficientemente introduzido, pediu a Luna para explicar-lhe melhor os detalhes de como seria essa invasão de zonzóbulos, enquanto a arrastava para juntas irem buscar mais bebidas.

Hermione, que tinha se aproximado, esperando a deixa de entrar no assunto, foi logo perguntando.

– Professor, Luna é mesmo uma pessoa fascinante, não? Sempre com teorias que parecem absurdas, mas muitas vezes há um fundo de verdade nas histórias dela.

– De fato, a Srta. Lovegood é bastante interessante. Mas você vê algo que possa parecer verdadeiro na possível invasão dos zonzóbulos ou o que quer que seja?

– Não, mas essa questão da poção me faz pensar. Supondo que os zonzóbulos de fato existam, seria possível criar uma tal poção, que os matasse mas não afetasse a pessoa por eles atacada?

– Na verdade, Srta. Granger, poções para cura de doenças são em geral baseadas nesse princípio, matar o agente que provoca a doença, sem afetar o doente. É claro que isso é possível, mas depende do invasor. Quando é algo muito diferente do doente, uma bactéria, vírus, fungo, isso é plenamente possível. Agora eu não sei o que seriam esses zonzóbulos. Se fossem insetos, por exemplo, já seria mais difícil, mas se fosem répteis, aves ou mamíferos, mais parecidos com os seres humanos, seria impossível.

– E suponhamos que um bruxo das trevas possuísse alguém ou algum mamífero, seria possível destruí-lo, sem matar a pessoa ou animal possuído? Afinal, quando um bruxo possui outro, é sua alma que invade o corpo. A alma é mamífero?

– Sim, a alma só pode ser afetada por venenos que também matam o corpo. Seria bom se conseguíssemos expulsar uma alma que nos invade com o uso de poções, mas não, evitar ser possuído exige força e poder da própria alma de quem está sendo possuído, para que ela lute e não permita a invasão. É o único jeito.

Hermione continuou conversando mais um pouco e depois deu uma desculpa e se afastou. Sua missão estava cumprida. Agora, só precisavam ficar mais um pouco e ir embora tão logo fosse possível, sem parecer rudes.

Deu uma olhada em volta para ver se tinha alguém interessante. Viu McLaggen num canto com ... Lilá Brown! Procurou algum lugar onde ele não a visse. Foi ter com Harry, que conversava com Minerva McGonagall e um rapaz louro. Era Zacharias Smith. Falavam de Hogwarts e da possibilidade da escola reabrir.

– Por enquanto estamos reforçando e refazendo feitiços protetivos e de segurança, já que alguns se extinguiram automaticamente com a morte de Dumbledore.

– Professora, será que podemos ir ainda nas férias até a escola, pesquisar na biblioteca?

– Receio que não, Srta. Granger. O corpo docente tem estado muito ocupado com a renovação das defesas da escola e eu tenho muitas tarefas a cuidar. Muita correspondência com os pais, novos professores a contratar. Mas faltam só três semanas para o início das aulas. Não dá para esperar?

Hermione deu de ombros. – Suponho então que já está decidido que a escola vai reabrir?

A escola retornará, sim. Teremos alguma dificuldade, pois muitos pais já manifestaram que não permitirão a volta de seus filhos, mas os que garantiram que os filhos voltarão à escola se ela funcionar são em número suficiente para nos levar a reabri-la.

– É, meus pais não querem que eu volte. Mas já sou maior de idade e vou ter que resolver isso eu mesmo – disse Zacarias. Ficar em casa não necessariamente é seguro. Veja a minha tia-bisavó, Hepzibá, ela morreu envenenada tomando seu chá em casa, na situação mais trivial. quer dizer, perigo corremos a todo momento em qualquer lugar.

– Você é parente de Hepzibá Smith? – Harry perguntou e deu um cutucão discreto em Hermione. – Não foi essa senhora cuja morte você disse que tinha sido injustamente atribuída a uma elfa, Hermione?

Hermione ficou um pouco confusa e Harry deu-lhe outro cutucão. – Sim, ela mesma. Disseram que foi a elfa que a matou, mas depois descobriram que havia relíquias preciosas faltando entre as coisas.

