Aviso: Os personagens e ambientes dessa história são obra e propriedade de J.K.Rowling.

Terminar este capítulo no fim do domingo de Páscoa foi mera coincidência ( que no final fiz uma forcinha para dar certo, confesso). O fato de Harry tentar ir atrás do véu na semana santa já estava planejado antes de eu começar a escrever a história. Mas serviu de incentivo para eu terminar logo o capítulo.

O prazo

– Harry, você me empresta o livro do Príncipe? Pelo que entendi a Hermione dizer, vocês só têm aula de poções amanhã. – Gina pediu antes de subirem para o café da manhã do dia seguinte.

– Claro, mas para que?

– Quem sabe o velho Slugue não dá um frasco de Felix Felicis ao aluno do sexto ano que preparar a melhor poção. Bem que nos seria útil.

– Com certeza. Toma, você entende a letra?

– 'Xa ver. Entendo sim, Obrigada. Você não se incomoda, né?

– E por que me incomodaria? Desde que você me dê um pouquinho da poção. Na verdade nem precisa. Se você tomar a poção, isso me trará sorte também, pois se eu me der mal, você sofre.

–Hum... convencido.

– E não é? 'Tou falando sério. Veja, eu tomei a poção e você se livrou do Dino.

– O que foi ótimo para você, mas quem disse que foi bom para mim?

– Tenho o palpite de que você não achou tão ruim – respondeu o rapaz no ouvido da namorada, aproveitando para morder-lhe de leve o lóbulo.

– Hmm, acho que concordo.

– Depois de uma breve sessão de beijos, os dois saíram para o café da manhã e continuaram a conversa.

– Você, pelo visto já se reconciliou com o livro do Snape? – Gina mais afirmou do que perguntou.

– Bem, as anotações serviram ao canalha do Snape, mas podem servir a mim também. Até a Hermione parou de encher o saco, quando soube que o livro era dele. Ele é um assassino Comensal da Morte traidor, mas foi nosso professor de poções por cinco anos, então é óbvio que podemos usar suas dicas no preparo delas. Afinal agüentamos tantas aulas dele e não nos tirou pedaço!

– Tirou. Graças a ele a Hermione perdeu um pouco dos dentes – Os dois riram.

Depois de uma pausa, Gina comentou: – É mesmo, né? O desgraçado deu aula tanto tempo de poções e nunca ensinou a ninguém as descobertas e melhorias que introduziu no preparo delas. O que será que tinha em mente?

– Sei lá. Manter o conhecimento só para si, para continuar preparando poções melhor do que qualquer um.

– Isso é desonestidade intelectual. Um professor que esconde dos alunos conhecimento sobre aquilo que ensina é como um médico que usa um tratamento ultrapassado de propósito num doente. É quase criminoso.

– Sabe que você tem razão, Gina! Talvez, se eu tivesse falado do livro com Dumbledore, ele poderia ter reconhecido a letra de Snape e teria visto que ele não era confiável, nem como professor.

– Ah, Harry. Não vai se culpar por isso, né? Como você podia saber?

Harry deu de ombros.

Gina saiu logo para conversar com a Professora Sprout, que é quem orientaria os alunos do sexto ano que tinham sido da Grifinória e Lufa-lufa na escolha de suas matérias de N.I.E.M.s. Harry se juntou a Rony e Hermione que acabavam de chegar.

– Tenho aqui o nosso horário – disse a monitora-chefe. A primeira aula é Transfiguração.

Rony deu um muxoxo.

– Rony, pára com isso. você vai ser aluno dele o ano inteiro, então é melhor se acostumar com a idéia – Hermione ralhou.

Harry deu uma risadinha e disse, provocando a amiga. – E além do mais ele tem uma noiva linda, por que estaria interessado nessa sua namorada mandona?

Hermione olhou espantada para Harry.

– E desde quando você é metido a engraçadinho?

– Sei lá. Acho que pensar que não vou ser aluno do Snape este ano me deixa com vontade de fazer palhaçada, apesar de toda a tristeza de não ter Dumbledore por aqui. Ou talvez seja um jeito de combater os pensamentos melancólicos que têm enchido a minha vida. 'Bora, que já 'tamos atrasados.

