Título: Por Trás de Olhos Azuis
Autor: Draco Malfoy-Potter

Resumo: Quando Draco recusa a Marca Negra, seu pai o cega. Um certo moreno Grifinório o salva. Slash.
Classificação: Tragedy/Romance, M/R

Tradutora: Paula Lírio
Beta da Tradução: Bela-Chan

Capítulo 9 – Mas eu não sou gay!


Frios olhos negros encaravam olhos castanhos, um silêncio desconfortável pairando no ar.

"Então… Lupin…"

Remus Lupin inclinou a cabeça para o lado e sorriu carinhosamente. "Sim, Severus?"

Severus Snape franziu os lábios e cruzou as pernas. "A poção funcionou corretamente?"

O lobisomem assentiu. "Como sempre. Obrigado."

Severus balançou a cabeça e apoiou as mãos no colo. Remus levantou uma sobrancelha e suspirou, um sorriso interessado em seus lábios.

O silêncio entre eles parecia incomodar Severus, vendo que Remus não estava exatamente ansioso para começar uma conversa. Na verdade, o lobisomem parecia até satisfeito em apenas estudar as feições do Mestre em Poções com um brilho divertido nos olhos.

"Então… ele está vindo? Ele está descendo?" Severus disse, se sentindo estranho e exposto.

Remus assentiu. "Eu fui lá há pouco, e ele estava no chuveiro. Eu disse para Harry trazê-lo para a sala quando ele saísse. Também disse para vesti-lo em roupas apropriadas."

"O que quer dizer com 'apropriadas'" Severus perguntou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

O sorriso de Remus pareceu vacilar, mas ele conseguiu recuperar com graça. "Quero dizer roupas que você já tenha visto Harry usar, se quer saber. Achei que você ia começar a pensar coisas sobre eles caso visse Draco vestindo roupas de Harry. Comprei vestes novas para Draco ontem. Achei que ele ficaria mais apresentável e seguro do seu senso crítico."

"Se eu fosse começar a pensar coisas," Severus disse num tom forçadamente calma. "E mesmo que esse pensamento sobre Draco e Potter passasse por minha cabeça, eu iria perguntar para Potter quando ele se cansaria de ter o ex-inimigo apoiado nele o tempo todo. Assim eu poderia prever quanto tempo levaria para que Potter e seus amiguinhos abandonassem Draco e voltassem para suas vidas normais e superiores."

A voz de Snape, de repente, era um sussurro. "Eu te asseguro, Lupin...", ele finalizou, os olhos escuros estreitados de tal forma que eram quase impossíveis de enxergar, "... que se eu fosse sequer pensar em Draco com aquele Grifinório insolente juntos, não seria sobre sexo."

Quando Snape terminou de falar, o sorriso de Remus já tinha sumido de vez e seus olhos estavam arregalados. Ele abriu a boca em choque, e fechou de novo. Então baixou a cabeça e sacudiu levemente.

"Você realmente não faz idéia de quem Harry é." Remus disse tristemente e se levantou. "Harry nunca iria abandonar alguém com quem ele se importa. Ele correu até Sirius naquela noite porque pensou que ele estava em perigo."

"E conseguiu fazer com que o padrinho morresse, Lupin."

Remus ficou tenso ao ouvir aquelas palavras ditas de forma tão casual. Seus olhos começaram a arder e ele se forçou a focá-los em um ponto qualquer. Lágrimas frias desceram por seu rosto e ele não conseguiu encontrar coragem para encarar os olhos de Snape.

"Você sabe como é perder alguém que você ama?" Remus sussurrou. "Consegue sequer imaginar a dor que ele sentiu e que ainda sente? Tudo o que ele quer é alguém ali para ele. Não é isso que todo mundo quer?" Ele cruzou os braços e olhou para Snape, sem se importar que ele visse suas lágrimas. "Tudo o que ele quer é gostar de alguém, e ele gosta; ele gosta de Draco. Ele não vai abandonar o rapaz, não agora. Ele precisa de gente que o ame, Severus. Ele viveu sem ninguém por muito tempo, muito mais tempo do que devia."

