Por Leona-EBM

Capítulo 09

Alguém Para Proteger

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"Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes. O desejo só dá o último passo com este fim. É isto que motiva as ações de todos os homens, mesmo dos que tiram a própria vida". (Blaise Pascal)

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Camus entrava no santuário lentamente, sentindo os cosmo de todos seus amigos. Ele ia na direção da cidade, vendo que tudo estava um caos. Ele parou de repente, vendo que muitas casas transformava-se em cinzas, onde alguns demônios já as ocupavam, pensando que aquele lugar tornar-se-ia seu lar. No entanto, ele sabia que logo, logo os cavaleiros do santuário iriam colocá-los no seu devido lugar, abrindo novamente a porta para o mundo dos mortos.

Uma explosão ocorre perto de Camus, ele olhou para frente, cobrindo seus olhos, protegendo-os das cinzas. Quando ele finalmente olha para frente, acaba vendo Aioros, que exibia um olhar surpreso e ao mesmo tempo contente. E se não fosse a situação real, o cavaleiro de sagitário estaria abraçando-o e pedindo desculpas por tudo que havia feito antes. Mas não havia tempo para comemorações e ambos sabiam disso.

- Ache o Milo! Fale com ele – disse Aioros, rapidamente – isso não pode continuar assim!

- Sim, eu o farei – disse, sentindo seu coração bater com mais força – só preciso achá-lo – disse pra si mesmo, olhando para o céu que começava a escurecer.

Enquanto isso, no outro lado da cidade, mais próximo à área rochosa. Milo estava desviando-se das pedras que as pequenas criaturas jogavam nele. Escorpião podia sentir seu corpo tremer levemente, mas não era de dor ou medo, mas sim de ansiedade. Ele podia sentir a presença de Camus e queria chegar o quanto antes até ele. Milo desviou-se de uma última criaturinha com um soco e se pôs a correr, entretanto acabou parando novamente, mas desta vez não iria tentar passar a força, pois também não sabia o que iria acontecer.

Na sua frente estava o formoso cavaleiro de ouro de peixes, com sua reluzente armadura. Ele parecia estar preocupado, pois seu cenho estava demasiado franzido e seus lábios sendo mordidos por seus dentes esbranquiçados.

- Milo, Camus está machucado! – disse Afrodite – ele precisa de você. Onde você estava?

O coração de Milo parou uma batida. Ele olhou para suas mãos e depois olhou para Afrodite, pensando no que ele estaria fazendo até agora para deixar o amor da sua vida se machucar de tal maneira. E num impulso ele avançou no cavaleiro de peixes, agarrando seus ombros, querendo saber mais do que ele falava.

- Ele está ao sul. Vamos logo – disse Afrodite, virando-se de costas e colocando-se a correr.

Milo não pensou duas vezes e o seguiu, sentindo seu coração lhe atingir com várias pontadas, e parecia que iria ter um infarto e não seria surpresa que isso realmente acontecesse. Suas pernas corriam descontroladamente, nem seu cérebro acompanhava mais suas ações, até que eles finalmente pararam de correr e Afrodite o encarou.

- Perdoe-me Milo, mas trato é trato – disse, saindo da frente de escorpião, que finalmente abriu seus olhos, vendo a figura atrás de peixes.

- Radamanthys? – indagou sem entender – o Camus... onde... – antes que terminasse de perguntar, Milo olhou rancoroso para Afrodite que se afastava com um olhar cabisbaixo.

- Ninguém ganha, Milo. Nem eu – disse, sumindo finalmente, da frente dos dois.

Milo ficou a olhar Afrodite, sentindo vontade de aniquilá-lo com seu cosmo, mas no momento tinha que prestar atenção na figura a sua frente, que parecia bastante intimidadora. Depois que cuidasse dele, ai sim poderia vingar-se das palavras mentirosas de seu ex-companheiro de batalhas, o cavaleiro de peixes.

- Finalmente a sós – disse Radamanthys, com sua voz fria – acho que colocaremos um fim em tudo isso.

- Acha mesmo que pode invadir o santuário e sair ileso? Você não tem idéia de com quem está lidando!

- Com cavaleiros fracos e com uma ideologia fraca sobre o que é ser forte. Desde quando cavaleiros que protegem humanos, esse pecadores, são cavaleiros honrados? – indagou, dando um passo para frente, mostrando sua armadura empoeirada.

- Fala assim com tanta veemência, mas não é melhor que nenhum humano. Você está acabado, o que lhe dá forças para continuar aqui? Mas isso não importa... pois irá morrer por tudo que fez a mim e a Camus.

- Milo... – Radamanthys lhe chamou com uma voz trêmula.

- Hum? – olhou-o com atenção, vendo que sua feição mudou.

- Você já sentiu ódio? – indagou, sem mais.

- Sim, de você!

- Pois bem, então vingue-se – sorriu – se puder, é claro.

Milo não esperou muito, seu cosmo elevou-se rapidamente e logo em seguida foi na direção de Radamanthys mirando seu rosto, com aquele sorriso patético e acabado, sentindo vontade de exterminá-lo naquele golpe. No entanto, Radamanthys, apesar de tudo, apesar de estar sem seu Deus, apesar de estar com uma armadura fraca, apesar de estar sem esperança o suficiente para sair vivo daquele santuário, apesar de tudo isso, conseguia mover-se com clareza, desviando-se do golpe de Milo e o golpeando por trás.

A grama fria e barrosa recebeu o corpo de Milo que caiu com tudo no chão, fazendo suas costelas tremerem dentro de seu corpo, mas felizmente, nenhuma delas resolveu sair do seu lugar, mantendo-se firmes. E logo atrás do corpo estirado no chão, Radamanthys tratava de elevar seu cosmo, conjurando uma das suas técnicas, lançando-a em Milo, que não teve tempo de se desviar, atingindo-o novamente.

- "Isso não pode ficar assim. Tenho que ver Camus novamente, e mais... eu não estou aqui por apenas odiá-lo, mas sim porque sou um cavaleiro de Atena e devo proteger esse santuário e esse planeta contra qualquer invasor" – pensou, motivando-se a se levantar e encarar o outro de frente, limpando o sangue que escorria ligeiramente por sua boca.

