Anúncio: Os personagens e ambientação desta história são criação e propriedade intelectual de J.K.Rowling.

Agradeço o apoio e sugestões de Lua

Do lado de lá

Assim que atravessou o véu, Harry viu inúmeras imagens de pessoas. Elas eram etéreas como os fantasmas, mas, ao contrário destes, eram coloridas e brilhantes. Harry olhou para o seu próprio corpo e notou que ele oscilava. Ora ficava impalpável, como os habitantes daquele mundo, ora ficava de novo sólido. Quanto mais pensava em Gina, que o estava aguardando dentro da Sala do Amor, mais sólido ficava o seu corpo.

Harry foi tentando caminhar por aquele mundo estranho, embora ele não andasse propriamente. Não era possível entender aquele local com a noção de espaço trazida do mundo dos vivos. As "almas", se é que poderiam ser chamadas assim, estavam em todos os lugares ao mesmo tempo. Bastava você querer estar perto de alguma ou de várias, que logo o seu desejo se realizava.

Harry tentou encontrar Sirius e notou que ao procurá-lo seu corpo tornava-se menos palpável. Cada vez que se sentia mais próximo dos mortos, mais rápidos e menos consistentes eram os momentos em que seu corpo parecia adquirir massa e volume. Quando pensava nos vivos, e particularmente em Gina, os momentos em que ele próprio parecia intangível ficavam menores e mais espaçados.

Harry então percebeu que sentia como se houvesse uma conexão entre Gina e ele, como se no fundo de sua mente pudesse senti-la. Tentou ficar concentrado nessa conexão e garantir um pouco mais de substância ao seu corpo.

Porém, logo Sirius estava com ele e realmente parecia feliz em vê-lo, embora intrigado com a situação de Harry. Sirius falou de como era sublime a existência naquele mundo, onde não havia dor nem necessidades insatisfeitas e onde se podia compartilhar felicidade com pessoas amadas o tempo todo. Harry sentiu que o desejo de ficar ali tentava tomar conta de sua mente, mas nesse momento, a ligação com Gina se alterou, como se ela estivesse querendo segurá-lo. Ele tentou apagar de sua mente qualquer pensamento que não fosse o de fortalecer aquela ligação lá no fundo de sua alma.

Sirius chamou Dumbledore, Lilian e Tiago, para que também vissem Harry. Lilian e Tiago ficaram alegres em ver o filho, mesmo que isto parecesse significar que ele estava morto. Para os mortos, estar ali não era algo ruim, muito pelo contrário. Era uma existência de puro êxtase, sem preocupações.

Dumbledore, porém, talvez por ter morrido havia menos tempo e ainda ter em mente as tarefas para as quais preparara Harry, logo percebeu o fato de Harry não ter o mesmo aspecto dos demais mortos.

– Harry, você não está morto, não é mesmo? E nem deseja ficar aqui no momento.

Harry sentiu alívio por alguém perceber que não tinha vindo em definitivo e já ia responder, quando a ligação com Gina voltou a chamá-lo de volta ao mundo dos vivos e ele se deu conta do erro que quase cometia. Ficou impassível, o mais que podia.

Dumbledore então comentou com os demais.

– Vejam, ele não tem a mesma aparência que nós. Seu corpo tem mais substância. Acho que ele não morreu. Mas como seria possível ele estar aqui sem morrer?

– Quando eu estava viva, Leslie Lovegood pesquisava sobre a possibilidade de se atravessar o véu do Departamento de Mistérios sem morrer. Será que foi isso que aconteceu a ele? Mas por que faria isso? E por que depois de ver como é maravilhoso estar por aqui, ele quer voltar?

– Apesar de estarmos no paraíso, consigo facilmente pensar em coisas que podia fazer quando era vivo que eram muito boas e que não posso mais – disse Tiago, olhando Lilian de modo malicioso. – Talvez, na idade dele, este seja um bom motivo para querer voltar.