Severus levantou devagar e se aproximou de Remus, uma expressão ilegível em seu rosto. "Por que você está chorando?" Ele sussurrou. "Você sente tanta pena assim de Potter ou é outra coisa? Velhas lembranças, talvez?"

Remus virou os olhos. "Seu filho da mãe insensível." Ele sibilou antes de sentir dedos frios limparem uma lágrima na sua bochecha.

Severus suspirou e colocou as mãos nos bolsos.

"Talvez eu seja." Ele disse. "Mas acho difícil de acreditar que Harry é o único sem amor nessa casa."

"Severus? É você?" Veio uma voz excitada do corredor, um rosto sorridente aparecendo da porta do quarto.

Severus sorriu e suspirou profundamente aliviado ao ver Draco em boa forma e feliz. Draco caminhou com certa pressa pelo corredor, sem tropeçar.

"Severus, fale de novo para que eu possa saber onde você está." Draco disse.

Snape disse, "E seria impossível que eu fosse até você? Seria mais prático."

Draco se aproximou de Snape e disse. "Não. Estou ficando bom nisso. Continue falando, estou quase lá."

Severus girou os olhos e disse, "Muito bem, mas você está sendo completamente…" mas parou de falar ao sentir os braços de Draco apertando-o num abraço.

"Senti saudades, Severus." Ele disse, com a voz abafada e quase riu quando sentiu o homem mais velho dar tapinhas leves em suas costas.

"Sim, bem. Fico satisfeito que você esteja melhor." Severus disse seriamente. "Agora você pode, por favor, me soltar? Apesar das crenças populares, eu preciso, sim, respirar."

Draco riu e o soltou. "Vamos para o jardim. Harry disse que é lindo lá fora. HARRY! VAMOS! Sev, pode me levar lá? Harry é A PESSOA MAIS LENTA DO MUNDO!"

Draco segurou o braço de Severus e sorriu.

O Mestre em Poções se virou para Remus e disse. "Não quer se juntar a nós?"

Remus sorriu e passou por Severus, surpreso ao sentir uma mão tocar levemente suas costas. Ele parou e fechou os olhos, uma dormência esquisita correndo nas veias.

"N-não, eu preciso limpar."

Severus deu de ombros e disse, "Muito bem. Vamos Draco."

Remus viu com olhos arregalados Severus e Draco desaparecerem no jardim. O fantasma da dormência ainda estava presente em sua espinha, e ele colocou as mãos na cabeça, murmurando, "Merda, merda, merda, merda..."

Harry saiu do banheiro, vestindo uma camisa branca. "Bom dia, Remus. Por que você está dizendo 'merda'?"

Remus apertou a base no nariz e disse, "Nada. Draco e Severus estão no jardim. Provavelmente conversado."

Harry espreguiçou-se e disse, "Vou deixá-los a sós por um tempo. O que você vai fazer hoje?"

Remus suspirou. "Me lastimar. Me corroer de pena de mim mesmo. Por quê?"

"Ter um ataque de raiva e quebrar algumas coisas."

Remus riu e disse "Falou igual a Sirius."

Harry sorriu e sentou no sofá. "Vou aceitar isso como um elogio."

Remus olhou para fora e viu Severus guiando Draco pelo jardim, conversando alguma coisa com o loiro.

"Vou tomar um banho." Remus disse e estremeceu.

Harry assentiu e pegou um livro na mesinha de café.

Remus lançou um ultimo olhar para fora e grunhiu algo como "merda".

oOo

"Você gosta dele, né?" Draco disse suavemente e sorriu ao sentir o sol no rosto.

Severus limpou a garganta. "Gosto? De quem, exatamente?"

Draco colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. "Lupin. Você usou um tom de voz que nunca ouvi usar antes. Você gosta dele."

Severus tossiu e pareceu ofendido, mesmo que Draco não pudesse ver. "Não sei do que você está falando."