- Quer mais, cavaleiro? – indagou Radamanthys.

- Eu tenho pena de você. Está tão fraco que mal se agüenta em pé!

Nesse momento, para a surpresa dos dois, Aioros, Kanon e Aioria apareceram no campo, ficando atrás de Radamanthys, mas estavam um pouco afastados, pois não seriam loucos de entrarem no meio de uma batalha sem terem consciência de como ela estava sendo resolvida, e, além disso, Milo não iria gostar que alguém interferisse. Eles haviam sentido o cosmo de ambos à distância. Aioros deu um passo para frente, mas logo recuou a ouvir a voz de Milo:

- Não interfiram. Eu mesmo posso cuidar dessa carcaça!

Radamanthys sorriu de canto, olhando para trás, vendo que os três cavaleiros recém chegados apenas cruzaram os braços e ficaram em silêncio, confiando nas habilidades de seu companheiro. Milo posicionou-se e tratou de atacá-lo mais uma vez, tomando cuidado com os golpes de Radamanthys, que continuavam hábeis.

Enquanto os dois cavaleiros lutavam, alguns cavaleiros se aproximavam, inclusive Shaka e Ikki, para observar aquela batalha que estava bastante acirrada, mas aos olhos de pessoas mais experientes, poder-se-ia notar que Milo não estava encontrando dificuldade em atacá-lo e que logo o derrubaria.

Os cavaleiros de ouro observavam em silêncio analisando cada golpe, mas nenhum deles pensava em interferir. O santuário já estava salvo daquelas criaturinhas ridículas, e pouco a pouco mais cavaleiros chegavam para olhar a última batalha, para que finalmente a paz reinasse.

- Ah! Que fraco, eu quero socar esse idiota. Graças a ele, um monte de criaturas nojentas atacou a população e, aliás, ele acha que pode ir contra nós? – Comentou Ikki, indignado. Shaka que estava ao seu lado apenas o olhou de canto, fazendo um "não" com a cabeça, enquanto ele continuava a observar a luta dos dois, mas já sabia o resultado.

Milo sorria de canto com a facilidade que estava tendo, no entanto, ele acabou se desconcentrando e recebendo um golpe de Radamanthys, assustando a todos. Os olhos de Milo desviaram-se da batalha, indo a um ponto do outro lado do campo, onde Camus estava parado, sozinho, com seu olhar atencioso.

- Camus... – Milo sussurrou.

Todos olharam para o francês, inclusive Radamanthys, que sentiu seu coração parar uma batida. Ele via que o outro estava mudado, mas mesmo assim continuava com aquela beleza e encantamento misterioso, que havia lhe cativado no primeiro encontro.

- Camus não apareceu num momento muito bom – disse Kanon.

- Não mesmo – concordou Ikki – mas Milo logo colocará um fim nisso, ou eu mesmo ponho!

- Você vai ficar quietinho aí! – disse Shaka, segurando a mão de fênix, que apenas lhe encarou com cansaço e voltou a olhar para frente.

Radamanthys fechou os olhos e começou a elevar seu cosmo com mais intensidade, chamando a atenção de todos, inclusive a de Milo que voltou a dar sua atenção a ele. Tudo parecia fora da realidade, quando a terra começou a tremer. O poder do ex-juiz do mundo dos mortos não era nada fraco, era tolice dizer que estava fraco. E num único disparo, sem aviso prévio, um jato de luz cortante passa por Milo, que se desviou, mas não era para atingi-lo, pois aquela rajada continuava a correr indo na direção do francês que não teve tempo de desviar, atingindo-lhe em cheio, levando-o a metros de distância.

- CAMUS! – Milo gritou, mas já era tarde. Ele sentiu seu corpo encher-se de ódio e sem pensar, sua mão atravessou o coração do assassino a sua frente, derrubando-o logo em seguida. Os seus olhos se encontraram nesse instante, Milo percebeu que Radamanthys tinha um pequeno sorriso de satisfação no rosto e aquilo o enfureceu ainda mais, fazendo sua mão fechar-se no pequeno órgão pulsante até puxá-lo para fora. Radamanthys foi caindo lentamente, tendo sua visão turva, até que finalmente sentiu o chão.

Milo saiu correndo em disparada. O caminho a frente estava destruído por causa da energia de Radamanthys, e logo a sua frente ele via os seus companheiros correndo na mesma direção. Camus havia sido jogado muito longe, entre pedras e troncos.

Radamanthys via tudo distorcido, ele sentia seu corpo ficar cada vez mais frio. Tudo estava doendo, mas por um momento, por apenas um instante, todo o frio e dor se passou e o tempo pareceu parar. Ele abriu os olhos e viu algumas penas negras caindo, quando olhou para cima, viu um par de olhos negros lhe observando. Era um homem extremamente pálido com um olhar frio e duro, sem sentimento algum.

- Um... anjo? – murmurou Radamanthys.

- Sou seu guia, apenas deixe-me levá-lo.

- Não... – disse Radamanthys – eles irão se tocar agora... eu preciso de mais tempo.

O anjo olhou para frente vendo a cena, que foi paralisada. Tinha um homem caído no chão e um bando de rapazes correndo na sua direção, mas agora todos estavam congelados. Então, o anjo voltou a olhar para Radamanthys e disse:

- Seu tempo acabou.

- EU NÃO POSSO IR AGORA... deixe-me, só mais um pouquinho.

O anjo apenas ficou olhando-o sem sentimento algum, tentando entender o sentimento daquela criatura humana, feita com carne e sangue, diferentemente dele, que apenas era uma imagem cheia de luz.

- Eu... eu te dou tudo que quiser – disse, chamando atenção do anjo, que sorriu de canto, e indagou em seguida.

- Tudo?

- Sim!

- Até mesmo sua alma? – indagou, abaixando-se ao seu lado, tocando na sua cabeça, exibindo seus dentes brancos ao dar um sorriso malicioso.

- Sim.

