Cap. 21 – A volta de Avalon

Todo o mundo mágico chorava a morte de um herói. Do Campo das Rosas de Sangue até os terrenos de Hogwarts, o corpo de Harry Potter foi levado nos ombros de seus antigos amigos e colegas. Hermione Granger e Rony Weasley, Neville Longbottom e Luna Lovegood, Dino Thomas e Simas Finnigan carregaram o caixão de carvalho. Liderando o cortejo fúnebre iam Sianna, a Senhora do Lago, Alvo Dumbledore, o Merlim da Bretanha, e Draco Malfoy, o Pendragon, e nunca houve maior honra para um guerreiro.

Mais atrás seguia a família Weasley, com seus flamejantes cabelos e porte altivo. As lágrimas eram abundantes mas silenciosas nos rostos desses guerreiros. Por fim, seguia-se todo o exército, humanos e criaturas, velando o corpo do homem que se sacrificara por eles.

Às margens do caminho, crianças, mulheres e idosos aguardavam a passagem do cortejo, polvilhando o chão por onde passariam com pétalas de flor, e à noite acendiam velas para guiar o caminho. Por quilômetros a fio, por um dia e uma noite, o cortejo seguiu. Ao encontrar seus parentes, o povo à margem da estrada se unia à massa se guerreiros, e ao amanhecer do segundo dia chegaram a Hogwarts.

Em uma espécie de altar às margens do Lago colocaram o caixão, e por toda a manhã homens, mulheres e crianças prestaram seu último adeus a Harry Potter, passando em fila à frente do caixão. O rosto dele estava sereno, e havia flores vermelhas e brancas à sua volta. Após um tempo que pareceu uma eternidade, a fila finalmente acabou. Dumbledore ergueu a mão e disse:

-É hora. Não há sobre o que discorrer aqui: não há no mundo alguém que não tenha ouvido falar da coragem, honra e valor de Harry Potter. Esse homem sacrificou sua vida pelos outros, marcado desde menino com esse propósito. Por anos, ele carregou nos ombros um fardo terrível, até que Virgínia e Draco viessem aliviar seu sofrimento. O sacrifício de sua vida foi necessário, mas ainda assim devemos lamentar a morte desse herói. Que o nome Harry Potter jamais seja esquecido! Ele viverá enquanto sua memória viver.

Draco fez sinal para Dumbledore, que recuou um passo, e o Pendragon retomou o discurso:

- Peço também que não se esqueçam de cada vida ceifada nessa batalha. Cada um desses guerreiros prestou seu próprio sacrifício, lutando com coragem para proteger suas famílias. Seus corpos, eternizados, repousam agora no Campo das Rosas de Sangue, e na Lua Cheia aparecem, para relembrar àqueles que ficaram o sacrifício feito por vocês. Quanto a Harry Potter... não consigo descrever a dor de perder esse amigo. Sua alma nobre já partiu, mas seu corpo deverá permanecer no Lago, guardando a entrada para a Avalon que ele conquistou.

Sianna, que trajava o manto de sacerdotisa, um punhal de prata na cintura e o anel escurecido no dedo e que tinha a meia-lua queimando na testa, majestosa e bela em seu poder, deu um passo à frente, e falou:

- Lembrem-se para sempre, filhos da Deusa, que a vitória veio pela mão Dela. A Deusa nos emprestou seu poder e salvou incontáveis vidas em troca de uma. A Dama Branca mais uma vez apareceu nesse mundo, e deve ser louvada. Não há quem não a conheça: ela é a flor na primavera, o riso de uma criança, um campo fértil, a Lua no céu, e a morte que liberta os moribundos. E ela é cada um de nós, porque nós somos Seus filhos, e é Dela que vem nosso poder. Avalon está de volta. – ela disse, e ergueu as mãos. Sentiu o poder fluir, e convocou as Brumas, que logo cobriram o chão e anuviaram o ar. Um longo silêncio se seguiu. Das brumas sobre o lago, surgiu a Ninfa das Águas. Ela falou, com uma voz triste porém forte:

- Sou Seren, filha da estrela e do rio, e venho reclamar de volta meu coração. – Todos deram um passo para o lado, e Seren tomou nos braços o corpo de Harry, e abriu as águas do lago ao meio. No coração do lago, um altar de ouro brilhava. – Ele repousará nesse Lago para todo o sempre. Seu corpo não irá se desintegrar, e sua espada não enferrujará. Quanto a mim, meu tempo nesse mundo acabou. Devo seguir com ele agora.

A Ninfa carregou Harry até o altar de ouro, e deitou-o lá, depositou a espada sobre seu peito, e debruçou-se sobre ele para beijá-lo nos lábios. Ao tocar os lábios dele, ela se desintegrou em vapor, e a água do lago voltou ao seu lugar em câmera lenta.

Sianna falou mais uma vez:

- Por séculos não haverá novamente tão honrado guerreiro. Que repouse em paz, Harry Potter, meu amigo. Agora, ouçam! Na tristeza da morte, esquecemos a alegria da vitória. Em Hogwarts, nos esperam banquete e festa. O Mal se foi, comemoremos!

Por três dias, houve festa e comilança. A comida foi farta, a música boa, e a alegria visível. No almoço do terceiro dia, um bardo se ergueu, fez uma mesura e pediu para declamar alguns versos.

