O dia seguinte amanheceu cinzento, como se estivesse pronto para uma tempestade. Levantara-se sorridente, lembrando-se do encontro que teria nessa tarde com a rapariga mais bonita que alguma vez vira, mas o dia passou lentamente e sempre assombrado pelas nuvens.
Tomando a "coragem" necessária, o ruivo decidiu-se a perguntar por Fleur ao duende encarregado dos estagiários. Para felicidade de Mrs. Weasley, que de outro modo corria o sério risco de perder o filho mais velho, já que os duendes não gostava propriamente que lhes fizessem perguntas de ordem não-profissional, o duende em questão encontrava-se bem disposto.
- Delacour? Pediu folga. Logo nas primeiras semanas! Ela não pensa na impressão que tem de deixar? No trabalho que tem de fazer? Agora deixa-te de inutilidades e vai fazer aquele relatório que tens entregar até sexta-feira.
Bill ainda pensou em enviar-lhe uma coruja, mas o que escreveria na carta? Ele ve-la-ìa a noite, e ainda não a conhecia bem... Portanto deixou-se levar pelo pensamento, viajando por momentos até à Lua, sendo trazido de volta à Terra por uma senhora um pouco agitada que lhe pedia ajuda com uma troca de chaves.
Cinderela das história a avivar memórias, a deixar mistérios
Já o fez andar na lua, no meio da rua e a chover a sério
Quando ela lá o viu, encharcado e frio, quase o abraçou
Com a cara assim molhada, ninguém deu por nada, ele até chorou
A noite estava serena e iluminada pela Lua cheia a lembrar os contos de fadas de outrora, não fosse a chuva que caía com fortes bategadas, molhando-o até aos ossos. O jovem Weasley caminhava de um lado para o outro com as mãos nos bolsos, em frente à porta do apartamento de Fleur. Que mania aquela das mulheres de se demorarem tanto!
A água fria fê-lo tilintar, estava molhado até aos ossos, quando o ruído de uma porta a abrir fê-lo parar as suas andanças.
- Bill! - exclamou Fleur correndo de encontro a ele, visivelmente preocupada com o estado do jovem. Estava a poucos metros dele, prestes a abraça-lo para o aquecer, quando se apercebeu do que fazia e baixou os braços, oferecendo-se apenas para o secar com um feitiço que conhecia.
- Obrigado – agradeceu o rapaz. As lágrimas começaram-lhe a deslizar pelo rosto, silenciosas e imperceptíveis. - Vamos? - Não sabia se chorava de tristeza, de alegria... simplesmente chorava... e observando a mulher que caminhava ao lado dele, agora também ela a ficar molhada pela chuva, percebeu que eram lágrimas borboleta.
Caminharam, então, lado a lado, quase de mãos dadas, pelas ruas londrinas, sentindo a chuva que lhes escorria pelos cabelos e roupas. Poderiam ter aberto um guarda-chuva, mas Bill gostava daquela sensação, e Fleur não fez objecções.
- Diz qualquer coisa – sussurrou uma vozinha dentro da cabeça do ruivo. – Ou ela vai achar-te um idiota.
- Talvêz devesse me terrr habillé lo vestidô azulé.
- Errr... ahã... gosto do teu vestido – gaguejou Bill, dizendo a primeira coisa de que se lembrou, embora tal fosse verdade. – Sim, o vestido fica-lhe bem, bem pensado Bill!
- Obrigadô. O rose semprre foi óptima escolha. Agorrra, Fleur, pensa numa coisa bonita parrra dizerrr.
- Hum, erg... Fleur... ahã, eu pensei que nós podíamos ir dar uma volta de barco no Tamisa... E... bem, jantar qualquer coisa rápida... – disse Bill, envergonhado, desviando o olhar dela para o chão.
- Oh, Bill, isso serrria marrravilhosô! – exclamou a loira, agarrando-lhe, num impulso, no braço. – Eú semprrrê quis andarrrê naqueles barcôs!
- Ainda bem... Estamos a aproximar-nos do rio; é já ao virar da esquina... – sorriu, sentindo-se feliz com a mão de Fleur no seu braço.
As águas calmas do rio, agora que a chuva parara, reflectiam a imagem distorcida da Lua, enquanto faziam os barcos balançar levemente com a ligeira ondulação provocada pela corrente.
- Tomei a liberdade de reservar um barco exclusivamente para nós – explicou Bill, quando viu que Fleur se dirigia erradamente para os barcos turísticos.
A loira virou-se a tempo de ver Bill erguer a varinha para "pedir emprestado" um dos barcos particulares que se encontravam ali ancorados.
- Bill! – exclamou Fleur, fingindo-se constrangida. – Isso non é bonitô.
