Cap. 20 – Sofridos "Adeus"
Pé ante pé, os Comensais se aproximavam dos dois. Virgínia, com a cabeça do moreno em seu colo, pensava furiosamente. Ali perto, Draco e Voldemort lutavam, as espadas retinindo no silêncio pesado do campo de batalha.
Guiada por um instinto divino, Sianna levou os dedos aos lábios e emitiu um longo assovio. Os segundos se arrastaram em suspense, até que um Comensal, vendo que nada ocorrera, arriscou um passo na direção dos inimigos caídos. Hesitantemente ergueu uma espada, mas antes que pudesse desferir qualquer golpe, um guincho que arrepiou os cabelos da nuca dos comensais se fez ouvir.
Descendo do céu em vôo rasante, um falcão gigantesco atacou o Comensal. Antes que este pudesse reagir, teve o rosto arranhado por longas garras afiadas, um dos arranhões vazando seu olho direito. O enorme falcão bateu as asas e novamente subiu às alturas.
Logo depois do ataque fulminante, um lobo prateado, de porte majestoso, saltou pela abertura que o Comensal morto deixara no círculo que se fechava em torno de Sianna e Harry. Mostrou os dentes apenas, em posição de ataque, e desferiu uma dentada a um novo atacante. Vendo ameaças em todo o perímetro do círculo, o lobo circundou os dois amigos, rosnando, desferindo dentadas no ar onde antes estiveram partes do corpo de comensais.
Ao mesmo tempo aliviada e apreensiva, Virgínia checou o estado de Harry. Tinham de sair logo dali, ou ele morreria. A interferência dos animais enviados pela Deusa lhes dera algum tempo, mas ainda tinham de achar um jeito de escapar... Subitamente ela reparou em algo. Não eram aqueles os animais que tinha visto, que tinha sido em seu transe? Sim, eram! "Além disso, te damos três que lhe são caros. Saberá aonde encontrá-los por seus sonhos.", disseram as Quatro Faces da Deusa. E, sendo assim, não faltava...
Um relincho alto confirmou suas expectativas. Logo saltava para dentro do círculo uma égua baia e cor de mel. Aterrissando graciosamente, ela inclinou a cabeça, posicionada ao lado de Virgínia. Quando esta não se mexeu, a égua pateou o chão. Acordando de seu estado de alegria atônita, sugou energia mágica que pairava na região como neblina, graças à imensa quantidade de feitiços praticados ali, e, não sem esforço, ergueu Harry e o depositou sobre o lombo da égua através de magia sem varinhas. Afinal, os conhecimentos passados por Dumbledore se faziam úteis...
Montou atrás de Harry e segurou firmemente a crina dura da égua. Dali de cima, finalmente conseguia ver o que se passava na batalha entre Draco e Voldemort...
A batalha, perfeitamente equilibrada, se seguia. Ataques e contra-ataques, defesas, esquivas, sem pausa para respirar. O tinir das espadas e a respiração dos combatentes era tudo o que se ouvia. Até que, por fim, algo destruiu o equilíbrio entre as forças dos oponentes. Draco tropeçou no pé traiçoeiro de um Comensal, que o deixara ali com este propósito. Aproveitando-se da queda, Voldemort lançou-se em um salto, espada acima da cabeça, para o golpe fatal. Subitamente, o ar faiscou com magia e o tempo correu mais devagar. Draco, a poucos centímetros do chão, sustentado por magia, erguia sua espada como uma estaca... e nela Voldemort foi empalado.
Draco empurrou para o lado o corpo ferido e inútil, cujo sangue se esvaía, e com ele a vida do mais poderoso Bruxo das Trevas que jamais nascera. Contudo, com a fraqueza de Voldemort, a parte da alma que um dia repousara em um diário e que por anos fora lacrada e contida, veio à tona. Junto com um jorro de sangue, e após algumas tossidas, Tom chamou por Ginny.
Virgínia deixou Harry e a égua aos cuidados de Draco com um sinal de cabeça, e andou até Tom.
- Olá, Tom Marvolo Riddle. Estou feliz que tenha conseguido vencê-lo ao final das contas, meu velho amigo.
- Apenas com a sua ajuda, Ginny. Ele era forte demais... nunca consegui dominá-lo sozinho.
- Shh, shh... não faz mal. Eu estou aqui. – disse ela, com um sorriso cálido.