– É, pensando bem, ele é bastante jovem. O amor corporal ainda deve ter muito significado em sua vida.

– E é bom que assim seja, pois isso talvez o ajude a voltar. Tenho a impressão de que deve ter vindo aqui com um propósito bem definido, que tem a ver com derrotar de vez Voldemort – ponderou Dumbledore. – Mas por que não diz nada?

– Talvez pudéssemos falar com Leslie e ver o que acha – Foi só eles pensarem em falar com ela, que logo ela estava com eles.

– O que houve? Quem é esse rapaz e por que ele pisca assim? Ele parece muito com você, Tiago. É seu filho?

– Sim, é o nosso filho. E não sabemos porque ele fica assim oscilando entre ser matéria e espírito. Pensamos que talvez você, que pesquisou sobre como atravessar o véu, pudesse nos explicar – Lilian disse.

– É, acho que vocês têm razão. Quando vim aqui, também aconteceu algo parecido. Só que meu corpo nunca ficou assim tão sólido quanto o dele, mas oscilava entre o que é hoje e algo um pouco menos transparente e brilhante.

– Você veio aqui por livre e espontânea vontade?

– Sim, lembra que eu estava pesquisando sobre a possibilidade de se atravessar o véu?

– Mas isso foi muito antes de você vir definitivamente para cá.

– Foi, mas tive que deixar um pouco de lado a pesquisa por um tempo. Depois a retomei e achei que tinha descoberto o meio de vir e voltar. Mas não deu muito certo. Na verdade, consegui retornar, mas, lá chegando, morri de imediato. Mas... é Harry o nome dele, não? Harry parece bem mais apto a voltar.

– Você tem idéia de se ele é capaz de entender nossos pensamentos e de por que não responde nossas perguntas?

– Eu entendia tudo o que os mortos falavam, por isso acho que ele deve estar entendendo também. Agora, o motivo dele não responder, não sei.

Harry tentava se desligar daquela conversa e se concentrar só em Gina, mas era difícil. Queria poder conversar com seus pais e contar-lhes tudo por que tinha passado em sua vida tão curta e atribulada. Queria também contar-lhes que, apesar de tudo, tinha experimentado momentos de grande felicidade ao lado de seus amigos e, principalmente, de sua namorada, ou deveria dizer noiva, amante. Na verdade, mesmo não tendo se casado, o termo adequado era mulher. Gina era sua mulher, já que não mais podia conceber a vida sem tê-la a seu lado. Perdido nas lembranças de Gina, nem percebeu que seu corpo voltava a se solidificar.

A conversa entre os mortos continuava, mas Harry nem mais a ouvia. E percebeu que, mesmo amando todas aquelas pessoas, mesmo estando com seus pais, aqueles que tinham ficado no mundo dos vivos ainda eram mais importantes para ele. Gina certamente, mas não apenas ela, a lembrança de Rony, Hermione, Remo e outros amigos o fizeram sentir com força que desejava profundamente o mundo dos vivos. De repente, ouviu Leslie dizer.

– Sabe, acho que não consegui realmente voltar a ficar viva porque de fato não o desejei. Minha filhinha e meu marido me queriam lá, mas a ventura que encontrei aqui acabou me trazendo de volta. Sei que eles acabarão por vir para cá e compreenderão minha decisão. Este mundo nos atrai muito fortemente e eu não me preparei o suficiente para a volta, para desejar retornar à companhia dos vivos. Só queria provar que era possível, por isso atravessei o véu de volta, mas uma vez que consegui o meu intento, a atração daquele mundo terminou para mim e imediatamente o abandonei.

– E o que isso tem a ver com o jeito de Harry?

– Vejam, quando ele parece prestar mais atenção em nós, fica mais transparente. Quando ele parece concentrado em algo distante, torna-se mais sólido. Acho que ele deve ter trabalhado mais que eu a necessidade de preservar o desejo de voltar e conversar conosco certamente não o ajudaria a voltar.

