Cap.2 – Dança de morte

Assim que terminou de jantar, Draco levantou-se da mesa e saiu. Seguiu para a sala de Dumbledore, parando apenas em um banheiro para fazer um feitiço de limpeza nos dentes. Quando chegou, nem a Weasley nem Dumbledore estavam lá. Em seu poleiro, Fawkes o observava. "A fênix... a fênix é um símbolo do amor eterno. Quando está quase morrendo, as partes feminina e masculina se unem novamente em um, e ela renasce. Se... se for realmente verdade, essa história toda sobre Avalon e vidas passadas... então... então eu e Virgínia também somos assim. Quando a humanidade precisa, nós novamente vimos ao mundo e, unindo nossos poderes, salvamos a todos e a nós mesmos.". Uma parte de Draco que era um Malfoy, e não o Pendragon, resistia bravamente àqueles pensamentos. Uma luta interna se travava dentro do garoto, mas ele sabia quem, no fim, venceria.

Fawkes piou alto, para alguém às suas costas. Virando-se, Draco viu que Virgínia havia chegado. Draco tentou dizer alguma coisa, mas estava transtornado. De repente, a menina lhe parecera tão linda, tão ingênua e pura que, pela primeira vez, estava sem fala. Os lábios dela, vermelhos e cheios, o chamavam e atingiam em cheio sua libido. Os cabelos de fogo caíam em ondas sobre as costas e lhe davam aparência de menina. Ele não sabia quanto tempo ficara apenas olhando-a, quando o diretor entrou na sala.

- Ah, que bom que vocês já estão aqui. Sentem-se, sentem-se... – Draco não sabia se estava aliviado ou furioso. Dumbledore o interrompera e o impedira de continuar contemplando a beleza da garota, mas sabia que em alguma hora seria quebrado o encanto.

- Bem, nós vamos começar. Eu vou ensinar-lhes sobre as tradições e rituais de Avalon, a tocar harpa (você sabia, Draco, que já foi um bardo?), sobre ervas mágicas que, de tão poderosas, não são estudadas em Herbologia... enfim. Ah, sim. Haverá aulas práticas. Vocês deverão aprender a atirar com o arco. – o velho diretor continuava falando, aparentemente alheio ao clima que pesava entre os dois alunos.

- Professor, quanto ao arco não haverá problemas. Eu sei atirar com o arco desde pequena...

- Gina, creio que ainda assim você deverá ter aulas. Sua pontaria, se não me engano, ainda não é perfeita, e você precisa de um pouco mais de força. Quanto a você, Draco, seu domínio da harpa é bom, mas não total. Além disso, você conhece poucas músicas. Seu pai parece ter um repertório curto...

Virgínia corou e abaixou a cabeça. Draco permaneceu indiferente, mas com uma leve tensão em um músculo da têmpora, o que não passou despercebido a Virgínia.

Era estranho como ela, de repente, sabia identificar pequenos sinais que deixavam transparecer os sentimentos do garoto. Era mais uma das coisas que aprendera em seus sonhos, mas que não poderia ser lembrada por ninguém... Ela decidiu dedicar um pouco de sua atenção para reaprender a conhecer o garoto, como parte de seu aprendizado como futura sacerdotisa. Ela acreditava que, se aprendesse a descobrir os sentimentos de Draco Malfoy por sua postura, poderia descobrir os de qualquer um. Fez uma nota mental: "músculo na têmpora - raiva". Depois, deixou que sua atenção se voltasse para o diretor.

- As aulas serão a este horário na orla da Floresta Proibida. Creio que lá vocês se sentirão mais à vontade e terão mais contato com a natureza. Comigo lá, creio que não haverá problemas. É uma área ampla e, portanto, boa para a prática do arco, a música não acordará ninguém no castelo e vocês poderão aprender a encontrar as plantas sobre as quais lhes falei. – o velho deu um sorriso bondoso – Vocês não acham uma boa idéia irem para as suas camas? Parece que o tempo andou mais depressa do que o comum.

Com espanto, Virgínia olhou para o relógio. Faltavam dez minutos para o final do horário em que era permitido andar pelos corredores. Se se atrasasse, teria problemas. Desajeitadamente, ela levantou-se e saiu da sala. Chegou ao seu dormitório sem maiores acidentes, a não ser um esbarrão em um casal de setimanistas que se agarrava atrás de ma estátua. Jogou-se na cama e dormiu.

Naquela noite, Virgínia sonhou com guerra. Ela, com os cabelos soltos, um vestido branco e descalça, empunhando uma espada, rodopiava no meio dos exércitos inimigos. Seus cabelos esvoaçavam enquanto ela girava em uma dança de morte. A espada subia e descia, ela pulava, suavemente, e desviava-se dos ataques em uma dança rápida e incansável. A cada movimento seu, os Comensais à sua volta caíam, um a um. Não havia sangue nela: o único sangue era o dos seus cabelos que voavam pelo ar como labaredas de fogo. Os inimigos esvaeciam e depois voltavam a aparecer, mas não importava: só importava a dança, eterna, que ela dançava.

Sua espada subia, descia e rodava. Para cima, para baixo. Aparava golpes inimigos e voltava a atacar. Para cima, para baixo. Agora ela via seu próprio exército avançar, com ela comandando. Ela não podia parar, por isso dançava. Ela era uma, era duas, era cem: era todos e cada um dos seus soldados. Então, ela era somente dois. De repente, ela sentiu uma flecha perpassar seu coração. Uma flecha dourada que atravessou a carne e acertou em cheio seu peito. Ela caiu de joelhos, e por fim tombou. A última imagem que ela viu foi um comensal, coberto por ma capa preta com capuz, que lhe escondia o rosto, baixar um arco dourado. Na manhã seguinte, ela acordaria suada e trêmula em sua cama.