- Julgo que o dono não vai notar – retorquiu o rapaz, incentivado pelo sorriso dela. – E quando estivermos a meio do rio, vai ser bonito, sim.
Fleur riu-se como uma criança, puxando Bill pela mão e aproximando-se ainda mais da margem do rio.
- Vamôs! – pediu, incitando-o a entrar no barco.
Bill seguiu o seu pensamento e entrou, sentindo o barco baloiçar sob o seu peso, e depois pegou em Fleur pela cintura e, fazendo-a rodopiar no ar, sento-a ao seu lado no pequeno barquinho. Depois, por não saber remar propriamente e por tencionar dirigir a sua atenção para outra coisa, bateu com a varinha no barco que começou a deslizar suavemente pelas águas escuras.
Durante algum tempo ficaram em silêncio, observando as estrelas. Bill foi chegando-se, calmamente, para o pé de Fleur, deslocando a sua mão para cima da dela.
- Bill, tenhô fome... O que vamôs comerrr? – perguntou Fleur, sem reparar no ar desapontado do ruivo.
- Oh, pois... isso... – Bill procurou, rapidamente, um restaurante na margem e, depois de localizar um pequeno restaurante italiano. – Gostas de comida italiana, espero...
- Sim, clarrrô. Mais com vinhô fracês, non?
E então, Bill, com mais alguns toques de varinha, trouxe até ao barco que deslizava pelo Tamisa um prato de esparguete com almôndegas, uma garrafa de vinho francês e dois copos de pé alto.
- Bill! Pensas em tudo! – exclamou Fleur, que não sabia de onde a comida havia aparecido. Retirou a varinha da mala e conjurou uma chama azul que ficou a pairar sobre a cabeça dos dois jovens, iluminando o ambiente.
- Falta a música – comentou Bill, sorrindo e conjurando um violino. – Tocas?
Fleur limitou-se a sorrir e a fazer um aceno com a varinha. Quase imediatamente, uma melodia romântica fluía das cordas do instrumento que levitava por trás do par.
- Bem... – começou Bill, olhando profundamente para o prato de esparguete que também fazia o seu número de levitação.
- Clarrô!
E, novamente, o romantismo evaporara-se no ar nocturno, enquanto os dois atacavam alarvemente o prato. O esparguete desaparecia, rapidamente, e as almôndegas acompanhavam-nas, ao som da música.
Bill enrolou um pouco mais de esparguete no garfo, como um espelho de Fleur. Ambos ficaram um pouco envergonhados e desejaram que o outro não reparasse, olhando para o lado oposto, quando perceberam que um dos fios de esparguete ficara no prato e não enrolado no garfo. Bill puxou um pouco o fio e Fleur, sem reparar que o fio de massa era o mesmo e que a levaria à boca do ruivo, fez o mesmo, o que culminou no seu primeiro beijo.
E agora, nos recreios,
dão os seus passeios, fazem muitos planos.
E dividem a merenda,
tal como uma prenda que se dá nos anos.
Por um momento ficaram muito embaraçados, desviando nervosamente o olhar. Fleur respirou fundo, recuperando a postura, e voltou ao prato.
No prato já quase terminado restava apenas uma almôndega e Bill, percebendo a situação, afastou-a, suavemente, para o lado de Fleur, sorrindo-lhe.
- És muitô simpäticô – agradeceu, sorrindo-lhe.
Terminaram de comer pouco tempo depois, fizeram o prato, os talheres, a garrafa e os copos desaparecerem, e o silêncio caiu, novamente, entre eles.
- É agora, rapaz, não voltes atrás... Ela ainda não fugiu... É a tua chance!
Passando a mão direita no cabelo ruivo, Bill chegou a esquerda para junto da de Fleur. A loira não afastou a sua, como Bill esperara; em vez disso apertou a do jovem e virou-se, lentamente, para o encarar.
- Gostei muitô da noite, obrigado – agradeceu Fleur, beijando-lhe a face levemente.
Bill sorriu. Lentamente, aproximou-se da jovem, segurando-lhe o rosto com a mão livre...
N/As: Agradecemos ao filme "Lady and the Tramp" (Dama e Vagabundo), por nos ter inspirado para o momento romântico do esparguete e das almôndegas (que a Ely não se importava de comer – eu, Sofi, dispenso as almôndegas... a não ser que sejam de soja).
E... Sim, pois, o próximo capítulo... cliquem lá na setinha... Ah, mas não se esqueçam das reviews... Já agora uma neste cap. e uma no próximo!
Da parte da Sofi: Obrigada pelas reviews, e espero que tenham gostado do novo capítulo :)
Da parte da Ely: Então e as minhas reviews! - amua
Já agora, para quem não se lembra, a música é Cinderela do Carlos Paião
