Autora: Occasus

Título original: Four Seasons

Tradutora: Nicolle Snape

Beta: Ivi (Ivinne)


Capítulo 02 - Le Printemps

Eu acordo cedo e procuro por meu relógio em Braille na mesa de cabeceira. São sete da manhã. Remus mantém um de seus braços ao redor da minha cintura e uma de suas pernas está descansando sobre uma das minhas. Eu sei que ele ainda tem uma hora antes que ele precise acordar e eu quero que ele continue dormindo. Eu me desenredo dele e ando pelo grosso carpete do assoalho. Como sempre, minhas roupas estão no encosto da cadeira.

Calçando meus chinelos, eu ando para fora do quarto arrastando minha mão ao longo da parede. Esta é a minha casa, eu posso ver aqui. Mas velhos hábitos são difíceis de morrer, eles dizem. Eu ando até a cozinha e ligo a cafeteira para Remus. Eu nunca toquei no café, eu sou estritamente um bebedor de chá, mas eu adoro o cheiro.

É terça-feira de manhã.

A única razão para isso importar é que nas terças-feiras, Remus tem reuniões com clientes em seu escritório. Desde que nós dois estamos juntos, ele está trabalhando unicamente em casa para ficar comigo, ele diz. Eu não me incomodo com a companhia, mas eu gosto das terças-feiras quando eu posso ter um tempo sozinho. Já é o suficiente.

Agora, Remus trabalha somente de forma voluntária, sem pagamento. Eu tenho dinheiro mais do que suficiente para deixar que ele se dedique a causas nobres. Eu acho que ele gosta disso dessa maneira. Ele apenas pega casos com os quais ele verdadeiramente se importe.

Bocejando, eu entro no banheiro e tomo banho rapidamente. Minhas roupas estão colocadas para mim no lado oposto ao chuveiro. É um gesto cativante. Remus se importa em fazê-lo todas as noites. Eu visto minha calça e um pulôver fino. É março, já é quase a primavera, mas o clima ainda pede por um agasalho.

Voltando, sem fazer barulho, para a cozinha, eu preparo uma xícara de chá e alguns poucos pedaços de torrada para mim. Remus nunca toma nada além de café pela manhã, então eu não me preocupo em preparar nada mais para ele. Eu busco rapidamente os jornais que estão do lado de fora da porta. Remus tem uma assinatura para ele e uma em Braille para mim.

Eu raramente o leio, eu não me importo muito com as notícias nem me importo com o que está acontecendo no mundo em torno de mim. É duro encontrar motivação para sentir pena pelos outros quando eu estou tão imerso em um poço de meu próprio desespero. Então, eu raramente vejo esperança para outras pessoas.

Eu toco levemente a primeira página do jornal com meus dedos, apenas para ver se alguma coisa atrai o meu interesse. Como nada me atrai, eu o coloco na mesa. Alguns minutos mais tarde, eu ouço o chuveiro ser ligado e eu sei que o meu amado está acordado. Ele nunca demora muito, a não ser nas terças-feiras quando ele leva um pouco mais de tempo que o usual. Ele gosta de vestir elegantemente para o escritório e ele fica orgulhoso de si mesmo.

Quase dez minutos depois, o suave som dos sapatos dele no carpete me trazem de volta de meus pensamentos. Eu sorrio quando o sinto dar um pequeno beijo em minha testa antes de ir pegar seu café.

"Obrigado, mon amour" (meu amor), ele diz tomando um longo gole.

"De nada," eu respondo. Esta é a nossa rotina, ele não espera nada a mais nem nada a menos que isso.

"Alguma coisa boa nas notícias hoje?" Ele pergunta, sabendo muito bem que eu não as li realmente.

"Eu acho que não," é a minha resposta, a mesma de todas as manhãs.

Ele ri e passa a mão pela minha face. "Você gostaria que eu viesse almoçar em casa?".

Eu nego com a cabeça. Normalmente, eu insistiria para que ele ficasse comigo… mas hoje eu quero ficar sozinho. Eu sonhei com Severus na noite passada e não é algo que eu deseje compartilhar com ele neste momento. Eu tenho certeza que irei, mas não agora. Eu ainda não contei a ele porque eu fiquei me sentindo tão para baixo no casamento, mas ele não voltou a me perguntou.

"Eu quero ficar sozinho hoje," Eu respondo finalmente.