"Claro que não sabe."

Severus girou os olhos. "Então você não se importa de ter que ficar aqui?"

Draco sorriu e deixou que Severus o ajudasse a encontrar o banco para se sentar. Respirou fundo, sentindo o cheiro de lírios e jasmins por perto.

"Qualquer coisa é melhor que a Mansão. Não faço idéia de como seja esse lugar aqui, mas me sinto seguro. Não deveria, já que não posso ver, mas ainda assim, me sinto seguro."

Severus sorriu e sentou ao lado do garoto. "Isso deve ser novidade para você. Se sentir seguro. Suas cartas para mim durante os verões pareciam muito rápidas e assustadas., como se tivesse medo de ser flagrado por Lucius. Aparentemente isso mudou."

Draco ergueu uma mão e tocou uma das flores que estava mais próxima dele. "Acho que sim."

Severus cruzou as pernas. "Desde que Lucius informou a Voldemort sobre a sua condição eu venho trabalhando numa poção que possa ajudar. Não está pronta, nem tenho certeza absoluta que vá funcionar, mas é um começo. Também reuni ingredientes para outras poções que vão regenerar o local afetado. Elas devem ajudar com a cicatrização e a possível cura total de seus olhos. Não saberemos até tentar."

Draco sorriu e pegou um lírio num movimento rápido. "Você não faz idéia do que isso significa para mim. Eu... Severus, não sei o que dizer. Obrigado."

Severus sorriu e apertou o ombro de Draco gentilmente. "É o mínimo que posso fazer."

Draco enrolou o cabo da flor nos dedos.

"Que data é hoje? Parece que tem séculos que estou aqui."

"Vinte e cinco. Por quê?"

Draco deu um tapa na própria testa e falou, "O aniversário de Harry é em cinco dias. Eu não acredito que ele não me disse nada. Preciso que você compre alguma coisa pra mim, mas não sei o que. Preciso pensar em alguma coisa. Te mandarei uma coruja quando pensar em algo. Se eu conseguir escrever de forma legível."

Severus riu e disse, "Certo. Agora, colocou um protetor solar? Não devia ficar tanto tempo nesse sol, vai se queimar."

Draco girou os olhos e ajeitou os óculos escuros. "Não saio daquela casa há tempos. A última vez que saí estava fazendo frio. Harry não quis admitir, mas estava. Não estou preocupado em me queimar."

"Vou ignorar o fato de que você e Potter saíram da casa, e possivelmente do país, já que está fazendo calor há algumas semanas."

As bochechas de Draco ficaram levemente rosadas por ter deixado escapar. "É, melhor mesmo."

Severus girou os olhos e olhou para a casa, onde viu Harry andando de um lado para o outro na frente da porta.

"Potter está andando de um lado para o outro."

Draco encostou o lírio de leve nos lábios e disse, "Ele faz isso quando está nervoso. O som dele andando me deixa louco. Ele está lá dentro?"

"Sim." Severus disse e estreitou os olhos para a visão do grifinório caminhando nervosamente. "Ele gosta de você, não é?"

Draco inclinou a cabeça e disse, simplesmente. "Acho que sim."

Severus esfregou os olhos. "E você gosta dele também?"

"Não sou gay."

"Não foi isso que perguntei." Severus falou e Draco paralisou, largando a flor.

O loiro mordeu o lábio e suspirou. "Eu... Eu não posso... não sou..."

Severus sorriu, triunfante, e disse, "Ok."

Draco começou a morder o canto da unha e disse, "Então Harry está nervoso. Não que eu me importe."

Snape se esforçou para não rir e disse, "Sim. Quer que eu o chame?"

"Sim… Digo, não… Não me importo."

Severus balançou a cabeça, incrédulo, e disse, "Vou chamá-lo."

Draco suspirou e pegou o lírio de onde havia caído. "Ok."


N/T: Eu demorei demais. Mais do que devia. Me desculpem.