– Foi, de fato. Uma taça que tinha sido da própria Helga Hufflepuff, nossa ancestral, tinha desaparecido. Mas com todo o movimento de entra e sai depois da morte dela, não duvido que o roubo tenha se dado após a sua morte.

Como Harry sabia mais do assunto que Hermione, tentou ajudá-la a manter a conversa. – Sabe, a Hermione aqui é militante da luta por dar mais direitos trabalhistas e melhor condição de vida e trabalho aos elfos domésticos. E Dumbledore mencionou a ela esse caso.

Hermione já tinha entendido aonde Harry queria chegar. – Pois é, Dumbledore conseguiu conversar com a elfa antes de sua morte e estava convencido de que não foi ela a verdadeira assassina. Uma história assim, de uma injusta condenação de uma elfa, cuja culpa não foi devidamente investigada poderia ajudar a abrir os olhos da comunidade bruxa para a injustiça que cometem contra os elfos. Será que eu poderia voltar a conversar com você sobre isso, Zacarias? Numa ocasião mais adequada?

– Claro, é só combinar. Nas próximas duas semanas estarei viajando com meus pais, Mas poderíamos marcar de você ir lá em casa no fim do mês. Quando voltar de viagem, mando-lhe uma coruja.

– Obrigada. Harry, não acha que já poderíamos ir? Estou cansada.

– Sim, vamos procurar os outros. Tchau, Zacarias, até qualquer hora.

– Até.

Neville aparatou direto para sua casa e Harry levou Luna em casa, antes de voltar para A Toca. Quando chegou, Hermione falou-lhe da conversa com Slughorn. Harry ficou acabrunhado.

– Droga, parece que não vai ter mesmo jeito para mim.

– Não diga isso, amor – Gina apertou-lhe a mão tentando o encorajar. – Vamos tentar bolar uma forma. Talvez haja um outro modo de destruir a Horcrux, que não através de veneno. Um modo ao qual você pode resistir. Ainda sabemos pouco sobre esse negócio. Não vamos desistir.

Mas as palavras de consolo não tiveram o poder de persuadir Harry, que abraçou a namorada e chorou abertamente, na frente de todos. Rony e Hermione acharam melhor irem para a cama e deixarem Gina cuidar do namorado. O casalzinho precisava de um momento de intimidade.

E naquela noite, o desespero de Harry, muito intenso, fez com que Gina não se afastasse dele.

Harry deu uma acordadinha com os primeiros raios de sol entrando pela janela, lá pelas 5 da manhã. Estava tão bom ficar assim abraçado.

Êpa! Não era para a Gina estar ali na sua cama, dentro dos seus braços. O rosto dela estava plácido e até havia um sorriso maroto. Devia estar tendo bons sonhos.

Harry ficou contemplando-a um pouco, reunindo coragem para acordá-la. Mas não podia adiar mais. Em breve, a Sra. Weasley despertaria e não aguardaria que ele encontrasse Horcrux nenhuma para dar cabo dele, se visse a filha naquela situação. Beijando-a de leve, ele a acordou.

– Amor, detesto fazer isso, mas tenho que expulsá-la do meu quarto, antes que alguém nos pegue.

– Ahn, Harry? Mas eu ainda não estou pronta.

– Pronta para quê?

– Para a festa, oras.

– Gina, você ainda não acabou de acordar, do que está falando?

– Ahn? – Finalmente ela abriu os olhos. – Era um sonho? Que estranho! Nunca tive um sonho tão realista.

– É? E o que estava acontecendo?

– Nós estávamos nos preparando para ir a uma festa na casa de Lilá e seu noivo que era, adivinha quem? McLaggen. Seria uma festa com roupas trouxas. Haveria um concurso para escolher o traje mais intressante, desde que totalmente trouxa. Eu tinha acabado de sair do banho e estava penteando o cabelo, fazendo maquiagem, essas coisas, num banheiro que não conheço, mas que era da casa onde supostamente morávamos. Ainda estava de roupão. Você, para não perder tempo pegou nossos três filhos e trouxe-os aqui para a casa da mamãe. Depois voltou e não me deixava acabar de me arrumar, provocando-me com essa sua mão boba.

– E você estava detestando, pelo sorriso que tinha nos lábios.