- Tudo bem. Você tem 5 minutos no tempo real, mas assine aqui... – disse, e na sua mão apareceu um contrato, numa folha amarelada com as pontas queimadas com fogo.

Radamanthys bateu o dedo na folha e ela logo sumiu. O anjo lhe deu um último sorriso e disse:

- Cinco minutos, a partir de agora.

Radamanthys mirou seu olhar na cena frente que se descongelou. Ele podia sentir seu corpo doer novamente e o frio invadi-lo, ainda estava morrendo e sabia que tinha pouco tempo.

- "Vocês não ficarão juntos... não ficarão. Não ficará com ele escorpião... você não ficará" – pensava.

Camus estava caído no chão, sentindo o gosto amargo de sangue na boca. Ele olhou para frente vendo que Milo corria na sua direção, mas antes disso pode sentir as mãos de Aioria no seu corpo.

- Aioria – sussurrou seu nome.

- Não fale nada, eu tentarei estancar seu ferimento – disse.

Milo estava se aproximando, mas Aioros o segurou com força. Escorpião apenas ficou se debatendo, tentando chegar até o francês, que o olhava de longe, sentindo tristeza por estar num estado tão lastimável, preocupando as pessoas que ele mais amava.

Aioria trabalhava rapidamente ao lado de Kanon que lhe dava todo o apoio, eles tentavam ajudar o francês à não perder a consciência e estavam tendo sucesso, pois o golpe não havia atingindo em nenhum órgão. Camus havia conseguia se defender.

Quando Aioria se afastou de Camus, Aioros finalmente soltou Milo que foi correndo na direção de Camus, com os braços abertos, sentindo um desespero enorme de beijá-lo e abraçá-lo. Todos ali não o impediram, pois não sentiam mais o cosmo de Radamanthys na Terra, ele estava morto e nada mais os incomodaria. No entanto, do outro lado, Radamanthys mantinha seus olhos abertos, sentindo seu corpo arrepiar-se de excitação ao ver Milo se aproximando de Camus.

- "Só mais um pouco... idiotas".

Milo estava a milímetros do corpo de Camus, quando ele enfia seu pé num buraco e cai para o lado, fazendo todos os cavaleiros de ouro o olharem desacreditados com sua distração. Escorpião estava tão cego ao ver Camus a sua frente, que mal viu o que estava abaixo. Aioros ajudava Milo a se levantar, vendo que ele havia afundado bastante o seu pé no buraco, mas não demorou muito para que Milo corresse até o francês novamente.

- Milo... cuidado – disse Aioros. Se você abraçar o Camus assim, ele irá se machucar – disse, abraçando escorpião, prendendo-o.

- Não seja ruim, meu irmão – disse Aioria, indignado – O Milo vai te jogar longe – riu baixinho.

- Vou mesmo, me solta! – disse Milo, desesperado.

Camus havia aberto um sorrisinho de canto, divertindo-se com a situação. Ele também não via a hora de abraçá-lo, mas não tinha forças para se levantar.

Enquanto isso, do outro lado do campo. Radamanthys se remoia de ódio, não agüentava mais esperar, ele não fazia idéia de quanto o tempo havia se passado, mas o anjo ao seu lado mostrava-se bastante calmo e num piscar de olhos o tempo parou novamente.

- O que... o que houve? – indagou, ao ver que tudo congelou novamente.

- Cinco minutos passados! – disse.

- Não, não! Eu te dou... te dou tudo que quiser – gritou desesperado.

- O que um reles humanos sem alma tem a oferecer a mim? – indagou o anjo – bom, agora não serei mais eu quem o guiará ao mundo espiritual, pois lá, entram apenas seres com alma – disse baixinho – creio que não poderá mais prosseguir comigo.

- Não... eu não quero... não, não! Camus... eu... te amo!

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"Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo que pode, pois existem pessoas que no amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso." (Shakespeare)

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O anjo abriu suas asas e saiu voando, sem olhar para baixo, sumindo de repente da vista de Radamanthys que não conseguia mais se mover. Ele ficou em silêncio, sem saber o que iria lhe acontecer até que o chão começou a tremer e logo abaixo dele a terra começou a se dividir, fazendo seu corpo cair lentamente por uma fenda escura. No entanto, apenas seu espírito caiu ali, seu corpo físico ficou no mesmo lugar, mas aquilo era apenas um corpo e nada mais. Sua alma foi caindo pela fenda escura, sentindo mãos frias e pegajosas lhe tocarem, enquanto ele continuava a cair sem rumo algum. E logo a fenda se fechou, levando consigo todos os gritos de dor e tristeza com ela.

Enquanto um iniciava o caminho do desespero, outros iniciavam o caminho da alegria. Camus estava gemendo baixinho ao sentir suas costelas serem apertadas pelo abraço apertado de Milo, mas mesmo assim estava gostando daquele abraço. E logo pode sentir os lábios cálidos de escorpião cobrirem os seus.

- Vixe... se deixarmos os dois vão fazer coisas erradas aqui mesmo – disse Ikki, levando um cutucão de Shaka.

- O Camus precisa de um médico – disse Shaka.

- Sim, mas quem irá tirá-lo dali? – indagou Kanon. Nenhum deles resolveu se pronunciar.

Eles estavam conversando alto, sorrindo alegremente com a felicidade do casal à frente, quando Shura se aproxima com uma olhar assassino. Todos os encararam, vendo que ele estava coberto de sangue.

- Você está machucado? – Aioria avançou nele, olhando-o de perto.

- Onde está Afrodite? – indagou, e nesse instante Milo, desgrudou sua boca de Camus.

- Sim! Aonde ele se meteu? – indagou Milo – ele que ajudou Radamanthys – disse em seguida, preocupando a todos.

Shura, porém mostrava um olhar sem sentimento algum. Quando todos responderam que não sabiam onde estava o paradeiro do outro, ele apenas virou-se de costas e postou-se a caminhar.

- Shura... Onde está Máscara da Morte? – indagou Aioros.

- Morto – respondeu secamente, sem parar de andar.

