Cap. 2 – Em direção à Buqueburgo

Ao amanhecer, Bilbo fez sua mala e partiu sem que ninguém percebesse, passando pelo portão de Bolsão em silêncio. Ele ficou apavorado e, ao mesmo tempo, maravilhado com aquela floresta acinzentada, velha e imensa. Logo lhe ocorreu uma lembrança de uma vez, quando as árvores tentaram invadir o Condado, mas os hobbits cortaram seus troncos e galhos e os levaram para o centro da floresta, onde se iniciou a grande queimada. Bilbo lembrou-se também de que havia uma pequena trilha para lá, mas quanto mais procurava, mais se sentia perdido, como Gandalf lhe disse que aconteceria, até que, quando ele já estava cansado de andar naquele fim de tarde e quase desistindo, ele pôde ver um grande campo desmatado, com pouca vegetação, com um terreno sem fertilidade.

Estava escuro e Bilbo já estava com muito sono, suas pernas doíam, então resolveu se deitar e descansar por ali mesmo. No meio da noite ele acordou espantado com galopes amedrontadores, subiu numa árvore para ver de onde vinham e, de repente, uma cantiga se iniciou, de modo que Bilbo só entendeu assim:

Branca-de-Neve! Clara Senhora!

Reinas além dos Mares Poentes!

És nossa Luz aqui nesta hora

No mundo da árvores onipresentes!

Ó Gilthoniel! Ó Elbereth!

De hálito puro e claro olhar!

Branca-de-Neve, a ti nossa voz

Em longes terras, além do mar.

Estrelas que, no Ano sem Sol,

Pela sua mão fostes semeadas,

Em campos de vento, em claro arrebol,

Agora sois flores prateadas.

Ó Elbereth! ÓGilthoniel!

Inda lembramos, nós que moramos

Nesta lonjura, em matas silentes,

A luz dos astros nos Mares Poentes.

De repente a música parou e Bilbo pensou:

-Mas que bela canção! Eu acho que devem ser os famosos elfos que Gandalf me disse! Ele também me contou uma história sobre Elbereth uma vez... eles devem ser os elfos de uma classe bem alta. Quem diria que logo no terceiro dia de viagem já poderei ver os grandes elfos? Hahaha!

Um dos elfos então chamou os seus companheiros e começaram a conversar na língua élfica, da qual Bilbo não entendia nada. O mesmo elfo disse então:

-Salve Bilbo Bolseiro! O amigo do mago Gandalf, o cinzento!

-Você já ouviu falar de mim?

-Entenda uma coisa, nós, os elfos, sabemos de tudo o que acontece dentro desse Condado. Você deve estar muito cansado, não é mesmo?

-Sim, é claro. E com fome também! Hehe.

-Faremos o seguinte: primeiro nós conversaremos e comeremos, depois nós vamos descansar para partir novamente amanhã.

-Então eu poderei ir com vocês?

-Não, não meu caro amigo. Você não pode vir com a gente porque nós estamos indo em direção à outro lugar, sem nem passar por perto do rio Brandevin nem Buqueburgo.

-Muito bem! – ele disse com um desânimo – Então me diga, qual é o seu nome?

-Ah! Claro! Desculpe-me.. eu esqueci de me apresentar. Meu nome é Gildor.

-Então era você de quem Gandalf falava tanto! O grande Gildor!

- Sim, sou eu, mas... me diga uma coisinha... porque você está querendo tanto sair do condado?

- Por acaso você já ouviu falar no Anel poderoso do senhor das sombras?

-Mas é claro que já! Eu serei uma pessoa legal e te contarei os versos sobre os Anéis deste mundo:

Três Anéis para os Reis-Elfos sob este céu,

Sete para os Senhores-anões em seus rochosos corredores,

Nove para Homens Mortais fadados ao eterno sono,

Um para o Senhor do Escuro em seu escuro trono

Na terra de Mordor onde as Sombras se deitam.

Um Anel para a todos governar, Um Anel para encontrá-los,

Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los

Na terra de Mordor onde as Sombras se deitam.

-Agora já está na hora de dormir, já falei coisas até de mais do que devia, então, boa noite.

-Boa noite Gildor, senhor do belo povo élfico.

Ao ouvir aquilo, Gildor perdeu a dúvida de que Bilbo era realmente um hobbit de coração puro e sem maldades.