Luka passa a acompanhar Abby em todas as consultas. É praticamente o único contato que tem. Salvo nas poucas vezes que os plantões coincidem ou que ele vai ver o filho. Nenhum dos dois comenta a situação com os colegas de hospital, mas é notável que tem algo errado.
Ambos estão na sala de espera do consultório para mais uma consulta. Abby acabou de entrar na 32a. semana de gestação.
Luka – Você está bem?
Abby – Sim. Um pouco cansada
Luka toca no rosto de Abby. Ela tenta se esquivarLuka – Por favor, não fuja. Sinto sua falta...
Quando ele tenta se aproximar, são chamados pela médica.Os exames são realizados. Coburn fala – Vocês viram que o bebê está praticamente encaixado. Acho que esta mocinha é meio apressada, é bem provável que adiante. A partir de agora quero vê-la toda semana. E procure ficar de repouso.
Eles saem do consultórioLuka – Você devia pedir uma licença
Abby – Estou bem. Ainda é muito cedo. Se houvesse algum problema Coburn teria me proibido de trabalhar
Luka – Tudo bem, mas prometa que qualquer coisa...
Abby – Eu prometo
Passaram-se algumas semanas. Luka está atendendo um paciente.
Chunny – Kovac. Telefone
Luka – Anote o recado
Chunny - É da escola do Joe. Eles não conseguiram falar com a Abby...
Luka dirige-se ao telefone preocupado. – Alô! Sim... Sim... Aconteceu alguma coisa? Não... Não... Tudo bem. Estou indo pra aí.
ESCOLA DO JOE
Luka chega à escola. Está preocupado. O que será que aconteceu? Entra na sala da professora.
Luka – Com licença. Ligaram pra mim no hospital
Professora – Sr. Kovac. Tentei ligar pra sua esposa, mas não consegui falar com ela.
Luka – Aconteceu alguma coisa com o Joe? Onde está meu filho.
Professora – Por favor, acalme-se. Ele está bem. Pelo menos fisicamente
Luka (sem entender) – Como?
Professora – Veja bem. Você conhece o seu filho melhor do que eu. Sabe que ele é um garotinho super extrovertido.
Luka sorri – Até demais.
Professora – Mas de umas semanas pra cá ele mudou da água pro vinho. Está arredio, quieto. Chora por qualquer coisa. Hoje, chegou a agredir um coleguinha. Quando fui chamar a sua atenção ele teve uma crise de choro. Foi um custo fazê-lo parar...
Luka escuta calado. A professora continua. – Ele está passando por algum problema?
Luka – Eu e a mãe dele estamos passando por uma crise. Sai de casa há alguns meses.
Professora – Estão se separando?
Luka (assustado, não havia pensado nesta possibilidade) – Não! Não sei... Sinceramente.
Professora – Sr. Kovac. Temos na escola vários filhos de pais separados e posso lhe assegurar que, por mais difícil que seja as crianças acabam superando. Olha pra ele e continua. Mas esta situação incerta não está fazendo bem para o Joe. Ele não sabe o que pensar. Veja estes desenhos.
A professora mostra vários desenhos de Joe. Luka vê desenhos nitidamente infantis representando uma família. Todos estão rabiscados.
Professora – Ele está perdendo as referências. Está cada dia mais triste. Por favor, converse com sua esposa e resolva esta situação de uma forma ou de outra. Pelo bem do Joe.
Luka – Posso levá-lo agora?
Professora – Vou buscá-lo.
Estou fazendo as pessoas que mais amo sofrerem. Pensa Luka – Mas que diabos! Eu quero voltar pra casa. Abby não me ouve... Não posso tirar a sua razão. Eu a magoei. O que posso fazer para que ela me perdoe?
A professora volta trazendo Joe pela mão. Seus olhinhos estão vermelhos na evidência que havia chorado. O garoto vai até o pai timidamente. Luka sente seu coração apertado. O garotinho está assustado.
Joe – Desculpa pai. Você vai brigar comigo?
Luka (abraça Joe e beija sua cabecinha) – Não... Vai ficar tudo bem.
Luka liga para o hospital. Avisa que não volta e pede para avisar a Abby que está com Joe. Desliga antes que Weaver possa falar qualquer coisa.
Luka – Você quer sanduíche? Batata frita?
Joe – Não... A mamãe não gosta que eu fique comendo essas coisas
Luka nota que seu filho está muito triste – Vamos fazer o seguinte. Hoje você come. E eu converso com ela ta bom?
Joe – Vocês vão brigar...
Luka – Não. Eu prometo.
Luka e Joe estão na lanchonete. O garotinho brinca com o canudo de seu milk-shake, cabisbaixo.
Luka – Você não está comendo.