- Sim, aqui para um último adeus. Nosso tempo nesse mundo diminui a cada gota de sangue que suja o solo. Eu devo partir agora... sim, partir, para a eternidade. – ele disse, e sorriu. Sorriu um sorriso de um rapaz de dezessete anos que, após mais de cinqüenta anos de prisão, consegue sua liberdade.
As almas de Tom Riddle e Lord Voldemort, que por anos lutaram dentro de um mesmo corpo, subiram para o céu, ou para qualquer que fosse o lugar destinado a elas. Sorrindo e chorando, Sianna abençoou-os com o antigo sinal da Deusa, fechou seus olhos e enxugou as próprias lágrimas. Erguendo-se, majestosa, abraçou Draco e beijou-o.
De mãos dadas, guiaram a égua até o acampamento, com Harry, ferido, mas ainda capaz de equilibrar-se, em seu lombo. O lobo e o falcão os seguiam, em um cortejo silencioso. Tal foi a magia, o encanto e a força daquele momento que não houve quem ousasse, amigo ou inimigo, tentar detê-los. Assim, gloriosos, retornaram ao acampamento.
Mais tarde os bardos cantariam os cabelos ao vento, as armaduras brilhantes, o porte majestoso, mas, na realidade, para Draco e Virgínia, Pendragon e Senhora do Lago, aquele era um momento triste. Acima do regozijo pela vitória havia o sangue, a dor e os amigos perdidos. Acima de qualquer alegria havia o conhecimento, gélido e torturante, de que o amigo que a égua carregava não sobreviveria.
Estava escrito. Esse era o preço a pagar pela vitória, sabiam desde o início: um dos dois teria de morrer. Por escolha própria, aquele que daria sua vida pela dos outros era Harry Potter.
Com cuidado, desceram Harry e o colocaram em um quarto da Enfermaria improvisada do acampamento. Com cuidado e amor, banharam seu corpo, fizeram-lhe um curativo e puseram-lhe roupas limpas de linho branco. Deitaram-no sobre uma cama e, dia e noite, velaram seu sono, enquanto lá fora o tempo corria, e uma batalha tinha de ser finalizada.
Ao final, como formigas sem o comando da rainha, os Comensais foram rapidamente dominados e capturados. Dumbledore tomava as devidas providências para limpar a bagunça decorrente: os corpos dos comensais mortos foram identificados e cremados, e as cinzas foram colocadas em jarros com nomes, para que as famílias pudessem levá-las. Já os corpos dos Guerreiros da Luz...
Estes pairavam sobre o campo, intactos, imóveis, fantasmagóricos e belos. As famílias deixavam uma única rosa vermelha sob o corpo de cada ente querido. Ao final, centenas de rosas repousavam sobre o campo. Mais tarde, os corpos desapareceriam, e só voltariam a aparecer sob a luz da lua cheia. O campo, anos depois, passou a ser conhecido como o Campo das Rosas de Sangue.
Por três dias e três noites Draco e Virgínia velaram o sono de Harry Potter. Às vezes, Dumbledore vinha acompanhá-los em sua vigília. Harry murmurava coisas desconexas, entre elas se distinguindo as palavras "ninfa", "Draco" e "Virgínia", e apertava a mão de Sianna. Ao final da terceira noite, os olhos de esmeralda se abriram. Com mãos débeis e fracas, ele ergueu o pingente translúcido e brilhante que carregava desde que a ninfa das águas lho dera. O pingente faiscou em azul, e Harry disse, com voz fraca.
-Seren. Ela se chama Seren. Seren quer dizer estrela. – ele sorriu e suspirou, olhando diretamente para Draco e Virgínia. – Adeus, amigos.
Então, os olhos de esmeraldas se fecharam para sempre.
N/A: tá, tá, eu sei que demorou, me desculpem. Tá, tá, eu sei que tá curto, imploro seu perdão. Mas deixem reviews que eu prometo colocar o epílogo rapidinho, e ele já ta na metade! Eu escrevi esse capítulo de uma sentada, sabe? "Deixa eu resolver logo isso, que não dá mais pra enrolar" hehehehe eu tava meio puta porque o pc tinha apagado esse capítulo e mais o epílogo, mas deu pra reescrever, afinal...
Beijos da sumidissíssima Cris.