Todos engoliram em seco e ficaram em silêncio. Nesse instante Saga aparece perante eles, chamando a atenção de Camus, que pronunciou seu nome baixinho, mas todos acabaram ouvindo. Milo ficou em silêncio, ele não queria brigar com ninguém agora.

- Afrodite fugiu, não consegui alcançá-lo, mas creio que ele não irá conseguir viver em paz. O importante agora é nos concentrarmos nas pessoas que temos e protegê-las – disse secamente.

- Mas Radamanthys não é mais perigo, irmão – disse Kanon.

- Você não me entendeu Kanon. O importante agora é cuidarmos das pessoas que estão próximas a nós, não permitindo que nada faça mal a elas. E temos que cuidar de Shura também, pois Afrodite talvez pense em voltar algum dia, isso é, se ele for idiota o bastante.

Nesse instante Shaka olhou para Ikki, Aioros olhou para Kanon, Milo olhou para Camus, e Aioros lembrou de Mu, todos eles tinham alguém para proteger e não iriam fraquejar. Saga apenas respirou fundo e olhou de canto para Camus e depois para seu irmão, para logo em seguida se afastar.

- "Preciso encontrar alguém para eu proteger também, pois vocês dois já têm alguém" – pensou.

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"Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos". (Shakespeare)
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Duas semanas se passaram desde o último e fatídico episódio que invadiu o santuário. As pessoas estavam reconstruindo o pequeno vilarejo, com a ajuda dos cavaleiros de bronze e prata.
Atena, quando descobriu o que houve ficou horrorizada e tentou ajudar a todos com seu poderoso cosmo, curando ferimentos e trazendo algumas pessoas a vida, não se importando com o risco dessa atitude. No entanto, ela não havia ressuscitado Máscara da Morte, pois ele mesmo não quis voltar à vida, e todos entenderam isso, menos Shura que estava revoltado com toda a situação.

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E dois dias se passaram lentamente. Atena não conseguiu ressuscitar Máscara da Morte, porque ele mesmo não queria. E agora o santuário estava em ordem. Mas o coração de alguns ainda estava em desordem.
Shura estava sentado no alto de uma Montanha um pouco afastada do santuário, onde ele conseguia ver cada pedaço daquela região. Seus cabelos estavam um pouco mais compridos, caindo por seu rosto, ele precisava cortar, não gostava de cabelos compridos, mas não tinha auto-estima para fazê-lo.

O céu estava claro e ensolarado, o sol queimava levemente sua pele, esquentando sua armadura vagarosamente, mas ele pouco se importava, queria mesmo ficar sozinho, pensar no motivo de Máscara da Morte não querer voltar.

- "Então, você não devia me amar mesmo..." – pensava, entristecido, enquanto seus dedos picavam uma pequena flor que havia arrancado da terra.

Uma sombra enorme caiu sobre Shura, era uma nuvem que havia tampado o sol, ele olhou para cima, esperando ver os raios novamente, e quando a nuvem finalmente saiu, ele voltou sua atenção para baixo, olhando as pétalas da flor em sua mão jogadas no chão. E mais uma vez, uma sombra pairou sobre ele, mas ele pouco ligou, e ficou olhando para baixo.

O coração de Shura estava calmo, batia lentamente, enquanto aspirava o ar a sua volta. Mas tudo pareceu mudar, quando ele sentiu algo atrás dele. Ele olhou para trás e viu apenas uma pena branca no chão, mas ela brilhava de um jeito atípico. Ele acabou se levantando e caminhando até ela, pegando-a na mão, analisando-a e mais uma vez, sentiu uma sombra sobre ele, e um vento forte balançando seus cabelos.

Uma presença forte apareceu atrás de Shura e quando ele se virou, não conseguiu fazer nada, ele apenas foi caindo lentamente, sentindo suas pernas ficarem moles. E assim, acabou sentado no gramado, com os olhos arregalados e uma face branca de pavor.

- "Por que ele não voltou?", você deve estar se perguntando, não é mesmo, Shura?

- Máscara da Morte? – pronunciou seu nome, trêmulo.

"Eu estou ficando louco... louco!".

- Eu não quis voltar, pois minha existência não era necessária – disse.

"Eu finalmente voltei... voltei. Eu consegui o impossível. Por você!".

- Como não? Eu te amo... te amava... – disse, baixinho.

"Você não acredita? Mas... é você mesmo na minha frente. Eu estou ficando louco!".

- Eu te faria sofrer, não aprenderia a lhe respeitar como você merecia. Mas eu te amo... saiba disso – disse baixinho, com um olhar cálido. Seu corpo estava sem marcas de cicatrizes, e seus olhos pareciam calmos e pacientes. Suas vestes eram azuladas, como seu cabelo e atrás, nas suas costas, um par de asas brancas estavam presentes.

"Eu tinha medo de voltar a ser aquele monstro frio e assassino, que apenas iria lhe ferir..."

- Eu só queria você... – gritou – eu sinto tanto pelo o que aconteceu!

- Eu tive uma chance – disse – uma chance de tentar mudar meu espírito maldoso. Mas eu recusei, eu prefiro ficar preso a Terra, protegendo-lhe... – sorriu – prefiro ser seu anjo protetor, apesar de eu ter cometido alguns delitos para isso.

- De... delitos?

"Você matou de novo? Machucou alguém? Por favor, que não tenha feito isso por mim... eu não mereço nada... nada de você".

- Sim, seu anjo da guarda... eu tive que jogá-lo para um outro plano – disse secamente. E ele foi se aproximando de Shura, caminhando lentamente, e nem parecia que seus pés encostavam-se no chão – eu sou seu... todo seu... – disse, estendendo a mão e tocando no rosto pálido de Shura.

"Sou seu anjo protetor... sua estrela... eu sou aquele que sempre o protegerá".

- Mas... você pode ficar aqui?

- Sim... mas uma vez ou outra tenho que voltar... mas quero continuar com você, até sua morte... até o momento que possamos ficar juntos pela eternidade.

Shura refletiu por um instante e disse:

- Não me importaria de morrer e ir com você agora.

"Sim, eu quero morrer... morrer e voar com você pelo infinito... estava tão infeliz sem você. Estaria mentindo se dissesse que não havia pensado nisso".