Joe – Não estou com fome.
Luka olha para Joe. Não sabe o que fazer para animá-lo – E a sua irmãzinha? Você está contente?
Joe (sacode os ombros) – A mãe está com o maior barrigão. Bebês são chatos. Ainda mais meninas...
Luka sorri. Um pouco de ciúme é normal. Pensa.
Joe (cabisbaixo) – Estava com saudades... Você ainda está com raiva da mamãe?
Luka – Não... Às vezes adultos brigam. Mas depois passa.
Joe – Está demorando a passar. Eu quero que você volte.
Luka olha para Joe. Não sabe o que responder. Meu garotinho está sofrendo. Pensa
Já é noite quando Luka vai deixar Joe em casa. Abby está deitada no sofá. Luka olha para sua barriga.
Abby (para Luka) – Vocês demoraram... (para Joe) E o beijo da mãe?
Joe lança-se sobre ela e abraça apertado.
Luka – Cuidado com sua irmãzinha.
Abby – Não... Tudo bem. Ele tem cuidado.
Abby (para Joe) – Você comeu?
Joe – Comi (olha para Luka)
Luka – Fomos à lanchonete. Eu falei que hoje podia.
Abby – Tudo bem... Vamos tomar banho e deitar?
Joe – Ah não... Deixa eu ficar com vocês dois.Só um pouquinho...
Luka olha para Abby que acena com a cabeça concordando.
O garotinho senta no colo de Luka e aconchega-se em seus braços. Em 20 minutos está dormindo.
Luka – Achei que você fosse trabalhar até mais tarde.
Abby – Não estava muito bem. A Neela ficou para mim
Luka (olha para a barriga, preocupado) – Tudo bem com ela?
Abby (sorri) – Sim...Só estou um pouco cansada. Ela pula o dia inteiro. Mais que o Joe. E a noite também
Luka – Será que eu posso?
Abby (sorrindo) – Claro...
Luka senta-se mais perto e acaricia a sua barriga. Sente a neném mexer – Nossa! Ela realmente pula muito. Como consegue dormir?
Abby – Às vezes não consigo...
Luka chega mais perto – Sinto a sua falta. Mais do que você pode imaginar.
Abby fecha os olhos. Seu coração está disparado – É melhor você ir agora...
Luka –(olha nos olhos dela) – Por favor. Eu preciso que você me perdoe...
Chega mais perto dela. Abby não consegue evitar que seus lábios se toquem...
Abby (desvencilhando-se) – Estou cansada. Não vamos brigar (seus olhos estão marejados)
Luka (triste) – Tudo bem. Vou por o Joe na cama. Ele está pesado, você não deve ficar carregando ele.
Abby vai para o quarto. Não quer que Luka a veja chorando. Ouve a porta bater. Sente seu coração despedaçado. Ele parece estar triste e arrependido. Pensa. Mas por outro lado... Eu conheço meu marido. Ele ainda continua cismado. Assim que me encontrar conversando com o Carter novamente ele vai ter ciúmes. Se eu não o amasse tanto, eu o odiaria!
Ela está perdida em seus pensamentos quando ouve um barulho no quarto. Acende a luz do abajur. Joe está parado na porta do quarto.
Joe – Onde está meu pai?
Abby apenas olha para eleJoe – Você mandou ele embora! (grita) Eu odeio você! Sai correndo do quarto.
Abby respira fundo. As lágrimas escorrem em seu rosto. Não sabe o que fazer. O sofrimento de Joe dói mais nela que seu próprio.
Vai até o quarto dele. A gravidez já limita bastante seus movimentos. Joe está sentado na cama abraçado em um bichinho de pelúcia. Seu rostinho está ensopado pelas lágrimas.
Abby – Filho...
Joe olha pra ela e atira-se em seus braços. Os soluços fazem seu corpinho tremer – Desculpa mãe... Eu não te odeio... Eu te amo...
Abby abraça Joe apertado. As lagrimas escorrem em seu rosto – Vai ficar tudo bem...
Joe (soluçando) – Meu pai falou que não está com raiva de você... É comigo que ele está bravo? Fala pra ele voltar... Eu prometo que vou ser bonzinho. Não fujo mais da creche. Não desobedeço. Nem chocolate eu como mais se ele não quiser... (chora ainda mais)
Abby abraça Joe apertado e acaricia a cabeça do filho. Meu pequenininho... O que posso fazer para que você não sofra tanto?
É madrugada. Abby está ainda no quarto de Joe, deitada com ele em sua cama. O garoto adormeceu literalmente agarrado a ela. De vez em quando ainda solta um soluço. Seu bebê também está agitado. Ela está sentindo que as coisas não estão bem. Pensa.