Eu sei que ele está olhando para mim, procurando em meu rosto por respostas que eu não darei a ele. Finalmente, ele solta um pequeno suspiro e diz:

"Tout ce que tu veux, mon amour." (O que você quiser, meu amor)

Eu suspiro baixinho. Eu o machuquei... Outra vez. Tudo o que eu faço o machuca de alguma maneira, eu acho. Ele sempre me diz que não, mas eu sei que sim.

Levantando da minha cadeira, eu encontro um caminho ao redor da mesinha e me ajoelho na frente dele.

"Je t'aime" (te amo),digo docemente.

Ele dá um suspiro, mas não diz nada. Levo meu dedo até a boca dele, eu procuro por um sorriso, mas não encontro nenhum. Neste momento, isso não é o suficiente para mim. Eu preciso dele e eu preciso que ele saiba disso.

"Souris pour moi, mon amour" (Sorria para mim, meu amor), eu sussurro baixinho. "Eu preciso vê-lo sorrindo," Eu imploro.

A respiração dele falha em seu peito enquanto ele toma meu rosto em suas mãos.

"Oh Harry, eu amo tanto você. Eu odeio que você se machuque tanto quanto você faz."

Lágrimas surgem por trás de minhas pálpebras e eu desejo que elas não caiam. Eu me encosto e esfrego meu nariz no pescoço dele.

"Não dói tanto quando você está comigo, Remy. Eu preciso tanto de você, eu realmente preciso."

Ele afasta meu cabelo da minha testa, colocando-o gentilmente para trás e me nina de um lado para o outro como se eu fosse uma criancinha. Às vezes, é assim que me sinto quando estou com ele, mas eu não odeio isso.

"Harry, eu não vou a lugar algum. Eu sei que você não quer acreditar nisso, mas eu pretendo provar para você."

Eu levanto a minha mão e procuro novamente pelo sorriso. Dessa vez, eu o encontro. Eu sorrio de volta e o abraço apertado, sentindo a fragrância da colônia dele.

"Venha para casa almoçar," Eu digo contra o pescoço dele. "Por favor."

"Tudo bem, mon amour," ele diz docemente.

Nós ficamos sentados lá por mais alguns poucos momentos antes que eu mesmo saia daqueles braços quentes.

"Você irá se atrasar," Eu digo suavemente.

Ele dá um riso abafado e termina rapidamente o seu café. Eu me levanto para acompanhá-lo até a porta. Ele pressiona os lábios dele nos meus gentilmente e eu respondo aprofundando o beijo. Eu o amo tanto, eu realmente amo.

"Te vejo logo," ele sussurra.

"Eu estarei aqui," Eu digo um pouco sem fôlego.

Eu escuto os passos dele ecoarem escada abaixo e finalmente eu fecho a porta. Voltando para a sala de estar, eu me largo em uma das poltronas e deixo as lágrimas me consumirem. Elas são amargas e meu corpo está tomado pelos soluços. Eu estou cansado de sofrer e estou cansado de fazê-lo sofrer. Eu nunca deixarei de sentir falta de Severus… Nunca, mas eu quero seguir em frente. Apenas não sei como.

Eu seco as lágrimas do meu rosto com a manga do meu casaco e respiro profundamente para me acalmar. Eu tenho que parar de me atolar na minha própria pena. É hora de seguir em frente, de amar completamente de novo e de realmente deixar Severus ir embora. Eu encontrarei uma maneira e pedirei para Remus me ajudar a fazer isso. Eu já havia deixado as cinzas de Severus irem, mas eu realmente nunca deixei o espírito dele partir. Ele sempre estará no meu coração, mas eu preciso deixá-lo finalmente descansar.

Eu pego o livro que Remus comprou para mim de Natal e me recosto na poltrona para ler. Eu estou quase terminando uma página quando o telefone começa a tocar. Eu pego o fone e limpo minha garganta. Eu odeio atender ao telefone e odeio falar no telefone.

"Alô," Eu digo muito baixo, não me importando se eles podem realmente me ouvir ou não.

"Harry," ouço uma voz familiar. "Sou eu. Draco."

Eu sorrio um pouco. Eu não me importo tanto em falar com o Draco, apesar não termos nos falado desde o casamento.

"Olá, Draco," Eu digo.

"Harry…você está ocupado neste momento?"

"Não," Eu respondo com um pequeno franzir de sobrancelhas. Draco soa um pouco estranho, tenso eu suponho. "Eu estou lendo meu livro."