Harry nem se lembrava mais das conversas da manhã, quando encontrou Gina para o jantar e ela lhe mostrou toda feliz um pequeno vidrinho cheio de um líquido dourado.

– Não acredito! Ele deu de novo a poção este ano?

– Ele não prometeu que daria não, mas quando viu a perfeição da minha poção, disse que eu merecia um prêmio e foi buscar nas coisas dele esse vidrinho, que ele tinha guardado do caldeirão do ano passado.

Alguns dias depois, Hermione contou toda feliz a Harry que o livro sobre Grindelwald era muito interessante. E que lá se mencionava que o poderoso bruxo das trevas teria feito uma Horcrux e que Dumbledore a teria destruído, com a ajuda do irmão, antes de conseguir prendê-lo e enviá-lo para Azkaban, junto com seus capangas. Mas havia controvérsias sobre o método utilizado para destruí-la, pois um dos objetos suspeitos de contê-la estava encapsulado dentro de uma esfera de chumbo, impermeável a poções e protegida por vários feitiços que a impediam de ser destruída.

– O irmão? Será o tal de Aberforth que andou fazendo experimentos com bodes? O Moody mostrou-me uma foto em que ele aparecia – Harry disse e ficou pensativo.

– Hermione – prosseguiu ele algum tempo depois –, como monitora-chefe você tem bastante contato com a diretora. Pergunte a ela se eu posso falar com o retrato de Dumbledore e pergunte também sobre Aberforth. Acho que ele é o cara que trabalha no Cabeça de Javali.

Hermione falou com Minerva, que permitiu que Harry viesse falar a sós com o retrato de Dumbledore. Harry foi, na noite seguinte, mas o retrato não tinha respostas.

– Sabe, Harry, eu não lembro do que fiz a minha vida toda. Apenas faço e digo aquelas coisas que estavam me preocupando quando morri ou que sempre foram parte do meu jeito de pensar e agir. Para descobrir detalhes do meu passado, terá que pesquisar com quem me conheceu.

McGonagall permitiu que Harry fosse falar com Aberforth, em Hogsmeade no sábado seguinte. Realmente, ele era o barman do Cabeça de Javali. Mas, por uma questão de segurança, deveria ir com Remo Lupin, quando este viesse ver os deveres de casa dos alunos de Defesa contra as Artes das Trevas.

Sexta-feira à tarde, depois da última aula, Harry estava no Saguão de Entrada esperando por Gina para darem um passeio antes do jantar, quando Hermione surgiu. Ela parecia nervosa.

– O que houve? Você está com uma cara!

– Foi a aula de Defesa contra as Artes das Trevas, que acabei de dar para o primeiro ano.

Antes da garota explicar, Gina apareceu, acompanhada de Luna.

– Oi, tudo bem? Você não 'tá com boa cara, Hermione – disse Luna, com sua proverbial fanqueza, enquanto Gina dava um beijinho em Harry e um aceno para Hermione.

– Oi, eu estava comentando com o Harry que tive problemas com a minha turma de DCAT. Esther Cohen, uma menina do primeiro ano, nascida trouxa, estava muito nervosa.

– Medo de Voldemort? – perguntou Harry.

– Em parte. Ela é de uma família judia ortodoxa que não queria deixar de jeito nenhum que ela viesse para cá, porque feitiçaria é proibida pelo Torá. Parece que a professora McGonagall ficou um tempão explicando para eles que nossa magia já nasce conosco e não é do tipo probido em Deuteronômio. A Esther bateu o pé que queria vir, mas quando chegou aqui, soube de Voldemort e ficou com medo. Acha que vai ser castigada por não ter respeitado a opinião dos pais e ter descumprido preceitos religiosos. Daqui a pouco começa o sábado e ela está meio perdida. Não consegui falarar com a Prof. McGonagall nem com o Prof. Flitwick, que estão resolvendo outros assuntos importantes da escola e não sei como acalmá-la.

– Por que você não a apresenta ao Goldstein? – sugeriu Gina. Tive algum contato com ele quando namorava o Miguel e ele também é religioso. Pode explicar para ela como falar com os elfos para obter comida kosher, coisas assim. E ele também fica na torre que era da Corvinal, como os calouros.