– É, Sra. Lovegood. Esta parece uma hipótese bem plausível. Mas, se é assim, por que ele continua aqui, por que não volta logo de uma vez? – perguntou Dumbledore, mais para si mesmo do que para os demais.

– Talvez tenha uma missão e poderíamos ajudá-lo a compri-la – sugeriu Sirius.

– Bem, antes da minha morte, estávamos estudando juntos quem era Voldemort e o que fazer para derrotá-lo.

– E o que deveria ser feito?

– Chegamos à conclusão que Voldemort tinha feito Horcruxes, suponho que saibam o que é.

– Eu sei, é claro. E Leslie também. Afinal estudamos a morte quando trabalhávamos no Departamento de Mistérios. Mas não sei se os rapazes sabem – respondeu Lilian.

– Por que vocês não dizem de uma vez de que se trata? – perguntou Sirius, impaciente.

– Horcruxes são partes de alma de alguém, separadas desse alguém quando um assassinato é cometido e preservadas através de poderoso feitiço das trevas, em um objeto, criatura ou ser. São raríssimas e pouco conhecidas. Voldemort não se contentou em fazer uma, mas eu e Harry chegamos à conclusão de que teria feito seis delas. Duas tinham sido destruídas antes de meu passamento. Suponho que Harry tenha destruído mais algumas.

– Será que o próprio Harry poderia ser uma Horcrux, feita com a minha morte e que atravessou o véu para eliminar essa Horcrux? – Lilian especulou.

– Não sei. Se fosse, por que Voldemort o quis matar tantans vezes? Mas talvez Harry precisasse se desfazer da ligação especial que tinha com Voldemort, que se manifestava na cicatriz em forma de raio em sua testa. Vejam, a cicatriz é visível, mesmo quando fica etéreo – Dumbledore disse isso e olhou para Harry, que, interessado na conversa, estava se tornando mais transparente. Dumbledore percebeu o algo logo atrás da cicatriz quando a testa de Harry tornou-se bem transparente.

– Interessante, vejam, há um corpo estranho dentro da testa de Harry – Dumbledore examinou mais de perto. – Ei, conheço esse objeto. É o aro onde Rowena Ravenclaw trazia pendurada sua varinha. ... Amigos, creio que decifrei o enigma.

– Enigma?

– Sim, a razão de Harry ter vindo. Harry traz dentro de si uma relíquia de Rowena Ravenclaw. Uma coisa que eu e Harry tínhamos verificado antes de minha morte é que Voldemort procurara objetos significativos para fazer suas Horcruxes, especialmente relíquias dos fundadores de Hogwarts. Ele usou um medalhão de Salazar Slytherin e uma taça de Helga Hufflepuff. Mas eu ainda não havia conseguido determinar em que objetos estavam todas as Horcruxes. Voldemort deve ter usado essa relíquia de Rowena para fazer uma Horcrux com a sua morte, Tiago. Talvez isso explique a atitude estranha dele, que vocês me descreveram. O fato de ter matado Tiago sem pestanejar e ter tentado preservar a vida de Lílian.

– Não entendo, qual a relação?

– Ele queria a morte de Tiago, que, suspeitamos, pode ser descendente de Godrico Gryffindor, para fazer uma Horcrux na relíquia de Rowena. Também queria a morte de Harry, o seu inimigo potencial, para fazer outra Horcrux. Mas não quereria fazer uma relíquia com sua morte, Lílian, uma simples nascida trouxa. Ao matá-la, a alma dele se partiria e isso poderia dificultar que recolhesse o verdadeiro pedaço de alma que tencionava usar ao fazer a próxima Horcrux, aquele surgido da morte de Harry.

– Mas ele não matou o meu filho. Como esse negócio foi parar dentro da cabeça de Harry? O que você acha? – Tiago perguntou.