"Remus está em casa hoje?"

"Não," Eu respondo colocando meu livro de lado. "Nas terças-feiras, ele trabalha no escritório."

"Bom, eu estava torcendo para pegá-lo sozinho."

Definitivamente, há alguma coisa estranha na voz dele. Ele parece à beira das lágrimas.

"Draco, o que está errado?"

"Nada muito importante," ele diz rapidamente, tentando me acalmar. "Eu apenas… preciso de alguém para conversar e… você foi a primeira pessoa que me veio à cabeça."

Eu franzo a testa diante disso. Posso não poder contar nos dedos às vezes em que eu e Draco nos falamos, mas nós certamente não somos grandes amigos. Não que eu não amaria ser amigo dele, mas nenhum de nós havia procurado o outro.

"Eu estou aqui o dia todo," Eu respondo. "Você gostaria de vir aqui para uma xícara de chá?"

"Eu estou próximo a entrada do prédio," ele diz rapidamente. "Você se importa se eu ir agora?"

"Não," Eu digo suavemente. "Tchau."

"Tchau."

Eu desligo o telefone e vou ao fogão reaquecer a chaleira. Enquanto eu estou servindo o chá nos copos, a campainha toca indicando a chegada de Draco. Eu ando rapidamente e deixo a porta semi-aberta.

Eu ouço os passos dele no corredor e o leve rangido da porta quando ele a abre. "

"Olá, Harry," veio a voz dele atrás de mim.

Eu me viro e ofereço a minha mão para ele em cumprimento. Ele a pega e a aperta levemente.

"Eu já tenho o chá quase pronto," Eu digo a ele. "Por que você não se senta na sala? Eu me juntarei a você em um instante."

"Perfeito," ele diz e eu o ouço se afastar.

Eu termino de aprontar o chá e carrego as xícaras cautelosamente para o sofá onde eu sei que Draco está sentado. Eu ofereço a xícara para ele que a pega de mim. Movendo-me ao redor da mobília, eu me sento ao lado dele e bebericamos as nossas bebidas quentes em silêncio.

"Alguma coisa está errada," Eu digo finalmente. "Eu posso perceber isso na sua voz e eu tenho certeza que você parece destroçado."

Ele dá uma risada abafada. "Eu pareço," ele confessa. "Eu acho que não consegui dormir em uma semana."

"O que aconteceu?" Eu pergunto suavemente, não querendo bisbilhotar. "É a Gina?"

"Sim e não," ele diz. Eu escuto ele bebericar o chá por um instante. "Ela… ela vai ter um bebê," ele finalmente confessa.

Meu rosto se ilumina com um pequeno sorriso. "Isso é maravilhoso, Draco."

Ele assente levemente. "É…eu acho. Mas um bebê? Eu não sei nada sobre ser um pai!"

Eu rio um pouco. "Ninguém sabe na sua primeira vez," Eu digo com o balançar da minha cabeça, "Sabe? E eu não espero que fique mais fácil mesmo depois do quinto bebê."

"Quinto bebê," ele diz, sua voz diminuindo um pouco no final.

Eu rio. "Não que você vá bater o recorde do livro dos Weasleys," eu acrescento rapidamente. "Eu estou apenas tentando dizer que ninguém realmente sabe ser um pai. É unicamente uma aprendizagem enquanto você vai vivenciando isso."

Eu imagino que ele está me encarando e eu dou a ele um sorriso.

"Eu imagino," ele diz bem devagar após um momento. "Mas… e se eu estragar tudo, Harry? Eu poderia arruinar a vida dessa criança!"

Eu dou um pequeno suspiro. "Draco," Eu digo suavemente porque eu estou para confessar algo que eu normalmente não conto as pessoas apesar da maioria delas já saber. "Eu fiquei órfão quando era um bebê. Meus pais foram assassinados. Você sabia disso, certo?"

"Sim," ele diz muito devagar.