Dumbledore consentiu, e o Salão Principal de Hogwarts ficou em silêncio. O bardo postou-se com uma lira, e começou a tocar. Seus versos eram assim:

"Viverá entre nós a lembrança de um guerreiro

sua armadura reluzente, seu porte era altaneiro

os olhos de esmeralda, de ébano os cabelos

no peito carregava a Lágrima de Estrela

No seu sangue, dois sangues,

Ó filho de dois reis. Fez testar a sua sorte,

A vida o fez mais forte, e por correr de encontro à morte

Sobreviveu

Amou uma donzela de beleza exuberante

Sempre foi amada, nunca foi amante

Seu nome era Seren, a estrela do rio

E junto a ele para o outro mundo ela partiu

No Campo das Rosas brandiu a sua espada

Gentil era na paz porém terrível na batalha

Dourado seu corcel, vermelha a sua capa

E assim ele ostentava as cores de sua Casa

Sobre a grama ele dançou a Dança da Morte

Mas ali divina maldição quebrou a sua sorte

Terrível d'ouro flecha seu peito trespassou

E do mundo seu espírito pra sempre se despediu

O Lago foi feito sua última morada

Seu corpo foi entregue nos braços de sua amada

E repousa eternamente em sono profundo

No leito das águas até o fim do mundo

Assim termina a história de Harry, o Sereno

Herdeiro das Casas de Griffindor e Slytherin

Druida, bardo, auror e guerreiro

Mas acima de tudo um amigo verdadeiro."

Ao final da canção, choveram vivas. Essa canção tornou-se famosa como a Canção de Harry Potter, e por anos e anos foi cantada em Avalon. Ao final do terceiro dia, Sianna e o Pendragon retiraram-se para Avalon, e de lá raramente saíram em sua vida, exceto para festas em Hogwarts. Jamais se casaram, embora pertencessem um ao outro, pois a Senhora de Avalon não poderia se casar, e tampouco era necessária uma cerimônia para atar um laço que já existia e era tão forte.

O corpo de Tom Riddle foi cremado, e as cinzas espalhadas pelo Campo das Rosas de Sangue, em uma grande cerimônia que tomou parte alguns dias depois.

Com o correr dos anos, donzelas e rapazes eram mandados ou optavam por ir receber os ensinamentos que Avalon tinha a oferecer. Sacerdotisas se formaram, e Bardos, e Sacerdotes, e a cada ano eram celebrados os rituais antigos. Instituiu-se uma tradição, e todos os anos uma noite e um dia eram dedicados à memória da Batalha do Campo das Rosas Eternas, relembrando o valor dos guerreiros em poemas e canções. Avalon floresceu em vida e sabedoria durante a vida de Virgínia e Draco Malfoy.

Virgínia e Draco viveram suas vidas em alegria, participando de todos os rituais, ensinando e aprendendo com os jovens que vinham em busca de sabedoria, e louvando a Deusa. Os três animais presenteados a Virgínia pela Deusa acompanharam-na durante toda a vida, fazendo-lhe sempre companhia, amparando-a e guiando-a. O casal teve apenas uma filha, mas criaram os filhos das fogueiras, crianças que eram concebidas no festival de Beltane e tidas como filhas da Deusa. Draco morreu muitos anos depois, velho e sábio, e o título de Pendragon foi passado para um rapaz que desposou Nimue, a filha do casal e futura Senhora do Lago. Esse rapaz chamava-se Samuel Fuernlend, e havia vivido em Avalon desde que perdera os pais na Batalha.

Virgínia partiu logo depois de Draco, pois não quis viver sem ele. Numa manhã ensolarada, ela deixou seu punhal e seu anel sobre a cama de sua filha, representando que seria ela sua sucessora como Senhora do Lago, e se envolveu na neblina às margens do Lago, junto com seus animais. Acredita-se que tenha usado a dádiva da Deusa, de dar seu último suspiro sem dor. Durante séculos, entretanto, ela foi vista, fosse correndo entre as árvores ou dançando sobre a grama, como uma jovem de cabelos flamejantes com uma lua na testa, como um lobo, uma égua ou um falcão. Dizia-se também que, nas fogueiras de Beltane, uma fêniz surgia entre as chamas e juntava seu canto à música. O espírito de Virgínia nunca deixou Avalon.

N/A: finalmente terminei essa história. Ai que alívio! Dá um gostinho de trabalho bem-feito hehehehehe. Muito obrigada a todos que deixaram reviews, porque são elas que incentivam o autor e dão dicas de como continuar. Espero que tenham gostado... Ah, alguns comentários: a canção do bardo deu uma trabalheira danada, e era a surpresa que eu tinha prometido. O novo Pendragon depois do Draco é aquele menininho do cap. 17, que esbarra no Harry e os "dois sangues" mencionados são Griffindor e a parte Slytherin que ele "absorveu" do Voldemort. Pra quem não entendeu, Tom Riddle era a parte da alma boa de Voldemort que ele tinha seccionado e colocado na Horcrux, e que voltou pra ele mas não pôde ser reabsorvida pelo Lord porque Tom não quis, então foi dominada e silenciada até que Voldemort foi enfraquecido, à beira da morte. É, acho que é isso. Obrigada! Beijos da Cris!