– Quando ele tentou matar Harry, não conseguiu. O sacrifíco de Lilian criou uma barreira protetiva e a maldição lançada ricocheteou. O que mais aconteceu exatamente não sei, pois não estava lá, mas como Voldemort estava protegido por Horcruxes, ele também não morreu e a casa foi destruída. Eu suponho que a força da maldição tenha provocado uma explosão, pelo seu potencial mágico não realizado. Nessa explosão, o aro com a Horcrux deve ter ido parar na cabeça de Harry.

– E como ele não morreu? – perguntou Tiago

– Ele ainda estava protegido pelo sacrifício de Lilian, creio.

– Interessante – comentou Sirius. – Isso explicaria todos aqueles sonhos em que Harry via o mundo da perspectiva de Voldemort.

– O que? Meu filho via o mundo como Voldemort? – Lilian perguntou descontrolada.

– Sim, eventualmente, depois que Voldemort tornou-se mais forte, Harry sentia quando ele tinha emoções fortes e via algumas cenas como se olhasse com os olhos do próprio Voldemort ou de criaturas que ele estivesse possuindo. Mas isso parou de acontecer logo depois da morte de Sirius.

– Você sabia disso e não desconfiou de nada? – perguntou Tiago.

– Desde os primeiros anos em Hogwarts, especialmente em seu segundo ano, Harry parecia ter alguma conexão especial com Voldemort. Ele era ofidioglota, por exemplo. E o Chapéu Seletor considerou fortemente a possibilidade de colocá-lo na Sonserina, embora Harry nunca tenha me parecido ambicioso nem astuto. Sua varinha também usava uma pena de Fawkes, como a de Voldemort. Sim, havia muitos elos entre os dois. Mas eu pensei que Voldemort apenas tivesse transferido parte de seus poderes a Harry, sem querer. Não fazia sentido pensar que Harry pudesse ser uma Horcrux, pois Tom sempre quis matá-lo. Realmente, depois da morte de Sirius, Tom tentou possuir Harry e não conseguiu. Foi expulso pela força do amor e do destemor em relação à morte que Harry manifestou. Depois disso, ele nunca mais tentou atacar Harry, mas eu não prestei atenção especial a isso. Achei que suas prioridades tinham mudado depois que não conseguiu saber o conteúdo da profecia. Mas, pensando bem, é bem possível que tenha descoberto a localização da relíquia de Rowena ao tentar possuir Harry.

– E agora, será que a Horcrux está destruída?

– Provavelmente não, disse Leslie. – Se Harry conseguiu se preservar com vida, a Horcrux, que está dentro dele estará também preservada.

Harry gelou ao ouvir isso. E perdeu ainda mais a sua concentração. Voltar para o mundo dos vivos levando de volta a Horcrux não fazia sentido.

– Talvez possamos pegá-la – disse Sirius. Posso vê-la bem, através da testa de Harry – e esticou sua mão, que, por ser também imaterial atravessou o corpo de Harry sem pegar nada.

– Almofadinhas, já era para você ter se acostumado com a idéia de que não pode pegar nada material, agora que está morto.

Dumbledore percebeu que Harry estava perdendo substância e achou que tinha que agir rápido. Olhou concentrado para Harry e súbito, quando a testa de Harry estava totalmente transparente, o aro de metal saiu lá de dentro e ficou pairando no ar. Imediatamente, desprendeu-se do aro uma fumaça com a aparência de Voldemort, mas bem menor que a que saíra da taça de Hufflepuff.

Harry viu aliviado aquilo acontecer, enquanto dentro de si surgiu a nítida imagem da última vez que tinha feito amor com Gina dentro daquela sala do Departamento de Mistérios, com todas as maravilhosas sensações que tinha experimentado. Aquilo, tinha certeza, era a namorada tentando capturá-lo de volta. Harry afastou-se um pouco daqueles espectros amados para se concentrar em sua namorada, no prazer que ainda poderia desfrutar com ela e na viagem de volta que teria que fazer. Agora tinha absoluta certeza de que sua missão fora cumprida.