"Bem, minha tia e meu tio ficaram comigo... por um tempo. Eu fui espancado e abusado... basicamente escravizado. E, então, eles me cegaram e fui mandado para viver em um hospital onde tudo que tinha era eu." Eu paro por um momento e mordo o meu lábio inferior. "Então, Severus veio e me encontrou. Ele me ensinou o que era me sentir amado, porque eu nunca havia sentido isso antes. Mas, ele se foi e deixou a marca dele para trás, e agora eu tenho Remus." Eu deixo essas palavras saírem... Na maior parte para mim. "Depois de todo esse trauma... Eu ainda estou bem. Eu ainda estou aqui, vivendo e amando. Se eu posso fazer tudo isso, você pode, com certeza, criar seus filhos. Ame-os, porque amor é a coisa mais importante que você pode dar a eles. É tudo que você realmente pode dar."

Draco fica muito quieto por um momento. Finalmente, ele coloca uma mão no meu ombro e o aperta. "Como você pode me dar um conselho como esse? Ninguém tinha sido capaz de me oferecer algum conforto até você, Harry." Ele pára e respira fundo. "Obrigado."

Eu sorrio abertamente para ele. "De nada. Então, quando ela vai ter o bebê?"

"Ela engravidou em janeiro, então ela dará a luz no final de outubro ou início de novembro."

Eu sorrio para ele de novo. "É um milagre dos dois."

Draco bebe um pouco mais de seu chá. "Sim, é. Eu estou apenas um pouco nervoso."

"Como eu disse, apenas não faça o que minha tia e meu tio fizeram comigo e vocês ficarão bem," Eu digo como uma tentativa de piada. Não foi engraçada, eu sei.

"Harry…Eu jamais iria…" ele diz chocado.

Eu coloco minha mão no braço dele. "Eu estava brincando," Eu digo docemente.

"Oh, certo," ele diz com uma risada. Nós ficamos em silêncio por mais alguns poucos minutos. "Então... você realmente ama Remus?"

Eu assinto. "Eu amo. Tive momentos difíceis no começo. Sentia como se estivesse traindo Severus, mas eu sei que ele gostaria que eu fosse feliz. Nunca deixarei de amá-lo, mas…"

"Você não merece ficar sozinho, Harry," Draco diz firmemente. Ele suspira. "Faz séculos desde que eu estive aqui neste apartamento. Desde…"

"O velório," eu termino por ele. "Sim, eu sei. Eu sinto tanto por isso, Draco."

"Harry, eu entendo como você estava se sentindo e eu gostaria que você parasse de se culpar. Mesmo que as coisas tivessem sido melhores, eu não acho que poderia ter voltado aqui tão cedo. Este lugar ainda é tão…"

"Severus?" Eu ajudo.

"Sim," Draco responde, "Exatamente. Ainda tem o estúdio dele?"

Eu assinto com a cabeça. "Eu disse a Remus para usá-lo como um escritório, mas ele se recusou a tocar no estúdio. Ele usa um dos quarto de hóspedes quando ele trabalha em casa."

"Eu poderia vê-lo?" Draco pergunta quase timidamente.

Eu sorrio. "Claro." Eu me levanto e mostro a ele o caminho. "Como você sabe, demos a você todos os suprimentos de arte dele. Mas pegamos as pinturas dele, as terminadas e as incompletas, e as penduramos nas paredes. Não há nenhuma mobília porque as únicas coisas que ele mantinha ali era o cavalete e as pinturas. O cavalete foi perdido na praia e o novo que ele havia comprado foi dado a você." Eu coloquei a minha mão na maçaneta e abri a porta.

O cheiro familiar inunda meus sentidos num instante e eu estremeço. É duro sentir o cheiro dele quando eu sei que ele não estará do outro lado da porta para me receber com seus beijos doces. Draco está pressionado contra o meu lado quando nós entramos na sala.

"Está escuro," ele diz suavemente.

"Desculpe," Eu respondo. "Eu normalmente não me lembro desse tipo de coisa."

"Eu posso abrir as cortinas?"

"Claro," Eu digo.

No final, não mudaria nada para mim. Ele sai do meu lado e eu ouço o tecido se movendo pela janela.

Draco arfa um pouco do seu lugar perto da janela e eu imagino que está olhando ao redor com olhos arregalados. Eu sei que quase cada centímetro das paredes está coberto com cada pintura e esboço que Remus e eu poderíamos possivelmente encontrar.

"É maravilhoso," Draco respira depois de um momento.

Eu dou um pequeno sorriso. "Remus trabalhou muito duro para encontrar todos esses. Levou algum tempo, mas ele diz que ficou bom."

Draco anda até o meu lado e coloca a mão dele no meu braço. Normalmente, eu odeio toques como esses, mas com Draco… Eu me encontro não odiando mais isso.

