Cap. 13 – As Provas do Pendragon, parte I

Ambos sentiram-se transportar para um plano mais elevado. Não viam a grama, o Altar e nem mesmo o próprio monte coroado por Stonehenge, o Tor, como algo sólido. Eram apenas formas brilhantes, azuis. Sobre o Altar viam agora pequenas harpas. Pegaram-nas e começaram a descer por um caminho que circundava o Tor. Este caminho era uma espiral que acabava no coração do Tor, mas eles continuavam andando e sentiam descer cada vez mais para dentro da terra. De repente, havia uma porta. Nela estava gravada uma melodia de harpa longa, confusa, difícil, lenta. Sem saber o porquê, começaram a tocar. Era um dueto, e a melodia reverberava nas paredes. A porta começou a abrir-se.

Uma nota um pouco mais aguda que o normal quebrou a harmonia, e a porta parou de mexer-se. Mas logo a melodia voltou a correr, e a porta abriu-se até o fim. Eles passaram por ela.

Entraram em um lugar completamente escuro. Não podiam enxergar absolutamente nada no negrume de piche. O cheiro era de terra. Um cheiro forte de terra úmida e fértil. O sentido da audição de nada lhes serviria naquele lugar, pois não havia som algum. Separados, não poderiam enfrentar aquele labirinto de paredes de terra. Perderiam-se, sozinhos, entre os corredores infinitos, morreriam de frio, fome ou loucura, sem jamais conseguir encontrar a saída, fosse ela o caminho que levava a mais perigos, no coração do Tor e ao título de Pendragon ou ao que levava para fora, para a vida e o ar puro.

Aquele labirinto era velho, mais velho do que a humanidade. Fora escavado por criaturas enormes sem nome que viveram antes que o Sol aquecesse a terra: animais enormes, compridos como um trem e seu corpo cilíndrico tinha de circunferência o tamanho de um homem em pé, cuja pele era úmida e fria como as paredes que escavaram, e que se alimentavam de insetos da terra ou de outros como eles, se fosse necessário. Agora esses bichos horrendos não viviam mais, mas seus túneis ainda existiam, e um ar de morte pairava no local. Nunca, jamais um homem conseguiria sair dali sozinho, mas aqueles não eram homens comuns. E quem sabe juntos tivessem uma chance.

A escolha estava clara para ambos: união ou morte. Harry estendeu a mão para Draco, mas este não a apertou. Baixou a cabeça e cerrou os olhos, tentando tomar uma decisão. Vislumbrava o destino terrível que era o seu se não aceitasse: a loucura e a morte debaixo da terra. Mas seu ódio pelo rival, profundamente enraizado em seu coração endurecido, o impedia. Mas em sua cegueira ele viu Virgínia. Não a poderosa sacerdotisa, mas a sua Virgínia, e ela dançava sobre uma colina. Lembrou-se da noite em que se deitara com ela, e de como seus cabelos ruivos voavam ao vento, e de seu riso fácil e perfume doce. E então sentiu seu perfume. Ainda de olhos fechados, farejou o ar e começou a correr. Sentia que não poderia abri-los a não ser que chegasse ao seu destino, e assim fez. Ele correu para o lugar de onde vinha o cheiro por um tempo que pareceram horas, e algumas vezes tropeçou e esfolou os joelhos, mas não abriu os olhos e assim não se rompeu o encanto.

Sentiu que chegava ao fim do caminho, pois o perfume que lhe guiara ficara muito, muito forte, mas então desaparecera. Abriu os olhos, e lá estava a porta. Esta era de carvalho, simples, e encravada nas paredes de um modo estranho. Ele a abriu, e logo ouviu Harry Potter resfolegando atrás dele. Havia se esquecido do companheiro, e levou um susto ao vê-lo, mas ele sorriu, então Draco continuou seu caminho, e o outro veio atrás.

O cômodo em que estavam agora tinha um pequeno parapeito de pedra, aonde estavam, mas era a única parte seca do local. Todo o resto era uma enorme e profunda piscina de águas claras. Aproximaram-se da borda, e então surgiu das águas uma ninfa. As ninfas são espíritos femininos que habitam a natureza. Existiam ninfas nas árvores, rios, fogo, vento, mas esses espíritos morreram aos poucos com a devastação da natureza, e encontrar um desses era raro, se não impossível.