- Não! Eu espero... eu não quero tirar sua vida. Ela é muito importante para você Shura. Se você se matar, você não poderá ficar mais comigo, não no mesmo plano – disse.

- Pensei que você fosse para o inferno – disse, tocando na mão de Máscara da Morte.

- Eu também... mas eu me arrependi pelo o que fiz e agora estou pagando com trabalho duro tudo que aprontei quando vivo. Além disso, o tempo dos anjos é diferente dos humanos, lá em cima... já passaram-se alguns anos. Eu estava louco para lhe ver.

"Estou me desdobrando para tentar ser alguém com o mínimo requisito possível para poder te tocar".

- Eu... – Shura fechou os olhos e começou a chorar – eu... nunca desejei tanto... morrer.

Máscara da Morte o abraçou, sentindo o corpo que tanto desejava e olhava lá do céu. E agora teria que fazer o impossível para tentar convencer seus superiores a lhe deixarem ficar mais do que três dias por ano na Terra.

- Seja paciente... ficaremos juntos, ou agora ou depois – disse, Máscara da Morte com um tom sábio que ele nunca havia tido ou usado antes.

- Quanto tempo... se passou para você?

- Hum... três anos – disse baixinho – três longos e tortuosos anos de trabalho duro e provações, mas tudo isso... para ficar com você. Se eu voltasse... eu teria medo de esquecer tudo.

"Na verdade foram mais de cem anos... mas não quero preocupar você".

- Esquecer o que?

- Eu não posso contar, saberá quando chegar sua hora. Mas... saiba que depois de tudo, eu vejo as coisas de um outro modo, eu me vejo como um monstro de pura carne e sangue.

- Você está falando como um padre... – disse, erguendo uma sobrancelha – você está estranho – "Você está diferente... deve ter sofrido tanto".

- Eu sei... – disse cabisbaixo – mas eu... continuo o mesmo – sussurrou em seu ouvido, dando uma leve mordidinha – eu tenho que te avisar, que não sou um anjo muito forte, por isso posso ficar apenas algumas horas materializado para você, então... vamos aproveitar.

"Ele percebeu que eu mudei. Será que ele não me amará mais? Eu mudei... passaram-se tantos anos... aprendi tanto... será que mudei tanto assim? Por favor, continue a me amar... por favor".

Shura sorriu, exibindo seus dentes brancos. Finalmente, depois de tanto tempo de tristeza, seu coração se abriu, deixando a alegria e insanidade de toda aquela situação lhe invadir. Se ele estava ficando louco ou não, não queria saber, no momento, ele queria apenas viver e esquecer o passado para apreciar essa nova etapa de sua vida.

Um par de asas brancas cobriram seus corpos dos raios de sol que tentavam revelá-los aos olhares do céu. E assim ficaram, até seus corpos e corações se acalmarem diante de tantas revelações.

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Camus abriu os olhos lentamente, tendo uma visão comum nesses últimos dias. O rosto atencioso de Milo que estava sentado ao seu lado, lhe observando.

- Bom dia, Milo – disse, sonolento.

- Bom dia meu amor – disse Milo, dando-lhe um beijo nos lábios, enquanto mexia nos curtos cabelos de Camus.

- Que horas são?

- Dez horas... é cedo. Vamos ficar mais aqui – disse.

Camus sentou-se na cama e bocejou para depois dar um beijo carinhoso no rosto de Milo, que não resistiu e logo o beijou.

"Pensei que nunca mais ficaria assim com você, novamente". Camus pensava.

Seus corpos caíram no colchão fofo, fazendo um ruído abafado. Suas bocas agora estavam grudadas, e suas mãos grudadas com seus dedos entrelaçados, sentindo o suor de seus corpos, enquanto suas línguas trabalhavam gentilmente na boca do outro.

"Como desejei fazer isso... e você sempre tão distante, sempre fugindo de mim... que pecado!". – Milo pensava.

- Milo, vamos tomar um banho, juntos – disse Camus, o que ele queria fazer há tempos, mas Milo quase não o deixava sair daquela cama.

- Sim... com uma água bem quente – sorriu, levantando-se da cama, fazendo o fino lençol revelar seu corpo desnudo. Ele puxou a mão de Camus e foi andando até o banheiro, olhando sempre para trás, visualizando o rosto do mestre do gelo.

Os dois entraram no banheiro e já ligaram o chuveiro. Eles não precisavam se despir, pois já não havia roupas cobrindo seus corpos desde à tarde do dia anterior. Aliás, suas roupas pouco foram usadas nesses dias.

O banho foi muito demorado. Camus teve que sair correndo para que não virasse uma "uva passa" debaixo daquela água quente. Seu corpo estava todo enrugado e ainda por cima, detestava tomar banho com a água quente, sem contar que Milo havia deixado seu corpo mais quente que a temperatura do vapor. No instante seguinte, depois da luta de Camus para sair do banheiro; os dois já estavam no quarto, vestidos devidamente o que não faziam há tempos.

- Hoje vai ter uma festinha na casa de Kanon – disse Milo, com um sorriso maroto.

- Sim, Aioria me disse. Não vá beber muito – disse, sentando-se na cama, jogando seu tronco para trás.

- Eu não beberei... muito! – disse, sentando-se do seu lado – Camus...

- Hum?

- Eu cheguei a pensar que nunca mais ficaria assim com você.

- Eu também – disse, virando seu rosto para o lado, olhando para o amor de sua vida, para depois abraçar o seu corpo e ficar ali em silêncio, apenas sentindo o calor da pessoa que ele mais queria nesse mundo.

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Saga estava na sala vendo a bagunça de Kanon e Aioros estavam aprontando. Todos os móveis estavam num único canto, para dar mais espaço a sala de estar, que acabou virando um grande salão.

- Não, tire... isso, tire isso daí – disse Kanon.

Aioros estava ficando confuso, seu amor não se decidia aonde colocava as coisas e ele já estava ficando sem fôlego para acompanhá-lo. Cansado de ficar segurando a pequena mobília, Aioros a põe no chão e enxuga o suor de sua testa com o braço.