"Você não faz idéia," ele respira. Ele puxa o meu braço e me leva para perto da parede. Ele cuidadosamente pegou minha mão e a colocou sobre uma das pinturas. "Esta é surpreendente. É um retrato do mar à noite. Se parece com a vista de um quebra-mar, eu acho. As rochas são sombreadas e a lua está refletindo suave no preto e o azul das ondas da meia-noite. A areia é de um branco áspero sob a luz da lua e há uma pequena área prateada nelas."

Minha respiração fica presa na garganta. Já faz muito tempo desde que alguém havia descrito as coisas desse jeito para mim. Claro, Draco é um artista.

"Eu posso ver a pintura agora," Eu digo.

Draco me leva ao redor da sala vagarosamente, descrevendo cada pintura enquanto eu corro a minha mão sobre a textura da superfície. Algumas delas, lembro de quando Severus as pintou. Algumas eram esboços que eu nem sabia que existiam. Algumas eram de mim, que ele pintou, mas não me contou sobre elas.

Nós tínhamos levado quase duas horas para atravessar o quarto. Eu estou perto da janela enquanto Draco termina de me dizer sobre a última pintura. Eu preciso sentar. Então, eu cruzo as minhas pernas e sento no chão. As memórias estão me inundando enquanto eu revivo meus dias com meu amado. Eu sinto que as lágrimas começam a cair outra vez e eu não me incomodo em pará-las. Elas são as lágrimas que caem enquanto eu estou finalmente deixando-o partir.

flashback

Eu estou de volta ao quarto do hospital com ele. Ele está na cama e ligado as máquinas. Ele tem ficado entre a consciência e o sono por toda a semana, e os médicos não esperam que ele viva muito mais… Alguns poucos dias no máximo. Ele está constantemente com dor e é sedado o tempo todo. A quimioterapia havia parado há uma semana. Ela não fez nada para impedir o câncer de se alastrar e ele está cansado demais para continuar lutando.

Eu estou sentado ao lado dele segurando a sua mão que está muito magra agora e a pele dele está fina como papel. Nós dois achamos engraçado que, apesar da 'quimio' tê-lo deixado doente e ter comprometido uma parte da memória dele, ela deixou que ele permanecesse com o seu cabelo grosso e sedoso. Isso era raro, eles nos disseram. Eu corro meus dedos pelo cabelo dele gentilmente, não querendo acordá-lo e tomando consciência do fato de que essa poderia ser a última noite que eu poderia fazer isso. Eu tentei ser forte, impedir as lágrimas de caírem, mas eu não consegui.

Eu fechei os meus olhos para bloquear o fluxo, mas elas saíram do mesmo jeito. A próxima coisa de que me recordo era Severus limpando-as do meu rosto. Ele deixou seu polegar traçar os meus lábios e eu imagino que ele está sorrindo para mim.

"Não chora, amor," ele sussurrou.

"Eu sinto muito," Eu digo tentando esconder o medo na minha voz.

Ele sentou-se devagar e me tomou em seus braços. Eu me inclinei contra o peito dele e ele correu as mãos pelo meu cabelo.

"Nós ficaremos juntos de novo, eu prometo," ele disse docemente. Ele ainda não havia chorado, mas agora as lágrimas caíam dos olhos dele. "A parte mais dura para mim é saber que logo eu não mais poderei prendê-lo em meus braços. Eu queria saber se eu poderei olhar você, Harry. Eu queria saber onde eu estarei…" a voz dele se quebrou e nós dois começamos a soluçar, agarrando-nos desesperadamente.

Meu peito parecia prestes a se queimar de tristeza. Não havia nada que eu pudesse fazer. Nada. Ele estava se afastando de mim e não havia uma maneira de trazê-lo de volta. "Severus…" Eu sussurrei suavemente deixando meus dedos traçarem as feições dele. Ele se deitou contra os travesseiros enquanto ele me permitia explorá-lo. "Você está com dor?"

Ele deu uma pequena risada.

"Engraçado...não. Eu não sinto mais nenhuma dor." A voz dele está fraca, não passa de um sussurro e está muito distante.

"Você está partindo agora, meu amor?" Eu perguntei, tentando segurar meus soluços.

Ele assente suavemente.