Essa ninfa era das águas, portanto seu corpo era constituído desse material. Ela tinha as formas de uma mulher esguia, de seios pequenos e uma longa cabeleira ondulante. Quando ela falou, eles estremeceram, porque sua voz era terrível.

Vocês desejam a honra do Pendragon, e para isso deverão passar por mim. Mas eu os aconselho: não ousem.

Senhora... como poderemos passar por você? – perguntou Harry, com cautela. A ninfa pareceu surpresa.

Ora, não poderão. Eu vou simplesmente afogá-los. – disse, com simplicidade.

Mas deve haver uma chance. Se não, qual seria o intuito? Passar por um árduo treinamento, passar pelo labirinto, e depois morrer e a terra continuar sem Pendragon? Não creio que seja essa a serventia dessa prova, nem que tão linda senhora das águas queira deixar a terra morrer e os rios secarem. – Disse Harry, e Draco soube que ele os tinha salvado, ou dado-lhes ao menos uma chance, pois os olhos da ninfa brilharam com o elogio. Aquelas criaturas eram vaidosas, e há muito não havia canduras a encantar os ouvidos da ninfa.

Talvez você tenha razão. Pois bem, vou dizer-lhes o que terão de fazer. Vou esvaziar minha água, e reencher aos poucos. Numa das portas está a saída, mas todas as outras os levarão mais perto da morte. Você, garoto da língua de mel, me enganou, mas quando tudo se encher e você sufocar e engolir água, então poderá gritar para mim seus lamentos, mas eu não ouvirei. Seu desafio começou. – ela disse, e sumiu ao mergulhar na água.

Com isso toda a água escoou sem que eles soubessem para onde, e eles puderam ver que no lugar aonde fora o fundo da piscina havia um corredor de pedra que lhes lembrava as masmorras. A cada metro havia uma porta, e cada uma delas era diferente das outras. Altas, baixas, de madeira, metal, ouro, prata, enfeitadas com arabescos ou pinturas ou sem ornamento algum, quadradas, redondas ou apenas um buraco do qual vinha luz. Mas todas, todas gloriosas, cada uma ao seu modo, mas todas elas encantadoras e chamativas, e cada uma delas apelava para ser a escolhida.

Harry andou pelo corredor, observando as portas. Antes que andassem vinte metros a água estava pelos tornozelos, e eles não podiam ver aonde terminavam as portas. Mas então o garoto parou em frente a uma porta que Draco não havia sequer notado. Ela era simples, da altura de um homem, e a madeira já estava velha e podre. Mas havia na porta uma marca que chamara a atenção de Harry, e ele apontou e Draco viu, e então ele entendeu. Na porta mais velha e humilde do lugar estavam gravados em tinta vermelha desbotada quatro símbolos: a lança, a espada, o cálice e o prato. E aqueles eram os símbolos da Magia de Avalon. Por isso escolheram aquela porta e, quando fizeram isso, a ninfa reapareceu.

Meus parabéns. Vocês escolheram a porta mais humilde, mas escolheram com sabedoria. Em frente vocês seguem seu curso, mas agora eu dou-lhes a opção de voltar atrás. Vocês passaram pelas provas da terra e da água, mas à frente estão o ar e o fogo, e a quinta e última câmara. Vocês podem ter sobrevivido até agora, mas a morte os espera à frente, e a dor, mas podem por minha graça voltar atrás, para a vida e a felicidade, e para o sol e a luz do dia.

Senhora, agradeço sua oferta, mas eu irei em frente. E verei a luz do sol, e da lua. Senhora, não me esquecerei de você e sua imagem estará sempre em minha memória. Pode me dizer seu nome, para que eu possa me lembrar dele? – ela sorriu, e enfiou a mão em seu peito, no lugar do coração, e de lá retirou uma pedra. Ela era de um azul claro, totalmente transparente e em formato de gota, e brilhava como uma estrela. Estava presa a uma corrente feita de um material estranho. Era água, mas não água normal. Ele colocou-o no pescoço, e nunca o colar sairia dali sem que Harry o retirasse, porque a mão de qualquer outra pessoa o atravessaria e ele jamais se romperia. - Guarde-o, porque enquanto o tiver você tem minha proteção. Agora vá, querido.

Harry nunca soube seu nome antes do momento de sua morte.

N/A: Pra variar o cap. está curto, mas veio rápido! Eu estou, surpreendentemente, com tempo pra escrever. Agradeço as POUCAS reviews, e respondo no próx. Cap, sim?

Beijos, Cris!