NO HOSPITAL
Carter entra para o plantão. Já faz alguns dias que eu não falo com a Abby. Pensa. Vê Joe sentado na recepção. O garoto está quieto rabiscando um papel.
Carter – Oi Joe.
Joe (sem prestar muita atenção) – Oi
Carter (sorrindo) – Fugiu da creche de novo?
Joe – Não... Minha mãe me deixou ficar aqui. Eu agora estou bonzinho. Não desobedeço mais...
Carter estranha a carinha triste do garoto. Senta-se e coloca Joe no colo. – Aconteceu alguma coisa? Fala pra mim...
Joe (com os olhos cheios de lágrimas) – Minha mãe falou que meu pai precisa resolver umas coisas e não pode voltar pra casa... Eu vi ela chorando. Então falei que vou ficar bonzinho. Assim ela não chora mais.
Carter acaricia a cabeça de Joe, pensativo.Abby está na enfermaria, sozinha. Carter entra.
Abby – Faz tempo que não te vejo. Tudo bem?
Carter – Tudo...
Abby – Tem certeza?
Carter – Sim. Você é que não está muito bem... (Abby olha pra ele, Carter continua) encontrei o Joe... Ele me contou.
Abby – Esse menino sempre fala demais.
Carter – Eu ia acabar percebendo mais cedo ou mais tarde. É tudo culpa minha... Você está me ajudando e eu estou atrapalhando a sua vida.
Abby – Não... Não é culpa sua... Não sei o que deu no Luka ultimamente... Ele nunca foi assim.
Carter ouve em silencio. Sujeito idiota. Pensa. Será que ele não percebe que a Abby só tem olhos pra ele? Ela é uma mulher maravilhosa e eu a magoei. Mas não vou deixar que ele faça o mesmo.
Olha pra Abby e fala – Ele saiu de casa?
Abby (baixando os olhos) – Eu... Pedi pra que ele saísse. Antes que acabássemos magoando um ao outro ainda mais.
Carter – É definitivo?
Abby senta-se e coloca a cabeça entre as mãos – Não sei... Não sei de mais nada! Você conhece seu amigo. Sabe o gênio que ele tem.
Apesar da situação Carter não pode deixar de sorrir e comentar – Só ele?
Abby – É... Admito que também não sou fácil. Mas este ciúme me tira do sério! É totalmente infundado! Olha para Carter que desvia o olhar – Não é? (Pergunta intrigada.)
Carter desvia o olhar. Abby fica desconcertada. Será que Luka estava certo?
Carter – Não posso negar que encontrar você mexeu comigo. Eu fui um idiota, magoei você.
Abby (interrompendo) – Tenho que ir... (levanta-se)
Carter – Por favor, me escute. Você é uma mulher incrível. E eu a perdi... O que me consola, é que nunca teria dado certo mesmo. Agora eu vejo que você sempre amou o Luka. Mesmo sem saber... Ou sem admitir.
Abby – Você está passando por uma situação difícil. Está confuso...
Carter – Pode ser e... Eu vou entender se você não quiser mais me ajudar.
Abby – Você sabe que eu nunca faria isso. Eu e o Luka... É só uma crise, vamos superar.
Três meses se passaram desde a noite em que Luka saiu de casa. Todos já sabem da gravidez e desconfiam que algo não vai bem. Abby remanejou seus horários para encontrar o menos possível com Luka. A despeito da gravidez ela está mais magra e bastante pálida.
Luka procura estar sempre com Joe. Vai buscá-lo na escola leva-o para passear. O garoto sempre questiona porque o pai não dorme em casa. Abby não sabe o que responder.
Abby está saindo e encontra com Luka na entrada do PS
Abby – Oi...
Luka – Já está saindo? Vim mais cedo para tentarmos conversar. Não nos encontramos mais...
Abby – É melhor assim.
Luka (colocando-se na frente de Abby) – Me escute...
Abby – Tenho consulta. Não posso me atrasar.
Luka (preocupado) – Tudo bem com o bebê? (olha pra barriga de Abby que já começa a aparecer)
Abby – Consulta de rotina.
Luka – Será que eu posso ir com você? Por favor
Abby – Tudo bem. Afinal é seu filho. (sussurrando) Você sabe disso não é.
Luka – Claro. Desculpe-me... Eu sou um idiota.
Abby – Não vamos falar sobre isso.
Ambos dirigem-se para o carro de Luka em silêncio.
CONSULTÓRIO DA OBSTETRA
Coburn – Vamos ver como está este bebê. Mas já vou adiantando que não gosto do que estou vendo. Você está abatida. Muito magra. Está se alimentando direito?
Abby – Bem...
Coburn – Não precisa nem responder. Para Luka – E você faça o favor de cuidar direito da sua esposa. Aliás, estava sentindo sua falta nas consultas.
Luka e Abby entreolham-se desconcertados. Coburn continua falando sem notar que há algo errado – Vou receitar umas vitaminas e o senhor Dr. Kovac. Assegure-se que esta paciente rebelde irá tomar direitinho.
Luka continua sem saber o que falar. Coburn prepara o ultra-som.
Luka – Será que eu posso? (olha pra Abby)
Coburn (adianta-se) – Claro papai.
Luka desliza o instrumento suavemente pelo ventre de Abby e acompanha emocionado o monitor.
Coburn – Pelo que estou vendo está tudo bem apesar do baixo peso da mãe. Vocês querem saber o sexo?
Luka – Ela não...
Abby (interrompendo) – Desta vez eu quero...
Coburn – Então vejam bem.
Abby – É uma...
Luka – Menina...
Coburn – É... Uma menininha.
Luka olha pra Abby emocionado. Segura a sua mão. Seus olhos estão marejados.
Coburn prossegue sem perceber o clima pesado no ambiente. – Bem, agora que já sabemos que está tudo bem com o bebê. Vamos falar da mãe. Você não ganhou quase nada de peso. Isso não é bom. Na gravidez do Joe eu me lembro que o Luka tinha que pegar no seu pé pra você não comer demais. O que está acontecendo?
Abby (sem olhar para Luka) – Não tenho tido muita fome...
Coburn – Não é questão de ter ou não fome. Você precisa se alimentar. Se na próxima consulta você continuar com baixo peso eu interno você.
Abby olha pra ela com os olhos marejados.
Coburn – Aconteceu algo que eu deva saber?
Abby – Não... Está tudo bem.
Abby e Luka percorrem o trajeto de volta para o hospital. Luka quebra o silencio. – Ainda vai trabalhar?
Abby – Não. Vou pegar o Joe na escola.
Luka – Podemos ir juntos.
Abby – Melhor não. Depois você vai embora e ele fica perguntando. Não quero dar esperanças falsas para meu filho.
Luka – Se você quiser, eu não vou embora.
Abby olha pra Luka – E você vai me prometer que não vai mais me acusar? Que vai parar com este ciúme sem razão?
Luka olha pra Abby sem falar nada. O sofrimento em seus olhos é evidente.
Abby sai do carro.
Luka – Abby...
Ela paraLuka – Quando você tiver consultas me avise. Quero ir com você.