"Sim…Eu acho que eu estou. Mas, eu não estou mais com medo. Eu irei ver você logo. E eu sei que você logo irá encontrar esperança e amor. Remy sempre estará aqui para você." O esforço para dizer tudo isso foi demais e ele parou de falar. A respiração dele se tornou um pouco superficial.

Eu mordi meus lábios tentando parar de chorar de agonia. Enquanto eu estou segurando a mão dele, eu posso senti-lo ir embora lentamente. Eu quero agarrar-me ao espírito dele e forçá-lo a ficar…mas não há nada que eu possa fazer quanto a isso. "Por favor," Eu imploro para qualquer divindade que esteja escutando e sei que minhas preces não serão atendidas.

Severus trouxe uma mão até meu rosto e me puxou para baixo para um beijo...Nosso último beijo. Foi doce e ele pareceu colocar todo o amor que ele tinha por mim naquele gesto.

"Eu tenho que ir… Eu posso sentir isso. Mas eu amo você. Meu anel sempre será capaz de dizer a você o quanto eu o amo e sempre irei amar." Ele respirou profundamente...mas nunca deixou o ar sair.

Fim do Flashback

Um curto soluço me tira do meu estado de aturdimento e eu percebo que falei tudo em voz alta. Draco está perto de mim e suas mãos apertam as minhas. Eu puxo uma das minhas mãos e limpo as lágrimas dispersas no meu rosto.

"Eu não fazia idéia," Draco sussurrou com a voz alquebrada. "Eu só fui vê-lo algumas poucas vezes no final. Ele morreu no meio do dia e eu estava fora com o meu pai."

Eu assinto. "Remy estava lá. Na sala de espera, aguardando por mim. Eu não me lembro muito bem o que aconteceu depois disso. Eu sei que Remus me trouxe para casa e ficou de olho em mim. O funeral foi um borrão. As coisas começaram a clarear quando eu levei as cinzas dele para o mar. Isso foi o começo para deixá-lo ir embora…mas acho que só quando eu estava no seu casamento, percebi o quão fortemente eu ainda estava me agarrando a ele."

Draco coloca um mão gentilmente no meu rosto. "Você quer deixá-lo ir? Você quer se dar por inteiro para o Remus?"

Eu não respondo imediatamente, mas eu não preciso pensar sobre isso. Eu sei a verdade. Eu quero.

"Sim," Eu respondo finalmente. "Eu preciso do Remus e eu o amo. Eu quero dar a ele tudo de mim."

"Então, faça isso," Draco diz simplesmente.

Ele me ajuda a levantar e nós voltamos para a sala.

"Você gostaria de algo para comer?" Eu ofereço depois de um momento.

"Obrigado, mas não. Eu tenho uma reunião na galeria e eu não quero chegar atrasado." Ele me puxa para um abraço. "Obrigado, Harry. Eu precisava disso…de tudo isso."

Eu sorrio gentilmente enquanto eu o abraço de volta. "Eu também precisava. Não seja um estranho, nos ligue mais freqüentemente. Eu tenho certeza de que Remus iria amar ver você de novo."

Ele promete manter contato enquanto ele atravessa a porta e a fecha atrás dele. Eu me sento de volta no sofá e me pergunto se eu quero chorar de novo. Eu me surpreendo ao descobrir que eu não sinto mais a necessidade de chorar por ele. Eu sinto como se tivesse sido suficiente no estúdio de Severus. Eu acho que essa foi a primeira vez que eu falei em voz alta sobre aquela vez e isso foi exatamente o que eu precisava fazer para deixá-lo partir.

"Adeus, Severus," Eu sussurro suavemente correndo meu dedo sobre o anel. "Obrigado e eu amo você também…"

Continua...


Nota do Grupo:

Mais um capítulo dessa maravilhosa fic... Esperamos que todos tenham gostado e se emocionado.

Próximos as falas em francês, vocês encontraram as traduções em negrito. Se alguém tiver alguma dificuldade para ver, nos avisem.

Nossos agradecimentos à: Baby Potter, Srta Kinomoto, xmaripottermalfoyx, Bela-Chan, Mathew Potter Malfoy, Dark Wolf 03, Gih, Alis Clow e milinha-potter.

E para as pessoas que não sabem o que escrever na reviews a dica: ótima tradução, continuo a ler! XD!

Não deixem de ler nossas outras fics slash: Luz Embaixo D'agua, Trabalho de Poções, Poção Irresistível, Quem é o papai, e também nossas fics não-slash.

Os Tradutores