– Bem, você usava uma calça de couro, grudada no corpo que o deixava muito apetitoso. Como eu podia resistir a esse traseiro glorioso?

– Ah, quer dizer que você gosta do meu traseiro, é? Bom saber. Mas o que há de errado com o sonho?

– A falta de coisas erradas. Quando sonho, as situações não costumam ter coerência. Por exemplo, estou no meu quarto aqui, mas, quando abro a porta, dou na escada que leva ao dormitório da Grifinória. Ou de repente sou de novo uma menina, coisas assim. Mas neste sonho, não, tudo era absolutamente claro e normal, parecia uma situação que eu realmente estava vivendo.

– Não havia nada estranho?

– Não, acho que não.Eu lembro que contemplei um anel que tinha no dedo e pensei como tinha sido diferente o jeito com que eu o ganhara, não sei que jeito tinha sido esse, mas lembro que o recordava como algo estranho, doce, mas inesperado.

– E como era esse anel?

– Um anel muito diferente de todos os que já vi. Tinha um lindo diamante redondo ligeiramente rosado e pequenas pérolas em torno, fazendo como uma lua minguante.

Harry abriu a boca e ficou olhando Gina, estatelado.

– O que foi, Harry? Não precisa se preocupar, foi só um sonho. Não estou querendo dizer que espero que você me peça em casamento.

– Não quer?

– Harry! Isso foi só um sonho!

– Não quer casar comigo, nunca fantasiou isso? Porque eu fantasiei pra caramba, antes de... você sabe.

– Fantasiar, fantasiei, mas não estou imaginando que você vai me propor casamento na situação que a gente está vivendo, inclusive pela nossa idade. Mas por que então você fez essa cara de quem está completamente, sei lá, aturdido?

– Porque conheço exatamente esse anel que você descreveu. – O rapaz deu um salto e foi remexer no seu malão. Voltou para junto de Gina com um saquinho na mão e entregou a ela. Veja o anel que está aí dentro.

Desta vez foram os olhos de Gina que quase saltaram das órbitas. – Harry, eu estava usando exatamente este anel. Como é possível, eu nunca o tinha visto! Nem tinha visto nada parecido. Harry, será que este sonho foi uma premonição? Será que isso significa que você vai sobreviver e vamos ter pelo menos três filhos e que você um dia terá uma calça de couro que não vai me deixar pensar com clareza?

Harry pegou o anel e enfiou na mão dela. – Então tome, é seu.

– Mas, como assim? De onde vem esse anel e por que está me dando?

– Foi da minha mãe e estou te dando por vários motivos. Porque é seu aniversário, aliás ainda não a beijei pelo aniversário – e, é claro deu-lhe um beijo –, porque a amo e o anel é um símbolo do meu desejo de tê-la ao meu lado, mesmo que não faça sentido a gente ficar noivo ou algo assim e, finalmente, porque isso me dá esperança. Tomara que esteja certa, mas para tornar a coisa mais provável, eu lhe dou o anel de um jeito inusitado. Um anel de noivado que não é de noivado e que será o nosso segredo, significando o quanto a amo e fazendo com que você sempre se lembre desse sonho e imagine que ele pode se tornar realidade. Ou, se eu morrer em breve, que você se lembre que, ao menos nos sonhos, a gente foi feliz. Agora some daqui, antes que eu seja trucidado pela sua mãe.

– Mas Harry, você já me deu um presente de aniversário maravilhoso e, se você quer que escondamos o nosso namoro, não vou poder andar por aí exibindo um anel que foi de sua mãe e que provavelmente muita gente viu no seu dedos.

– Use-o escondido, pendurado num cordão por dentro das vestes, sei lá. E não precisa ser um presente de aniversário. Pode ser de pré-noivado, de gratidão pelo sonho, de demonstração de carinho, do que você quiser.

Harry deu-lhe mais um beijo e foi até a porta. Olhou do lado de fora e não viu ninguém.

– Vá depressa. Ouço barulho vindo do lado do quarto de seus pais.

Gina conseguiu chegar no quarto logo antes da porta do quarto dos pais dela se abrir. Harry voltou para a cama para dormir mais um pouco. De alguma maneira o sonho de Gina tinha lhe trazido um pouco de esperança e paz de espírito.