- Não Aioros, ai não! Coloque... ali... não, ali não... ali! – disse, apontando para um canto e depois para outro.

- Ah! – Aioros praguejou, fazendo Kanon calar-se. Sagitário foi se aproximando de Kanon, que deu dois passos para trás, temendo aquele olhar impaciente, mas não conseguiu fugir das mãos de Aioros, quando este te abraçou e lhe lascou um beijo.

Saga ergueu uma sobrancelha e ficou a olhar o casal que já estava se amassando numa parede vazia. O geminiano olhou para cima, tentando entender aquele casal e depois saiu da sala, não queria deixá-los sem graça, apesar daqueles dois mostrarem não se importar nada com sua presença.

Saga saiu de sua casa, olhando para o céu, que estava com uma cor alaranjada. Logo iria escurecer, ficando de um tom azul escuro, que o fazia lembrar dos cabelos de Camus. No entanto, sua mente não foi longe, pois Shura estava subindo a escadaria com um sorriso radiante no rosto e atrás dele estavam Mu e Aioria, que pareciam abobados.

- Boa tarde, Saga – disse Shura, parando na sua frente.

- Boa... tarde – disse – está tudo bem?

- Nunca esteve melhor – disse, abrindo ainda mais aquele sorriso – bom, eu tenho que ir. Nos vemos a noite! – e dizendo isso, continuou a subir.

Mu e Aioria foram se aproximando de Saga que observava Shura partir. Os três ficaram parados no degrau da escada, vendo o cavaleiro de capricórnio continuar a subir, num balanço alegre e apressado.

- O que será que aconteceu? – indagou, Aioria.

- Não sei, mas... ele me parece tão bem – comentou o ariano – e isso é ótimo! Eu estava preocupado com ele.

- Com quem você não se preocupa, também? – indagou Aioria, exibindo um olhar apaixonado, pensando em seguida: "E eu, tolo nem sequer percebi você ao meu lado. Ainda bem que o pesadelo do Seiya acabou."

Mu envergonhou-se e deixou-se ser puxado pelo leonino que lhe beijou carinhosamente a sua bochecha que acabou ficando ligeiramente rosada, para depois adquirir um tom avermelhado. Saga apenas ergueu sua sobrancelha, observando o casal que simplesmente o esqueceu ali, e que logo em seguida começaram a se beijar. Não agüentando mais ficar ali atrasando a vida do casal, pois Mu estava lhe olhando enquanto era beijado, ou melhor "atacado" por leão.

Saga respirou fundo e continuou a descer a escadaria, deixando o casal para trás, ficando feliz por eles, pois ele não agüentava ver Aioria com Seiya, ou na verdade, não agüentava ver Seiya passeando pelas doze casas achando-se alguém importante. E o geminiano sabia que o cavaleiro de bronze estava arrastando suas asinhas para cima dele.

- "Parece que eu estou sozinho... como sempre" – pensou entristecido, quando chegou no último degrau da casa de Áries.

"Não Saga, você não está."

Saga olhou para trás assustando-se com a voz que acabara de ouvir. Quando viu que não era ninguém, ele acabou por se ver sozinho novamente. Ele se postou a andar, sem rumo, queria ficar num lugar calmo, onde não veria casais felizes juntos.

0o0

A noite caiu finalmente. As estrelas brilhavam no céu, mostrando todo seu resplendor. O ar estava quente, mas uma brisa fria passava de vez ou outra, avisando que a madrugada não iria acompanhar a temperatura.

Na casa de gêmeos. As luzes de todos os cômodos estavam acesas e uma música alta saia por suas portas, chamando seus convidados, que não moravam muito longe dali. Os convidados dos geminianos eram apenas seus amigos íntimos, ou melhor, os cavaleiros de ouro e um de bronze.

Milo e Camus estavam entrando naquela casa barulhenta, onde quase todos os cavaleiros já estavam. Os dois foram recebidos com calorosos abraços, principalmente Camus, já que todos estavam morrendo de saudades dele. O francês ficava envergonhado, mas mesmo assim sorria e agradecia do seu modo tímido.

Escorpião já havia se afastado indo para o barzinho, onde alguns empregados estavam servindo bebidas. Quando ele se aproximou, viu que Aioros e Kanon estavam ali, tentando fazer o ariano beber um pouco.

- Vamos, Mu! – disse Kanon – só um copo!

- Eu já disse que sou fraco para bebida – disse, tentando sair correndo dali.

- Ah! Mas é só um copinho! – disse Aioros.

- Está bem – concordou, cansado de tentar dialogar. Eles já estavam naquele impasse há quase uma hora e tudo isso por culpa de Aioria, que não havia chegado ainda.

O ariano pegou um copo e ficou olhando para aquele líquido transparente. Ele levou até a boca, mas desistiu ao sentir aquele cheiro forte.

- Vamos logo! – disse Kanon, dando um tapa demasiado forte nas suas costas. Mas Mu reconsiderou, pois sabia que o seu amigo estava bêbado, juntamente com Aioros. Os dois se completavam!

Cansado de tanto ouvir aqueles dois reclamando. Áries virou o copo engoliu de uma vez todo aquele líquido, sentindo sua garganta arder em fogo junto com todo seu corpo que aos poucos ia ficando cada vez mais vermelho. Mu deu dois passos para trás, esbarrando em Milo que o segurou e o sentou num banquinho de madeira.

- O que... qual... o nome disso? – indagou Mu – sentindo seu estomago embrulhar.

- Ah... é levinho... Vodka com menta – disse Aioros.

Milo se aproximou da garrafa e viu que não era vodka com menta, mas sim destilada. Depois olhou para Mu vendo que ele não iria conseguir ficar muito tempo sóbrio naquela festa, pois seus olhos já pareciam estar brilhando demais.

- Er... cadê o Aioria? – indagou Milo.

- Não chegou ainda, não sei onde ele está! – disse Aioros –mas ele logo chegará. Enquanto isso...

Milo sorriu e aceitou o copo de vodka que Aioros lhe ofereceu e virou de uma vez, depois ele se serviu de um pouco de champagne e foi andando pela festa, conversando com os outros cavaleiros.