Enquanto isso, na Sala do Amor, Gina esperava por Harry. Desde que ele partira de junto dela, a garota ficou ali, mirando o seu estranho anel de pré-noivado ou o que seja e pensando na situação que estava vivendo. A Felix Felicis que tomara dizia-lhe que ela devia ficar ali, deitada naquela cama, concentrando-se em todos os momentos maravilhosos que os dois tinham compartilhado, particularmente os que viveram ali, naquele mesmo local.

Ao se concentrar em Harry, Gina não tardou a sentir que uma conexão se estabelecia entre os dois. No fundo de sua mente, ela conseguiu sentir como se houvesse um canal aberto de comunicação com ele, como se um pedaço dele estivesse dentro dela.

Essa sensação era, porém, estranha. Ela não era algo permanente e contínuo, mas meio que intermitente. Ora dava para sentir o namorado com nitidez, ora a percepção dele parecia querer fugir-lhe.

Gina imaginou que talvez isso tivesse relação com as coisas que ele via e sentia do outro lado do véu. Ela podia imaginar que ao ver Sirius, Dumbledore e seus pais, Harry poderia ter lampejos de vontade de permanecer com eles. Mas ela não deixaria que isso acontecesse. Cada vez que ela sentia o elo entre os dois se enfraquecer, ela se concentrava com todas as suas forças, tentando enviar a ele imagens dos momentos mais felizes que os dois tinham vivido juntos, inclusive os momentos de intenso prazer corporal. Afinal ele precisava ficar apegado em seu corpo.

Por um bom tempo a situação manteve-se mais ou menos a mesma, alternando-se os momentos em que Harry parecia mais distante e aqueles em que ela tinha certeza de que ele pensava fortemente nela. Porém, houve uma ocasião em que a coisa realmente complicou. De início, Harry foi ficando mais distante, dentro do padrão normal. Todavia essa situação não reverteu prontamente, ao contrário, foi se agravando, agravando e chegou um momento em que a garota temeu perdê-lo de vez. Ela concentrou-se então e usou todos os artefatos existentes na sala para intensificar sua memória do momento mais sublime de sua curta relação com Harry, a transa que tinham tido ali mesmo naquela sala fantástica.

O enorme esforço da garota afinal pareceu ter resultado, pois de repente a presença de Harry voltou a se intensificar e rapidamente atingiu o ponto mais elevado que já alcançara.

Todo o esforço de concentração cansou Gina, que começou a temer não conseguir manter a necessária concentração até o final. Mas então ela pensou em si mesma e como seria triste sua vida sem Harry e isso deu-lhe as forças necessárias para continuar enviando sem cessar as imagens e sensações mais intensas de seu amor por Harry para o destinatário de tais sentimentos.

Depois que Harry atravessou o véu, Hermione voltou-se para Rony.

– Bem, acho que a sorte está lançada. Se fizemos alguma coisa errada, agora é tarde demais para consertar. Mas ele e Gina estavam tão confiantes, mesmo depois de terem tomado aquela Felix Felicis, que estou bastante esperançosa.

– É, agora é torcer para o babaca metido a herói voltar inteiro e sem aquela coisa na testa dele.

Tonks, que se aproximara sem os dois perceberem, perguntou distraída – Será que a coisa continuará dentro da cabeça dele ou será expelida?

– Não tenho a menor idéia – Rony respondeu. – Seria divertido, já imaginou? Sem a Horcrux, Harry não terá mais a conexão com Voldemort. Será que a cicatriz desapareceria? – Rony começou a especular.

Hermione, porém, ficou branca. – Gente, como não pensamos nisso? Harry vai encontrar com Voldemort no mesmo dia que voltar de trás do véu. Será que Voldemort não perceberá a interrupção da conexão? Será que ele não vai notar que não há mais Horcrux?

– É mesmo, como não pensamos nisso antes? – Tonks perguntou.

