CASA DO LUKA E DA ABBY
É madrugada. Chove forte. Abby está sozinha em casa. Joe foi passar a noite na casa de um coleguinha da escola. Não sei se devia ter deixado Pensa ela. Mas ele anda tão triste que não tive coragem de dizer não.
Ela está sem sono. Neela havia insistido pra passar a noite com ela, mas Abby não quis. Não sou uma boa companhia...
Ela caminha pela sala. Olha para a chuva torrencial que cai lá fora. Nunca se sentiu tão solitária. É a primeira noite que o Joe passa fora. Meu filho está se tornando um rapazinho. Pensa ela. Luka também faz falta... Muita falta.
Abby sente uma pontada aguda no abdômen. Se segura na parede e respira fundo.
Á CAMINHO
Luka dirige o carro de Carter tão rápido quanto a tempestade permite. Pela primeira vez em muito tempo consegue sorrir. Será que ela vai me escutar... Me perdoar...
Sim... Ela vai me perdoar. Eu a amo. Temos uma família juntos. Não podemos jogar fora tudo que construímos.
E se ela não quiser me ouvir... Luka fica preocupado. Não, ela vai me ouvir. Nem que eu precise acampar na porta de casa por uma semana, um mês, um ano se for preciso. Só saio de lá quando ela resolver me perdoar ou disser que não me ama...
A possibilidade assusta Luka. Não... Pensa. Eu sei que ela me ama. Vejo isso nos olhos dela. Como eu fui idiota!
CASA DE ABBY E DO LUKA
Abby sente um liquido escorrer entre suas pernas. Meu Deus! Ainda é muito cedo... Faltam pelo menos três semanas... Procura o telefone e tenta discar para a emergência. As linhas estão mudas. Ela começa a se arrepender de não ter deixado Neela passar a noite. Sente uma contração muito forte. Embora não queira admitir sabe que o bebê vai nascer...
Luka chega em casa debaixo da forte chuva. Percebe que a luz está acesa. Será que a Abby está acordada? Pensa. Não quero que ela se assuste. Esta gravidez já foi muito tumultuada.
Ele resolve bater na porta e chamá-la. Assim se estiver acordada não se assustará. E se estiver dormindo eu entro e espero ela acordar. Não falta muito para amanhecer.
Abby procura o celular. Lembra se que deixou no quarto, na parte superior da casa. É arriscado tentar subir, mas não há outra saída. As contrações estão cada vez mais fortes. Ela está assustada. O fato de ser médica não ajuda em nada numa hora dessas. Pensa. E o pior e que não adianta gritar. Há essa hora e com essa chuva ninguém vai ouvir.
Abby tenta subir as escadas lentamente. Quando chega ao terceiro degrau uma forte contração faz com que ela se sente.
Uma lágrima escapa dos seus olhos. Ela teme pela vida do bebê. Um barulho... Abby percebe a porta se mexendo e alguém chamando seu nome...
Luka abre a porta de mansinho. Abby está sentada na escada. Ele pensa em falar alguma coisa, mas percebe que algo está errado.
Corre para perto dela. Percebe que ela sente dor. Passa a mão pelos seus cabelos molhados de suor – O que aconteceu? Pergunta.
Ela tenta responder, mas uma contração a impede. O bebê? Luka indaga assustado. Abby balança a cabeça confirmandoAbby – Tentei chamar ajuda. Os telefones estão mudos. A chuva...
Luka – Fique calma. Estou aqui com você. Em quanto tempo vêm as contrações.
Abby (ofegante) – Não sei... Cinco minutos acho. (sente outra contração) Não... Menos... Está rápido demais! A bolsa estourou há algum tempo.
Luka – Vou levá-la para o hospital
Abby – Não vai dar tempo... (seu rosto contrai-se de dor)
Luka (meio perdido) – Vou pegar o kit de primeiros socorros. É só um minuto
Abby – Não! Não me deixe
Luka – Não vou deixá-la (beija seus lábios) é só um minuto eu prometo... Eu te amo.
Luka sai apressado e pega o kit de primeiros socorros. Pega também o celular e liga para a emergência. Quando retorna a sala Abby está tendo outra contração.
Luka – Chamei a emergência.
Abby – Não vão conseguir chegar a tempo. Estou com medo. Ainda não era hora...
Luka – Coburn já havia dito que ela poderia adiantar. Onde está o Joe?
Abby – Na casa de um coleguinha da escola... Não consegue concluir a frase. As dores se tornam mais intensas. Ela sufoca um grito.
Luka ajuda Abby a acomodar-se da melhor forma possível no tapete da sala.
Luka – Vou verificar a dilatação. Não faça força ainda
Abby – Falar é fácil. E pensar que eu já falei isso pra tantas mulheres... (sorri)
Luka – Está quase na hora. Nós vamos fazer isso juntos. Vai dar tudo certo. Eu te amo...
Abby tenta falar, mas as contrações estão cada vez mais fortes. Vem a cada minutoLuka – Não tente falar. Concentre se no bebê. Não falta muito. Já estou vendo a cabecinha... Na próxima contração empurre!
Abby sente seu corpo estremecer. Ofegante, crava as unhas na palma das mãos e faz força. O bebê começa a sair
Luka (olhando pra ela) – Isso... Mais uma vez. Você está indo muito bem!
Abby respira fundo. Mais uma contração desta vez mais forte ainda. Ela deixa escapar um grito. Uma lágrima cai dos seus olhos
Luka emudece. Abby percebe que há algo errado.
Abby (ofegante) – O que foi?
Luka – Fique calma. O cordão está enrolado no pescoço. Não empurre. Eu vou tentar tirar.
Luka começa a desenrolar o cordão com todo o cuidado. Sabe que não tem muito tempo. Qualquer movimento em falso pode sufocar a criança.
Abby – Por favor. Não deixe nada acontecer a ela... Eu te amo.
Segundos eternos se passam. Luka consegue desenrolar o cordão. – Pronto. Diz ele – Empurre!
Uma contração mais forte, Abby empurra com toda sua força. O bebê sai completamente.
Silencio... O único som que Abby ouve é seu coração batendo...
Então o bebê começa a chorar. Um choro forte. Abby e Luka choram juntosLuka (cortando o cordão) – Ela é linda!
Abby (sorri e chora ao mesmo tempo) – É perfeita!
Luka entrega o bebê para Abby. Passa a mão em seus cabelos e beija seus lábios suavemente. A ambulância chega no momento em que a chuva para.