Enquanto isso, do outro lado. Camus estava sentado no sofá tomando um pouco de cerveja com Shura, que estava conversando normalmente com ele, como se fosse outra pessoa.

- Bom, eu vou ali com o Shaka, Camus – disse Shura, levantando-se – ele está me olhando desde que eu entrei.

- Sim... – disse, continuando a olhar para capricórnio, com a boca aberta – "Não só o Shaka está lhe olhando Shura, mas sim, todos nós." – pensou em seguida.

Camus deu o último gole na sua cerveja, colocando a garrafa no chão, ele olhava todos ao fundo, observando seus rostos felizes, e por um momento sentiu-se um rapaz de sorte por estar ali. Com uma mão ele jogou sua franja para trás, arrumando seus cabelos, que ainda estavam bem curtinhos.

- Posso?

Camus olha para o lado e vê Saga, que estava com uma garrafa de vinho na mão. O francês fez um gesto para que ele se sentasse, e Saga o fez. Os dois estavam sentados lado-a-lado, sem dizer uma palavra sequer.

- Nunca pensei que veria isso novamente – disse Saga.

- Tirou as palavras de minha boca – comentou Camus.

- Camus... eu queria me desculpar com você.

- Saga, não falaremos mais nisso. Está no passado, e deve ficar lá – disse, rapidamente.

- Mesmo assim, desculpe-me – disse, levantando-se em seguida, olhando Camus nos olhos, fascinando-se com aquele azul-petróleo, com aquelas mechas curtas e repicadas que caiam por seu rosto.

- Aonde vai Saga? – indagou, sentindo-se incomodado com aquele olhar.

- Não sei – disse, e saiu, com passos rápidos.

Camus se levantou, mas não foi atrás dele, pois sentiu uma forte tontura. Ele apenas viu Saga se afastar ao longe e antes de sumir, pôde ver uma energia forte o rodear, como se tivesse lhe camuflando, protegendo-lhe do mundo exterior. Camus o chamou, mas a música alta abafou sua voz, e sem conseguir fazê-lo voltar acabou desistindo, ficando apenas a olhá-lo.

"Saga... eu que lhe peço desculpas."

Milo foi se aproximando de Camus, com o corpo mole, caindo no seu colo de repente. O francês se assustou, mas logo tratou de arrumar seu amado direitinho nas almofadas que havia próximo a eles, jogadas ao chão.

- Eu disse para você não beber – disse, repreendendo-o.

- Hum... me da um beijo – pediu, com um olhar dengoso.

Camus sorriu e passou a mão por suas mechas, colocando um punhado de cabelo atrás de sua orelha, para limpar seu rosto. Seu corpo foi se inclinando para frente, sentindo o forte cheiro de bebida da boca, que pouca-a-pouco ia se aproximando da sua, até que finalmente seus lábios encostaram-se iniciando um beijo quente e apaixonado.

Milo agarrou o francês, forçando seu corpo para baixo, desejando ficar por cima de seu corpo. Camus por sua vez sentiu um calor forte subir por seu corpo, ele ergueu seu tronco, até que viu Aioros e a Kanon inclinando suas cabecinhas para olhá-los, e podia-se ver um sorriso divertidos em seus rostos.

- Milo, aqui não! Aqui não! – disse Camus, desesperando-se, pois suas roupas estavam sendo puxadas para cima, para baixo e para o lado, quase sendo rasgadas pelas mãos afoitas de escorpião.

Do outro lado do salão, Mu estava jogado numa almofada, vendo o salão inteiro rodar; sua cabeça latejava e sentia um embrulho no seu estomago. Seus olhos estavam quase se fechando, mas abriram-se de repente ao ver uma figura entrar pelo salão. Aioria havia chegado finalmente e parecia estar nervoso com alguma coisa, ele correu seus olhos pelo salão procurando alguma coisa, até que finalmente encontra o ariano afundado no sofá e sem demorar muito vai até ele, assustando-se com seu estado.

- Mu, o que houve?

- Hum... bebi um pouco – disse, com uma voz lenta.

Aioria torceu o nariz ao sentir o forte cheiro de bebida, mas considerou, pois Mu estava muito bonito e charmoso, usando aquele traje azulado, tão atípico e diferente das roupas que costumava a usar.

- Onde você estava? – indagou.

- Houve um contra-tempo, mas estou aqui e é isso que importa – disse, com um sorriso amarelo, lembrando-se do motivo do seu atraso, que estava relacionado ao fatídico encontro com Seiya. Mas ele havia dispensado o garoto de vez, ameaçando-o a lhe jogar longe com seu cosmo caso continuasse no seu caminho.

- Está tudo bem?

- Mu, mesmo bêbado, você continua sendo tão sensível! – comentou, aproximando-se do ariano, tocando na sua face que mudou do rosa pro vinho. O ariano olhou para os lados, procurando saber se alguém os olhava, mas Aioria não deixou que ele ficasse assim por muito tempo, pois logo o beijou, pedindo para que ele fechasse seus olhos.

- Hum... estou tonto – sussurrou no seu ouvido.

- Eu sei, quer ir para casa?

- Não quero que você perca a festa.

- Você não entende, não é mesmo? Isso aqui sem você não significa nada, para mim, perde toda a graça – disse, com um sorriso conquistador.

- Falou bem! – disse – então vamos, pois parece que eu vou vomitar.

- Certo!

Aioria puxou-o pela mão e foi andando com ele pelo salão, sob o olhar de todos. Mas Aioria apenas acenou para eles, dizendo que estava tudo bem, fazendo todos darem um sorriso malicioso, para logo em seguida acenarem de volta.

Kanon observava o mais novo casalzinho partir, ele olhou para Aioros que sorria alegremente, ele também estava ficando muito "alegre", com o passar dos segundos. Sem contar, que os copos de bebidas não duravam nem cinco minutos nas suas mãos.

- Amor, você não acha que está bebendo muito? – indagou Kanon, tocando no seu ombro.

- Hum, você acha? Sabe que eu agüento beber.