– Mas Voldemort não estava mais tentando entrar na cabeça dele.

– É, mas só até certo ponto. De vez em quando ele tentava dar uma entradinha na mente de Harry. Por isso ele teve que voltar às aulas de oclumência. Acho altamente provável que Voldemort perceba o fim do elo ente os dois. E isso significaria a morte de Harry, pois Voldemort não teria mais nenhum motivo para confiar nele.

– É melhor conversarmos com o Remo e o Kingsley, que ainda estão por aí.

Depois de uma reunião às pressas, foi decidido, que a Ordem e os Aurores dariam um apoio de retaguarda a Harry. Eles voltariam a usar o gravador e o localizador por satélite. Só que desta vez, assim que conseguissem estabelecer a localização de Voldemort, o grupo de membros da Ordem, liderados por Remo, e o de Aurores, liderados por Kingsley, aparatariam onde o localizador indicasse ser o paradeiro de Harry e, conseqüentemente, o de Voldemort.

No sábado de Aleluia à tarde, dois bruxos encapuzados aparataram perto da entrada de Hogwarts. Uma das figuras trazia consigo uma grande cobra.

– Toma aqui, veste esta capa de invisibilidade enquanto visto a minha.

– Como vamos fazer para entrar?

– Vou usar esse apito de atrair hipogrifos. Aquele hipogrifo que atacou Severo vai querer voar em nossa direção e o imbecil do Hagrid vem atrás dele. Com sorte, ele abre o portão para chamar o hipogrifo de volta e nesse momento aproveitamos para entrar.

– Certo, mas antes de entrar, tia, vamos repassar os planos, que não tenho certeza de ter entendido direito. O que devo fazer?

– Você deve açular Nagini para atacar o meio-gigante. Ele é resistente a muitos feitiços, mas certamente será pelo menos um pouco afetado pelo veneno de Nagini. Isso atrairá gente do castelo. A diretora e os professores vão se preocupar com Hagrid e, enquanto isso, me esgueiro até os aposentos de Slughorn, roubo sua porção de veneno de acromântula e deixo o recado do Lord das Trevas por lá.

– E eu?

Você me espera aqui. Sua obrigação, de um lado, é garantir que o portão pareça fechado, mas permaneça aberto para podermos fugir . E, de outro, é tomar conta de Nagini. Ela não pode ficar aí. O Lord das Trevas não a queria mandar de jeito nenhum. É impressionante como ele adora sua cobrinha.

– Ainda não entendo a razão de nossa missão.

– A sua missão, Draco, é obedecer ao Lord das Trevas incondicionalmente e sem questionamentos. Mas vou lhe dar uma dica. O Lord das Trevas quis aproveitar o feriado, o fato da escola estar praticamente vazia, para dar um recado à comunidade bruxa. Mostrar que entrará em Hogwarts sempre que quiser. Adicionalmente aproveita para dar um susto no imbecil do Slughorn, que ele ainda tem esperança de fazer passar para o nosso lado. E ainda por cima, adquire um estoque de um valioso ingrediente de poções poderosas, dificílimo de se encontrar, do qual Severo contou que Slughorn tinha grande quantidade.

– Ainda acho um risco muito grande à toa.

– E quem é você para julgar a oportunidade de assumirmos riscos grandes? Bem, chega de conversa fiada. Está pronto?

– Sim, acho que estou.

A bruxa chamada de tia usou o apito de hipogrifo. Logo um belo exemplar desse tipo de criatura veio na direção deles. Pouco depois, Hagrid saía pelo portão em busca de Asafugaz.

Os dois bruxos escondidos sob capas de invisibilidade esqueiraram-se rapidamente para dentro dos terrenos do castelo. Ao atravessar de volta, Hagrid sentiu a mordida da cobra, que tinha sido levitada até a altura de seu ombro. O veneno custou um pouco a fazer efeito, dando a Hagrid o tempo de sair correndo e pedindo por socorro.