Cap.1- Descobertas e decisões

Virgínia abriu os olhos de repente. Olhou para o lado e viu que o sol estava logo acima das montanhas. Eram nove horas. Como podia saber com tanta precisão? Não tinha a menor idéia. Olhou em volta e viu que estava na Enfermaria. Na cama ao lado, Draco Malfoy a encarava.

-Você também, não é? - ele percebeu que ela não entendera a pergunta. – Você também sabe coisas que não sabia ontem quando acordou. Teve sonhos estranhos. E não se lembra como veio parar aqui. – ela assentiu, hesitante. – Alguém vai ter que nos explicar isto.

-Você está bem? Quero dizer, eu sou uma Weasley e você devia...

-Te odiar? Não sei... sinto que não tem importância alguma agora. Mas se você se incomoda... – havia um toque de malícia e falsa displicência em sua voz.

-Não, não, de jeito nenhum. – ela apressou- se a responder.

A porta abriu-se e Dumbledore entrou.

-Acho que lhes devo explicações... – ele foi interrompido por Draco.

-É claro que deve! O que aconteceu conosco? Por que não posso lembrar como vim parar aqui?

-Calma, jovem Malfoy, calma. Tudo será explicado. – e contou–lhes tudo. A cara dos dois era cada vez mais surpresa. Por outro lado, os sonhos e tudo o mais passaram a fazer sentido. – Se não me engano vocês sonharam coisas estranhas não? Bem, vocês acabaram de ver um resumo de suas vidas passadas. Eu também vi os meus. Por sinal, vocês estiveram dormindo há... três dias.

-É tudo verdade? – Malfoy perguntou. Dumbledore assentiu.

-Então... então ele e eu já... fomos casados e tudo o mais? E ele... ah, Deusa, não. – e, de repente, reparou que havia dito "Deusa". A palavra havia escapado-lhe dos lábios como se fosse natural. Com cara de assombro, ela se calou.

-Acho que vocês já entenderam. Sendo assim, vamos passar a informações práticas. Vocês continuarão a ter aulas normais, mas à noite vocês irão à minha sala para ter aulas especiais. É meu dever relembrá-los de seus antigos conhecimentos. A senha é Sorvete de Limão. Vocês podem ir agora, se correrem conseguem chegar a tempo para a aula das nove e meia. Nos vemos esta noite, até lá. – Dumbledore saiu, e Draco foi junto com ele. O estalo da porta tirou Gina do transe em que se encontrava, e ela saiu também.

Draco entrou mais confiante do que jamais estivera na sala de Poções. Sua fama aumentou de modo impressionante. Afinal, ele era um Rei! Um sorriso orgulhoso se espalhou pelo seu rosto com este pensamento. Snape passou uma poção complicada. Era um preparado de ervas para curar doenças respiratórias. Estranhamente, ele não precisou ler mais que duas linhas no quadro para preparar a poção. Os ingredientes e medidas vieram-lhe à mente como se ele já tivesse feito aquilo dezenas de vezes. No fim da aula, Snape confirmou o que ele já sabia: a poção estava perfeita. Realmente... conhecer suas outras vidas tinha vantagens bastante práticas.

O mesmo se repetiu em Herbologia. Ele conhecia todas as plantas e os cuidados para com elas. Sua mente estava relaxada, e ele começou a divagar. Lembrava-se dos sonhos. Neles, ele fora um aprendiz de druida (seja lá o que for isso), um soldado romano, um capitão de navio, um Imperador e por fim o Grande Rei, o Pendragon. Em todos esses sonhos, ela estava lá. Ela sempre estava lá. Sianna. Ela também teve vários nomes, mas o primeiro e o eterno era Sianna. Agora ela era Virgínia Weasley. Uma Weasley! Pela Deusa! Como poderia? Bem no fundo ele sabia. Laços do espírito são mais fortes que os do sangue...

Virgínia chegou arfando à aula de Adivinhação. Sentou-se em uma poltrona afastada enquanto Sibila Trelawney fazia seu discurso. Eles iriam começar a fazer Profecias da Água. Era a mesma técnica das bolas de cristal. Ela distribuiu as bacias de prata e os jarros com água. Virgínia despejou a água em sua bacia lentamente. Era como se ela já tivesse feito isso antes... Seguindo as instruções do livro, ingeriu um cogumelo de efeitos alucinógenos. Era tão estranho... ela podia ver-se em outro lugar, fazendo estas mesmas coisas. Era um belo lugar, havia um lago de águas límpidas e floresta em volta. Ela vestia uma túnica azul... igual... aonde tinha visto aquela túnica antes?

Com uma sensação de dejà vu ela curvou-se sobre a bacia para ver melhor. No começo, viu apenas seu reflexo. Então, seus olhos perderam o foco e ela começou a gritar. Ela via dois exércitos que marchavam em um campo verde. Feitiços eram lançados por ambos os lados da batalha. Corpos caíam e eram engolidos pelas tropas que vinham atrás. Quando tudo aquilo se tornou demais para ela, ela fechou os olhos e, reunindo todas as suas forças, jogou-se para trás. Lentamente, ela abriu os olhos. Todos na sala a encaravam com ar de surpresa.

- Me desculpem, eu... eu acho que... – sem prensar, saiu correndo dali. Desceu, correndo e chorando, a Torre de Astronomia, e enfiou-se na primeira sala vazia que viu pela frente. Ali, chorou e chorou e chorou, pois havia visto uma guerra. Chorou pelos mortos, chorou por si mesma e chorou por não saber quem venceria. Mas quando o sinal soou levantou-se, cambaleante, limpou as lágrimas e misturou-se com a multidão que saía das salas em direção à sua próxima aula. Ergueu a cabeça e foi forte porque, novamente, era necessário. Ergueu-se e foi estudar porque, se haveria uma guerra, ela estava dentro.