– Boa idéia, vou providenciar.

– Torá, religião, é isso! – disse Luna, de repente.

Hermione, que já estava indo embora, fez ar de espanto, enquanto Harrry e Gina se entreolhavam com cara de quem pergunta o que se passa.

Luna levantou os olhos para eles, com o seu habitual jeito de quem está falando a coisa mais natural do mundo e disse:

– O erro, descobri o erro da minha mãe!

Gina e Harry arregalaram os olhos.

– E qual foi esse erro? – perguntou Gina, ansiosa.

– Ela esqueceu de levar em conta o judaísmo e o cristianismo.

– Como assim?

– Vocês fizeram um bom trabalho de organizar as fontes da pesquisa da minha mãe. Quando li o que vocês fizeram, percebi como ela chegou ao feitiço e à poção que utilizou para atravessar o véu. Não estava conseguindo ver erros, a não ser o fato de que tenho a impressão que a escrofulária de Mimbulus Mimbletonia utilizada talvez estivesse vencida.

– Mimbulus Mimbletonia não seria problema para nós. É só pedir ao Neville.

– Pois é, mas eu não tinha certeza de que era só esse o problema. Tinha a impressão de que havia alguma coisa errada que eu não sabia o que era. Agora entendi.

– E o que é? O que tem a ver com judaísmo?

– As fontes usadas por ela são mais antigas que o véu e referem-se a outras entradas no mundo dos mortos feitas por pessoas de povos muito antigos. Aquele véu é um portal relativamente recente, que surgiu aqui na Grã-Bretanha há mil e poucos anos. Para atravessá-lo e voltar minha mãe buscou em fontes mitológicas antigas, elementos das mitogias nórdica, céltica, grega, egípcia e mesopotâmica, pois todas essas tiveram influência na formação de nosso povo. Porém, não sei por que minha mãe deixou de lado as mitologias judaica e cristã, que na época do surgimento do véu também tinham importância por aqui. Se o véu foi influenciado por elas, a passagem por ele também o será.

– Certo – disse Harry sem muita convicção.

– Legal, vejo vocês mais tarde, vou pesquisar sobre isso – Luna disse e foi embora apressada.

– O que você acha? – Harry perguntou a Gina.

– Não sei. Acho meio assustador pensar o quanto não sabemos nada sobre esse negócio. Prefiro não pensar muito nisso por enquanto. Não deixa de ter lógica o raciocínio de Luna, no entanto.

No dia seguinte, Harry foi ao Cabeça de Javali com Remo, conversar com Aberforth.

– Olá, Aberforth, você conhece Harry Potter, não? – Remo os apresentou.

– Claro, quem não conhece?

– Bem, mas eu não tinha sido apresentado ao senhor. Muito prazer em conhecê-lo.

– Não sei se digo o mesmo. Se o Remo resolveu apresentá-lo a mim, é sinal de encrenca.

Harry ficou meio espantado com a reação de Aberforth, mas apreciou a franqueza.

– Não precisa temer, senhor. A encrenca é só eu que vou ter de enfrentar. Mas talvez o senhor pudesse me ajudar a entender certas coisas.

– Como eu vou te ajudar se não entendo nada?

– Não precisa ser modesto. É que li num livro que o senhor ajudou o seu irmão a destruir Grindelwald. Talvez pudesse me contar o que fez.

– Não fiz nada.

– Então talvez saiba o que seu irmão fez. Por favor, é importante.

– Bem, o meu irmão o prendeu, só isso. Depois quando ele estava em Azkaban foi morto.

– Foi só isso o que seu irmão fez? Prendeu-o? É que no livro que li dizia que Grindelwald tinha uma Horcrux – Harry baixou a voz.

– E o que é isso?

– O senhor não sabe? No livro dizia que estava encapsulada numa esfera de chumbo.

– Ah! Aquela bola de chumbo? Parecia um peso para pergaminhos. Não sei o que era aquilo não. Albus parecia realmente muito interessado naquele negócio, queria destrui-la, mas não com qualquer feitiço. Acabamos indo até o Departamento de Mistérios e ele jogou o negócio atrás de um véu que tinha numa sala com jeito de arena.

– E essa destruição da esfera foi antes dele prender Grindelwald?