- Sim, mas você já bebeu demais. Vamos tomar alguma coisa doce... que tal um pouco de mel? – indagou, com um sorriso de canto.

- Hum... só se esse mel estiver em cima do seu corpo! – disse, encostando Kanon na parede.

- Boa idéia – sorriu – mas sou o anfitrião e não posso sair da festa.

- Que se importa? Todo mundo está indo embora... – disse, olhando para cada canto – O Camus já está puxando o Milo para irem embora, o meu irmão já foi há muito tempo, hehehe... Ele é muito esperto, puxou a mim é claro.

- O Shura está sozinho, olha lá! – disse, apontando para um canto, onde o capricórniano estava bebendo com aldebaran.

- Será que os dois... – a cabecinha de Aioros estava começando a trabalhar, pensando na possibilidade de juntá-los, mas Kanon lhe deu um tapa e disse:

- Não seja ridículo, o Shura acabou de sair de um relacionamento conturbado, ele só quer se distrair.

- Hum... E ele ficou estranho. De repente... Ah! Esquece – disse, olhando sedutoramente para Kanon, que se encolheu como se fosse um gatinho a ser devorado – onde paramos?

- N-não sei – disse, sentindo suas roupas serem agarradas pelas mãos do corpo a sua frente. E antes que Kanon dissesse alguma coisa, Aioros o puxou pelos pilares o arrastando dali.

O salão começava a ficar vazio com o tempo. Shura e aldebaran olharam para os lados vendo que sobraram apenas eles ali. Os dois sorriram e continuaram a conversar, afinal, a festa não havia acabado, pois não havia ninguém que dissesse: "fim".

0o0

Na manhã seguinte. Quase todos os cavaleiros acordaram tarde para seus deveres, principalmente Mu que não estava se sentindo nada bem, e vendo o estado do rapaz, Aioria foi pedir ao grande mestre, shion, que lhe desse um dia de folga. O que foi acatado imediatamente por shion, que também parecia estar de ressaca, apesar de não ter ido a festinha da noite passada.

Camus e Milo estavam de pé logo de manhã, já que o francês era responsável demais e não queria ficar de cama, mostrando que estava dormindo com o cavaleiro de escorpião e que por isso não poderia mais trabalhar, isso seria sua ruína como cavaleiro.

E foi nesse ritmo que as coisas começaram a melhorar. Os cavaleiros estavam aos poucos tentando animar Shura, que a cada dia se isolava mais e parecia falar sozinho as vezes, preocupando a todos, mas poucos sabiam que ele tinha um anjo da guarda super atento ao seu lado, que sempre o perseguia nos momentos críticos.

Atena continuava a governar ao lado de shion, que sempre a auxiliava nos momentos críticos, e ao lado de Dohko, o grande e sábio conselheiro real. E sem contar, seus protetores, os inseparáveis cavaleiros de bronze.

0o0

No alto de um pico, onde a neve cobria grande parte das pedras, um homem com longos cabelos azuis acinzentados olhava para o céu, notando as suas poucas estrelas. Ele tinha um olhar raivoso e carregado de mágoa.

- "Camus, Camus, Camus... será mesmo que não podemos mais ficar juntos? Sinto que... se Milo não existisse..."

Um sorriso desenhou-se nos lábios do rapaz, que apenas se sentou numa pedra, continuando a olhar para o nada.

- "Agora que estou mais forte... mais forte que a própria Deusa... mais forte do que tudo! Poderei ter você?"

Saga fechou os olhos soltando um longo suspiro, não gostando nem um pouco de pensar em ter que conquistar o coração do francês a forças, mas o seu outro "eu" estava lhe impulsionando a fazer coisas que ele mesmo nunca imaginou fazer. Mas infelizmente ou felizmente, estava sentindo-se feliz, e tinha esperança de um dia ficar com Camus, nem que tivesse que passar por cima do santuário.

- Eu não queria... dividir meu corpo com você, mas parece que não tem outra escolha, eu estou me afundando cada vez mais no meu ódio. Milo perdoe-me, pois por aquele que amo, irei lhe matar.

Os olhos avermelhados de Saga se fecharam e ele deixou seu corpo cair para trás, com um sorriso lastimável no rosto.

"Por aquele que amo... perdoe-me... meu egoísmo, meu amor, meu desejo parece ser insaciável. Camus... eu irei voltar..."

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"Todas as paixões são boas quando somos senhores delas,
e todas são más quando se assenhoreiam de nós." (Sthendal)

"Tudo o que sabemos do amor, é que o amor é tudo que existe."
(Emily Dickinson)

0o0

Hello!

Finalmente coloquei um fim nessa estória. Eu espero que todos tenham gostado e peço para que todos aqueles que comentaram comentem o último capítulo. E eu peço desculpas, pela demora. Eu tenho explicação, eu comecei a trabalhar e estou tendo problemas com a tendinite. Perdoem-me pela fraqueza.

Eu sinceramente pensei em acabar com a vida de Camus, mas acho que eu mesma iria me achar muito má. Então um final feliz! Toque proibido poderia ter uma continuação, mas seria com outro nome, outro titulo, pois seria uma estória mais forte, pois o Saga mostrou-se estar possuído. Por quem será? Rs... Eu tenho uma fanfic chamada "Na vida e Na morte", "Toque proibido" é como se fosse uma continuação dessa, mas eu mudei o nome e tudo mais, pois eu não acho legal começar com uma fanfic de romance e terminar com terror, isso insultaria a vocês, meus leitores.

Espero que tenham gostado do final que Shura teve. Quem diria que Máscara da Morte viraria um anjo! E parece que ele sofreu bastante para conseguir esse "status". Aioria e Mu ficaram juntos, aliás, eu os acho uma graça! Aioros e Kanon desde o começo mostraram estar juntos. Camus e Milo tiveram o final que todos queriam. Radamanthys conseguiu algo pior que a morte. E assim terminou essa longa estória.

Muito obrigada a todos que comentaram! Fico muito feliz com isso. E gostaria de uma opinião final!

Ah! E obrigada por lerem.

Leona-EBM

06/08/2006 às 12:26 pm