– Foi sim. Agora que menciona, lembro que ele me pediu para ir com ele, pois tinha medo de alguém tentar impedi-lo. Depois de jogar a esfera atrás do véu e ela desaparecer, Albus disse que finalmente poderia ir atrás de Grindelwald, porque estariam em igualdade de condições. Lembro-me bem, porque nunca entendi o que ele queria dizer. Se bem, que meu irmão muitas vezes dizia umas coisas misteriosas, cujo significado só ele conhecia.

– Há mais alguma coisa que se lembre desse episódio?

–Já faz tanto tempo... Não, acho que não lembro mais nada. Por que está tão interessado no que o meu irmão fez?

– O seu irmão foi o maior bruxo que conheci e nunca deixo de aprender com ele. Obrigado pelas informações – Harry desistiu de fazer mais perguntas e disse para Remo que podiam voltar para a escola. Afinal, já tinha obtido uma informação preciosa, tinha confirmado que mandar uma Horcrux para o outro lado do véu a destruiria.

Remo, que tinha visto a conversa de Harry com Aberforth, não disse uma palavra durante o caminho de volta. Parecia bastante absorto. Quando chegavam perto da escola, Harry perguntou:

– Aluado, você continua andando com os lobisomens?

– Sim.

– Você precisa praticar oclumência para que não saibam de suas reais intenções, não é mesmo?

– Na verdade, não, Harry. Os lobisomens que conheço foram contaminados em criança e não chegaram a ter educação mágica. Não há nenhum que saiba legilimência entre eles. Só Greyback sabia um pouco, mas ele foi preso naquele dia que tentou entrar em Hogwarts.

– Então, quando ele ainda estava solto, você tinha que praticar oclumência?

– Você está querendo saber o que exatamente? Se eu sei oclumência?

– É. O Snape não me ensinou direito, você sabe. Tenho minhas dúvidas se não ficava me provocando de propósito, para que as aulas não dessem certo.

– Bom, as reais intenções de Snape são um mistério, não? Mas posso tentar te ensinar o que eu sei, claro. Embora o Snape fosse melhor oclumente que eu. Mas Dumbledore não lhe ensinou o ano passado?

– Não. Voldemort parou um tempo de penetrar em minha mente. Ele próprio passou a praticar oclumência para que eu não tivesse acesso à mente dele. Mas se ele resolver entrar, eu não poderei resistir. E há muitas coisas que eu sei e ele não pode nem desconfiar que eu e mais algumas pessoas sabemos, ou nos eliminaria de imediato.

– Então como ficamos, aulas de oclumência aos sábados após o almoço? Assim faço uma pausa na correção. A mudança de atividade um pouquinho será uma boa coisa.

– Ótimo. Obrigado.

Uma semana mais tarde, Harry esperava Gina, que vinha da última aula, quando viu que Luna a acompanhava, toda satisfeita. Harry deu um selinho em Gina e cumprimentou Luna.

– E aí? Está com um ar de alto astral. Nesses tempos sombrios, o que a torna tão feliz?

– Estou entusiasmada, Harry. Acho que matei a charada!

– O negócio do véu?

– É. Depois de ler muita coisa e pensar bastante no assunto, acho que saquei o que fazer. A coisa principal é que você terá que fazer a travessia do véu na sexta-feira santa e voltar de lá ao amanhecer do domingo de Páscoa.

– Tem certeza?

– Ainda preciso checar umas coisas, sim, mas me parece bastante certo. Também há modificações a fazer na poção. Teremos que acrescentar sangue de cordeiro, mas também preciso estudar mais e fazer uns cálculos de Aritmancia para saber a dose exata, para saber quanto exatamente. Bom, de qualquer forma, tenho até a semana santa para descobrir.

Harry sentiu um aperto no estômago. Se seguisse as instruções de Luna, e não via alternativa, tinha agora um prazo de vida. Até a semana santa precisava encontrar a taça de Helga Hufflepuff, destruí-la e, se possível, também liquidar Nagini e a Horcrux dentro dela. Se não conseguisse até lá, o que fazer, esperar mais um ano inteiro? E continuar a ouvir a cada dia sobre novas pessoas mortas, torturadas, destruídas por 365 dias?